"Montamos a câmera na rua, num quarto, observamos com paciência insaciável, treinamos para contemplar nossos semelhantes em seus gestos mais simples”. Cesare Zavattini, roteirista famoso do Neorrealismo italiano.
Em um contexto de medo e desespero causado pelos longos anos de conflito, o Neorrealismo italiano despontou logo após a Segunda Guerra Mundial. Alguns cineastas resolveram ir às ruas e retratar a realidade social do povo italiano usando apenas os equipamentos essenciais e a iluminação natural dos ambientes.
Nos anos 1940, ainda no contexto da Segunda Guerra Mundial, surgiu o Neorrealismo italiano, caracterizado por contar histórias que apresentam a realidade cotidiana da vida do povo italiano.
A maioria dos filmes produzidos nesta época aborda temas que apresentam as dificuldades econômicas e sociais que a Itália viveu.
As filmagens eram feitas ao ar livre, sem os recursos profissionais dos estúdios e dos cenários montados. A ideia era apresentar a realidade como ela é. Para tanto, os diretores faziam filmagens nas ruas e praças da Itália.
Muitos atores eram transeuntes que passavam durante as gravações. O uso deste recurso foi feito para aumentar o realismo das películas. Os diretores buscavam apresentar a realidade do desespero, da opressão e das dificuldades sociais que assolavam os italianos.
O estilo neorrealista surge como um contraponto ao cinema que dominava as bilheterias italianas. De um lado estavam as produções que imitavam as comédias norte-americanas e do outro o cinema propagandístico do regime de Benito Mussolini.
Para o grupo de diretores que inaugurou o neorrealismo na Itália, o cinema deveria apresentar nas telas a realidade da vida italiana.
O movimento neorrealista foi um sinal de mudança na cultura cinematográfica. As narrativas dos filmes expunham debates sobre as mazelas sociais da Itália. As imagens apresentadas escancararam cenas de pobreza, de desesperança e desânimo, retratos de pessoas oprimidas pelas circunstâncias políticas.
A maior parte das histórias não termina com um final feliz. As cenas apresentam pessoas comuns executando suas ações cotidianas, na luta diária pela sobrevivência num país assolado pela fome, miséria e medo.
As principais características do Neorrealismo italiano são:
O conceituado teórico André Bazin chamou o cinema neorrealista de “reportagem reconstituída”. Os cineastas procuravam respeitar ao máximo a realidade do que filmavam, resistindo à tentação de manipular as imagens.
Em 1943, o filme Obsessão, de Luchino Visconti, inaugurou a tendência do neorrealismo. Em 1946, o movimento ganhou popularidade internacional, com Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini, que venceu o Grande Prêmio no Festival de Cannes.
O movimento declinou rapidamente nos anos 1950 e a maioria de seus filmes foi um fracasso de bilheterias. A visão da pobreza e do desespero não agradaram a população.
As pessoas não buscavam o entretenimento do cinema para enxergar um reflexo de suas duras realidades cotidianas.
Além disso, na década de 1960, a Itália viveu os primeiros efeitos positivos do seu período de milagre econômico. Diante da melhora, os temas neorrealistas perderam sua relevância com o público da época.
O Neorrealismo italiano aborda nas suas produções os seguintes temas:
Parte da estilística própria desta escola cinematográfica envolve criar filmes que se desenvolvem organicamente, de modo natural. Não se recorria a roteiros e estruturas fixas.
Assim como a realidade se desenrola sem intervenções, os filmes desejavam capturar esta naturalidade cotidiana.
O Neorrealismo surgiu na Itália no contexto da Segunda Guerra Mundial. Na época, o principal estúdio de produção cinematográfica italiano, a Cinecittà, havia sido bombardeado pelos inimigos de Benito Mussolini.
Diante da destruição do estúdio, um grupo de cineastas resolveu ir às ruas fazer suas filmagens. O objetivo era capturar as histórias da população mais humilde a partir de cenários reais, iluminação natural e com o mínimo de equipamentos possíveis.
O uso deste recurso foi uma forma de contornar a destruição do Cinecittà. Apesar disso, a nova leva de produções e o novo estilo de filmagens serviu também como uma crítica ao cinema tradicional que predominava no país.
Os filmes que comandavam as bilheterias eram grandes produções de caráter hollywoodiano ou os próprios longas norte-americanos. Nenhum destes filmes representavam a realidade do cidadão italiano comum.
Federico Fellini, um dos maiores cineastas italianos da história, afirmou sobre a época:
“Para a minha geração, nascida nos anos 1920, os filmes eram essencialmente americanos. Esses filmes eram mais eficientes, mais sedutores. Eles realmente mostravam um paraíso na terra, um paraíso em um país que chamavam de América”.
O estilo neorrealista foi criado por um grupo de críticos da revista Cinema, que incluía Luchino Visconti, Gianni Puccini, Cesare Zavattini, Giuseppe De Santis e Pietro Ingrao.
O editor da revista era Vittorio Mussolini, filho do ditador fascista Benito Mussolini. Os críticos não podiam tratar de temas políticos ou criticar os filmes que propagavam os valores do governo.
Os críticos concentravam suas queixas nos filmes chamados de telefone bianchi (em português, “telefone branco”), que dominavam a indústria cinematográfica italiana nos anos 1930.
Essas produções imitavam as comédias norte-americanas e apresentavam cenários luxuosos que sempre continham algum telefone branco. Na época, este objeto era o símbolo de status burguês, já que era pouco acessível ao público em geral.
Na contramão dos sucessos comerciais populares, o grupo dos neorrealistas acreditava que os filmes italianos deveriam apresentar imagens reais das mazelas que assolavam a Itália. Este desejo refletia influências do realismo literário da virada do século 20.
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Para entender a realidade que os diretores neorrealistas desejavam representar, é necessário compreender os impactos do fascismo e da Segunda Guerra na Itália. O regime de Mussolini vigorou de 1922 a 1945, cujo projeto político e social era totalitário.
Em um governo totalitarista, há a absorção completa do indivíduo no projeto do Estado. A própria ideia de indivíduo ou individualidade desaparece, para que prevaleça a ideia de cidadão.
Amar e respeitar a ideologia do governo sob todas as coisas, este é o dever do cidadão. Todas as suas ações devem estar voltadas para os interesses e para o bem do regime. Até a estética e a arte eram dominadas pelos valores fascistas.
Os filmes, as obras de arte, as propagandas, todos destacavam um regime composto de cidadãos engajados no projeto de construção de uma sociedade científica, com ordem e voltada para o progresso.
Os outros filmes da época, excluídos os hollywoodianos, eram romances épicos que apresentavam uma grande sociedade. Contudo, eles eram distantes da realidade italiana.
Diante desse quadro, os artistas da geração neorrealista queriam aproximar suas histórias da realidade do povo. Os filmes apresentavam um contraponto à falsa imagem que as obras fascistas apresentavam.
A Itália não vivia um contexto de glórias e prosperidade, tampouco caminhava rumo ao progresso. Quando a guerra terminou, o país estava devastado, vivendo com a depressão econômica e diversas dificuldades.
Cerca de 7% da população italiana estava sem teto e o número de mortos na guerra alcançou a casa dos 300 mil.
Em 1943, a maior parte do norte da Itália foi ocupado por tropas estrangeiras e boa parte do país havia sofrido com bombardeios. A cidade de Roma foi uma das mais afetadas por tudo isso, principalmente após a ocupação nazista.
Depois da guerra, o cenário cotidiano era de pobreza, desânimo e desespero. O Neorrealismo italiano era um reflexo dessa época.
Para os diretores neorrealistas, este cenário deveria ser apresentado nas obras cinematográficas. Vários artistas e obras ganharam destaque neste período.
O termo Neorrealismo” surgiu em 1943, pelo crítico de cinema Antonio Pietrangeli, referindo-se ao filme Obsessão, de Luchino Visconti. O período foi considerado a era de ouro do cinema italiano. Seu auge foi no final dos anos 1940, com os filmes:
As tendências do Neorrealismo foram construídas a partir da influência direta de dois diretores:
Luchino Visconti e Michelangelo Antonioni, importantes cineastas italianos, trabalharam com Renoir e foram influenciados por sua obra.
Obsessão, de Visconti, foi um dos marcos do Neorrealismo italiano. O filme apresentou a nova tendência que surgia no país. O diretor revelou uma Itália que não mostrava apenas paisagens pitorescas, mas também seus aspectos pobres, ordinários e insignificantes.
A chamada Trilogia da Guerra, de Roberto Rossellini, também contribuiu muito para o movimento. Os filmes Roma, Cidade Aberta, 1945, Paisà, 1946, e Alemanha Ano Zero, 1948, influenciaram vários diretores a seguirem a estética neorrealista.
Estes filmes obtiveram certo sucesso internacional, abordando realisticamente os acontecimentos que levaram a Europa às ruínas.
Os filmes souberam capturar a tensão e a tragédia que fizeram parte da realidade europeia e transmitir nas telas este sentimento.
O Neorrealismo italiano influenciou diversas escolas do cinema ao redor do mundo:
Todos adotaram a ideia das filmagens reais do cotidiano.
Nas décadas de 1940 e 1950 as ideias neorrealistas tiveram mais destaque. Apesar disso, alguns diretores contemporâneos ainda aproveitaram as teorias italianas e beberam desta fonte. São eles:
Também o Brasil se inspirou nos cineastas italianos. O Cinema Novo no Brasil foi a corrente que absorveu as ideias do neorrealismo.
“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Com esta frase, o diretor de cinema Glauber Rocha resume como o cinema italiano influenciou obras brasileiras.
As principais produções brasileiras do Cinema Novo foram:
Poucos movimentos tiveram influência tão profunda e duradoura no cinema global.
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