A polarização de ideias e a polarização política são fenômenos que têm ganhado força no Brasil, especialmente após as manifestações de 2013. Conhecidas como o movimento O Gigante Acordou, essas manifestações marcaram o início de uma era de crescente politização e conflitos ideológicos no país.
O movimento, inicialmente motivado por demandas sociais e econômicas, acabou gerando uma mobilização política que expôs divisões na sociedade brasileira, especialmente durante o impeachment de Dilma Rousseff.
Em 2018, a porcentagem de brasileiros que se considerava "totalmente de direita" era de 9%, segundo o IDDC. No mesmo ano, apenas 6% da população se considerava de esquerda.
Segundo pesquisa do IPEC (antigo IBOPE) realizada em março de 2024, 24% dos brasileiros se consideram “totalmente de direita”, enquanto 18% se identifica como “totalmente de esquerda”, mostrando o crescimento da polarização de ideias no Brasil.
O que é essa polarização política? Quais são suas principais consequências? Entenda agora.
A polarização política e de ideias refere-se ao processo de divisão de uma sociedade em grupos com visões de mundo e ideologias cada vez mais divergentes. Este fenômeno é marcado pela ausência de consenso e pela intensificação de conflitos ideológicos.
O sociólogo Anthony Giddens, em A Terceira Via, argumenta que a polarização resulta da falência das ideologias modernas em responder às novas demandas da sociedade, levando grupos a adotarem posições mais drásticas em busca de um novo caminho.
Concretamente, a polarização se manifesta na distância crescente entre as ideias da esquerda e direita.
Ao invés de dialogar e chegar na melhor solução possível, os grupos podem passar a tentar vencer a disputa ao invés de pensar no bem comum, tratando os opositores como inimigos.
O debate sobre temas como a reforma da previdência, políticas ambientais e direitos civis torna-se mais acirrado e com pouca disposição para compromissos ou consensos.
Além disso, a polarização é alimentada por bolhas ideológicas nas redes sociais, onde indivíduos são expostos predominantemente a opiniões que reforçam suas crenças preexistentes, como mostra o documentário O Dilema das Redes.
A polarização leva à criação de narrativas conflitantes sobre a realidade e a um ambiente onde a verdade objetiva pode se tornar secundária perante as convicções pessoais.
Essas divisões profundas afetam a capacidade de diálogo e cooperação dentro da sociedade, dificultando a formulação e implementação de políticas públicas que atendam a todos os segmentos da população.
A polarização não se restringe apenas à população, o fenômeno atingiu muitas das principais instituições do país. Grande parte da mídia foi afetada.
A teoria da Janela de Overton foi criada para explicar esse cenário. Muitas pessoas pensam que têm opinião formada sobre um assunto. Na verdade, não é difícil que elas tenham sido induzidas a pensar de uma certa maneira.
Se uma pessoa está na mesma posição contemplando a paisagem através de uma janela, tudo o que ela vê está delimitado pelas esquadrias e pelo batente. À medida que se levanta e se aproxima da janela, o horizonte se amplia.
A teoria da Janela de Overton diz que pessoas e instituições podem mudar a posição da janela para mudar o cenário visto pela população. Dependendo do nível de comprometimento ideológico e de polarização de uma mídia, ela pode mudar a janela de overton para favorecer suas ideias.
Um exemplo concreto pode explicar essa realidade. Pense no seguinte cenário:
Você acorda, ainda meio sonolento, mas já sente aquela vontade de entender o mundo ao seu redor. O celular já está na mão e a primeira coisa que faz é buscar as notícias do dia.
Mas, em vez de esclarecimento, o que encontra são manchetes que mais confundem do que explicam. Ao invés de falar que a economia melhorou, os jornais podem dizer que houve uma “despiora”, querendo trazer uma conotação negativa para o fato.
Cada uma parece puxar para um lado, como se estivessem mais interessadas em vender uma ideia do que em contar o que realmente aconteceu.
A realidade se mistura com opinião e no fim você fica perdido sem saber em quem acreditar. A polarização compromete parte das instituições, levando ao favorecimento das ideias pessoais em detrimento a um noticiamento honesto da realidade.
Imagine agora um início de dia diferente. Você abre seu e-mail e lá está a Overton, pronta para oferecer exatamente o que você precisava: conteúdo além das manchetes.
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Além de entregar notícias confiáveis, cada newsletter mostrará como as grandes mídias do Brasil estão divulgando os fatos - elas estão sendo tendenciosas ou honestas?
Diante das confusões e incertezas geradas pela polarização política, é possível perguntar: como esse fenômeno surgiu e se fortaleceu no Brasil?
Um dos principais marcos da polarização política e de ideias do Brasil foram as manifestações de 2013, conhecidas como O Gigante Acordou. Antes de 2013, o Partido dos Trabalhadores (PT) era uma das principais organizações políticas do país.
Parecia não haver grupos organizados que fizessem contraposição direta no ramo das ideias. O PT estava no domínio do governo brasileiro desde 2002, com a primeira vitória de Lula nas eleições presidenciais.
A partir de 2013, o cenário começou a mudar. O início dos protestos foi promovido pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento das tarifas do transporte público de São Paulo.
Rapidamente, os protestos foram ganhando adeptos de diferentes visões de mundo, com a frase “não é só pelos 20 centavos” em destaque.
Para o jornalista Augusto Nunes, a população aproveitou as manifestações e foi às ruas protestar contra casos de corrupção que estavam sendo revelados, como as construções para a Copa do Mundo de 2014 e casos do futuro Petrolão.
A expressão O Gigante Acordou foi utilizada para representar o despertar de uma nova consciência política e social da sociedade brasileira. Segundo o jornalista Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras:
“Por que acordou? Mesmo que as causas institucionais desse despertar nunca tenham entrado em debate, parcela significativa dos cidadãos aprendeu da Lava Jato o profundo desajuste moral, vicioso e torpe do presidencialismo dito ‘de coalizão’, instituído de modo crescente no país desde a Constituinte de 1988”.
Inicialmente focados em questões sociais e econômicas, os protestos rapidamente se tornaram uma arena de disputas ideológicas, expondo divisões de visão de mundo da sociedade brasileira.
Nesse momento nascia a “nova direita”, fortalecendo o pensamento anti-petista.
Em 2013, além dos cartazes com a expressão “o gigante acordou”, manifestantes carregavam faziam referências inéditas para a história do Brasil, como:
“Olavo tem razão” e
“Menos Marx e Mais Mises”.
Isso representou o surgimento de uma consciência política até então não vista no Brasil. Ideias que não tinham muito espaço na mídia e em instituições de ensino passaram a ganhar adeptos.
Olavo de Carvalho foi um dos nomes mais mencionados nessa época. Seu Curso Online de Filosofia de Olavo de Carvalho atingiu a marca de 5 mil alunos mensais. O livro O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota tornou-se um best-seller, tendo vendido milhares de cópias.
O liberalismo também ganhou espaço social. Autores da Escola Austríaca de Economia eram mencionados por manifestantes em diversos momentos. Os livros destes autores passaram a ser mais vendidos, e diversos grupos foram formados ou ganharam força para defender esse ideal, como o Instituto Mises Brasil e o Instituto Liberal.
Com a nova direita, a sociedade passaria a ganhar dois pólos principais:
A direita convergia na necessidade de lutar contra o comunismo e o PT, mesmo os conservadores e liberais divergindo em certas questões morais, como legalização das drogas e do aborto.
Estatísticas de 2013 apontaram que o número de manifestantes em todo o Brasil foi superior a 1 milhão de pessoas, com a cidade do Rio de Janeiro tendo recebido destaque devido ao maior número de protestantes - 300 mil.
A última grande manifestação do país tinha acontecido no impeachment de Collor, em 1986, esse foi um dos principais motivos para que a expressão “o gigante acordou” fosse utilizada.
A Operação Lava Jato, iniciada em 2014, fortaleceu a polarização política no Brasil. Com a descoberta que o PT estava envolvido no maior escândalo de corrupção do mundo, o antipetismo cresceu, mostram dados apresentados pelo site Poder 360.
A maior operação anticorrupção do Brasil começou em 2009, com a descoberta dos atos ilícitos de Alberto Youssef, suposto empresário. A Polícia Federal descobriu o envolvimento de Alberto com deputados federais presos por corrupção no Mensalão, fazendo com que ele passasse a ser monitorado de perto.
Em 2013, após anos de monitoramento sobre Alberto e comparsas, a Polícia Federal descobriu que Youssef deu um carro de luxo para Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás.
A partir disso, os policiais começaram a investigar a estatal. No início de 2014 a operação ainda era secreta. O nome “Lava-Jato” foi escolhido porque os agentes da corrupção utilizaram um posto de gasolina em Brasília para desviar dinheiro.
Em 2014, diversos eventos importantes foram realizados no Brasil: a Copa do Mundo, eleições federais e construções de usinas importantes. Ao analisar os dados, os investigadores descobriram desvios em quase todas as obras públicas do país. Todas estavam interligadas.
As descobertas foram apresentando uma enorme rede de corrupção secreta que existia no Brasil. A maioria dos membros era composta por políticos e membros de estatais. Os envolvidos mantinham contato e articulavam como fariam os desvios.
Nomes famosos da política foram pegos em atos ilícitos:
A operação conseguiu recuperar 25 bilhões de reais dos 42 bilhões roubados durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT).
Atualmente, o STF considerou que grande parte das descobertas da Lava Jato foram obtidas de forma ilegal, retirando as condenações contra Lula e outros políticos do Partido dos Trabalhadores.
Em 2014, enquanto a Lava Jato era desvendada ao público, o sentimento antipetista ganhou força no Brasil.
Muitos protestantes criticavam os gastos do governo Dilma com a Copa do Mundo e os problemas econômicos. As motivações iam desde os problemas do sistema de saúde pública do país a educação brasileira que estava nos últimos lugares em rankings internacionais como o PISA.
A abertura da Copa de 2014, sediada no Brasil, marcou a história do país. Os torcedores vaiaram a presidente Dilma desde o início de sua fala. Muitos brasileiros ficaram de costas durante o hino nacional, evidenciando a polarização política.
Dilma venceu as eleições de 2014, mas o anti-petismo já tinha ganhado força, culminando com seu impeachment em 2016.
As eleições de 2018 representaram um ponto de virada na polarização política brasileira. Jair Bolsonaro venceu a eleição com uma retórica anti-establishment e anti-PT, fortalecendo a polarização entre esquerda petista e direita conservadora.
Bolsonaro apresentou-se como uma alternativa radical ao sistema tradicional, capturando o descontentamento de grande parte da população com o PT.
A eleição de Bolsonaro marcou o fim de uma suposta polarização: a disputa entre o PSDB e o PT.
Das eleições de 1994 a 2014, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) protagonizaram a disputa eleitoral para o cargo de presidente.
Aparentemente, a disputa era entre dois opositores, mas por trás dos bastidores, a realidade era outra.
Apesar do PSDB ter ideias de esquerda mais moderadas, algo que os enquadraria como uma centro-esquerda, muitos eleitores consideravam esse partido como a via da direita brasileira.
Nas eleições de 2022, a estratégia ficou ainda mais exposta: Lula e Alckmin formaram uma chapa. Aqueles que pareciam ser os maiores opositores da política brasileira se apresentaram como grandes aliados.
Para entender essa história, a Brasil Paralelo produziu um Original BP para explicar algumas das principais realidades dos bastidores da política brasileira. Confira:
De acordo com uma pesquisa feita pelo IPEC em maio de 2024, 41% dos brasileiros se identificam com a direita, enquanto 18% se identificam com a esquerda.
Em 2020 uma parcela de 34% dos entrevistados não diziam se identificar mais com direita e nem com esquerda, o número mudou para 28% na última pesquisa.
Enquanto isso, o número de pessoas que se identificavam com a direita saltou de 39% para 41% e a população de esquerda subiu um ponto percentual, atingindo 18% este ano, de acordo com recorte feito pelo G1, mostrando o aumento da polarização, especialmente do pensamento de direita.
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