Viktor Frankl tornou-se famoso por seu bestseller internacional Em busca de sentido. No livro, o psiquiatra relata suas experiências nos campos de concentração nazistas e explica seu método terapêutico, a logoterapia, que o ajudou a sobreviver.
Ele observou que um aspecto fundamental predizia se seus companheiros de reclusão iriam morrer ou viver: a percepção de um sentido para a vida.
Frankl sustenta, no entanto, que encontrar um sentido para a vida não é necessário somente nessas situações extremas.
O sentido da vida de Viktor Frankl serve para qualquer pessoa que queira se realizar.
Por isso, criou uma psicoterapia baseada na busca pelo sentido da vida.
Viktor Emil Frankl foi um neuropsiquiatra cuja biografia é prova de sua obra intelectual e com esta se confunde.
Ele nasceu em Viena em 1905, em uma família de origem judaica extremamente religiosa. Sua mãe, Elsa, inclusive era descendente do famoso rabino Loew de Praga.
Na sua adolescência, a psicanálise atraía atenção de diversos intelectuais da sociedade vienense, o que permitiu que seu interesse pela psicologia se manifestasse desde cedo.
Com apenas 15 anos, ainda no ensino secundário, Frankl começou a se corresponder com Sigmund Freud, fundador da Primeira Escola Vienense de Psicoterapia.
Um ano depois, ele apresentaria sua primeira conferência dentro dessa área, com o título A respeito do sentido da vida.
Nesse mesmo período, foi funcionário da Juventude Trabalhadora Socialista e, em 1924, tornou-se presidente dos estudantes socialistas de toda a Áustria.
A continuidade de seus estudos o levaram a ingressar na sociedade de psicologia individual de Adler, fundador da Segunda Escola Vienense de Psicoterapia, da qual acabou sendo expulso por divergir de suas opiniões.
Frankl formou-se em Medicina e se especializou em Neurologia e Psiquiatria. Com uma carreira promissora, tornou-se diretor do “pavilhão de suicidas” na clínica psiquiátrica do Hospital Steinhof.
O primeiro texto sobre a logoterapia foi publicado já em 1938. Nele, o psiquiatra abordou o problema da inserção da espiritualidade na psicoterapia.
Com a invasão da Áustria pelos nazistas, ele foi obrigado a atender apenas judeus. Ele salvou muitos deles da eutanásia de Hitler através de diagnósticos falsos.
Nesta época, apesar de ter um visto para fugir do regime nazista para os Estados Unidos, Frankl decidiu permanecer em Viena.
Em 1941, ele havia acabado de escrever sua principal obra sobre logoterapia ‒ que posteriormente foi traduzida para o português como Psicoterapia e sentido da vida ‒, quando foi preso pelos nazistas.
Frankl foi enviado para o campo de Theresienstadt, o primeiro dos quatro de que seria prisioneiro sob a identificação do número 119.104.
No livro Em busca de sentido, ele conta que quando chegou a Auschwitz, o segundo campo para o qual foi enviado, tentou manter consigo o manuscrito do livro, mas foi forçado a entregá-lo.
Frankl foi libertado em 1945, pesando apenas 25 quilos. Após sua libertação, descobriu que sua mãe, seu irmão e sua esposa, Tilly Grosser, com quem havia casado em 1942 e que estava grávida quando fora presa, não haviam sobrevivido aos campos de concentração.
A extensão dessas tragédias não foi suficiente para abater Viktor Frankl; antes, foi o que ele chamou de experimentum crucis, que o auxiliou a comprovar a validade de suas teorias psicoterapêuticas.
Por isso, com apenas nove dias de liberdade, escreveu Em busca de sentido ‒ um psicólogo no campo de concentração, no qual narra sua vida nos campos, intercalando seu relato com explicações de sua perspectiva terapêutica.
Em 1947, Frankl casou-se novamente, com Eleonore Schwind. No ano seguinte, doutorou-se em Filosofia, com o tema O Deus Inconsciente.
Alguns anos depois, passou a ocupar o cargo de professor de Neurologia e Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena, tendo lecionado sua última aula aos 91 anos de idade.
Frankl percorreu boa parte do mundo como conferencista e recebeu 29 títulos Honoris causa. Além de ter sido professor convidado em mais de 209 universidades, incluindo as Universidades de Harvard e Cambridge.
Ele faleceu em 1997, com 92 anos, em sua cidade natal.
“Quem tem por que viver suporta quase qualquer como”. — Nietzsche.
A logoterapia, também chamada de Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, foi elaborada por Viktor Frankl na primeira metade do século XX.
Ela se distingue das psicoterapias anteriores de Freud e Adler por partir de uma dimensão mais elevada do ser humano: o espírito.
A logoterapia é uma psicoterapia que propõe a cura através do sentido da vida. Por esta razão, é também conhecida como a psicologia do sentido.
Muitos acreditam que a logoterapia foi criada a partir das experiências de Frankl nos campos de concentração, mas, na verdade, sua elaboração as antecede.
O termo foi utilizado por ele pela primeira vez em 1926, quando se referiu a uma psicoterapia que tratava dos problemas psicológicos e das pressões da dimensão mental do homem.
O pressuposto fundamental da logoterapia é que a vida humana sempre tem um sentido, independentemente das circunstâncias. Por causa disso, diz-se que o sentido é incondicionado.
Além disso, os seres humanos desejam e buscam esse sentido, tanto para sua existência quanto para cada situação particular.
Assim, o sentido é a motivação primária das pessoas. Isto é o que Frankl chama de vontade de sentido.
Uma vez que encontram esse sentido, as pessoas querem realizá-lo. Isso lhes dá uma perspectiva de futuro.
De acordo com a logoterapia, a perspectiva de futuro é algo indispensável para que as pessoas possam existir propriamente.
Isso porque, quando não vivem em função de um alvo ‒ de um futuro, portanto ‒, os seres humanos perdem aquilo que lhes dá apoio interior. Como consequência, experimentam um processo de decadência.
Frankl teve esta percepção ainda jovem e pôde corroborá-la através de sua experiência nos campos de concentração.
Ele notou que os prisioneiros que se orientavam na direção do futuro, porque ainda tinham algo a realizar, apresentavam maiores chances de sobrevivência.
“Quem já não consegue acreditar no futuro ‒ no seu futuro ‒ está perdido no campo de concentração. Juntamente com a esperança no futuro, essa pessoa perde o apoio espiritual, deixa-se ‘cair’ interiormente e decai física e psiquicamente […]”. — (Em busca de sentido, p. 98).
Para Frankl, pessoas que não conseguem vislumbrar seu futuro imediato, como é o caso dos desempregados, padecem do mesmo mal.
“A pessoa cuja situação não permite prever o final de uma forma provisória de existência também não consegue viver em função de um algo. Ela também não consegue mais existir voltada para o futuro […]. Concomitantemente, altera-se toda a estrutura de vida interior. Começam a aparecer sinais de decadência interior […]. Numa situação psicológica idêntica encontra-se, por exemplo, o desempregado”. — (Em busca de sentido, p. 94).
A partir disso, concluiu que a vontade de sentido apresenta um alto valor de sobrevivência para as pessoas.
Mais do que isso, que a psicoterapia precisa necessariamente visar a reconstrução interior do paciente procurando orientá-lo para um objetivo no futuro.
A logoterapia incluiu a dimensão transcendental do homem, que é o espírito, dentro da perspectiva da psicoterapia.
As escolas anteriores de psicoterapia, de Freud e Adler, respectivamente, tratavam de problemas de natureza somática (corpo) e psíquica (mente).
A logoterapia acrescentou problemas de natureza existencial (espiritual) aos problemas tratados por essas duas abordagens terapêuticas.
O tratamento das neuroses originadas do espírito humano, a que Frankl denomina neuroses noogênicas, é a maior contribuição da logoterapia para a psiquiatria moderna.
Para sanar esses problemas de ordem espiritual, a logoterapia ajuda o paciente a encontrar o sentido em sua vida; e faz isso aprimorando sua percepção e consciência para todos os potenciais sentidos de sua existência.
Por esse conjunto de compreensões, entende-se por que a logoterapia é uma psicoterapia a partir do espírito, que está centrada no sentido da existência humana e na busca da pessoa por este sentido.
Outro aspecto que caracteriza a logoterapia é o fato de ser uma teoria aberta.
Frankl tinha consciência de que a psicoterapia que desenvolveu era insuficiente para solucionar todos os problemas humanos.
Por isso, aceitou que a ela fossem adicionadas contribuições de outras teorias e dos conhecimentos advindos de sua própria evolução.
Como mencionado, o sentido da vida de Viktor Frankl ocupa um papel central na logoterapia. Assim, é fundamental compreender qual o entendimento de Frankl sobre o termo.
O sentido é aquilo que a vida demanda que façamos em cada circunstância concreta, no aqui e agora, em uma ação na qual não podemos ser substituídos.
Isso significa que o sentido não pode ser atribuído aleatória e arbitrariamente por parte do indivíduo, mas deve ser extraído no apelo das situações em que ele se encontra.
Este conceito de sentido proposto pela logoterapia traz algumas implicações.
Tal como a situação e a pessoa que a vivencia, a possibilidade de sentido é única e irrepetível.
Esta unicidade faz com que o sentido varie não apenas de pessoa para pessoa, mas também para a mesma pessoa, de acordo com o momento.
Além disso, por que deve ser captado dentro das circunstâncias, somente a própria pessoa pode descobri-lo.
Uma vez que compreendemos o que é o sentido, precisamos saber como descobri-lo.
Segundo Frankl, encontramos o sentido da vida ao assumir a responsabilidade de realizar o que ela nos demanda, através da conduta correta.
“Em última análise, viver não significa outra coisa se não arcar com a responsabilidade de responder adequadamente às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada indivíduo, pelo cumprimento da exigência do momento”. — (Em busca de sentido, p. 102).
E é a nossa consciência pessoal que detecta que conduta é essa.
É a consciência que nos permite identificar o sentido no interior de uma determinada situação e assim nos habilita a responder às questões do dia a dia, empenhando nossa existência, ou seja, assumindo responsabilidade.
Em razão disso, a consciência pessoal é o órgão do sentido, e é também definida como a geradora de responsabilidade.
E como assumir responsabilidade é o que nos permite agir, a perspectiva logoterápica entende esta última como a essência da existência humana.
Resumidamente, percebemos o sentido quando, a partir da nossa consciência, identificamos a conduta correta para dada situação e assumimos a responsabilidade de levá-la a cabo.
Respondendo adequadamente às demandas que a vida nos traz, encontramos sentido na vida e, consequentemente, nos realizamos.
Há um último aspecto que também concorre para a percepção dos sentidos e que é digno de ressaltar. Trata-se da unicidade e exclusividade de cada pessoa humana.
Estar consciente de que é insubstituível, de que somente ele poderá levar a termo aquilo que a vida lhe demanda, desperta no ser humano a dimensão da responsabilidade que recai sobre si.
“Esse fato de que cada indivíduo não pode ser substituído nem representado por outro é, no entanto, aquilo que, levado ao nível da consciência, ilumina em toda a sua grandeza a responsabilidade do ser humano por sua vida e pela continuidade da vida. A pessoa que se deu conta dessa responsabilidade em relação à obra que a espera ou perante o ente que a ama e espera, essa pessoa jamais conseguirá jogar a vida fora. Ela sabe do porquê da sua existência ‒ e por isso também conseguirá suportar quase todo ‘como’”. — (Em busca de sentido, p. 105).
Embora o sentido da vida de cada um seja único e irrepetível, a perspectiva logoterápica aponta que existem três experiências principais para descobri-lo:
Como exemplo, temos o serviço a um ideal.
Isso abrange amar a alguém, ou experimentar a beleza ou a natureza.
Desde a época em que a logoterapia foi elaborada, as pessoas ficavam intrigadas como uma vida podia permanecer tendo sentido conquanto os seus aspectos trágicos.
Isto é possível justamente através dos valores de aceitação.
Frankl esclareceu essa questão do sofrimento a partir da ideia de tríade trágica e de otimismo trágico.
A tríade trágica é uma expressão usada em logoterapia para se referir à dor, à culpa e à morte.
De acordo com essa psicoterapia, todos nós estamos sujeitos a esta tríade.
A superação desses sofrimentos é possível porque o potencial humano sempre nos permite operar com eles para alavancar nosso desenvolvimento.
Frankl denominou otimismo trágico a capacidade de permanecer otimista apesar da tríade trágica.
Esse otimismo, entretanto, não pode ser fruto de uma ordem, nem a pessoa pode forçar-se a senti-lo.
Questiona-se com frequência se o sofrimento é indispensável para descobrir o sentido da vida. Na visão da logoterapia, a resposta é não.
Frankl apontou que o sofrimento não é necessário, e que só se configura como uma possibilidade de sentido quando é inevitável.
A compreensão de que o sofrimento é necessário é comum porque percebemos que todos sofremos, independentemente da gravidade do problema. Sobre isso, Frankl comentou que:
“Em sentido figurado, se poderia dizer que o sofrimento humano é como algo em estado gasoso. Assim como determinada quantidade de gás preenche um espaço oco sempre de modo uniforme e integral, não importando as dimensões desse espaço, o sofrimento, seja grande ou pequeno, ocupa toda a alma da pessoa humana, o consciente humano. Daí resulta que o ‘tamanho’ do sofrimento humano é algo bem relativo”. — (Em busca de sentido, p. 63).
Por outro lado, Frankl afirma que o ser humano precisa de tensão.
A tensão, de forma dosada, é vista como algo imprescindível para a saúde mental do ser humano.
Esta tensão deve ser gerada por uma diferença entre aquilo que a pessoa é e aquilo que deveria ser.
Para ser mentalmente saudável, uma pessoa precisa dessa tensão existencial entre o ser e um sentido que ainda está por realizar.
Quando privado desta tensão, o ser humano encontra uma maneira de criá-la.
“A tensão, sim, é que é necessária. […]. Quando um jovem é privado dela, como é normal por exemplo na affluent society, na sociedade do consumo e do bem-estar, arrumará algum modo de obtê-la, de uma forma mais saudável ou menos saudável”. — (Sede de sentido, p. 66).
Esta tensão entre o ser e o dever ser é igualmente fundamental para que o ser humano consiga se tornar aquilo que ele pode ser. Para Frankl:
“Se exigirmos do homem o que ele deve ser, faremos dele o que ele pode ser. Se, pelo contrário, o aceitarmos como é, então acabaremos por torná-lo pior do que é”. — (Sede de sentido, p. 22).
A transcendência de si mesmo, ou autotranscendência, diz respeito ao fato de que o ser humano sempre se dirige para além de si próprio.
Segundo a visão logoterápica, quando o ser humano gira em torno de si mesmo, ele se distorce.
Esta autotranscendência tende a acontecer em função do sentido, e não do bem-estar pessoal.
Para se tornar realmente humana e inteiramente ela mesma, a pessoa precisa esquecer-se de si mesma para dedicar-se a uma tarefa ou a alguém.
Como consequência de transcender a si mesmo, o ser humano se realiza, torna-se real.
Portanto, para a logoterapia, a autorrealização é um efeito colateral da plenitude de sentido, da transcendência de si mesmo.
Este entendimento sobre a realização faz com que seja necessário diferenciar entre realização e sucesso, fracasso e desespero, e também sobre felicidade.
Frankl identifica que existem duas dimensões do existir humano. Ele as representa em dois planos diferentes.
O homem se move entre esses dois planos, que são o plano horizontal e o plano vertical.
A partir destes dois planos, somos capazes de compreender porque uma pessoa pode se sentir desesperada, mesmo que tenha alcançado muito sucesso.
Eles também explicam como alguém considerado um fracasso em termos tradicionais pode se sentir realizado.
A pessoa encontra a realização justamente quando encontra o sentido para a vida, ao assumir a responsabilidade e adotar a postura adequada diante da situação em que se encontra.
Qual é a visão da logoterapia acerca da felicidade?
Para essa linha psicoterapêutica, a felicidade não pode ser buscada. A busca da felicidade obrigatoriamente faz com que o indivíduo se afaste dela.
O ser humano não deve buscar a felicidade, mas sim uma razão para ser feliz.
Essa razão reside precisamente na realização do significado que a pessoa é convocada pela vida a realizar nos acontecimentos do seu dia a dia.
A pessoa fica feliz quando é bem sucedida na busca do sentido. Mais do que isso: ela se realiza.
Se o sentido desempenha tantas funções vitais para a existência humana, o que acontece quando alguém é incapaz de percebê-lo?
Frankl afirma que, neste contexto, o ser humano é tomado por um sentimento de falta de sentido, que ele denominou vazio existencial.
Já em sua época, ele avaliava que o vazio existencial era o estado predominante na nova geração norte-americana, e que também havia se disseminado para as demais sociedades ocidentais e orientais.
Ele atribuiu a propagação do vazio existencial a duas perdas que o homem sofreu ao longo de sua história:
A falta de sentido resultante deste processo histórico acarreta algumas consequências, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade.
Sem os instintos ou a tradição para guiá-lo, o homem do século XX simplesmente não sabe o que quer. Diante disso, ele pode substituir seu querer:
Isto significa que, em decorrência do sentimento de falta de sentido, o homem perde sua autonomia individual.
De acordo com Frankl, portanto, o vazio existencial é pelo menos um dos componentes que explica ambos os fenômenos de seu tempo.
Para sair dessa situação, a pessoa precisa recorrer à consciência pessoal.
Em muitos casos, a falta de sentido é compensada ou pela vontade de prazer ou pela vontade de poder.
A vontade de prazer acontece quando a pessoa se concentra em experimentar sensações prazerosas.
Entretanto, como o prazer deveria ser um efeito, a pessoa perde de vista toda e qualquer razão para senti-lo, todo e qualquer fundamento para ser feliz. Como resultado, acaba decaindo totalmente.
A vontade de poder opera de maneira semelhante. Enquanto na vontade de prazer se buscam os efeitos do sentido da vida, na vontade de poder, buscam-se os meios para alcançá-lo.
O poder é um meio para o sentido da vida, mas quando o homem é incapaz de ver o último, concentra-se em obter o primeiro.
A vontade de dinheiro é descrita por Frankl como a forma mais primitiva da vontade de poder.
A vontade de prazer é assim uma distorção neurótica da vontade de sentido, na qual a pessoa busca diretamente o efeito, que é o prazer.
A vontade de poder, por outro lado, é uma redução da vontade de sentido, na qual a pessoa desiste do fim.
“Uma vida baseada no êxito ou no prazer confunde os fins com os meios: põe o acento nos meios de subsistência e esquece as metas transcendentes. Conduz assim, de frustração em frustração ao desequilíbrio psíquico, pois não é sofrer que é insuportável, mas sim o viver sem um ideal”. — (Sede de sentido, p. 90).
Outro resultado possível ao lidar com os problemas relacionados ao sentido da vida de Viktor Frankl é a frustração existencial.
A frustração existencial acontece quando a vontade de sentido é frustrada; isto é, quando as pessoas duvidam do sentido de sua vida ou já perderam as esperanças de encontrá-lo.
A frustração existencial não constitui por si só uma patologia. No entanto, ela pode ocasionar o que Frankl chamou de neuroses noogênicas.
As neuroses noogênicas são o principal objeto de estudo da logoterapia. Elas têm origem em conflitos existenciais, de ordem espiritual; não são de natureza somática ou psíquica.
O termo noogênica faz referência a nous (gr. νοῦς), que em grego significa mente.
A principal causa da neurose noogênica é precisamente a frustração existencial.
Para a logoterapia, o vazio existencial é a neurose coletiva atual, e apresenta três sintomas básicos: depressão, agressividade e vício.
A estes, acrescentou-se também a inflação da sexualidade.
De acordo com Frankl, os jovens têm sido impulsionados à neurose coletiva pela doutrinação do reducionismo, que prega a eles que:
As ideias que compõem o contexto cultural da modernidade frustram as necessidades existenciais dos seres humanos, impelindo-os para a falta de sentido e para as consequências dela decorrentes.
Entre essas ideias, encontra-se a noção de pandeterminismo, que entende o ser humano como um ente condicionado e determinado. Em outras palavras, como alguém sem liberdade para agir.
Como explicado anteriormente, a logoterapia se distingue das psicoterapias que a precederam por acrescentar a dimensão noética (espiritual) às dimensões somática (corpo) e psicológica (instintos, condicionamentos, cognição e natureza emocional).
A dimensão noética, para Frankl, é a que distingue o ser humano dos outros animais. É, portanto, a dimensão genuinamente humana.
Ela abrange, por exemplo, valores, criatividade, livre tomada de decisões, consciência moral e desejo de sentido.
De acordo com a logoterapia, o homem é um ser que goza de liberdade e de responsabilidade.
A liberdade humana não é irrestrita, mas limitada. Não é dado ao homem fazer tudo o que quer.
O ser humano é livre na medida em que é capaz de se impor acima dos condicionamentos biológicos, hereditários, ambientais, instintivos. Desde que o homem queira exercer sua liberdade, não será dominado por eles.
Trata-se, portanto, da liberdade de vivenciar seus valores e de tomar uma posição frente aos condicionamentos.
“A experiência da vida no campo de concentração mostrou-nos que a pessoa pode muito bem agir ‘fora do esquema’. Há suficientes exemplos, muitos deles heroicos, que demonstraram ser possível superar a apatia e reprimir a irritação; e que continua existindo, portanto, um resquício de liberdade do espírito humano, de atitude livre do eu frente ao meio ambiente, mesmo nessa situação de coação aparentemente absoluta, tanto exterior como interior […]; […] no campo de concentração, se pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas”. — (Em busca de sentido, p. 88).
“Aquilo que sucede interiormente com a pessoa, aquilo em que o campo de concentração parece ‘transformá-la’, revela ser o resultado de uma decisão interior. Em princípio, portanto, toda pessoa, mesmo sob aquelas circunstâncias, pode decidir de alguma maneira no que ela acabará sendo, em sentido espiritual: um típico prisioneiro de campo de concentração, ou então uma pessoa, que também ali permanece sendo ser humano e conserva sua dignidade”. — (Em busca de sentido, p. 89).
Esta liberdade de que o ser humano dispõe para fazer suas escolhas é expressa pelo conceito de liberdade de vontade.
É justamente por conta dessa liberdade espiritual, que não pode ser tirada do ser humano, e que lhe permite, até seu último suspiro, configurar sua vida de modo que ela tenha sentido.
“Lá [em Auschwitz], as ‘diferenças individuais’ não se ‘apagaram’, mas, ao contrário, as pessoas ficaram mais diferenciadas”. — (Em busca de sentido, p. 175).
A liberdade de vontade está diretamente atrelada à responsabilidade.
Por ter a liberdade de escolher é que o homem pode ser responsabilizado por suas decisões, pelas condutas que adota nas circunstâncias de sua vida.
Em outras palavras, a liberdade torna o homem responsável pelas respostas que oferece ao mundo.
Para Frankl, quando a liberdade não é vivida com responsabilidade, corre o risco de degenerar-se em arbitrariedade.
Distantes quase um século do surgimento da logoterapia, podemos constatar a validade de suas proposições não apenas para a época em que foi criada, mas também para a contemporaneidade.
Com sua percepção aguçada, Frankl conseguiu antecipar um fenômeno que ainda ganharia maior amplitude.
Tanto que a depressão, a agressividade e o vício, os três sintomas da neurose coletiva (o vazio existencial), não apenas continuam presentes, como também aumentaram em escala.
Em 2017, a Organização das Nações Unidas considerou a depressão o mal do século.
Nas últimas décadas, em geral, os países têm experimentado um aumento da criminalidade.
O problema do vício é enfrentado por diversos países em todo o mundo através da guerra às drogas.
Isto independentemente dos níveis de desenvolvimento econômico ‒ como demonstra a situação em relação aos opiáceos tanto nos Estados Unidos quanto na Suíça.
Frankl já apontava em suas obras para este processo crescente de adoecimento espiritual da sociedade, para uma neurotização da humanidade.
As ideias que conduziram os jovens à neurose coletiva ainda estão em voga e amplamente disseminadas:
Diante desse cenário, os ensinamentos legados por Frankl à humanidade podem ser vistos como um antídoto para um panorama cultural que nos impele a uma não-autotranscendência.
“A observação psicológica dos reclusos, no campo de concentração, revelou que somente sucumbe às influências do ambiente no campo, em sua evolução de caráter, aquele que entregou os pontos espiritual e humanamente. Mas somente entregava os pontos aquele que não tinha mais em que se segurar interiormente!”. — (Em busca de sentido, p. 93).
Não tinha em que se segurar interiormente aquele que não percebia o sentido de sua vida.
O arcabouço da logoterapia ajudou Viktor Frankl a repelir a incomensurável força da dominação nazista e a sobrepujar uma experiência aparentemente insuperável.
O conhecimento que aí se encontra também está disponível para que nos sobressaíamos aos problemas existenciais inescapáveis com que temos de nos defrontar.
Frankl nos ensina como encontrar o sentido de nossa vida, quaisquer que sejam as circunstâncias, convidando-nos assim a cumprir nossa missão última: realizar-nos enquanto seres humanos.
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