Jornalista e escritor. Autor dos livros "Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo" e "Guia de Comunicação para o Agronegócio". Acompanha há 20 anos o dia a dia do setor.
Na última semana, a notícia da apreensão de uma carga de amendoim orgânico no interior de São Paulo reafirmou uma posição que há muito tempo defendo - a de que os alimentos orgânicos não são essa maravilha toda que vendem por aí. Neste caso, a carga, importada do Paraguai, foi flagrada com um índice de aflatoxina superior ao limite máximo permitido pela legislação brasileira para o consumo humano.
A aflatoxina é uma toxina produzida pelo Asperigillus, um fungo comum no amendoim, mas que pode ter efeitos cancerígenos em humanos e animais. Ué? Mas os orgânicos não são 100% seguros? Eu me lembro de ter ouvido isso de diversas celebridades “metidas a toxicologistas”. Nenhuma se pronunciou sobre o caso mais recente…
Curioso é que o tal fungo no amendoim poderia ser evitado com o simples uso de fungicidas na lavoura. Aí fica a pergunta: qual é mais seguro, o convencional com tratamento contra pragas e doenças ou o orgânico cultivado com as técnicas da idade da pedra?
Este não é um caso isolado. Desde 2017, o Brasil já devolveu quase 400 toneladas de amendoim orgânico do Paraguai por diversos motivos. Outros problemas, envolvendo outras culturas, certamente existem, mas não são identificados, já que a fiscalização sobre os alimentos orgânicos produzidos no Brasil é frágil.
Os orgânicos também já causaram problemas sérios no exterior. Em 2011, um lote de pepinos orgânicos contaminados pela bactéria E.coli causou ao menos 10 mortes e mandou mais de 300 pessoas para os hospitais na Alemanha. Um tratamento adequado no campo teria impedido que isso acontecesse.
Tudo isso apenas reforça a minha tese de que os alimentos orgânicos, ainda que muito mais caros, não possuem qualquer vantagem sobre os produtos convencionais, produzidos com tecnologia. Não acredita? Então, listo abaixo cinco motivos para reflexão — informações que você nunca verá na mídia mainstream.
Imagem: Divulgação (Grupo Pão de Açucar - Divulgação)
1- Orgânicos NÃO são mais saudáveis
Você já deve ter ouvido falar que os alimentos orgânicos são mais saudáveis, certo? Se isso fosse mesmo verdade, os produtores orgânicos certamente destacariam esses diferenciais nutricionais nos rótulos. Não o fazem simplesmente porque não conseguem comprovar cientificamente esta superioridade.
Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, divulgaram há alguns anos uma revisão detalhada de 237 estudos científicos comparativos entre orgânicos e convencionais publicados em todo o mundo nas últimas quatro décadas. A conclusão foi a de que, apesar de mais caros, os orgânicos não eram mais nutritivos nem mais seguros do que seus similares produzidos de forma convencional.
“Quando iniciamos este projeto, nós imaginávamos que encontraríamos alguns resultados que confirmassem a superioridade dos produtos orgânicos sobre o alimento convencional”, afirmou Dena Bravata, um dos responsáveis pelo trabalho, em entrevista ao jornal e New York Times. “Nós ficamos totalmente surpresos com os resultados.”
2- Orgânicos NÃO são mais saborosos
Em 2016, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), entidade vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, fez uma revisão de milhares de trabalhos científicos comparativos publicados em todo o mundo desde os anos 1950. O resultado? Mais uma vez os produtos orgânicos e os convencionais foram considerados tecnicamente iguais.
Os pesquisadores afirmam que é difícil diferenciar as características desses alimentos mesmo em laboratório. Portanto, da próxima vez que alguém lhe sugerir que há diferença no sabor da salada orgânica, desconfie. Assim como o estudo da Universidade de Stanford, o trabalho do Ital também concluiu que não existem diferenças nutricionais entre orgânicos e convencionais.
“Ambos os argumentos contribuem fortemente para que tais produtos possam ser precificados com valores acima dos produtos convencionais, trazendo prejuízos para os consumidores e também aos produtores”, afirma o relatório do Ital.
3- Orgânicos NÃO são mais sustentáveis
Nos últimos anos, a palavra “orgânico” se tornou sinônimo de produto sustentável, e essa é mais uma mentira. Por serem cultivados de forma rudimentar, sem a adoção de tecnologias utilizadas em todo o mundo, os alimentos orgânicos têm uma produtividade significativamente menor, ou seja, exigem mais áreas para produzir a mesma quantidade de alimentos.
Graças à adoção de tecnologias como os pesticidas, as sementes geneticamente melhoradas e os fertilizantes químicos, o Brasil se tornou uma potência na produção agropecuária. Para se ter uma ideia, a produtividade média do feijão aumentou 274% desde 1980, a soja 176% e o trigo 257%. No caso do milho, a colheita quase quintuplicou: de 21 milhões de toneladas em 1980 para 96 milhões de toneladas hoje, enquanto a área de cultivo aumentou só 40%.
De acordo com cálculos do jornalista Leandro Narloch, “se tivéssemos que chegar à produção atual de milho com o plantio natural e orgânico dos nossos avós, seria necessário ocupar mais 38,1 milhões de hectares além dos 17 milhões atuais. Ou seja: só o aumento da produtividade do milho evitou a ocupação de uma área maior que os territórios de Roraima e do Acre.”
4- Orgânicos NÃO são livres de químicos
Uma enquete feita pelo site Consumer Reports revelou que 81% dos norte-americanos acreditam que os alimentos orgânicos são cultivados sem pesticidas ou aditivos químicos — o que é mais uma uma grande mentira. A única diferença entre os defensivos convencionais e os aprovados para a agricultura orgânica é que, enquanto os primeiros são formulados e misturados a outros ingredientes ativos, os praguicidas naturais são utilizados da forma como são encontrados na natureza.
Isso, no entanto, não quer dizer que eles não sejam tóxicos. Existem centenas de substâncias perigosas, como enxofre, sulfato de cobre, piretrina, carvão e pó de fumo, que são largamente utilizadas no cultivo de alimentos orgânicos. No Brasil, um dos produtos mais usados nas plantações orgânicas é o óleo de neem, um inseticida natural obtido a partir da prensagem a frio de sementes da espécie Azadirechta indica, originária da Índia, e que possui mais de 150 compostos bioativos. Se é eficiente contra os insetos, também pode ser tóxico para o homem.
5- Orgânicos NÃO vão alimentar a humanidade
O discurso é sem dúvida muito bonito, mas infelizmente não condiz com a realidade. De acordo com dados da Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica (IFOAM), as lavouras orgânicas ocupam cerca de 43,7 milhões de hectares, ou o equivalente a apenas 0,9% do total de áreas dedicadas à agricultura em todo o mundo.
Mais de um terço dessas terras estão na Austrália, que mantém pouco mais de 17 milhões de hectares de lavouras certificadas, enquanto a Argentina, segunda colocada, tem apenas 3,1 milhões de hectares. Já o Brasil, tido como celeiro do mundo, possui somente 750 mil hectares dedicados ao cultivo de orgânicos.
A produção limitada é reflexo do baixo consumo desses produtos, mesmo nos países mais ricos. Na Dinamarca, considerada a nação mais orgânica do mundo, as vendas desses produtos representam apenas 7,6% do total. Suíça (7,1%), Áustria (6,5%), Estados Unidos (5%) e Alemanha (4,4%) fecham o ranking dos cinco maiores consumidores de orgânicos.
Por fim, é preciso lembrar que nunca houve uma morte sequer causada pela ingestão de resíduos dos temidos agrotóxicos em alimentos convencionais. Não podemos falar o mesmo sobre os orgânicos.