Além de compreender o que é latim, é necessário entender para que essa língua serve nos dias de hoje. O português falado no Brasil é originário dessa língua antiga, que não está morta. Pode-se dizer também que a compreensão de mundo, a ciência e a filosofia ainda permanecem ligados ao latim.
Como disse o matemático Giácomo Albanese, professor da USP em 1936:
“Dêem-me um bom aluno de latim, que farei dele um grande matemático”.
Por aproximadamente 14 séculos, o latim foi a principal língua de praticamente toda a Europa. Passado todo esse tempo, essa linguagem sobrevive e possui muitos benefícios para os seus estudantes, mesmo no século XXI.
Após se desenvolver na região do Lácio, o latim se espalhou por quase todo o mundo antigo. A língua originou diversos outros idiomas, como o espanhol, o francês e o italiano, e é usada em meios de alta cultura até hoje, como as universidades e os salões musicais.
São muitos os motivos para o uso do latim, e muitos serão comentados no artigo.
O latim é uma língua indo-europeia que se formou na atual Itália, mais precisamente na região de Lácio, que engloba a cidade de Roma.
A língua teve seu desenvolvimento elaborado por volta do século VII a.C.
Seu alfabeto é derivado do alfabeto etrusco e grego, que por sua vez são derivados do alfabeto fenício.
O latim é a língua da ciência por causa de sua capacidade de bem elaborar conceitos e conexões lógicas.
O nome científico de um pinheiro manso, por exemplo, é pinus pinea. Ao utilizar o nome científico, o cientista já identifica a família do pinheiro e algumas de suas principais características.
A alta capacidade linguística do latim vem da sua estrita e livre organização lógica, bem determinada por suas regras gramaticais.
Isso fez com que ela fosse adotada pelos intelectuais medievais como língua oficial, levando-a a ser utilizada até hoje nas categorizações científicas de várias áreas do saber.
Um dos motivos da sua qualidade na elaboração de conceitos é a declinação das palavras, ou seja, seu funcionamento com afixos.
Declinação de palavras é a mudança da palavra para indicar algo diferente.
Não existem artigos na língua latina, e as preposições são usadas apenas para dar ênfase em poucas ocasiões.
Para indicar a função da palavra na frase — o papel da palavra na frase — o radical (estrutura imutável da palavra) se une a um afixo de acordo com a ideia que quer passar.
O afixo é um elemento que se junta a um radical para a formação do sentido de uma palavra.
Cada afixo, adicionado no radical de uma palavra, gera um sentido diferente na palavra, e consequentemente na frase. Ou seja, indica algo novo.
Por exemplo:
Isso demonstra que existe uma estrutura fixa da palavra, o radical, que no caso é Domin-.
A variação se dá mudando o final do radical da palavra, adicionando um dos tradicionais afixos da gramática latina.
Muitos estudiosos do latim também usam o termo declinação, ou seja, alteração no término da palavra.
Quando o final muda, a interpretação da palavra também muda. Essa é a sua função na frase.
É diferente fazer uma frase com Dominus e uma frase com Domini.
As palavras e frases latinas, por si só, abrangem mais o ser das coisas, transmitem mais ideias do que as palavras e frases de outras línguas mais limitadas.
O latim possui grande flexibilidade sintática pelo fato de a própria palavra indicar sua relação com as outras palavras da frase.
Como a palavra indica seu caso (sua função gramatical), elas podem ficar em praticamente qualquer lugar da frase, sem confusão de sentido.
Essa possibilidade faz com que o falante de latim tenha grande liberdade na elaboração de suas ideias, podendo chegar a mais descobertas do que se estivesse usando uma língua mais limitada, uma língua que possui menos possibilidades de conexão entre as palavras e menos funções gramaticais.
Essa possibilidade do latim também permite o fortalecimento do indivíduo, de sua personalidade, uma vez que cada um pode se comunicar como quiser sem perder a própria comunicação.
A Irmã Miriam Joseph, no seu livro O Trivium, afirma que a função da linguagem é tripla: comunicar pensamento, volição e emoção.
O latim permite que as funções da linguagem se realizem de maneira superior a muitas outras línguas, uma vez que fornece mais opções para o usuário comunicar os pensamentos, as ideias e as emoções.
Essa liberdade favorece a elaboração de novas ideias, novas descobertas.
O primeiro registro de latim que se tem na história é datado de aproximadamente VI a.C.
Em 1880, o arqueólogo alemão Heinrich Dressel encontrou na cidade de Roma um vaso diferente com uma inscrição em latim.
O vaso era uma junção de 3 potes com uma cavidade no centro, e tinha a seguinte inscrição:
IOVESATDEIVOSQOIMEDMITATNEITEDENDOCOSMISVIRCOSIED /
ASTEDNOISIOPETOITESIAIPAKARIVOIS /
DVENOSMEDFECEDENMANOMEINOMDVENOINEMEDMALOSTATOD
Tradução:
“Sendo isto jurado pelos Deuses, de onde saio: Se uma donzela não sorrir a você, nem for fortemente atraída por você, então a acalme com esta fragrância! Alguém bom encheu-me para alguém bom e educado, e não serei pego por alguém mau”.
Essa é uma das 3 melhores tentativas de tradução. De qualquer maneira, todas as traduções possuem significados semelhantes.
Provavelmente o vaso continha uma substância cosmética, maquiagem ou perfume, utilizado para embelezamento e atração sexual.
A inscrição mostra que a língua latina já possuía uma gramática um tanto quanto estabelecida antes mesmo do século VI a.C.
Algo interessante de se notar é que, devido aos estudos de línguas antigas como o latim, foi descoberta a possibilidade de a humanidade ter tido uma língua única nos seus tempos primordiais.
O nome indo-européia significa uma língua da mesma origem que as línguas orientais.
Os estudos de filologia descobriram que as línguas antigas possuem muitas semelhanças. Um aprofundamento no estudo dessas linguagens levou à tese muito provável de que todas as línguas possuem a mesma origem.
Com o desenvolvimento do povo romano, naturalmente o latim foi se alterando.
A língua, então, passou a ter 2 versões: o latim vulgar e o latim erudito.
O latim vulgar era aquele falado pela população em geral. Sua complexidade gramatical foi sendo diminuída, novas palavras passaram a surgir.
Foi a língua usada por quase toda a Europa até o século IX d.C, quando suas línguas derivadas começaram a surgir após as alterações do latim pelo povo e sua mistura com línguas bárbaras.
O latim erudito era a língua falada pela elite social e política.
Essa versão da língua mantinha o uso de sua gramática extensa e rígida.
Foi preservado pelos intelectuais antigos e medievais. Nos dias de hoje, os meios científicos utilizam a versão da língua como foi cristalizada pela Igreja Católica durante a Idade Média.
O latim era escrito como no Vaso de Duenos.
Até o século IX, não havia diferenciação entre letras maiúsculas e minúsculas, pontos e vírgulas, separação entre palavras e outros elementos que hoje são considerados normais.
Foram os monges católicos do século IX que adicionaram esses elementos ao latim, bem como criaram os livros como são conhecidos hoje, inventando as páginas, em vez de um extenso rolo semelhante aos papiros.
A versão mais usada é o latim eclesiástico.
Atualmente também existe o latim reconstruído ou reconstituído, que é uma tentativa de reconstrução da língua conforme o Império Romano antigo usava (praticamente, a única diferença dessa versão para a eclesiástica é a pronúncia).
Atualmente a estrutura do latim é regulada pela Pontifícia Academia de Latinidade.
O latim é a língua oficial da Santa Sé da Igreja Católica. O Vaticano a adota como sua língua, sendo o único país do mundo a utilizá-la.
O Rito Romano da Igreja Católica tem o latim como sua língua oficial.
O latim é utilizado, também, pelas ciências naturais, especialmente biológicas. Seu principal uso é na taxonomia (classificação biológica dos seres vivos).
O Direito também utiliza muitas expressões latinas. Por ter seu ápice do desenvolvimento com o Império Romano, o Direito ainda conserva o latim para designar diversas de suas estruturas.
Alguns exemplos são:
E muitas outras.
Outras ciências também utilizam a língua em alguns de seus tópicos, mas não tanto quanto as ciências supracitadas.
Muitas expressões populares brasileiras também são latinas, especialmente por causa das raízes católicas. Algumas delas são:
Os benefícios de se estudar latim nos dias de hoje são:
Devido a estrutura gramatical do latim, como já mencionado, o estudo da língua traz um desenvolvimento do raciocínio lógico como um todo.
Como disse o matemático Giácomo Albanese, professor da USP em 1936:
“Dêem-me um bom aluno de latim, que farei dele um grande matemático”.
As traduções nunca são perfeitas. Cada língua possui suas qualidades únicas, especialmente o latim. Após a tradução, alguns aspectos do texto original são perdidos, algumas vezes aspectos importantes.
Aquele que conhece o latim tem acesso integral a grande parte das principais obras da humanidade, como a Eneida, de Virgílio; a Suma Teológica, de Santo Tomás de Aquino; a Cidade de Deus, de Santo Agostinho; os escritos de Cícero e muitas outras obras.
O português é uma língua originada do latim.
Como escrevera Olavo Bilac sobre a origem do português:
“Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...“
Saber latim permite a utilização do português de modo mais excelso do que dominar todo o português sozinho. O estudante compreenderá o porquê das estruturas da língua portuguesa e ainda adquirirá novas maneiras de usar a língua lusitano.
Uma vez que as principais línguas do Ocidente vieram do latim, quem aprender a língua romana possuirá facilidade para aprender seus derivados. A estrutura básica das línguas românicas já será do latinista.
Algumas dessas línguas são: italiano, francês, espanhol, romeno, galego e muitas outras línguas e dialetos.
Até mesmo o inglês e o alemão, que não possuem origem latina, possuem fortes influências do latim.
Segundo Agenor Soares, especialista e estudioso da tradução, sobretudo do inglês, indica que 70% do vocabulário de língua inglesa é composto de palavras latinas, e apõe diversas fontes para sua explicação.
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