A conversa começou descontraída com o pré-candidato cumprimentando Diogo Sarza, Raquel Landim e Carolina Linhares. Logo de início Datena complementou seu perfil, previamente apresentado por Sarza, afirmando que não é comunista.
"Eu ganhei dois prêmios Herzog* de jornalismo. Se as pessoas não sabem, eu apresento um programa policial, mas tenho dois prêmios Herzog de jornalismo, que são muito importantes na minha carreira. Faço questão de colocá-los no meu perfil porque, como jornalista que sou e prezando a minha profissão, considero esses prêmios um reconhecimento significativo do meu trabalho”,afirmou.
Questionado sobre as vezes em que se candidatou e desistiu antes da eleição, o pré-candidato afirmou que não confia na palavra de políticos. Nesse momento afirmou que não garante que seu nome estará mesmo na urna no dia da votação.
"Quando o político me sacaneia, como me sacanearam no meio do caminho em todas as outras oportunidades não cabe lembrar por quê, eu larguei esses caras no meio do caminho. Então, a minha desconfiança com o político é total. Até que eu faça parte do meio político e passe a ter confiança nos políticos de uma forma geral, vou continuar na expectativa de ser ou não ser, eis a questão. Você entendeu? Se alguém me sacanear de hoje até o dia da eleição, vai ficar no meio", declarou Datena.
Apesar da declaração, ele afirmou que dessa vez sua intenção é ir até o fim. Raquel Landim tomou a palavra e apontou que agora o apresentador do Brasil Urgente está no PSDB. Interrompendo a fala da jornalista, Datena sustentou que o partido está rachado. E “destruído por uma série de detalhes”. Landim manteve sua pergunta e perguntou se o entrevistado tinha “perspectiva de que alguém o sacanearia daqui até a eleição”.
Datena: É claro que, hoje em dia, você tem que tomar cuidado com tudo que acontece, desde conchavos políticos até o 'toma lá, dá cá'. Tudo que as pessoas dizem que não vão fazer e, quando se propõem a serem eleitas, acabam fazendo, é chamado de velha política. Isso eu não admito e não vou fazer. Se eu for eleito, e vou ser eleito prefeito de São Paulo, continuarei até o fim. Não tem 'toma lá, dá cá'. Quem vai estar no governo é o povo deste país. Só se faz política com habilidade, pensando na Constituição, que é o povo. Pouca gente faz isso; é só conversa fiada, é conversa que não leva a nada.
Landim: Supondo que você vá até o final, você hoje é um dos maiores comunicadores…
Datena: Eu vou até o final!
Landim: Se ninguém te sacanear. Você hoje é um dos maiores comunicadores do país não vou ter a indelicadeza de perguntar quanto você ganha, mas a gente sabe que é na casa dos três dígitos. Prefeito de São Paulo ganha…
Datena: Três, três, três. É mais ou menos isso. Muito menos agora, porque eu refiz o meu contrato com a Band. Antes de qualquer coisa, me disseram outro dia: 'Datena, você usa a política para se promover'. Aí um cara gritou da favela, onde estávamos na laje: 'Datena, como vai você?'. Eu falei: 'Olha lá, tá vendo? É o contrário. Quem me usa como apresentador, com a projeção que eu tenho, são os políticos, não o contrário'. Agora, fiz um acordo com a Band em plena campanha. Nas outras vezes que desisti, eu tinha quatro anos de contrato e ganhava entre 600, 700, 800 mil reais, chegando a ganhar mais de 1 milhão. Desta vez, meu contrato está se encerrando agora em dezembro. A Band me procurou porque todas as emissoras de televisão estão passando por uma crise terrível e queriam reduzir o meu salário pela 15ª vez, para 100 mil ou 150 mil reais. Eu falei: 'Não, reduz 70%. Assim eu fico mais tranquilo e não tem sacanagem de perguntarem se estou usando a política para renovar contrato. E, quem sabe, vocês mantêm mais gente empregada aqui na Band, porque a Band está sofrendo uma crise como todas as outras televisões. Eu sou um cara bonzinho? Não, mas é uma questão pragmática. Não tem dinheiro para pagar e eu não preciso de tanta grana para viver."
Landim: O prefeito de São Paulo ganha R$35.000,00. Se você vencer o partido vai cobrir a diferença? Como é que você vai manter o padrão de vida?
Nesse momento, Datena revelou que pagou uma multa de 10 milhões de dólares à Rede Record há 11 anos, após descumprir um contrato. Explicou que quase foi à falência, mas decidiu quitar a dívida integralmente para manter sua integridade. Hoje, vive bem com o dinheiro que ganha da Band, sem depender de recursos públicos. Datena considera sua situação financeira como de classe média remediada em comparação a outros apresentadores. Por fim, afirmou que se eleito vai viver de suas economias, não do salário pago pela prefeitura.
A conversa seguiu abordando Lula e Bolsonaro. Raquel Landim perguntou ao entrevistado qual dos dois fez o melhor governo em sua opinião. Datena respondeu imediatamente que foi o atual presidente.
O pré-candidato apontou que em sua visão Lula não foi eleito três vezes à toa, porém acrescentou que o petista foi ajudado pela perspectiva internacional, que naquela época sofreu com a quebra do Lehman Brothers* e do sistema financeiro internacional.
O apresentador acredita que Lula teve a sorte de os bancos estarem sendo sancionados pela CPI do Banestado, o que incentivou investimentos no país.
Datena avaliou que Lula estava se colocando como “Cristo Redentor” e como o descobridor do Brasil. Concluiu sua fala apontando que embora tenha realizado dois bons governos, foi ajudado pelo cenário político.
Sobre as últimas eleições presidenciais, o pré-candidato explicou que foi convidado por Bolsonaro a apoiá-lo formalmente, mas decidiu permanecer neutro. Ele classificou ainda Bolsonaro como de extrema-direita e afirmou que Lula é um político de esquerda.
Diogo Sarza abordou um desentendimento entre Datena e a deputada Tábata Amaral (PSB-SP). Ela teria afirmado que o entrevistado estaria sendo cotado para ser vice-prefeito em sua chapa.
Sarza: Você traiu a Tábata?
Datena: Ah, eu que traí a Tábata?! Falar que eu traí é uma mentira deslavada. Eu amo a Tábata. Gosto da Tábata, acho que a Tábata representa uma bela política. Ela vai ter um crescimento nacional muito grande, talvez não para essa eleição, mas nas próximas eleições nacionais ela será importante. Ela é uma menina que vem de origem humilde, a família dela é excepcional. Mas a Tábata nunca disse que eu traí; ela disse que o PSDB traiu. Se o PSDB traiu, é problema do PSDB, não meu. Ela quem me propôs sair para o PSDB. Eu falei: 'Tábata, eu não quero ir para o PSDB, eu quero ficar com você porque está tudo definido'. Mas ela disse: 'Ah, mas eu quero ganhar um minuto na televisão'. Eu falei: 'Tábata, eu prefiro ficar com você'. Eu insisti, ela insistiu, e eu fui para o PSDB. Se o PSDB me fez um convite para ser prefeito, o problema é entre ela e o PSDB. Eu não sou traidor de ninguém."
Questionado por Raquel Landim se as invasões a prédios públicos em 8 de janeiro de 2023 foram uma tentativa de golpe de Estado, Datena afirmou que enxerga o episódio como uma tentativa “clara, absurda e desproporcional” de golpe de Estado.
"É interessante como uma tentativa de golpe pode acontecer e, de repente, Lula está em Araraquara, almoçando com o prefeito, sem saber o que estava acontecendo. As forças de segurança do governo não avisaram o presidente Lula de que o golpe iria acontecer. Aquilo foi uma tentativa de golpe explícita, completamente explícita. Isso é inegável. Quem nega essa tentativa de golpe quer negar a história brasileira. Isso é um absurdo. Quem nega isso está cometendo um absurdo, não tem cabimento uma coisa dessas", declarou.
O apresentador afirmou ainda que da mesma forma a tentativa de assassinato do ex-presidente Trump no último sábado, 13 de julho, também foi um atentado à democracia, tal qual o 8 de janeiro.
“Atirar num candidato quem, quer que seja, a qualquer cargo é um ato ou terrorista ou uma tentativa de homicídio, mas é um ato contra a democracia”
Datena finalizou a questão afirmando que não considera que Trump seja exemplo de democracia e alegou que o ex-presidente foi responsável pela invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Datena foi abordado sobre a questão da tarifa zero, benefício subsidiado pela prefeitura de São Paulo que isenta a população de pagar passagem de ônibus aos domingos. Sobre a questão, a conversa entre o pré-candidato e Raquel Landim ficou acalorada.
Datena: Tarifa Zero no transporte público? Isso é uma sacanagem, uma brincadeira. Esse prefeito é um brincalhão. Para entrar num ônibus de São Paulo, primeiro que a maior sacanagem é um trabalhador que demora 2 horas para chegar no seu trabalho e 2 horas para voltar, tá pagando passagem de ônibus para uma empresa que é investigada de ser do PCC. O dinheiro continua indo pro PCC, o dinheiro continua indo pro PCC da Transol e da Upbus, que são investigadas. A lei do Ricardo Nunes dá bilhões para essas empresas de subsídio e para comprar barco. Ele quer agora fazer o quê? Piratas do Tietê? Navegação sobre piratas do Tietê? Eu acho uma sacanagem isso aí. E além disso, quanto que ele recebe? Sabe quanto cada companhia de ônibus recebe aqui em São Paulo pela passagem? Você paga R$4,40, mas as companhias já recebem R$10,60. Além disso, tem o subsídio. E além disso, tem a perspectiva de... porque não vou ser leviano de dizer que o crime está dominando totalmente essas companhias sem que as forças-tarefas atuem como atuaram agora e pegaram a maioria dessa diretoria dessa Transol que era do PCC. Como é que pode haver grandes criminosos do PCC na diretoria de uma empresa enorme? O subsídio para as empresas de ônibus da prefeitura já passa dos 5 bilhões de reais. Essas empresas de ônibus têm que se autogerir. Se elas não se autogerirem, abre concorrência com transparência, ao contrário dessas concorrências, muitas delas, segundo o Tribunal de Contas, viciadas com empresas que não existem, com empresas de laranja.
Raquel Landim: Datena, você está dizendo que o prefeito Ricardo Nunes está envolvido com o PCC? Isso é uma acusação muito grave.
Datena: Não, Raquel, eu não estou dizendo que o prefeito está envolvido diretamente com o PCC. O que estou dizendo é que as empresas que prestam serviço de transporte público em São Paulo estão sendo investigadas por terem ligações com o PCC. E o prefeito Ricardo Nunes continua dando subsídios bilionários para essas empresas, mesmo com essas investigações em andamento. Isso é uma questão de gestão pública e de transparência que precisa ser resolvida.
Raquel Landim: Entendi, Datena. Mas você não acha que é importante separar as investigações criminais das questões administrativas? Afinal, o prefeito pode não ter controle sobre as ações criminosas dessas empresas.
Datena: Claro, Raquel, é importante separar as coisas. Mas o que estou dizendo é que, sabendo dessas investigações, o prefeito deveria tomar medidas mais rigorosas para garantir que o dinheiro público não esteja indo parar nas mãos de criminosos. É uma questão de responsabilidade com o dinheiro do contribuinte e de garantir um transporte público de qualidade para a população.
No final da sabatina, Datena falou sobre a questão da cracolândia no centro de São Paulo. O entrevistado afirmou que a atitude de Ricardo Nunes de cercar o local com grades seria algo semelhante aos guetos nos quais os judeus era alocados durante a ocupação nazista.
Se eleito prefeito, ele afirmou que esse é um problema que todos os prefeitos afirmam que irão resolver, mas não resolvem. Ele apontou que há a necessidade de uma ação conjunta entre polícia judiciária e a polícia civil para evitar que os entorpecentes cheguem ao centro de São Paulo.
“É necessário investigar quem são os verdadeiros barões do crime. O PCC fatura milhões com a Cracolândia, que parece algo simples, mas não é. Impedindo que a droga chegue ao traficante de baixo escalão, que distribui a droga ali, já se resolve boa parte do problema. O traficante que é preso é solto no dia seguinte em audiência de custódia. Esse traficante de baixo escalão volta e continua o ciclo. A Guarda Civil Metropolitana tem pouca coisa a fazer; ela só pode exercer o poder de polícia, mas não com essas ideias reacionárias de colocar grades e impedir a circulação das pessoas, que são dependentes químicos”, respondeu ao questionamento de Raquel Landim sobre como pretende lidar com a questão caso seja eleito.
José Luiz Datena tem 67 anos e é apresentador do programa "Brasil Urgente" na Band. Ele também foi locutor esportivo e radialista. Natural de Ribeirão Preto, se filiou ao PSDB após breve passagem pelo PSB e já esteve em 11 partidos diferentes.
Datena nunca disputou uma eleição até o dia da votação, apesar de várias tentativas e desistências, incluindo candidaturas ao Senado e à Prefeitura de São Paulo. É casado há 47 anos com Matilde Foresto Datena e tem 5 filhos, sendo 2 sendo fruto de relacionamentos que manteve durante os 3 anos em que ele e a esposa se separaram.
Durante a entrevista, internautas comentaram no chat ao vivo do Youtube sobre a conversa. No geral, a repercussão nos comentários do vídeo foi negativa, com comentários acerca de sua capacidade de administração e histórico de apoio a políticos.
“Como crítico, nota 10, voto nele (pra continuar sendo crítico)... mas como Administrador???!!! ...não disse O QUE QUER FAZER, e o fundamental, O COMO FAZER, e o mais essencial, NÃO mostrou NADA do que já fez, supostamente, ou se quer, pelo menos, mostrou um exemplo de sucesso no mundo e que pode ser aplicado aqui”, escreveu o usuário @hanstraevsiklisi4810
“É uma piada mesmo! Dale Pablo Marçal!! 🇧🇷🇧🇷”, comentou @CláudioAkachi
“Imagina alguém com essa "maneira" de agir sendo prefeito... Vou traduzir depois desta entrevista o partido já está arrependido”, declarou @canallivelouvor711
Na imprensa, a Folha afirmou que Datena “escorregou em promessas genéricas”. O portal UOL, por sua vez, destacou que o pré-candidato errou o número de ruas de São Paulo. O jornal O Globo repercutiu a fala do apresentador de ter a intenção de ir até o final “se ninguém encher o saco”.
Essa foi a última sabatina promovida pelo jornal Folha de São Paulo e pelo portal UOL entre os candidatos à prefeitura de São Paulo.
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