Henrique Simplício

Doutor em Neurociências, é palestrante, escritor, autor e organizador dos livros "Pedagogia do Fracasso" e "Pedagogia do Sucesso" (volumes 1 e 2) publicados pela editora Ampla.

Pedagogia do Fracasso

Como más ideias prejudicam a educação?

Henrique Simplício

O leitor já deve ter notado o quanto é difícil debater ou buscar as razões que afetam a educação no país. Há décadas, ouvimos que o desempenho brasileiro passa por graves problemas que parecem nunca se resolver. Entra ano e sai ano, sentimos que nada mudou, continuamos no mesmo lugar sem saber o que interfere no desempenho de crianças e adolescentes que gastam horas de seu dia sob a expectativa de construir um futuro melhor. 

Várias perguntas parecem não ter resposta, tais como: Afinal, o que gera uma boa e uma má educação? O que explica o alto e baixo desempenho acadêmico? Mais dinheiro investido melhora a educação? Por que os pais parecem prejudicar voluntariamente a educação dos filhos?

Com intuito de não oferecer mais do mesmo e não fugir do assunto, essa coluna foi criada para responder essas e outras perguntas que povoam a cabeça de pais e estudantes preocupados com a educação. Sejam bem-vindos.

Na coluna de hoje, começaremos com um texto que explica e descreve parte das teorias anti educacionais e como elas continuam fortes em terras brasileiras. Esse texto é uma síntese do primeiro capítulo do livro Pedagogia do Fracasso, livro de minha autoria, publicado pela Editora Ampla em 2020. Agradeço imensamente a editora por ter cedido a publicação para os leitores da Brasil Paralelo.

Como ideias influenciam o ensino?

Desde pronunciamento no legislativo até protestos em praças públicas, o debate sobre educação e ensino costuma mexer com as emoções das pessoas. Dependendo do ambiente em que se estiver, emitir uma opinião sobre o tema pode mesmo significar ser enquadrado como o novo inimigo do grupo, colocando até seu emprego em jogo. Parte desse problema envolvendo a polarização das ideias não está somente no fato da educação demandar o tempo e recursos das pessoas ao redor do globo. É evidente que dirigentes, agências internacionais, ONGs, até universidades públicas e privadas, neuropsicólogos, professores, pedagogos… têm na educação seu meio de sustento. Contudo, o desejo por recursos não explicaria sozinho porque existem tantas divergências sobre a educação. O problema da área reside na sua própria natureza. Mas por que é tão difícil falar sobre a natureza da educação? Vamos para uma explicação provável.

A educação é tão complicada quanto às variáveis que podem interferir na vida de alguém, prejudicando seu aprendizado. 

Entender os problemas sobre o aprendizado é sempre uma atividade difícil, pois um estudante pode começar a ter dificuldades por diversos fatores, desde a rejeição a certo conteúdo, por se sentir desmotivado, problemas familiares, falta de estrutura do colégio, dificuldade com a matéria, pouca experiência do professor, por não saber ou não ter hábitos de estudos, entre muitos outros. 

Alguém negaria que estas variáveis interferem no aprendizado? 

Ainda que a experiência humana acumule exemplos nos quais as dificuldades tenham sido superadas, como um sujeito que saiu da periferia e se tornou um dos maiores escritores da língua portuguesa, não é possível negar sua importância. Como veremos na coluna, diferentes variáveis podem contribuir ou prejudicar o engajamento e motivação do jovem em uma área de estudo.  

Apesar da grande quantidade de características que poderiam se articular em certa escola, existe um conjunto de fatores que tornam a atividade educacional comum. São as ideias. Elas estão presentes desde o professor de engenharia mecânica de Harvard até a escola primária no interior de Piripiri. 

Sem elas, não há educação. Elas fornecem um rumo ao estabelecer o que deve ou não ser feito dentro de sala de aula, qual o tipo e qual a melhor maneira de ensinar certo conteúdo, como lidar com os alunos que estão tendo dificuldades ou apresentam problemas de comportamento (devo me preocupar?) Como medir o desempenho da turma?...

As ideias são a coluna vertebral da educação, marcando presença desde o professor que faz proselitismo político em sala de aula até aqueles que acreditam que a escola não é espaço para o partidarismo político. E é justamente aí que as coisas começam a se complicar e, por vezes, perder o rumo. 

Algo que ajuda a entender os problemas no estudo do tema é a quantidade e  diferença entre as ideias que representam o que entendemos por “boa qualidade de educação”. 

Para entender o quadro, é preciso ter em mente que quando duas pessoas conversam sobre os objetivos do que chamam de um bom ensino, elas podem estar falando sobre coisas totalmente distintas, de acordo com o que elas acreditam ser o papel do ensino.

Um exemplo pode nos ajudar a entender o problema. Imagine um professor que acredita que testes e exercícios não têm grande utilidade, sendo usados apenas para maltratar os jovens, aumentando seu nervosismo ou traumatizando-os. 

Existe uma óbvia possibilidade que este mesmo professor abra mão de exercícios ou trabalhos avaliativos, ou, caso seja forçado pela escola onde trabalha, aplique as provas sem muito critério, flexibilizando ou ignorando a correção. 

Contudo, imagine que este professor consiga empreender o propósito, eliminando completamente os testes, como é o caso de escolas dentro e fora do país. Este professor fará bem aos estudantes que desejam incorporar as informações dentro de sala? 

Avaliar questões como estas é fundamental para compreender como teorias do outro lado do mundo Atlântico chegam em terras brasileiras. Se nossas ideias trazem consequências aos mais diversos âmbitos da vida, seria muita ingenuidade cogitar que a educação estaria imune. 

Como demonstraremos, precisamos entender que parte das ideias e teorias que circulam no âmbito educacional brasileiro têm peso e algumas delas não contribuem de forma efetiva para o aprendizado, nem criam um ambiente propício para que pesquisadores, professores e mesmo a comunidade escolar façam um diagnóstico claro sobre o que está acontecendo e como é possível contornar o problema.

5 características do Romantismo (anti) Educacional

Agora que já compreendemos o papel das ideias na educação, passaremos ao problema das teorias antieducacionais.Um dos problemas da educação brasileira está justamente associado à parte das ideias que circulam no setor. 

Parte delas é capaz de colocar o ensino em um rumo que nem sempre orienta  adequadamente e, às vezes, confunde aquele que é responsável pelo ensino. É possível comparar o peso das más ideias ao de um guia. 

Se o guia fornecer boas pistas, ainda que não  transporte exatamente para o local desejado, será de extrema ajuda ao lhe conduzir para o caminho adequado; contudo, se este mesmo guia te der uma informação errada ou colocá-lo na direção oposta, você estará com sérios problemas, sendo obrigado a encontrar o caminho contra o mapa criado.

Quando observamos áreas educacionais, podemos compreender que parte do que circula como válido na área atua como uma ficção. 

Algumas teorias são muito bonitas no papel, mas pouco úteis quando o aperto bate à porta e você precisa fazer algo para melhorar suas notas ou ensinar seu filho  que está com dificuldade na escola

Certas teorias educacionais romantizam o ensino, idealizando e/ou banalizando os mais diferentes rincões em que ele é executado.Como resultado, o que era para ser alegre, acaba gerando uma frustração generalizada aos que não conseguem aprender, pois, se a teoria está dizendo que é tão bonito, pode ser o problema esteja comigo.

A pedagogia romântica, como chamamos, pode se manifestar com maior ou menor força nos mais diferentes âmbitos, por meio de funcionários, professores, diretores, gestores executivos dos municípios, estados e, mesmo, pais e alunos. Por ela, entendemos certa concepção filosófica que falseia a experiência educacional a partir de uma redução ou idealização do ensino.

Embora esse romantismo educacional se manifeste das mais diferentes maneiras, é possível listar cinco formas mais comuns.

Nas próximas linhas falaremos um pouco mais sobre cada uma delas.

Formas do romantismo educacional

  1. Relativismo educacional
  2. Críticas ao ensino instrucional
  3. Oposição entre decorar e aprender
  4. Crítica aos testes e avaliações
  5. O bom ensino deve ser divertido e contextualizado.

Vamos ao primeiro deles, 1) o relativismo educacional. Calcado na ideia de que não existe conhecimento melhor ou pior, saber mais ou menos, sendo tudo uma questão de diferença e ponto de vista, o relativismo remete ao seu próprio nome. 

Para ele, o ensino e as diferentes formas de conhecimento são relativos. Essa concepção nega uma das maiores verdades compreendidas ao longo das diferentes culturas ao longo dos anos: existem, sim, conhecimentos melhores e mais efetivos do que outros. 

Contrariar isso falsifica a própria sentença enunciada que nega o melhor ou pior dentro de um conceito. Alguém seria capaz de questionar que os conhecimentos, técnicas e exames produzidos pela medicina são iguais ou não passaram por melhorias ao longo dos anos? 

Negar a superioridade de certos conhecimentos deporia contra a própria legitimidade da escola enquanto instituição dedicada à atividade educacional

Se não existe um conhecimento melhor do que outro, por que deveríamos perder nosso tempo estudando uma equação, corrigindo a ortografia de um novo idioma ou lendo este livro para realizar uma crítica? 

Por que um professor deveria se atualizar enquanto profissional ou rever certa metodologia que não obteve o sucesso esperado? Ou que o aluno reveja seus hábitos de estudo? 

Este tipo de romantismo é extremamente prejudicial nas escolas, fornecendo um excelente incentivo para que alunos, pais e professores acomodem-se, acreditando que o baixo desempenho é apenas uma questão de ponto de vista ou “um saber não reconhecido”. 

Ou que nossos resultados ruins em provas internacionais não medem um problema claro enfrentado arduamente por muitos pais e professores. Essa concepção não apenas retira a responsabilidade pelo ensino e aprendizado mal executados, mas também cria certo comodismo impessoal capaz de alienar o aluno da sua autonomia e responsabilidade perante seu desempenho. 

Afinal, se não existe um conhecimento mais preciso, por que deveria se esforçar para tirar 10 se ele tirou um 6? 

Negar a existência de conhecimentos melhores implica também na dispensa de maiores investimentos no setor. Se não existe maior ou melhor conhecimento, os resultados não podem ser avaliados quantitativamente. 

Logo, por que deveríamos investir maiores quantias para algo que não pode ser concebido como melhor ou mais efetivo? É possível cogitar que parte desta doutrina apareça como uma boa forma de amortizar o nosso cenário educacional (escondendo o esqueleto dentro do guarda-roupa) que, desde algum tempo, tem obtido resultados não muito satisfatórios. 

Mas, fiquem tranquilos, faremos isso com detalhes nas próximas colunas. Mas, voltando, é difícil defender que o relativismo seja um bom caminho para um planejamento educacional de qualidade, baseado em resultados de longo, médio e curto prazo.  A melhor forma de enfrentar o problema é, primeiro, aceitá-lo. 

Negar diferenças quantitativas e qualitativas sobre o conhecimento em nada contribui para o comprometimento com um ensino de qualidade. Infelizmente há quem questione o próprio estabelecimento de critérios para medir essa “qualidade do ensino”. Se não pudermos estabelecer estes critérios, não poderemos saber nem se o ensino melhorou ou piorou ao longo do tempo.

Uma segunda forma de romantismo educacional está na 2) Crítica ao ensino instrucional. Segundo essa ideia, não devemos (ou podemos) transmitir conhecimentos. 

Esse tipo de alegação vem comumente acompanhado do seu irmão gêmeo que afirma que “o saber deve ser construído pelo sujeito”. Este raciocínio ignora a importância do conhecimento herdado ao longo dos anos, seja por professores, pais, colegas e amigos. 

Certamente, cada um deles pode contribuir de maneira decisiva no processo de formação de um estudante, seja passando um dado, mostrando uma dica ou reproduzindo uma série de conceitos nunca antes situados pelo ouvinte. 

Como veremos nas próximas colunas, diversos  estudos apontam que metodologias que não adotam o aprendizado instrucional,ou seja, aquele que transmite informações e valoriza o ensino diretivo, são menos eficientes do que aqueles que o utilizam em algum grau. 

Isso apenas reforça que não há motivos para estabelecer limitações  ao ensino transmitido. Como mostraremos, nós não construímos (e nem poderíamos) todas as formas de conhecimento. 

A cultura, os meios de comunicação, o ambiente em que vivemos, nossos pais e professores estão diariamente nos bombardeando com informações transmitidas.Uma função importante da cultura está na sua capacidade de atuar como uma memória extracerebral, fornecendo ao indivíduo uma grande quantidade de informações, diretrizes e hábitos legados. 

Outra forma de romantismo educacional está na 3) oposição entre decorar e aprender. Parte dessa guerra advém da recusa de algumas teorias em valorizar a memória como fonte crucial do aprendizado. 

Normalmente, estas críticas vêm acompanhadas à memória alegando “decoreba” ou o que chamam de “memorização mecânica”. É difícil entender qual seria o problema em armazenar informações. Ainda que elas surjam de forma descontextualizada, não seria o ato de decorar uma das grandes formas de começar a compreender algo sobre um novo assunto? 

Creio que a briga possa ter surgido por um ressentimento contra professores por três motivos: 

  1. eles pediam em provas algo a que não davam tanta ênfase durante as aulas; 
  2. cobravam conteúdos muitos específicos, de modo que os estudantes consideravam difícil reter cada um dos conceitos e etapas; 
  3. O fato de os estudantes considerarem desnecessário saber certos conteúdos, já que poderiam obter a informação facilmente consultando um livro ou mesmo a internet. 

Embora algumas dessas circunstâncias possam ser desconfortáveis, seja por má vontade do professor ou mesmo por dificuldades dos estudantes em lidar com uma grande quantidade de informações novas em curto espaço de tempo, nada pode ser justificativa para descaracterizar o ato de memorizar como uma das formas de aprendizado. 

Uma informação descontextualizada pode se tornar um conhecimento extremamente útil após pouco tempo de estudo. Esta informação, por consequência, será pré-requisito para adquirir outras, que também poderão parecer fora de contexto, mas que gradativamente ocuparão espaço no conhecimento do aluno. 

Um grande exemplo que caracteriza este processo lento mas importante de armazenamento de informações é o aprendizado da matemática. A hierarquia desta disciplina demanda que o estudante lide em um primeiro momento com fatos e símbolos aritméticos extremamente abstratos. 

Não decorar tais símbolos, como algumas operações básicas, será extremamente prejudicial para o estudante, ocupando recursos preciosos de sua capacidade de processamento de informação que poderia ser empregada em atividades mais complexas.

Além disso, ao não se exercitar à informação armazenada, a tendência será o esquecimento. 

Dito isto, não há porquê retirar o ato de decorar do aprendizado. Faça uma reflexão e veja quantas coisas você decorou na vida e, justamente por isso, passou a compreender um pouco mais sobre certo assunto. 

Desde sua data de aniversário de casamento, a tabuada, regra de acentuação, até nome de uma visita ou animal. Este cenário pode ser ainda mais trágico quando pulamos para áreas do conhecimento em que a atitude de decorar está de mãos dadas com o exercício da profissão. 

Em algumas profissões, é simplesmente impossível você exercer sua atividade ou mesmo se formar no curso sem gravar na memória uma quantidade gigantesca de informações. Pergunta retórica, você gostaria de ser operado por um médico que não decorou nada na faculdade?  

Outro elemento associado ao romantismo educacional está na briga ou na 4) Crítica aos testes e avaliações. 

Ao longo da vida de professor, é possível presenciar o mesmo pais reclamando do famoso “para casa”. Alguns deles ficam incomodados pelo fato de seus filhos aparecerem com perguntas durante os seus momentos de lazer, após o trabalho. Assim, ao invés de reorganizarem seus afazeres ou mesmo encontrarem formas alternativas para ajudar as crianças, preferem ir até a escola reclamar do professor. 

É inegável que tanto uma criança quanto um adolescente precisam de horas de lazer; contudo, isso não pode depor contra a importância dos testes e exercícios escolares. Infelizmente, ao longo do contato com diferentes escolas, é possível identificar mesmo professores da educação básica contra estes testes.

O objetivo mesmo destas atividades é o de fazer com que os estudantes rememorem e reconstruam os conhecimentos obtidos em sala e apliquem em casa. Como explicaremos mais detalhadamente na Parte 2, este reforço tem um impacto que reorganiza a memória do estudante, modificando seu organismo. Se de alguma forma a atividade está incompatível com as condições necessárias para que um aluno possa resolvê-la, é necessário reavaliar o tipo do teste. Contudo, a dificuldade pela má aplicação de uma tarefa não justifica sua exclusão.

Pesquisas recentes, que têm por objetivo revisar dezenas de estudos avaliando o efeito da testagem na memória, constatam o que muitos professores já sabiam: testes e exercícios são extremamente importantes para que a criança ou jovem se lembre das informações. 

Como quinto e último ponto do romantismo educacional a ser discutido nesta coluna, descrevemos a concepção 5) Do bom ensino como aquele que deve ser divertido e contextualizado, ou seja, o que está próximo da experiência do estudante. 

Esse talvez seja um dos mais difundidos nos cursos de licenciatura e até mesmo em reportagens. 

É realmente louvável que um professor possa explicar certo conteúdo de maneira mais agradável e, em alguns casos, até estabelecer paralelos com o nosso dia a dia. Entretanto, seria esse um princípio universal e indispensável do ato de ensinar?

Esse tipo de raciocínio costuma florear o processo de aprendizagem desde sua raiz, tratando o ato como algo divertido, prazeroso e agradável. Infelizmente temos péssimas notícias: não é. 

Ao contrário do que se imagina, o nosso processo evolutivo não tornou atrativa a atividade de raciocinar. Tal atividade demanda energia e traz certo cansaço, quase como se fizéssemos uma atividade física. Já notou como outras atividades parecem ficar mais interessantes quando estamos há meia hora fazendo um exercício, estudando para uma prova ou elaborando um relatório para a firma? 

Isso ocorre pelo fato de que fazer estas tarefas demanda uma alta carga de controle mediado pelas nossas funções executivas. É difícil manter a concentração por muito tempo e, quando o fazemos, tendemos ao desgaste. 

Um fator que também atrapalha esse caráter lúdico é o fato de o processo de ensino deslocar nossa atenção para o que não éramos capazes de reconhecer. Esse ato de descontextualização permite explorar conhecimentos novos. Aproximar o conteúdo da experiência do estudante, sem dúvida, pode ajudar. 

Entretanto, não pode ser o propósito de uma disciplina, muito menos da escola. Parte fundante do nosso aprendizado está justamente no propósito reverso, ou seja, o de retirá-lo de um contexto em que tudo lhe parecia familiar. Se o objetivo do aprendizado fosse o de enaltecer a experiência do estudante, trazendo o que lhe é reconhecível, não aprenderíamos nada novo, nem precisaríamos da escola. Além disso, seria necessário que o professor desse uma aula para cada aluno, pois os estudantes têm claramente conhecimentos, experiências e habilidades diferenciadas uns dos outros. 

O problema da contextualização não está em seu uso, mas em transformá-lo em propósito, chegando a tratar sua falta como “invasão cultural”, “mecanização do ensino” ou até “desvalorização dos conhecimentos adquiridos pelo aluno”. Se analisarem atentamente, poderão observar que este livro lança mão do recurso com frequência.

Essa idealização é tão problemática que alguns estudantes chegam mesmo a pensar que se o conteúdo não se revestir de uma contextualização imediata em sua vida, não deveriam aprendê-lo. 

É possível identificar isso mesmo nas universidades, onde já presenciamos estudantes reclamando da obrigatoriedade de conteúdos como a Revolução Francesa para estudantes sul-americanos. 

Se trilharmos esse caminho, logo começaremos a questionar a importância de certos conteúdos como polinômios, função logarítmica, poesia, literatura, pré-história, química orgânica e biologia. 

Em resumo, o contexto não pode ser uma amarra que carimbe a necessidade de se estudar ou não certo conteúdo. A escola tem por obrigação trazer informações descontextualizadas para os estudantes, para que eles tomem este conhecimento como seu e passem a contextualizá-lo. 

Estes são alguns exemplos de como a pedagogia romântica opera. Estas situações discutidas estão longe de serem as únicas, mas por si já trazem problemas suficientes ao serem facilmente encontradas nos mais diversos âmbitos da vida escolar. 

Em resumo, as pressuposições do romantismo educacional são problemáticas por gerarem argumentos e justificativas para que o ensino não seja avaliado nem medido (relativismo educacional), colocando-se contra o ensino instrucional, a partir de uma desvalorização dos conhecimentos armazenados, contra práticas que são comprovadamente mais eficientes na memorização do conteúdo e concebendo o ensino por ideias não comprovadas que restringem o escopo do que deve ser realizado em sala.

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