Professor, tradutor, editor e revisor de textos com mais de 15 anos de experiência no mercado editorial. Mestre em Letras e autor do livro "Tudo converge para o texto".
Tenho uma bandeira: é necessário tirar o conhecimento linguístico da gaveta das chatices escolares e colocá-lo na estante do desenvolvimento pessoal.
Entre os fatores que contribuem, por exemplo, para o sucesso na carreira, as habilidades de comunicação estão em destaque.
Não por acaso, há abundância de ofertas de cursos de oratória, de escrita persuasiva, de técnicas de vendas, de programação neurolinguística, etc. A explicação é simples: no fundo, todos desejam se comunicar melhor.
Com uma frequência espantosa, no entanto, muitos se esquecem de que a língua – seja falada, seja escrita – é nosso principal instrumento de comunicação.
Dominar a língua – e dominá-la inclui a capacidade de adequar o registro à situação concreta de comunicação – já é estar a caminho da realização de nossos objetivos.
Ou alguém duvida que muitos dos mal-entendidos ocorridos no trabalho ou até em nossos relacionamentos encontram ao menos parte de sua explicação em nossa falta de traquejo com a linguagem?
Quando você se senta para escrever um texto e assume o firme compromisso de ser o mais claro que puder, a clareza está no texto ou em você?
Em ambos!
E é por isso mesmo que considero que o conhecimento linguístico pertence ao domínio do desenvolvimento pessoal.
Aperfeiçoar a nossa linguagem é aperfeiçoar o nosso ser inteiro. Se alguém tiver dúvidas disso, sugiro que assista ao filme “My fair lady”, em que uma florista ambulante percebe que, para realizar o sonho de ter sua própria floricultura e “vendê frô pras madama”, seria necessário mudar seu modo de falar.
O filme, que se baseia na peça “Pigmalião”, de George Bernard Shaw, aliás, pode servir de mote para refletirmos sobre a relação entre língua e identidade.
É provável que você já tenha ouvido a ideia de que “a virtude está no meio”. Não, não se trata de uma defesa da mornidão ou do “murismo”; trata-se apenas da devida moderação.
A virtude da coragem tem dois vícios correlatos: de um lado, a covardia; do outro, a temeridade. A virtude está no meio.
A generosidade tem dois vícios correlatos: de um lado, a avareza; do outro, o esbanjamento. A virtude está no meio.
Esses exemplos devem bastar para mostrar que é igualmente possível pecar pela falta e pelo excesso.
Enfim chego ao assunto que pretendo tratar aqui. A concisão também é uma virtude – e está a meio caminho entre o laconismo, de um lado, e a prolixidade, de outro.
Se queremos ser compreendidos por nossos interlocutores, buscar a concisão é da máxima importância.
Os vícios do laconismo e da prolixidade certamente resultam em problemas de comunicação.
Concisão é em dizer tudo que há para dizer com o mínimo de palavras. Prolixidade é dizer mais do que o necessário; laconismo é dizer menos.
Um texto prolixo pode enfadar o leitor. Ao perceber que há ali uma profusão de palavras desnecessárias, digressões e redundâncias, a atenção do leitor começa a se dissipar e há um sério risco de que ele nem termine a leitura.
Um texto lacônico, por sua vez, dá margem ao mal-entendido, por causa da insuficiência das informações apresentadas. É bom que se diga que as pessoas são diferentes e manifestam diferentes inclinações.
A essa altura, você já deve ter percebido que tenho maior propensão à prolixidade. Por temer pecar contra a clareza, acabo me estendendo demais nas explicações, incluo mais de um exemplo e às vezes entro em detalhes desnecessários.
Outras pessoas, ao contrário, tendem ao laconismo. Acreditam piamente que aquilo que é óbvio para eles é óbvio para todos os demais e se furtam de dar as devidas explicações.
Ambas as posturas são viciosas, mas ambas têm “tratamento”. Faça seu exame de consciência.
Eu já disse nesta página que todo texto é resultado de um processo. Num primeiro momento, simplesmente damos vazão às nossas ideias, sem muita preocupação com a forma.
Depois da primeira versão já redigida, é a hora de começar a retrabalhar o texto. Agora, sim, a autoconsciência precisa entrar em ação.
Se você sabe que tem maior inclinação à prolixidade, é o caso de reler seu texto procurando onde é possível fazer cortes.
Algumas perguntas podem orientar sua revisão:
Caso a sua tendência seja para o laconismo, você deve reler o texto procurando, não o que cortar, mas o que incluir.
E, evidentemente, as perguntas são outras:
Em ambos os casos, ao buscar a concisão do seu texto, você está mostrando que valoriza a sua mensagem e o seu leitor.
Concisão é uma virtude textual, mas é também uma virtude humana.
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WILLIAM CRUZ
Mestre em Letras, tradutor, editor e revisor de textos. Mantém o perfil @gramaticanavida no Instagram.