O mundo é muito grande e complexo para qualquer pretensão de mudá-lo

O pote de ouro no fim do arco-íris? A irmandade dos homens? Ou apenas a velha cenoura na frente do burro, que vem matando mais que Jeremias muito louco, deixando a meta em aberto e dobrando a meta a cada fracasso?

No Rasta News de hoje, falaremos sobre uma ideia pensada pelo anjo pigmeu caolho, e que vem seduzindo as multidões espumantes, trocando o duro amor pelo que existe imperfeitamente, pela idolatria à perfeição daquilo que não existe e que ninguém sabe o que é. No Rasta News de hoje: mundo melhor.

O mundo de hoje é um mundo cada vez mais mundano. Nas tribunas e parlamentos, nos filmes, em livros de muitas folhas, e em musiquinhas de roqueiros boêmios loki, as fábulas mais estapafúrdias são pavoneadas por aí com ares de sabedoria. 

Dentre os despautérios e desarrazoamentos que escutamos da boca de proxenetas, artistes, políticos, e marketing de ongs, não há como negar a popularidade do tal mundo melhor.

Mas de que consiste este tal mundo melhor. Que mundo é esse que precisa ser melhorado, onde vive? O que veste? O que come?

Para iniciar o nosso processo dialético, fomos às ruas da pauliceia desvairada para medir a percepção dos populares, e vislumbrar um pouco do status atual da doxa, a velha e raramente boa: opinião. 

Bem-vindos ao quadro: Prometo não mudar sua opinião

1. Você acredita num mundo melhor?

2. O que é o mundo?

3. De que forma o mundo poderia ser um lugar melhor?

4. Você gosta de batata?

5. Você gostaria mais de batata, ou você gostaria mais de viver num mundo melhor?

Desde os tempos mais primórdios, o homem se reconheceu a si mesmo como uma criatura tropeçada e caída. 

Da queda de Adão aos males que escaparam da caixa de Pandora, a jornada do homem humano é contada de maneira mítica como partindo de um estado de paz e harmonia, há uma queda e uma jornada da vaca pro brejo que termina com um acerto de contas, e um novo mundo, nunca foi uma promessa para este aqui. 

Do Éden ao Apocalipse, o homem sempre teve a ideia de que a sua luta era uma luta contra a entropia e seu crescimento inexorável. 

Qualquer leitor atento do Velho Testamento ou da Ilíada e da Odisséia, nota o quão frágil é a relação do homem com o que ele pensa ser o seu destino, e o quanto suas tentativas de controlar o futuro são frequentemente frustradas.

Este entendimento sempre deu ao homem uma consciência de que é muito mais fácil destruir os poucos bens que conquistamos nessa terra do que construí-los, essa é a lição que deve estar impressa no DNA de qualquer um que ousa abrir a boca para se dizer conservador e não apenas um conversador. 

A modernidade, modernosa e surubista, veio trazendo consigo esquemas para reinventar o homem, novos cajuzinhos do verão que, muitas vezes são apenas heresias mais velhas do que a Gretchen e querendo se passar por gatinhas do verão, é a Megan Fossil, meu amigo. 

A negação do pecado original por parte dos estoicos pelagianos ganhou temperos franceses por parte de Rousseau, que deu ao homem moderno uma janela para ventilar sua vaidade como se fosse uma sabedoria oculta há muito reprimida. 

Mas nenhuma ideia do anjo pigmeu caolho deu tanto azo à estupidez humana quanto a ideia de progresso da história, que inaugura como projeto político o tal mundo melhor.

Olhe, mermão, não é meu papel aqui criticar o Hegel, que eu acho até um cara daora, mas o que a galera fez com o que o cara disse é um aranzel sem precedentes. 

Tomada como um absoluto, a ideia de progresso da sociedade humana rumo à liberdade num estado de direitos em paralelo com a evolução humana rumo a autoconsciência é um dos otimismos mais inescrupulosos que a humanidade já teve notícia. 

A galera acha que liberdade é livrinho de direito. 

Você pega os países ditos do mundo livre e a facilidade com que um governante democraticamente eleito consegue jogar um cara na cadeia é uma parada que nenhum tirano da antiguidade imaginaria. 

E para cada direito novo que inventam é mais um monte de regra que todo mundo tem que seguir.

Eu fui dizer no pânico uma vez que a gente tinha mais liberdade nos primeiros dois mandatos do governo do bem, obviamente não por benevolência deles, mas por que não tinham os meios para tal, e que só conquistaram efetivamente durante o governo do mal, que foi o maior ajudante legal e cúmplice da tirania que se instalou no país, e teve uma lacraia careca do bafo salgado dando chilique porque não passava na cabeça dela que discursinho pró liberdade não é meio de ação. 

Nunca o Estado teve tantos meios de ação para espionar, perseguir e coagir o homem comum como nós temos hoje, e não houve NENHUM governante que não contribuísse para que esses meios se expandissem.

Imagina eu contar pro Fidel Castro que uma organização mundial conseguiu fechar o mundo inteiro, o maluco ia ter um AVC, de não saber se ficava moralmente escandalizado ou eroticamente excitado.

E a tal autoconsciência que se desenvolveria em virou auto idolatria, o nível de categorias subjetivas estapafúrdias que orientam, ou melhor, desorientam o homem de 2024.

Qualquer camponês analfabeto com expectativa de vida de 50 anos da idade média estava inserido na mesma cosmovisão que Santo Tomás, ou Carlos Magno, eram posições diferentes mas ainda era o mesmo mundo que a galera via. 

Hoje em dia o cara passa 24h centrado no próprio umbigo, ele não sabe se ele é ele ou ela e a galera que trabalha com saúde mental não sabe se droga o maluco, se corta o peru do maluco, ou se enche o cara de "autoestima"; mermão, se eu não explodo a cara dessa galera da autoestima, quanta estima alguém deve ter por si mesmo? 

Para o homem moderninho, que nasce bom e é a sociedade que o corrompe, é TODA, né? 

A geração estrelinha dourada para todos os alunos não tá autoconsciente, tá louca, doente do juízo, tiraram a cruz da garotada e ofereceram a autoestima e a galera virou furry, virou mendigo dependendo de heroína dada pela prefeitura, virou menina de 15 anos vendendo pack do pezinho e comprando a casa própria, virou homem de 30 anos na cara se identificando com peaky blinders e postando frase de clube da luta. 

Tá entendendo, mermão? Um par de errinhos ali no início "ah, o homem é bom, não tem essa parada de pecado original não", "ah, a humanidade caminha para o progresso, é o século das luzes"; depois de uns séculos vira casal de sadomasoquista vestido de pônei saltando obstáculo e fazendo baliza, porra. 

Era a cruz ou o pônei e a galera escolheu o pônei. 

Muita gente olha para o progresso material e o nível de conforto que devemos ao inegável progresso da tecnologia e acha que o homem vai junto; a concepção de mundo desse tipo de gente é a concepção do homem micareta: o mundo pra ele é uma circunferência cujo raio vai até a pulseira do camarote e sua participação nele é usar um abadá. 

A parada é muito mais macabra: O que chamamos de progresso é a democratização da estupidez. 

Primeiro porque a especialização necessária para tal progresso já deixa o homem uns 90% mais bárbaro, é só tu ver o nível cultural de um desenvolvedor de software de ponta, ou de um engenheiro de computação, que não passa de nine inch nails, série no netfrico e the watchmen.

Segundo que o avanço tecnológico vai deixando o homem mais burro e dependente –Tem geração z que se tu jogar o maluco na paulista ali na altura do conjunto nacional sem celular ele não sabe chegar no MASP. 

Isso sem contar a quantidade de youtuber que passa o dia confabulando qual será o dia em que as máquinas farão todo o trabalho de alocação de recursos e que o homem não tenha mais que trabalhar para viver. 

Nem eu que detesto trabalhar me dou a um otimismo deste. Nesta estou com Seu Madruga, não há nada mais trabalhoso do que viver sem trabalhar. 

No fundo a galera só quer uma namoradinha robô; e por último o sistema educacional se converte em formação de técnicos de um lado, e autoidólatras inúteis do outro, que é a galera de humanas. E o que é que a galera de humanas faz? 

Jeremias: O mesmo que César Cielo, Michael Phelps, Fernando Scherer e esposa de influencer de direita (ou político?)

: Nada. 

Brincadeira, a galera de humanas faz muitas coisas, serve café no starbucks, mama uma verba do cnpq para estudar a construção de identidade através de identidade em piriguetes, pratica pole dancing, vira até presidente do Chile, mas uma coisa os une indissociavelmente: uma injeção de sertralina pelo tal Mundo Melhor.

E para falar sobre o mundo melhor, trouxemos aqui um perito em melhorias mundiais, intelectual, pai de plantas, entusiasta da decoração e da perobagem: Leandro Espiritual

-Poxa, muito bem-vindo, Leandro Espiritual!

-Obrigado, Rasta! Inclusive, eu queria dizer que o seu nome é muito interessante. Muita gente não sabe, mas o rastafarianismo é uma religião de raízes judaico-cristã e africanas, que surgiu entre os jamaicanos, ou seja, negros descendentes de negros escravizados. 

Se você me permite a ousadia, parece haver uma provocação, ou até mesmo um toque de ironia no seu nome, que com certeza vai atrair e ao mesmo tempo desafiar quem está nos assistindo em casa.
-Caramba, Leandrinho! Quanta sagacidade! Quanta perspicácia! Mas vamos ao nosso assunto de hoje. Leandro Espiritual.. o que é…… o mundo?
-O mundo, para nós que somos humanos, é como a sua vida, um mistério já que o mundo se apresenta com diversas faces, e este mistério tem nuances complicados, cheios de variáveis, como um terreno cheio de pedras e percalços, que nos deixam impressões que podem ser falsas ou reais, mas que é onde o ser humano se encontra.

-Realmente é bem isso que eu imaginava. E se isso é o mundo, o que seria, então, um mundo melhor?

-Um mundo melhor é um lugar plural e diverso, é um mundo onde se busca o conhecimento, onde se valoriza o jovem, o professor e a ciência. 
-Uau! E o que mais esse mundo teria?

-Teria diversidade e educação pública, gratuita e de qualidade para cuidar das crianças, liberando o homem e a mulher dessa estrutura arcaica da família, mas entendendo que a humanidade é uma grande família. 

A religião não seria de todo desprezada, mas entendida como histórias que contém lições valiosas para um homem que não tinha as ferramentas científicas para entender o mundo ao seu redor, as fronteiras entre os países desapareceriam, e a cooperação substituiria a competição e o homem viveria para atingir todo o seu potencial, amando livremente, sem as amarras das convenções, e viver deliciosamente usufruindo da arte, da cultura, e de uns aos outros (começa a olhar pro rasta sedutoramente)
-Muito bom… muito bom… mas olha, seu Espiritual, esse seu paraíso terreno aí tá começando estilo iluminista, mas tá terminando meio festinha no banheiro da USP

-E o que que tem de errado com uma festinha no banheiro da USP?

-Então, seu Leandro…

-Todo mundo se diverte

-É que eu confesso que fiquei um pouco com o pé atrás com esse mundo… mas só pra tirar uma dúvida de quem estiver em casa assistindo. O mal passado ficaria num mundo melhor ou num mundo pior? 

-Mal passado é num mundo pior.

-Entendi…

-Mas num mundo melhor teria o hambúrguer de soja, que é igualzinho ao de vaca. Também tem peito de frango grelhado no molho barbeque. Várias coisas…

-Não precisa se explicar, Sr. Espiritual… Foi só uma pergunta. Tá tranquilo. Longe de mim querer decidir o meu destino por causa de um mal passado ou de um hambúrguer.

-Tem linguiça também.
-Ah… Isso aí eu imagino que tem muita…
-Então, você vem?
-Po… eu acho que a gente tá pulando as etapas.

-Começou essa conversinha de isentão…

-Não é isso, Leandrinho. Eu sei que esse seu mundo melhor é muito incrível, mas não sei se eu tô preparado, entende?.

-Como assim?

-Eu acho que eu não sou evoluído o suficiente.

-Ficaria menos feio confessar que odiou tudo que eu disse..

-Que isso, Espirituais!? Não foi isso que eu disse! Eu adorei! Eu adorei esse mundo!

-Mas não quer ir…

-Eu só não tô preparado, cara! A culpa é minha, eu sou um fracasso, EU não aprendi a me 

desconstruir! Me desculpa por ser homem!

-Eu esperava mais de você, Rasta. Você prometeu pelo Milei…

-Ah… aquilo foi um mal entendido, era um palio branco 97

-Bobagem conservadora de uma direita de-li-ran-te

-Muito obrigado pela sua presença, chama o VT Caraca, Jeremias… Olha do que eu me livrei…

-É, Rasta, por um segundo achei que você teria que rifar o palio branco 97 novamente

Pois é, mas depois da segunda só sobraria mais uma

-Uma coisa é certa, esse mundo melhor é sempre construído com o palio branco 97 dos outros

No Rasta News de hoje, nós vimos que o mundo é muito grande e complexo para qualquer pretensão de mudá-lo e que já dá um trabalho danado não piorá-lo, mas pelo visto nunca faltarão os grandes reformadores, visionários condutores de povos que, em nome da melhora e do progresso, transformarão tudo em balbúrdia, dedo no furico e gritaria.

Então ficamos assim, amanhã, às nove, na praia, e uma melancia de meia em meia hora, se não chover…