Advogado e professor, já foi juiz de direito e delegado de polícia. Fundador do Ser Mais Criativo, escola de comunicação, cultura e criatividade. Cofundador do CP Iuris, preparatório para concursos jurídicos. Compartilha reflexões sobre obras clássicas e comunicação.
Desde o dia em que decidi empreender, adotei a jornada 7x0. Em síntese, são 7 dias de trabalho e 0 dias de descanso. Eu sei, não é o ideal, não é o certo, não é o exemplo. Mas é a verdade.
Mesmo aos domingos, eu preciso responder uma mensagem, escrever minha newsletter, publicar um texto. A internet tem disso.
Só que este texto não tem por finalidade instigar sua ira ou seu acolhimento. Eu escolhi esse caminho. Se eu quisesse descansar aos sábados, ter 2 meses de férias e 17 dias de recesso anual, teria continuado juiz. Pedi exoneração.
Evidentemente, a Proposta de Emenda Constitucional que extingue a jornada 6x1 não visa a minha pessoa. Mesmo assim, decidi lê-la. A PEC, encabeçada pela deputada Erika Hilton, é simples. O problema é a análise simplista feita sobre seus efeitos.
É lindo dizer ao empregado: “trabalhe menos e ganhe o mesmo tanto”. Quem não quer? Eu quero, topo, anseio. O difícil é fazer isso se tornar uma realidade. Porque, na vida atrás do balcão, no salão de beleza e na padaria, a PEC, querendo trazer direitos, pode trazer pobreza, informalidade e desafios inimagináveis.
Ninguém desconhece o avanço tecnológico. Antes, eu precisava de dez vendedores para ligar para potenciais clientes. Eles levavam horas. Agora, eu preciso de uma pessoa e uma ferramenta que faz centenas de disparos pelo WhatsApp em minutos. Ou seja, menos pessoas, menos tempo, mais serviço.
No entanto, uma PEC que reduz a jornada de trabalho em, praticamente, 20% pode ser tudo, menos prudente. Não faz sentido que coloquemos na Constituição um experimento econômico e social do qual não temos noção do resultado. É preciso ser razoável.
Guiando-me pela razoabilidade, penso que a redução para 40 horas, em um regime 5x2, já contempla a vida além do trabalho e o trabalho além da vida (feito por máquinas).
De toda forma, a proposta da deputada ou mesmo a sugerida acima tem um preço. Alguém precisa pagá-lo. Quem? Proponho que seja o governo. Como? Desonerando a folha. Menos impostos e mais direitos.
Assim, a gente acaba com o discurso populista de quem inventa um tributo a cada mês, diminui a carga horária do trabalhador e não prejudica quem empreende. Todos sairão sorrindo, menos o governo. E isso costuma ser um bom sinal.