Jornalista e escritor. Autor dos livros "Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo" e "Guia de Comunicação para o Agronegócio". Acompanha há 20 anos o dia a dia do setor.
Na última semana, uma notícia chocou tanto esportistas quanto pecuaristas de todo o mundo. A informação de que o Comitê Olímpico Internacional decidiu reduzir a oferta de proteínas de origem animal nos Jogos de Paris. Sob a justificativa de que as carnes seriam uma ameaça climática, todos foram pegos de surpresa, especialmente pela falta de embasamento técnico e científico.
Buscando chamar atenção para o evento, praticamente esquecido pelo público poucas semanas antes de seu início, o COI precisou apelar para a lacração, anunciando que limitaria a pegada de carbono a um quilo de CO2 por refeição.
No total, serão servidas mais de 13 milhões de refeições - 60% delas vegetarianas.
A primeira pergunta que não quer calar: será que os atletas, principais estrelas dos Jogos, foram consultados a respeito do tema? Certamente, não.
De acordo com especialistas, a carne é a base da alimentação dos esportistas de elite. A redução na oferta de proteína animal fatalmente impactará no desempenho dos competidores.
A segunda, mais obscura, é: será que essa é realmente uma opção mais sustentável? Com certeza, não! Vamos aos fatos.
Erra quem pensa que as carnes alternativas proporcionam uma refeição mais natural, já que as proteínas vegetais são altamente processadas.
Você já deve ter ouvido falar no tal "hambúrguer do futuro", um produto vegano vendido a preços exorbitantes nos mais luxuosos supermercados do Brasil. Mas já teve a curiosidade de olhar a sua lista de ingredientes? Não?
Então, eu compartilho com você: água, preparado proteico (proteína texturizada de soja, proteína isolada de soja e proteína de ervilha), gordura de coco, óleo de canola, aroma natural, estabilizante metilcelulose, sal, beterraba em pó e corante carvão vegetal.
São pelo menos 11 ingredientes, para terror dos críticos dos alimentos ultraprocessados.
Outro engodo é a chamada "carne de laboratório". Nos últimos anos, empresas do mundo todo têm investido bilhões de dólares no desenvolvimento de proteínas artificiais, cultivadas em laboratório, vistas pelos mais radicais como a verdadeira carne do futuro. Nada indica que isso vá acontecer.
Além do sabor duvidoso, que nunca convenceu os consumidores, a sua produção tem ares de ficção científica.
O processo utiliza um biorreator e é altamente dependente de energia. Segundo o Good Food Institute, associação que representa as indústrias de proteínas alternativas, tais produtos teriam um impacto até 80% menor em relação à carne tradicional.
De acordo com pesquisadores, no entanto, sem fontes de energia renovável seu impacto pode ser entre 4 e 25 vezes maior.
Somente a construção de uma fábrica dessas custa em torno de US$ 450 milhões. Os custos de produção também são elevadíssimos, o que impacta diretamente o preço do produto final.
A parcela da população disposta a pagar caro por esse tipo de produto, por sua vez, cai ano após ano.
Os investidores já perceberam que essa conta não fecha. Não por acaso, as ações da Beyond Meat, empresa referência no setor, estão derretendo na bolsa de valores.
O papel, que já chegou a valer US$ 230 no seu auge, em 2019, despencou para US$ 14 no início de 2023 e hoje é negociado pouco acima dos US$ 8, reflexo da queda de 18% nas vendas no último ano, quando registrou US$ 338 milhões em perdas. Um verdadeiro fiasco.
Por outro lado, contando com muito menos marketing, existe a carne realmente sustentável.
Ela não está nas fábricas que processam soja nem nos laboratórios de alta tecnologia, mas sim nos pastos brasileiros.
Apontada pelos ambientalistas como grande vilã das mudanças climáticas, a pecuária hoje está longe de ser uma inimiga da natureza. Muito pelo contrário.
Os críticos provavelmente não sabem, mas as fazendas estão cada vez mais produtivas, resultado da adoção de tecnologias que vão do monitoramento da qualidade dos pastos via drone ao acompanhamento do ganho de peso dos animais, de forma individual, em tempo real.
O uso da tecnologia permite um melhor aproveitamento das áreas disponíveis, garantindo uma maior produtividade por hectare, o que contribui para a redução das emissões na pecuária de corte.
Ainda que a atividade emita CO2, a pastagem e o solo capturam carbono. Nas propriedades mais tecnificadas, o balanço de carbono é positivo. Isso mesmo, elas capturam mais do que emitem.
Um levantamento recente divulgado pelo projeto Serviços Ecossistêmicos, realizado pela consultoria Nutripura, comparou o balanço de carbono de algumas fazendas atendidas pela empresa com as emissões de um avião comercial.
Para se ter uma ideia, as emissões anuais de uma única aeronave (que opera somente 252 dias no ano) são equivalentes a mais de 10 anos de operação de uma fazenda de gado tecnificada, capaz de produzir carne para mais de 30 mil pessoas anualmente.
Ao contrário do que diz o Comitê Olímpico Internacional, a pecuária não é a vilã das mudanças climáticas.
Mas, se a preocupação de fato for genuína, o COI também poderia exigir que as delegações se desloquem rumo a Paris a bordo de veleiros, ao melhor estilo Greta Thumberg.