Tallis Gomes

Fundador e mentor do G4 Educação. Fundador da Easy Taxi e Singu.

A falácia da cultura woke e o seu desserviço à humanidade

Estão nos vendendo a ilusão de que somos livres, mas o que esse movimento quer é aumentar os silos e alcançar os mais altos ideais de controle e censura.

Tallis Gomes

Antes de mais nada, quero deixar claro que a busca por maior inclusão, equidade e respeito por minorias é legítima e carrega valores positivos para uma sociedade mais justa.

No entanto, é crucial questionar COMO e QUAIS as melhores formas de se alcançar esses objetivos, já que, como empreendedor, observo com preocupação a forma como o movimento woke tenta se impor, frequentemente através de pautas progressistas que distorcem esse discurso, ameaçando a colaboração e a discussão genuínas sobre o tema.

Direto ao ponto, embora seja difícil rastrear com precisão a origem de um termo (especialmente, quando ele é derivado de uma gíria), a origem de “woke” (do verbo inglês wake, acordar) está longe de ser algo moderno

Pelo contrário, acredita-se que tenha sido usado na década de 1940 no contexto da luta pelos direitos civis dos afro-americanos nos Estados Unidos.

Como registro escrito, no entanto, aparece pela primeira vez no início dos anos 60 no ensaio “If you’re woke, you dig it” publicado no The New York Times por William Kelley, com uma série de críticas às discrepâncias sociais, mas ainda sem um sentido militante.

Foi com o movimento Black Lives Matter e a onda de protestos que se seguiram, que o termo explodiu: virou hashtag, slogan, título de filme, livros e entrou até para o dicionário.

De acordo com o Merriam-Webster, por exemplo, o termo significa “consciente e ativamente atento a fatos e questões importantes”. 

O problema é que, com o tempo, a expansão desse pensamento trouxe a fragmentação de seus próprios ideais e o que Mark Lilla (cientista político e professor da Columbia University) chama de “fenômeno da identitarização”. 

Ou seja, passou-se a idolatrar uma cultura sob a doutrina dos “oprimidos” na guerra contra os  “opressores”, nas quais as diferenças são supervalorizadas e pequenas tribos são formadas como câmaras de eco, onde apenas vozes que compartilham as mesmas opiniões e crenças são ouvidas e valorizadas.

Pior, todos os meios são justificados e nenhuma consistência é necessária. Afinal, qualquer pessoa ou grupo que se desvie da mesma linha de pensamento é imediatamente excluído ou cancelado.

Com uma virtude moral frágil, querem mudar o mundo do sofá de casa através de um tweet, sem o necessário hard work ou qualquer outro esforço concreto exigido na realidade. 

Preocupam-se mais com o pronome neutro de um desconhecido do que com a miséria de quem mora ao lado, querem o gelo no copo, mas sem o trabalho de encher a forminha… 

É a evolução do que Umberto Eco chamaria de “os idiotas da aldeia” que “ganharam, com a internet, ares de sábios universais”.

Get woke, go broke

Em The Madness of Crowds, Douglas Murray argumenta que a sociedade ocidental está sob ataque da cultura woke, afirmando que o que parece superficialmente ser um movimento compassivo é extremamente perigoso em sua essência, já que tem se tornado a cada dia mais radical e intolerante.

Agora, qualquer desrespeito contra membros de grupos minoritários são prova de opressão generalizada e isso não por reações genuínas e empáticas aos traumas por eles vividos, mas por puros gestos hipócritas destinados a proteger determinados interesses pessoais subjacentes.

Mike Sarraillen, um Navy SEAL aposentado, também alerta sobre como o paradigma woke tem permitido que o relativismo se infiltre nas instituições e se torne uma norma comportamental. 

Porém, as contradições na interpretação de seus guidelines abrem caminho para a total ausência de regras e de autoridade

Não existe autoridade, a meu ver, é um dos melhores resumos dessa cultura. Não existe lei e ordem. Ela é hedonista: tudo me é permitido, posso fazer e trabalhar quando, como e de onde eu quiser.

O fato, meu caro, é que o mundo sempre precisou de autoridade (e ela só é conquistada pelo respeito, e não goela abaixo por uma radicalização de valores). 

Todos os grandes líderes que já existiram e construíram os maiores impérios da humanidade, fizeram-no através do framework de uma cultura onde há a presença de um líder forte.

A imprecisão das regras beneficia apenas aqueles que já estão no poder e têm os recursos necessários para manipular o discurso público

É essa imprecisão que ajuda as elites a fazerem cumprir a sua vontade, uma vez que os cidadãos não estão mais protegidos por um quadro jurídico claro.

Essa é a razão pela qual a frase get woke, go wroke (“acorde e vá à falência” ou “quem lacra, não lucra”) se tornou um bordão tão popular para se referir às quedas reais ou percebidas no valor das ações ou de marketshare de business que apoiam causas progressistas.

Afinal, companhias que criam áreas de ESG (Environmental, Social and Governance), onde cabe qualquer coisa “do bem”; comitês de diversidade para ditar quem é competente para determinado cargo; marketing em prol da lacração; worklife balance; chronoworking; home officesão as mesmas que estão passando por dificuldades financeiras e fazendo massive layoffs por focarem mais em discursos bonitinhos do que em gerar caixa.

É inegável que o que esse mindset tem feito com tantas companhias é quase como um genocídio financeiro: não existe mais valorização da honra e do mérito. 

Uma outra prova clara de que as políticas identitárias são equivocadas é que líderes autoritários populistas fazem da identidade a sua razão de ser.

Por isso, não deixe que essa série de bullshitagens aconteça no seu negócio. Seja vigilante. Foque no que realmente importa e no que realmente traz resultado.

Sim, eu sei, a intenção é nobre: aumentar a representatividade e corrigir desigualdades históricas. 

No entanto, é importante lembrar que empresa não é ONG; seu objetivo principal é gerar lucro, contribuindo assim para o progresso econômico do país

Caso contrário, ela não se sustentará e nem terá a capacidade de investir em iniciativas que impactem positivamente os seus cidadãos. 

Por essa razão, para quem é gerador de emprego, essa obrigatoriedade implica em uma série de problemas práticos

Isso porque, ao invés de focar na competência e habilidade, a seleção passa a ser guiada por critérios que nem sempre refletem a capacidade profissional – provocando um workplace menos eficiente e, paradoxalmente, agravar as tensões sociais em vez de mitigá-las.

E quem paga essa conta? Sim, eu e você, empreendedor. Que além de corrermos riscos diariamente para manter a nossa operação de pé, ainda precisamos nos corresponsabilizar pela condução de pautas que, levadas ao extremo, são verdadeiramente um desserviço à humanidade.

Embora inicialmente bem-intencionada, o movimento perdeu-se em sua execução, impondo soluções que mais prejudicam do que ajudam. 

Não é à toa que a bandeira anti-woke tem sido hasteada em tantos lugares para questionar o establishment, como na Flórida, pelo governador Ron DeSantis

Como líder e gestor, acredito que é possível e necessário buscar uma sociedade mais justa e igualitária, mas isso deve ser feito por meio de iniciativas que respeitem as decisões e a autonomia de quem está na arena e vive diariamente a realidade dos negócios no Brasil, equilibrando direitos e deveres sem sem deixar o pêndulo oscilar de maneira tão crítica para o extremo oposto.

Certamente, não há respostas simples, mas esse é um diálogo que exige tolerância. A verdadeira inclusão não vem da imposição, mas do respeito mútuo e da valorização de cada voz, mesmo aquelas discordantes.

Estão nos vendendo a ilusão de que somos livres, mas a nível visceral, o que esse ativismo quer é aumentar os silos para alcançar os mais altos ideais de controle e censura - uma distorção perigosa dos valores que deveriam nos unir, substituídos por um tribunal de opinião pública onde o julgamento é rápido e a sentença, muitas vezes, irreversível.

Por isso, nós, os defensores da liberdade de expressão, temos que lutar contra o novo/velho monstro exatamente como sempre fizemos para evitar que uma era miserável se infiltre em nossos boardrooms

É tempo de despertar para uma ação consciente e responsável, antes que o custo de nossa inércia se torne insuportável

Você está disposto a permitir que a imposição de uma única narrativa determine quem pode ou não prosperar? Pense, quando deixamos de nos questionar, quem realmente se beneficia dessa nova ordem?