Jornalista com 36 anos de experiência, apresentador e autor de cinco livros, um deles best-seller. Por duas vezes, ganhou o Troféu Imprensa e o Prêmio Comunique-se.
Que bom que a verdadeira sociedade civil está empenhada, se entregando à solidariedade. Se há dificuldades impostas pela tragédia em si, parece claro que há também obstáculos que poderiam ser evitados.
É um absurdo que tentem impedir que haja relatos contra a burocracia estatal, que haja denúncias de uso político da tragédia, críticas ao trabalho de resgate, acolhimento e proteção dos atingidos.
É preciso que entendam que o povo gaúcho tem pressa, que a resposta de todos, de todos, tem de ser rápida.
Apontar possíveis erros, falhas, equívocos, omissões, falta de comprometimento, de organização e planejamento, de qualquer um, em qualquer situação, é uma forma de conduzir a soluções.
Esse movimento é essencial para que o sofrimento dos atingidos pelas enchentes seja reduzido, nesse cenário terrível de calamidade completa.
O que se deve fazer, portanto, é não considerar que as críticas são levianas e têm como objetivo atacar um grupo político e o Estado.
Toda denúncia deveria ser investigada, e não descartada como “fake news” ou, pior, criminalizada. Se a acusação não procede, que se prove o contrário, com informações claras, fundamentadas.
Não era mentira que caminhões com mantimentos para o Rio Grande do Sul estavam sendo multados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres... Foi a partir da reportagem do SBT que a ANTT baixou portaria para acabar com esse absurdo.
Não é mentira que a Ministra do Planejamento disse que “o dinheiro vai chegar no tempo certo, que não é agora”. Não é mentira que Simone Tebet afirmou que “os prefeitos não sabem o que pedir porque a água não baixou”.
Não é mentira que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, queria priorizar o socorro a ciganos e quilombolas. Está no artigo quinto da Constituição, que já tinha sido rasgada e agora deve estar debaixo d’água: “Todos são iguais perante a lei”.
A turma que veste colete, mesmo que num gabinete refrigerado, que faz pose para fotos, que grava vídeos dispensáveis, que troca a imagem de perfil nas redes sociais precisa abandonar a autopromoção, seus interesses políticos e entender que todos os atingidos precisam de ajuda.
E, sem a liberação rápida de verbas, tudo se torna muito difícil. Os pagadores de impostos, certamente, não querem bancar o Congresso mais caro do mundo, o segundo Judiciário mais caro do mundo. Só o TSE consome quase R$ 12 bilhões por ano, mesmo quando não há eleições. O Fundo Eleitoral carrega quase R$ 5 bilhões. O Fundo Partidário arrasta R$ 1,2 bilhão. O Estado gasta muito, e gasta mal.
E os “ambientalistas” que anunciam o fim do mundo para daqui a dez anos, renováveis por mais dez indefinidamente, não deveriam se opor aos estudos que apontam soluções para as enchentes na região de Porto Alegre.
Hoje, a única ligação da Lagoa dos Patos com o oceano é um estreito canal na sua extremidade sul. Há um projeto para a construção de três canais em outros pontos da lagoa, com comportas que seriam abertas quando houvesse temporais e a água subisse rapidamente. É preciso que haja prevenção, é preciso que se fale sobre isso.
Certamente, a interdição do debate, seja qual for o tema, vai sempre nos condenar, sem distinção, ao flagelo.