Jornalista e escritor. Autor dos livros "Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo" e "Guia de Comunicação para o Agronegócio". Acompanha há 20 anos o dia a dia do setor.
No Brasil, os produtores rurais são vistos por uma parcela significativa da população como latifundiários, desmatadores, inescrupulosos e exploradores - adjetivos que não se aplicam a 99,99% dos agricultores e pecuaristas brasileiros.
Esqueça o estereótipo do homem branco, rico e malvado que você se acostumou a ver nas novelas.
De acordo com o mais recente Censo Agropecuário, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017, a realidade no campo é bem diferente.
O Brasil possui hoje mais de 5 milhões de propriedades rurais e emprega, diretamente, cerca de 15 milhões de trabalhadores. Em um universo tão amplo, seria impossível que todos tivessem o mesmo perfil.
Os homens, de fato, são maioria entre os fazendeiros brasileiros, responsáveis por 80% das propriedades no país. Quase metade deles (46,8%, para ser mais preciso) têm entre 40 e 55 anos. As semelhanças com o mundo rural da ficção, porém, acabam por aí.
Atualmente, a maioria dos produtores brasileiros se identifica como preto ou pardo (53%), contra 45% de brancos e 2% de asiáticos ou indígenas.
Eles também não são donos de vastas áreas de terras. De acordo com o IBGE, 81,5% das propriedades rurais no Brasil têm até 50 hectares e apenas 2% possuem mais de 500 hectares.
As mega fazendas, aquelas com mais de 10.000 hectares, representam menos de 0,1% do total no País.
Apesar da sagacidade demonstrada ao longo das últimas décadas, o nível de escolaridade do produtor brasileiro ainda é extremamente baixo. Cerca de 70% dos fazendeiros não completaram sequer o ensino fundamental, enquanto apenas 2% possuem ensino superior completo.
Isso se traduz em uma renda muito aquém do ideal. Ainda de acordo com o Censo, 83% dos produtores rurais recebem menos de 2 salários mínimos por mês, enquanto 12% conseguem obter uma remuneração entre 2 e 5 salários mínimos.
No topo da pirâmide, apenas 5% dos proprietários de terras possuem renda acima de 5 salários mínimos mensais.
Ainda que exista uma elite rural - e ela realmente existe -, não há nada que justifique o embate, criado na cidade, é bom que se diga, entre a agricultura familiar e os grandes produtores.
Existem pequenas propriedades extremamente rentáveis, assim como existem grandes fazendas à beira da falência.
Uma família em um sítio de 10 hectares pode plantar soja, da mesma forma como um empresário pode produzir frutas em uma área de 1.000 hectares.
Todos eles fazem parte do agronegócio e contribuem igualmente para a economia e segurança alimentar do país.
Mais do que em qualquer outro segmento da economia, o agronegócio é pautado pela meritocracia.
Trata-se de um setor que possibilita crescimento e mobilidade social baseados exclusivamente no próprio trabalho.
E aqui não estamos falando necessariamente do esforço físico.
O investimento contínuo em educação e treinamento, uma boa gestão da propriedade, o apetite para o risco, além de uma boa dose de sorte (já que existem alguns fatores importantes, como o clima, que simplesmente não podem ser controlados pelos produtores), são fatores decisivos nesta atividade.
É o que faz os pequenos prosperarem. E também o que tira muitos herdeiros de terras deste negócio.