Jornalista e escritor. Autor dos livros "Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo" e "Guia de Comunicação para o Agronegócio". Acompanha há 20 anos o dia a dia do setor.
Já falamos aqui sobre a importância do agronegócio para a economia brasileira e também sobre o seu papel para garantir a segurança alimentar no mundo.
São pautas de extrema relevância, mas que infelizmente, não sensibilizam o público urbano. Pelo contrário, apenas reforçam a imagem de um agronegócio arrogante.
O fato é que essas pautas não vão desaparecer. E nem devem. Mas precisamos agregar ao debate alguns assuntos convergentes, de forma a viabilizar o processo de aproximação do agro com a sociedade.
E é justamente aí que entra o tal ESG, amado por uns, temido por outros, mas que, na realidade, pode ser um grande aliado do setor.
Infelizmente, ainda existem muitas pessoas influentes no agro que torcem o nariz para o ESG.
Gostem ou não, o fato é que essa sigla vai ditar os rumos dos negócios pelos próximos anos - e isso não tem nada a ver com "estratégias do globalismo" ou qualquer tipo de teoria conspiratória.
A pauta ESG hoje é uma demanda da sociedade, especialmente após a pandemia, período em que as pessoas passaram a refletir mais profundamente sobre os impactos do homem sobre o meio ambiente.
As pessoas já não se preocupam mais apenas com os aspectos nutricionais dos alimentos que estão consumindo, sob o ponto de vista unicamente da saúde.
Atualmente, questões como a rastreabilidade, o trabalho justo e o impacto de determinado produto para as mudanças climáticas também têm um papel decisivo na decisão de compra por parte do consumidor.
Esta é uma tendência que veio para ficar. Tal pensamento já está enraizado entre os millennials (pessoas na faixa etária dos 25 aos 40 anos) e é ainda mais radical na geração Z (nascidos a partir da metade dos anos 1990).
Trata-se, portanto, de uma demanda das novas gerações, gente que, muito em breve, vai assumir o poder, seja na política ou dentro das organizações.
O produtor que tiver a pretensão de se manter no mercado nas próximas décadas fatalmente vai precisar estar alinhado com os desejos deste novo consumidor.
O cenário para o agronegócio hoje é desafiador. Sem um histórico de comunicação, o setor sofre com a desconfiança por parte de uma sociedade sedenta por informações.
E, neste ponto, as pautas ESG podem ser importantes aliadas para uma mudança de percepção em relação ao agro brasileiro.
Mais do que nunca, será preciso apresentar os seus compromissos ambientais, sociais e de governança de forma clara, transparente e factível.
A comunicação terá um papel decisivo neste processo. Mais do que fazer, hoje é fundamental contar à sociedade tudo o que está sendo feito e, acima de tudo, mostrar que é possível unir o lucro a um propósito genuíno.
Cases de sucesso do setor mostram que uma boa comunicação pode, sim, mudar o cenário atual.
Para um setor exportador, que deseja conversar com os seus consumidores em todo o mundo, mostrar os seus compromissos é o primeiro passo no sentido de construir uma boa reputação.
Reputação, aliás, que também será levada em consideração por parceiros e stakeholders em busca do cumprimento de suas próprias metas de ESG.
E não são somente os grandes fundos de investimentos internacionais que estão de olho nesta pauta.
Atualmente, muitas cooperativas de crédito no Brasil já vêm levando os compromissos ESG em consideração no momento da avaliação de riscos.
Isso acontece porque essas instituições também querem ser vistas pela sociedade como indutoras de uma mudança positiva no agronegócio.
Em um mundo cada vez mais consciente e conectado, a sociedade passou a exigir mais informações sobre a origem dos alimentos que consomem.
Do ativista em Paris à dona de casa em Belo Horizonte, todos querem saber onde seus alimentos foram produzidos, como foram cultivados, se o produtor respeita o meio ambiente, quais são as condições de trabalho de seus funcionários, entre outras informações hoje relevantes para a sociedade.
A comunicação institucional deve levar em conta os valores que a empresa quer compartilhar com o seu público, mas não deve ficar restrita aos meios de comunicação.
É preciso conversar também com fornecedores, stakeholders, investidores, além dos colaboradores, que, no fim do dia, são os primeiros embaixadores da empresa.
No mundo todo, os compromissos ESG já vêm sendo amplamente utilizados como temas de comunicação. No agro brasileiro não pode ser diferente, lembrando sempre que isso não pode ser encarado como uma ferramenta de marketing para vender produtos. O ESG serve, na realidade, para que os produtos não deixem de ser vendidos no futuro.