Durante participação no programa Cartas na Mesa da Brasil Paralelo, o Vice-prefeito de Porto Alegre Ricardo Gomes falou sobre a importância da articulação entre poderes públicos e sociedade civil para salvar vidas em meio a tragédia no RS.
Gomes, que também apresenta o programa Magna Carta na Brasil Paralelo, exaltou o papel do corpo de bombeiros e dos soldados da Brigada Militar, instituição responsável pelo policiamento no estado, na ajuda à população civil.
“O Corpo de Bombeiros foi extraordinário. A Brigada Militar, que é a PM aqui do Rio Grande do Sul, tinha muitos soldados dentro da água e ajudando também nos abrigos.”
Gomes seguiu falando do importante papel dos agentes de segurança pública no enfrentamento ao crime organizado no estado, que se aproveitou do caos deixado pela catástrofe para fazer saques.
“Teve um momento em que a maioria das pessoas já tinha saído, e esses bairros que estão alagados em Porto Alegre, alguns deles são bairros conflagrados com conflito de narcotráfico. Começou a se espalhar o ruído de que havia pessoas roubando os barcos e de que haviam atirado em alguém que estava de jet ski para roubar o veículo. Prontamente, a Polícia Civil, que estava presente nos pontos de resgate, se prontificou a acompanhar muitos barcos de voluntários, barcos privados de civis, mas que carregavam junto policiais da Polícia Civil”.
O apresentador também relatou ter visto agentes do setor público participarem de resgates juntos a civis e alegou que este tipo de parceria demonstra a dedicação em ajudar de funcionários públicos, apesar de quaisquer críticas que possam ser feitas às instituições.
“Numa ocasião em que eu estava junto, nós resgatamos um senhor de 86 anos e sua cachorra usando um barco particular de um policial civil. Tinha dois policiais civis, eu como voluntário, mas sou da prefeitura, junto com um colega da Defesa Civil, um colega da prefeitura e três voluntários civis dentro de um barco. O que é isso? É todo mundo junto. Todo mundo junto funcionou. Foi um movimento. Eu posso criticar o governo municipal e o governo estadual, mas as pessoas, os indivíduos que compõem estas forças públicas, estavam igualmente empenhados. Foi um esforço de tudo que compõe o Rio Grande do Sul.”
Ricardo Gomes também relembrou uma frase do prefeito Sebastião Melo (MDB), que afirmou:
"A crise mostra o que há de melhor e o que há de pior na natureza humana. Aparece tudo."
O vice-prefeito refletiu sobre a frase:
“Tivemos esses casos de saques em empresas que estavam alagadas, tivemos problemas nos abrigos, mas tivemos essa confluência de todo mundo que queria ajudar. As pessoas se apresentavam como voluntários, perguntando o que podiam fazer.”
Ricardo Gomes ainda lembrou que as ações da população aconteceram de forma orgânica, sem uma organização central.
“A Avenida Cairu tem um viaduto, e na ponta do viaduto tinha um ponto de desembarque de resgatados com uma complexidade no planejamento que eu diria assim: quem leu "O Direito, a Legislação e a Liberdade" do Friedrich Hayek, ele explica o conceito de ordens espontâneas, aquelas ordens que vão se formando pela ação humana, mas que não são resultado do desenho do planejamento humano.”
O político seguiu lembrando da presença e ajuda de funcionários públicos do município em abrigos organizados espontaneamente pela sociedade civil, lembrando sempre do importante papel da articulação entre o público e o privado para salvar vidas.
“Então, era uma complexidade de atendimento. As pessoas chegavam, tinha gente oferecendo doce para reposição calórica, já tinha cobertor esperando, médicos voluntários, um posto de atendimento veterinário, já tinha roupas e calçados separados por tamanho, masculino e feminino. Montaram provadores para as pessoas provarem a roupa. Isso foi feito sem um comando do poder público, mas com a participação de médicos do município, de policiais civis, de bombeiros, de policiais militares.”
Após mencionar o importante papel dos funcionários públicos que se dedicaram a ajudar a população, Gomes afirmou que há críticas a serem feitas, principalmente relativas ao governo estadual e federal.
“Sim, tem falhas de planejamento do poder público, é evidente. É evidente que tem falhas de investimento da nação brasileira, não há dúvida. Eu sou vice-prefeito de Porto Alegre, município de 1 milhão e meio de habitantes, mas imaginem que igualmente afetado foi o município de Colinas, por exemplo, que é um município que tem 2.400 habitantes. É justo eu pedir que o prefeito de Colinas tenha um plano de emergência para uma catástrofe dessa magnitude? É óbvio que não. E se algum papel deveria ter o Estado, deveria ser justamente de atuar nessas situações que transcendem as capacidades dos municípios individualmente tomados.
A gente lembra a pirâmide tributária brasileira: 60% dos tributos vão para Brasília, 25% ficam nos estados e 15% são divididos entre os 5.571 municípios do Brasil. Então, é claro que tem problemas de toda a natureza, mas o processo de salvamento, o processo de acolhimento foi um processo que envolveu toda a sociedade do Rio Grande do Sul, a parte pública e a parte privada.”
Por fim, o apresentador do programa Magna Carta da Brasil Paralelo seguiu afirmando que o destaque das operações foi a participação estrondosa dos voluntários civis, porém os erros e a incapacidade da esfera administrativa não devem apagar o heroico papel dos homens e mulheres que trabalham para o Estado e arriscaram suas vidas para salvar pessoas em meio à tragédia.
“Não estou com isso diminuindo a ação dos voluntários, que eram, obviamente, graças a Deus, em maior número. Porque se o Estado tem o mesmo tamanho que a sociedade, significa que a sociedade tem que arcar com os custos de manutenção de uma máquina exacerbadamente grande. Então, é claro que a sociedade é muito maior, muito mais volumosa e muito mais capaz do que o Estado, e tem que ser assim. Senão, tem algo desregulado numa sociedade em que o Estado é maior que o seu povo.
Eu ressalto isso: muitos indivíduos das forças públicas foram tão heroicos quanto os indivíduos do setor privado que foram para dentro d'água. Eu diria que é uma derrota do planejamento do poder público, sem dúvida, mas é uma vitória da população, esses salvamentos. Porto Alegre tem cinco mortos, talvez tenha 70, 80 mil pessoas salvas, e essa é uma vitória da sociedade sobre a desgraça.”
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