Jornalista e escritor. Autor dos livros "Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo" e "Guia de Comunicação para o Agronegócio". Acompanha há 20 anos o dia a dia do setor.
Confesso que não pretendia escrever sobre a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul neste espaço.
Nos últimos dias, pude acompanhar, por meio de gente altamente gabaritada, as principais informações e opiniões sobre o ocorrido, um fato lamentável e que ficará marcado na história do Brasil.
No entanto, passados alguns dias mudei de ideia ao ler inúmeros textos acusando o agronegócio de ser o responsável pelas enchentes.
Eram os detratores de sempre. Nos meios de comunicação de sempre. Falando os absurdos de sempre.
Sem qualquer embasamento técnico ou científico, deixam tudo no campo da suposição: "agro pode ser responsável", "agro poderia ter contribuído"... Uma estratégia muito utilizada pela imprensa militante que carece de bons argumentos.
Na minha visão, o avanço do agronegócio nada tem a ver com o desastre, um fenômeno natural que poderia ter ocorrido em outro momento ou em outro local - e que certamente voltará a ocorrer no futuro.
Em 1941, o Rio Grande do Sul passou por uma situação muito parecida após 22 dias consecutivos de fortes chuvas.
O nível do rio Guaíba chegou aos 4,75 metros, volume próximo dos 5,35 metros observados no último dia 3 de maio, auge das cheias neste ano.
A enchente dos anos 1940 deixou cerca de 70 mil pessoas desabrigadas, o equivalente a um quarto da população de Porto Alegre na época. Proporcionalmente, foi muito pior.
Fato curioso é que nesta época o agronegócio como conhecemos hoje ainda nem existia. A produção agropecuária era rudimentar. A área coberta por vegetação nativa era muito maior.
De acordo com as teorias furadas dos "especialistas" de hoje, a inundação de 1941 nunca deveria ter ocorrido.
Ainda que muitos produtores tenham perdido tudo nesta enchente de 2024, os maiores estragos foram observados nas áreas urbanas.
É preciso lamentar as mais de 150 mortes e as centenas de milhares de desabrigados em todo o estado.
Mas quem deve ser responsabilizado pelo fato de as cidades terem o solo coberto por concreto, incapaz de absorver a água das chuvas? O agro?
Em relação aos gases de efeito estufa, as emissões de milhões de carros e caminhões nas áreas urbanas também não devem ter impactado em nada.
A culpa, para os "especialistas" lacradores de plantão, deve ser do agro... Infelizmente para eles, não é.
O agro emite, sim, gases de efeito estufa. Mas também captura, seja por meio das pastagens, das lavouras, das florestas plantadas ou das matas nativas, obrigatórias em todas as propriedades rurais do país, conforme determinação do Código Florestal brasileiro.
No Rio Grande do Sul, a lei determina que no mínimo 20% da área total de cada fazenda seja destinadas à Reserva Legal.
Isso é o mesmo que você, na cidade, comprar um apartamento de 100m², pagar pelos 100m², mas poder usar apenas 80m².
Os outros 20m² devem ficar intocados, em nome do meio ambiente. Você ficaria feliz com esta situação?
Pois é, o produtor também não fica. Mas ele simplesmente cumpre essa determinação, que, por sinal, só existe no Brasil.
Atualmente, de acordo com dados da Embrapa, 25,6% do território brasileiro é coberto por matas nativas situadas em propriedades privadas.
Para se ter uma ideia do que isso representa, a agricultura como um todo ocupa somente 7,8% das terras no país.
Por fim, temos ainda a questão da preservação das margens dos rios. De acordo com o Código Florestal, as propriedades rurais devem manter áreas de preservação permanente de ao menos 30 metros a partir das margens dos rios.
Isso não acontece nas áreas urbanas, inclusive no trecho em que o rio Guaíba atravessa Porto Alegre.
Será que a culpa pela tragédia no Rio Grande do Sul é mesmo do agro? Tire as suas próprias conclusões...