Mariana Goelzer é escritora e roteirista. Mantém uma coluna sem fórmulas pré-concebidas, nem ideias pré-formatadas, criando um um local de reflexão livre, mas comprometida, sobre pensamentos que careciam do devido tempo e espaço para florescer.
É por essas e outras que na era de relativismos intensos, dos quais nem a biologia consegue escapar ilesa, o verbo “achar” passou a ser empregado para questões em que a resposta apropriada não é exatamente uma opinião, mas expressar uma adequação entre o pensamento e a realidade.
À primeira vista, pareço estar sendo rigorosa demais com a simples escolha de um verbo, pois - alguns podem pensar - trata-se de uma mera mudança de palavra, que em nada impacta em nossas vidas. No entanto, entre opiniões e fatos habitam as raízes para muitos sofrimentos humanos, porque indiferentes a essa diferenciação, vamos nos tornando insensíveis para nossas potencialidades e limitações.
Essa reflexão não é uma novidade para mim, mas ressurgiu recentemente quando fui participar de um programa na Jovem Pan para divulgar o documentário “A face oculta do feminismo”. Na entrevista, fui questionada se não achava que uma CEO pode ser também uma mulher dedicada ao cuidado do lar e da família. Veja, determinar se as duas atividades são (in)conciliáveis não é exatamente uma opinião, não é a expressão de um desejo ou de uma escolha. É o reconhecimento de que o tempo é escasso e de que ambas as funções, para serem executadas com maestria, demandam esse mesmo recurso limitado. Achar ou não achar, neste caso, não é o que importa. O fundamental é saber se, para além do meu desejo, é viável agregar a maternidade com uma carreira de liderança em uma grande empresa.
E por que isso importa? Importa porque, sem refletir sobre essa diferença, vemo-nos impelidos a executar aquilo que é impossível, vemo-nos dispostos a apoiar empreendimentos inexequíveis. Confundir um e outro nos aparta da verdade e, por conseguinte, impede-nos de gerenciar adequadamente as situações. Quando aceitamos que as coisas são, apesar do nosso querer, damos mais um passo em direção à capacidade de administrá-las sadiamente, porque passamos a compreender mais o mundo.
Mas enquanto continuarmos confundindo opiniões e fatos, estaremos fechados para a verdade, tentando sempre sem sucesso converter a luz em escuridão, o impossível no possível, a ilusão em realidade.