O antissemitismo é uma palavra moderna que designa ódio aos judeus e sua cultura. Para a organização Stand With Us, o antissemitismo é:
"uma determinada percepção dos judeus que pode se exprimir como ódio em relação a esse povo [devido a sua cultura, história e visão de mundo]".
A repulsa aos judeus é associada a teorias políticas que mostram os judeus como empresários com planos políticos de dominação internacional, diz o historiador Daniel Pipes.
Segundo Marta Francisca Topel, antropóloga da Universidade de São Paulo (USP), o antijudaísmo se intensificou a partir da destruição de Jerusalém e o alastramento do povo judeu por diferentes países, no final do século I d.C.
Antes desse período existiam conflitos de outros povos contra os judeus, mas não uma aversão sistematizada contra os judeus apenas pela sua etnia como passou a existir.
Segundo Bernard Lewis no livro Semitismo e Antissemitismo, o termo antissemitismo surgiu na Alemanha, no século XIX. Os alemães passaram a chamar os judeus de semitas porque a Bíblia afirma que os judeus são descendentes de Sem, filho de Noé.
Mesmo o termo tendo surgido na Idade Moderna, a aversão aos judeus é mais antiga.
Para a antropóloga Marta Francisca, o antissemitismo começou com as seitas gnósticas e maniqueistas que surgiram aproximadamente no século II. Eles afirmavam que o Deus do Antigo Testamento, o Deus dos judeus, era mau, diferente do Deus do Novo Testamento, que seria o Deus bom.
Com essa convicção, os membros destas seitas passaram a ver os judeus como servos do Deus mau, como agentes de suas más obras. Outra origem da aversão aos judeus está relacionada a perseguição dos judeus contra os cristãos e a certas interpretações dos textos de São Paulo.
A relação entre cristãos e judeus foi conflituosa desde o início. Logo após a morte e ressurreição de Jesus, os judeus passaram a perseguir e matar os cristãos. O cristianismo era considerado pelos fariseus como uma seita idólatra, levando a punição com a pena de morte.
Dependendo da interpretação do Rabino local, a Talmud autoriza a morte dos gentios (não-judeus), como defende o Rabino Yitzhak Shapira em seu livro The King of Torah (O Rei da Torá), publicado em 2009.
O historiador Thomas Madden aponta que os conflitos entre membros das duas religiões duraram séculos. Madden apresenta o assassinato de judeus a cristãos em Alexandria, em 414, e outros linchamentos ocorridos na Síria no mesmo século.
Em contrapartida, muitos cristão do período medieval utilizaram passagens das Sagradas Escrituras para afirmar que os judeus eram um povo mau e amaldiçoado, linchando-os em seus vilarejos. Tais atitudes aconteciam em desarmonia com o posicionamento da Igreja Católica.
Pensadores da Patrística, como São Justino - o Mártir, Tertuliano, Orígenes, Santo Eusébio e outros teólogos importantes, escreveram tratados contra a religião judaica, mas não defendiam a perseguição aos judeus.
No final do século V, Santo Agostinho rejeitou as alegações de alguns cristãos de que os judeus eram servos do diabo.
No cerne do pensamento agostiniano sobre os judeus estavam as palavras do Salmo 59: “Não os mates, para que meu povo não se esqueça: espalha-os pelo teu poder; e derruba-os, ó Senhor, nosso escudo”.
Para ele, a existência do judaísmo era errada, mas eles poderiam lembrar os cristãos de que Deus fala com o povo desde a Antiguidade.
O historiador judeu Nachum Tim Gidal afirmou que os judeus da Europa viveram em relativa paz do século V até o século XIII, no livro Jews in Germany: From Roman Times to the Weimar Republic.
A partir do século XIII, o antissemitismo passou a crescer na Europa junto com superstições da época, levando a determinados vilarejos a considerarem os judeus como culpados pelas muitas das epidemias e desastres naturais da época.
Esse fenômeno medieval foi amplamente descrito no livro Bode Expiatório, do sociólogo francês René Girard, também se aplicando às perseguições ocorridas durante a Idade Moderna. Para ele:
"A multidão tende sempre a perseguição, pois as causas naturais daquilo que a perturba, daquilo que a transforma em turba, não podem interessá-la. A multidão, por definição, procura a ação, mas não consegue agir sobre as causas naturais. Procura, então, uma causa acessível e que satisfaça seu apetite de violência".
Muitas vilas realizavam linchamentos públicos contra as comunidades judias, exilando-os de seu convívio. Esse fenômeno ficou conhecido como pogrom, uma palavra russa que significa "causar estragos, destruir violentamente".
A Rússia ficou marcada como um dos países mais antissemitas, por isso a palavra pogrom é uma das mais utilizadas para se referir ao linchamento de judeus.
Em 1772, a imperatriz da Rússia Catarina II forçou os judeus a entrar numa zona de assentamento especial, localizada nas atuais Polônia, Ucrânia e Bielorrússia.
Eles eram obrigados a permanecer em seus shtetls (vilas), sendo proibidos de retornar às cidades que ocupavam antes da partição da Polônia, afirmou o historiador Paul Johnson no livro A History of The Jews.
Após 1804, os judeus foram banidos das aldeias e começaram a ingressar nas cidades. Entre 1881 e 1884, parte da população russa cometeu um massacre contra os judeus que moravam na Rússia.
Dados do governo americano mostram que mais de 2 milhões de judeus emigraram da Rússia para os EUA, afirma a Enciclopédia dos Judeus na Europa Oriental, produzida pelo Instituto Para Pesquisa Judia (YIVO).
Do século XIII adiante, o antissemitismo foi crescendo na sociedade alemã. A República de Weimar foi um dos únicos momentos em que os judeus não foram marginalizados no país.
Martinho Lutero foi um dos principais promotores do antissemitismo na Alemanha. Ele escreveu um livro intitulado Sobre os Judeus e suas Mentiras, no qual afirma:
“Esses vermes envenenados e venenosos devem ser recrutados para trabalhos forçados ou expulsos de uma vez por todas”.
Em um dos trechos do livro, ele diz:
“Temos culpa em não matá-los. [...] Queime suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente. Force-os a trabalhar e trate-os com toda sorte de severidade… são inúteis, devemos tratá-los como cachorros loucos, para não sermos parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para que não recebamos a ira de Deus sobre nós.
Eu estou fazendo a minha parte”, diz um trecho da obra.
No tratado, Lutero diz que aqueles que aderem ao judaísmo “devem ser considerados como sujos” e que eles são “cheios de fezes do diabo... que chafurdam como um porco”. O líder protestante também afirma que a sinagoga é um “prostíbulo incorrigível”.
Aconselhados por Lutero, muitos príncipes da Germânia passaram a expulsar e matar muitos judeus que habitavam em seus territórios.
Foi em 1920 que os judeus alemães começaram a ter um período de paz. A República de Weimer instituiu um Estado Democrático de Direito que igualava todos os cidadãos perante a lei.
Os judeus passaram a ser encarados como cidadãos com todos os direitos constitucionais. Porém, grande parte da população não gostou da liberdade dada aos judeus, votando no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, os nazistas.
Na época de Hitler, o antissemitismo ganhou novos contornos. O líder alemão uniu o fascismo de sua época com a cultura antissemita já presente na cultura nacional.
Enquanto o fascismo uniu o socialismo com o nacionalismo, Hitler adicionou um elemento de preconceito étnico ao fascismo.
O pensamento nazista possuia uma nova concepção da luta de classes. Para o ex-ditador alemão, a história é uma permanente luta entre as diferentes raças, na qual a raça superior deve utilizar todos os meios necessários para manter sua pureza e subjugar as outras, afirma a antropóloga Márcia Francisca Topel, da Universidade de São Paulo (USP).
Hitler e seus partidários também afirmavam que os judeus formavam cartéis detentores dos meios de produção para oprimir o povo trabalhador alemão, conforme seu livro Mein Kampf.
Para supostamente defender trabalhadores arianos oprimidos, Hitler mudou o nome de seu partido para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
O ódio do ditador alemão se estendia a diversos aspectos da sociedade judaica, incluindo o comunismo. Ele era um severo crítico do comunismo, especialmente porque seu criador, Karl Marx, era judeu.
O principal livro teórico de Hitler, o Mein Kampf (Minha Luta), possui um capítulo dedicado a criticar as teorias marxistas.
Essa posição fez com que os nazistas se tornassem essencialmente anti-marxistas, afirmou a antropóloga Adriana Dias, da Unicamp.
O pensamento de Hitler se difundiu na Alemanha especialmente por causa das suas supostas aparências científicas, que eram semelhantes ao darwinismo, e do já existente antissemitismo no país.
A união de todos esses fatores culminou na maior perseguição anti semita da história, levando a morte de aproximadamente 6 milhões de judeus, afirma Raul Hilberg, historiador pioneiro do Holocausto.
Em 1938, antes do holocousto, mais de 30 mil judeus foram presos pelo partido nazista, auxiliados por parte do povo alemão. Tudo isso aconteceu em uma única noite, conhecida como Noite dos Cristais. Os bens dos judeus foram tomados pelo Estado Nazista.
Richard J. Evans, historiador da Universidade de Cambridge, explica que o plano nazista foi difente de qualquer outro genocídio étnico:
"O genocídio de cinco a seis milhões de judeus cometido pela Alemanha nazista e seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial está, em alguns aspectos, em uma categoria diferente dos genocídios étnicos que acontecerem ao longo da história.
Ao contrário dos objetos de outros genocídios, os judeus eram considerados por seus assassinos nazistas como o 'inimigo mundial', a serem procurados ativamente onde quer que vivessem e mortos sem exceções, em um processo abrangente de extermínio que deveria continuar até não havia mais judeus em nenhum lugar do mundo
Os nazistas tratavam os judeus com uma ferocidade sádica raramente expressada nas outras vítimas de sua violência: homens judeus encontrados na Frente Oriental pelas forças alemãs eram deliberadamente humilhados, suas barbas incendiadas ou forçados a realizar exercícios de ginástica até caírem do chão por exaustão. Meninas judias eram obrigadas a limpar banheiros com suas blusas".
O antissemitismo contemporâneo foi marcado pelo ataque terrorista do Hamas contra Israel. No Estatuto do Hamas, está escrito:
"Sois (palestinos) a melhor nação surgida na face da terra. Fazei o bem e proibis o mal, e credes em Alá. Se somente os povos do Livro (i.e., judeus [e cristãos]) tivessem crido, teria sido melhor para eles.
[...] Humilhação é a sina deles, onde possam se encontrar, exceto se forem salvos por meio de um compromisso com Alá. Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer".
Grupos islâmicos terroristas como o Hamas utilizam o Corão para sustentar seu antissemitismo. Em uma das passagens, o livro dos muçulmanos diz:
"Os judeus dizem: Ezra é filho de Alá; os cristãos dizem: O Messias é filho de Alá. Tais são as palavras de suas bocas; repetem, com isso, as de seus antepassados incrédulos. Que alá faça guerra contra eles! Como se desviam!" (9;30).
E outras passagens, como:
"Quer estejais leve ou fortemente (armados), marchai (para o combate) e sacrificai vossos bens e vossas vidas pela causa de Alá! isso será preferível para vós, se quereis saber" (9.41).
No dia 7/10/2023, o Hamas deixou um rastro de barbárie ao entrar em território israelense. Crianças, idosos, jovens e famílias inteiras mortas, sequestradas e até presas em gaiolas pelos terroristas do Hamas.
Corpos caídos nas estradas e ruas com buracos de projéteis no corpo. Jovens desesperados tentando fugir do fuzilamento numa rave. Ao comentar o caso, o Alexandre Ostrowiecki, empreendedor com formação em política externa pela Universidade de Jerusalém, disse:
"No centro do conflito temos um lado que quer assassinar o outro e um lado que não quer ser assassinado. A organização terrorista do Hamas busca matar civis para obter ganhos políticos, esse é o significado de terrorismo.
[...] O Estado de Israel afirmou oficialmente em seu documento de independência que busca estender a mão para os vizinhos para construir um Oriente Médio pacífico, mas logo em seguida 6 exércitos muçulmanos invadiram o país".
Para o juristas Ricardo Gomes, o antissemitismo ainda existe e está forte ao redor do mundo. No programa Magna Carta, da Brasil Paralelo, Ricardo comenta:
"[Após os ataques do Hamas] Daniel Ortega declarou ser solidário aos palestinos; Evo Morales afirmou condenou as supostas ações imperialistas e coloniais do governo sionista; Petro, presidente da Colombia, chamou os judeus de neonazistas.
[...] A esquerda odeia a sociedade ocidental, tudo que ataca a moralidade judaico-cristã provoca sua defesa".
Na 2ª temporada do Insight BP, o programa explica em detalhes as origens do conflito entre Palestinos e Israel - assista aqui.
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