No dia 3 de fevereiro, a Food and Drug Administration (FDA) deu o sinal verde para testes clínicos de transplante de rins de porcos geneticamente modificados.
Se der certo, esses testes podem ser uma esperança para pacientes que sofrem de insuficiência renal em todo o mundo.
Duas empresas norte-americanas foram autorizadas a realizar testes: A United Therapeutics Corporation e a e-Genesis:
“Estamos entrando em uma era transformadora no transplante de órgãos”, disse Mike Curtis, presidente e diretor executivo da eGenesis.
Com o baixo número de doadores em relação ao de pessoas que precisam realizar o transplante, os porcos podem ajudar a medicina a salvar vidas.
No Brasil, mais de 40 mil pessoas aguardam um rim. Trata-se da maior demanda por transplantes apresentada pelos pacientes.
Nos Estados Unidos a situação não é diferente. Mais de 550 mil norte-americanos têm insuficiência renal e, entre eles, há mais de 100 mil na lista de espera para um rim. No entanto, a escassez de órgãos é tão grave que em 2023 foram realizados apenas 25 mil transplantes.
As atuais pesquisas representam um progresso significativo no xenotransplante, uma área que a ciência luta há anos para desenvolver com sucesso.
Nos últimos três anos, cinco pacientes receberam órgãos de porcos projetados por essas empresas: dois receberam corações e três receberam rins. No entanto, essas cirurgias não faziam parte de testes formais. Os pacientes envolvidos estavam gravemente doentes e os transplantes foram permitidos porque eles ficaram sem opção de tratamento.
Questões éticas também estão em debate, já nem todos os riscos são conhecidos.
Os pacientes serão monitorados por 24 semanas e devem concordar com acompanhamentos regulares pelo resto de suas vidas, permitindo que os pesquisadores verifiquem não apenas seus estados de saúde, mas também se há patógenos que podem passar de porcos para humanos.
Críticos levantaram preocupações sobre o potencial de patógenos conhecidos ou desconhecidos em porcos se espalharem para a população humana durante tais transplantes, embora o risco seja considerado pequeno.
Devido ao risco, as empresas criam seus porcos em instalações livres de patógenos que aderem a protocolos rígidos de biossegurança e regularmente examinam os animais em busca de patógenos.
Especialistas em ética médica também levantaram questões sobre como os pacientes podem consentir totalmente com tais experimentos quando há tantos riscos desconhecidos.
Ao ser entrevistado pelo The New York Times, o professor Christopher Bobier disse que, no pior cenário, o receptor do órgão de um animal "poderia ser infectado com um patógeno não detectado da fonte suína". Bobier leciona bioética e política de saúde na Faculdade de Medicina da Universidade Central de Michigan.
Ele também disse que era difícil explicar esses riscos para alguém que lida com as dificuldades da diálise renal, que significa ficar conectado a uma máquina de diálise por três a quatro horas por dia, três vezes por semana.
“Dizer não [à possibilidade de transplante] seria incrivelmente difícil”, disse o Dr. Bobier.
“Compreender totalmente as implicações dessa decisão para toda a vida seria ainda mais difícil.”
A norte-americana Towana Looney, de 53 anos, tornou-se a terceira paciente a ser submetida ao procedimento.
No entanto, Towana é a única sobrevivente entre pacientes que receberam órgãos suínos geneticamente modificados.
Ela fez a cirurgia no hospital NYU Langone Health, em dezembro de 2024.O transplante encerrou um período de oito anos de espera, com a esperança de tratar de uma insuficiência renal. A moradora do Alabama, nos Estados Unidos, tem altas concentrações de anticorpos no sangue, o que tornava a procura por um doador ainda mais complicada.
Seu bom estado de saúde antes do transplante a torna diferente dos outros pacientes e contribuiu para sua rápida recuperação.Towana teve alta hospitalar depois de 11 dias. No atual momento, ela passa por sessões de infusão intravenosa regulares e não necessita mais de diálise.
Ela relatou que a hipertensão está controlada e voltou a ter energia e apetite.
Este avanço será cuidadosamente monitorado na comunidade médica, pois promete potencialmente acelerar ensaios clínicos futuros, tornando o xenotransplante uma solução viável para a escassez de órgãos. Towana, agora capaz de planejar viagens que antes eram impossíveis, como visitar o Walt Disney World, destaca a esperança de uma vida normal.
Robert Montgomery, diretor do Instituto de Transplante de NYU Langone, liderou a cirurgia com a colaboração de Jayme Locke.
Os dois profissionais trabalharam para conseguir a aprovação do FDA, impulsionados pelos desafios da escassez de órgãos nos EUA, onde mais de 100 mil pessoas aguardam transplantes.A paciente havia doado um rim à mãe, o que a colocou em alta prioridade na lista de espera. No entanto, após desenvolver pré-eclâmpsia e subsequente hipertensão em 2002, sua saúde renal foi comprometida, levando à necessidade de diálise em 2016.
A iniciativa de xenotransplante foi sua melhor esperança.
O rim que recebeu foi modificado com 10 edições genéticas por parte da Revivicor, como participante de um programa da FDA.
Os desafiadores casos anteriores de xenotransplante mostraram a necessidade de que candidatos em melhores condições de saúde, como Towana, fossem submetidos ao transplante.
Este procedimento experimental abre novas possibilidades no campo da medicina, buscando superar a escassez crítica de órgãos através da modificação genética de porcos para a doação segura a humanos.
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