A Demonologia é o estudo sistemático dos demônios e de sua influência no mundo humano. De acordo com a tradição cristã, esses seres espirituais possuem uma natureza imaterial. A natureza em si é boa, a vontade é má e de tal forma determinada que estão condenados eternamente pela própria culpa.
O termo "demônio" tem origem na palavra grega daimon, seres intermediários entre deuses e homens. Na mitologia greco-romana, o termo não se referia a uma entidade maléfica necessariamente. No cristianismo, passou a designar os anjos caídos.
A Demonologia busca responder questões como:
O sacerdote José Antonio Fortea, exorcista espanhol, define o demônio nos seguintes termos em seu livro Summa Daemoniaca:
“Um demônio é um ser espiritual de natureza angélica condenado eternamente”.
Segundo o cristianismo, esses seres espirituais, desprovidos de matéria, são chamados de anjos. Eles foram criados por Deus antes dos homens.
Santo Agostinho de Hipona, em sua obra Cidade de Deus, apresenta a seguinte reflexão:
“Há anjos que desertaram da luz eterna e se tornaram trevas; mas, como dissemos, Deus desde as origens separou-os dos primeiros”.
Em 1215, os bispos se reuniram em Latrão e resumiram o ensinamento cristão sobre os diabos, afirmando no IV Concílio universal realizado na cidade:
“Com efeito, o Diabo e outros demônios foram criados bons em sua natureza, mas se tornaram maus por sua própria iniciativa”.
Ao tratar da queda dos anjos, o Catecismo da Igreja Católica sintetiza as principais explicações dos pensadores cristãos sobre o tema:
“Por trás da opção de desobediência de nossos primeiros pais, há uma voz sedutora que se opõe a Deus e que, por inveja, os faz cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja veem este ser um anjo destronado, chamado satanás ou diabo. A igreja ensina que ele tinha anteriormente sido um anjo bom, criado por Deus”, parágrafo 391.
Esses anjos, na teologia de Agostinho e reforçada em Tomás de Aquino, foram provados por Deus antes de conhecerem Sua essência e fizeram uma escolha. Aqueles que se opuseram ao plano divino tornaram-se maus e foram condenados.
“Houve então um combate no céu: Miguel e seus anjos combateram contra o dragão, e o dragão combateu junto com os seus anjos. Ele, porém, foi derrotado, e eles perderam seu lugar no céu. Assim foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, chamada Diabo e Satanás, que engana o mundo inteiro. Ele foi lançado à terra, e seus anjos foram lançados com ele” (Livro do Apocalipse, capítulo 12).
Houve no céu uma batalha entre os anjos que escolheram seguir os planos de Deus e aqueles que se recusaram a segui-Lo. Sobre essa queda, o Catecismo da Igreja Católica faz a seguinte colocação:
“A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta ‘queda’ consiste na opção livre desses espíritos criados, que rejeitaram radical e irrevogavelmente, Deus e seu Reino".
Essa queda foi resultado de uma prova proposta por Deus aos Seus anjos, antes de revelar-lhes Sua essência. O Padre Fortea faz a seguinte colocação:
“Antes de contemplar a visão beatífica da essência divina, Deus os submeteu a uma prova. Nessa prova, alguns obedeceram, enquanto outros desobedeceram. Aqueles que desobedeceram de forma irreversível se transformaram em demônios. Eles mesmos se tornaram o que são. Ninguém os fez assim”.
Aqueles que desobedeceram cometeram um pecado irrevogável e sem perdão.
A influência do demônio está presente de forma significativa na vida do personagem Pedro no novo filme da Brasil Paralelo.
Oficina do Diabo é um filme de drama que acompanha a empresa mais antiga do mundo: o inferno. O demônio Fausto, um dos principais colaboradores da empresa, subiu a Terra para ajudar Natan a devorar sua primeira alma, o protagonista Pedro.
Após tentar a vida como músico na cidade grande, Pedro falhou devido à luxúria, desorganização e outros vícios que tomaram conta do seu coração.
A volta a sua cidade no interior afetou seu ego, sua vida parece sem rumo. O demônio Natan regozijou-se com suas conquistas, mas suas tentações não estavam sendo suficientes para desvirtuá-lo completamente.
Decididos a perder Pedro, o experiente demônio Fausto veio diretamente do inferno para guiar Natan em sua missão.
A história traz dramas psicológicos, história do Brasil durante os anos 60 e muito mais. Confira o trailer:
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Tomás de Aquino, na Suma Teológica, diz que embora os anjos possuam uma natureza superior à dos homens, eles podem pecar:
“Os anjos e as criaturas racionais, considerados na própria natureza, podem pecar. Se a alguma criatura é dado o não poder pecar, é devido ao dom da graça, não à condição da natureza. E a razão disso é que pecar nada mais é do que desviar-se o ato da retidão que deve ter, seja na ordem natural, artificial, ou moral” (Solução do artigo 1 da questão 63 da Suma Teológica).
Por serem criaturas incorpóreas, os anjos não estão inclinados aos pecados associados ao corpo, mas sim aos que são próprios do espírito. Sobre isso, o Doutor Angélico afirma:
“O pecado pode estar em alguém de duas maneiras: por culpabilidade e por afeição. Por culpabilidade, acontece que os demônios têm todos os pecados, porque ao induzir os homens a todos os pecados, incorrem na culpa de todos os pecados. - Mas, por afeição, só poderá haver nos anjos maus os pecados aos quais a natureza espiritual se afeiçoa.
Acontece, porém, que a natureza espiritual não se afeiçoa aos bens próprios do corpo, mas só aos que podem ser encontrados nos espíritos, até porque nada se afeiçoa a não ser àquilo que de algum modo pode convir à sua natureza”.
Nos demônios, encontram-se dois tipos de pecados por afeição, uma vez que sua natureza se inclina para aquilo que é espiritual. Esses pecados são:
“Nos bens espirituais só pode haver pecado em quem a eles se afeiçoa, se em tal afeição não se tem em conta a regra do superior. Nisso está o pecado de soberba: não se submeter ao superior naquilo que lhe é devido. Por isso, o primeiro pecado do anjo só pode ser de soberba”.
“Consequentemente, pôde também neles haver a inveja. Pelo mesmo motivo, a afeição tende para o que lhe apetece, e rejeita o oposto. Por isso, o invejoso se entristece com o bem do outro, enquanto pensa que esse bem é um obstáculo para o próprio. (...) Por isso, depois do pecado de soberba seguiu-se no anjo pecador o mal da inveja, pelo qual se entristece diante do bem do homem, e também diante da grandeza de Deus, enquanto Deus usa desse bem contra a vontade má do diabo para sua própria glória”.
São Tomás de Aquino afirma que “indubitavelmente pecou o anjo desejando ser igual a Deus". Esse desejo poderia se manifestar de duas formas: por “igualdade” ou por “semelhança”.
O demônio sabia, por conhecimento natural, que era impossível ser como Deus por igualdade, conforme afirma Santo Tomás de Aquino:
“Todavia, dado que fosse possível, isso seria contra o desejo natural. Há em todas as coisas o desejo natural da conservação do próprio ser, o qual não seria conservado se a natureza de uma coisa fosse mudada em outra. Por isso, nenhuma coisa que se encontra no grau natural inferior pode desejar ter a natureza de um grau superior”.
Todavia, desejou tornar-se como Deus por semelhança, buscando sua bem-aventurança em si mesmo:
“Desejou ser semelhante a Deus, porque desejou como fim último de sua bem-aventurança aquilo a que poderia chegar pelas próprias forças, desviando seu desejo da bem-aventurança sobrenatural, que é dada pela graça de Deus. Ou, se desejou como fim último, aquela semelhança com Deus que é dom da graça, quis possuí-la pela virtude de sua natureza, não por disposição do auxílio divino.
Essa doutrina é concorde com a de Anselmo, quando afirma que o demônio desejou aquilo que teria alcançado se tivesse perseverado. Esses dois desejos redundam num só: porque por ambos se desejou a bem-aventurança final pela própria virtude, o que é próprio de Deus.
Como o que é por si é princípio e causa do que existe por outro, daí resultou que desejou possuir certo domínio sobre os outros. E nisso também perversamente quis assemelhar-se a Deus”.
Ser igual a Deus foi também o que o demônio, na figura da serpente no paraíso terrestre, prometeu a Eva caso ela comesse do fruto proibido e o entregasse a Adão:
“A serpente, porém, respondeu a mulher: ‘ de modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal’ (Gn. 3,4)”.
Na questão 140 da Summa Daemoniaca, o Padre José Antonio Fortea aborda a fenomenologia demoníaca. O sacerdote organiza as ações demoníacas de forma a classificar os fenômenos como relacionados a:
Infestação diz respeito à ação demoníaca sobre um determinado lugar ou ambiente, podendo mover objetos, produzir sons ou causar a presença de odores específicos", explica o Padre José Antonio Fortea em sua obra Summa Daemoniaca:
“A infestação é o fenômeno pelo qual um demônio possui um lugar. Quando um demônio possui um local, ele pode mover objetos à vontade ou provocar ruídos e odores. Contudo, a infestação nunca causa a possessão de nenhuma das pessoas que vivem nesse ambiente. Geralmente, a causa de uma infestação está relacionada à prática frequente de rituais esotéricos ou satânicos nesse local. Para acabar com a infestação, existem orações específicas no ritual de exorcismos”.
A ação demoníaca sobre o homem manifesta-se principalmente através da tentação, algo característico do demônio. Deus não pode tentar o homem, mas sim colocá-lo à prova.
Já o demônio, ao buscar influenciar a alma, utiliza-se da tentação, que o Padre José Antonio Fortea define da seguinte maneira:
“A tentação é aquela situação em que a vontade precisa escolher entre duas opções, sabendo que uma delas é boa e a outra é má, mas sente-se atraída a escolher a opção errada”.
Outra forma de o demônio agir sobre o ser humano é através da influência, que, segundo a Summa Daemoniaca, se dá de duas formas:
Quando a influência interna atinge seu grau máximo, o demônio pode não apenas influenciar, mas também dominar completamente a pessoa. A esse fenômeno, é denominado possessão.
O estágio mais grave da ação demoníaca é a possessão, quando o demônio assume o controle do corpo de uma pessoa, passando a controlar suas ações e, muitas vezes, suas palavras.
Nesse estado, a pessoa perde a autonomia sobre o próprio corpo e mente, e pode manifestar comportamentos e habilidades incomuns, muitas vezes não explicáveis pela psicologia ou pela medicina.
Para lidar com essa situação, é necessário que a pessoa seja acompanhada por um sacerdote exorcista, alguém devidamente preparado e autorizado pela Igreja para conduzir o rito de exorcismo.
O Padre José Antonio Fortea, em sua obra Summa Daemoniaca, afirma:
“A possessão é o fenômeno pelo qual um demônio, em determinados momentos, toma posse do corpo de uma pessoa, podendo movê-lo ou falar por meio dele. (...) No entanto, é importante notar que esse domínio ocorre apenas em momentos determinados; mesmo na possessão, o demônio não pode fazer o que quiser com o corpo a qualquer momento”.
O sacerdote José Antonio Fortea resume as ações do demônio em sua obra Summa Daemoniaca da seguinte maneira:
“Devemos observar que, na tentação, o demônio vem e vai. Já na influência externa, ele permanece ao lado da vítima repetidamente, mas sem entrar nela. Na influência interna, ele está dentro da pessoa, mas não possui o corpo. Por outro lado, na possessão, o poder do demônio sobre a pessoa chega ao seu ápice, resultando em uma verdadeira possessão do corpo.
Essa possessão é tão completa que a pessoa pode perder a consciência enquanto o demônio move seu corpo ou fala por meio dele. Caso a pessoa esteja consciente, ela pode assistir ao que é feito com seu corpo, mas sem ter qualquer controle para impedir o que está acontecendo”.
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