Mariana Goelzer é escritora e roteirista. Mantém uma coluna sem fórmulas pré-concebidas, nem ideias pré-formatadas, criando um um local de reflexão livre, mas comprometida, sobre pensamentos que careciam do devido tempo e espaço para florescer.
Algumas pessoas e instituições fizeram precisamente isto, promovendo palestras para revigorar as memórias daqueles idos tempos. Muitos ouvintes e espectadores saíram com a impressão de que a sua sabedoria se expandiu e de que agora estão aptos não só a elencar os fatores que levaram nossa trajetória àquele fim como também a usar a circunstância pretérita como ponto de referência para compreensão da contemporaneidade.
E é aí que um silencioso perigo habita. Um mal que, se não desmascarado, pode nos levar para o destino oposto ao qual estávamos tencionando. Apesar de eu mesma ser entusiasta destas aulas e lições, é preciso estar consciente que a mera recapitulação de eventos é um primeiro passo de estudo, mas insuficiente, quando se trata de fazer a história cumprir aquele papel fundamental de nossa formação, que é o de conhecer o passado para estar mais bem orientado no presente.
Para conseguirmos converter o conhecimento histórico nesse repositório confiável de orientação, temos de ter clareza sobre quais eram os sentimentos das pessoas, as correntes de pensamento vigentes à época, as medidas e estratégias empreendidas, os movimentos políticos e culturais e suas formas de atuação; todo um conjunto que nos imerge num dado momento e que nos habilita a entender como uma situação se tornou viável.
Isso vai muito além de elencar um contexto e a sucessão de acontecimentos. No entanto, muitos se contentam com esse entendimento superficial e, munidos desses pedaços de informação, creem poder abdicar daquele estudo mais profundo que, de fato, transformaria o passado de um baú de memórias em um baú de aprendizados.
Dito de outro modo, é o mergulho dado no vale da ignorância por parte de quem, por presumir saber, jamais busca o conhecimento verdadeiro.