Houve um tempo em que as promessas do mundo seduziam-me sobremaneira. Ainda criança, enfrentando situações emocionalmente desafiadoras e aparentemente mais extensas do que meu pequeno coração poderia aguentar, eu encontrava refúgio no universo da fantasia, deliciando-me com a visão de um futuro em que o cotidiano seria um suceder de doces dias, repleto de proezas profissionais e de aquisições materiais. As tantas vitórias que o amanhã traria seriam chama a eternamente iluminar-me, presenteando-me com uma felicidade constante.
Quanto custou-me nutrir tão altas expectativas, pois que, tendo elas sempre em mente, não pude repousar meus pés na terra, para compreender que é preciso pagar com sacrifício a entrada no altar das memoráveis conquistas.
E não repousa exclusivamente nisso a perniciosidade de uma tal idealização. E por ter sentido suas desafortunadas consequências, decidi que faria bem em comunicar aos demais um pouco da minha experiência.
Quando anos mais tarde finalmente pude satisfazer certas aspirações proeminentes, reiteradamente cultivadas, não foram as portas do Éden que se abriram. Ao invés de intenso fogo, vi tomar forma debilitada luz que, à maneira de fósforo recém-acesso, não tardou muito a se apagar. O êxito, descobri surpresa, parava muito brevemente a roda dos desejos e estabelecia uma sensação de bem-estar que logo se desvanecia.
Não vou negar que isto pode ser caso de algum defeito de fabricação particular. Uma peculiaridade de um ser inclinado à insatisfação e que, atendidas as suas exigências, cria nova lacuna que anseia por completar.
Mesmo se assim for, julguei conveniente compartilhar que, com o tempo, fui sendo tomada pela percepção de que nada no mundo exterior pode nos brindar com esta plenitude com que vinha sonhando. Aliás, ousaria dizer que é o oposto disto: acreditar em tal idílio fazia com que dois fenômenos negativos repetidamente se delineassem.
O primeiro vinha me bater à porta mal tinha me visto como portadora de algum objeto ou objetivo almejado. Era a frustração. Depois de entrar, sorrateiramente ia ampliando seus domínios, até me revelar que, conquanto minhas grandiosas expectativas, ainda não chegara à fonte do contínuo contentamento.
A sensação da conquista era boa (no mais das vezes), mas não tão boa quanto minha mente cismara em imaginar.
A decepção, no entanto, ardilosamente não me entregava toda a mensagem; e eu, incapaz de cogitar que a possibilidade de um perpétuo regozijo talvez sequer existisse, encontrava um novo acalanto para ocupar a posição do alvo há pouco alcançado. A paz e a felicidade novamente estavam a caminho; eu só sofrera de um leve revés de localização. Eu as tinha procurado no lugar errado.
E assim, de ambição em ambição eu prosseguia, convicta de que na próxima empreitada terminaria por tê-las firmemente em minhas mãos.
A segunda manifestação já se afigurava como uma problemática de teor prático. Ora, se determinado fruto era glorificado porque nele projetava a existência de um estado sublime, que me livraria das penosas opressões presentes, como poderia ser capaz de antecipadamente me submeter a dissabores para conquistá-lo?
Ao contemplar exacerbadamente a pretensa fruição vindoura, eu enfraquecia os artifícios necessários para resistir e sobrepujar dignamente todos os esforços requeridos para chegar lá. Esse tributo, normalmente incontornável, tinha ainda como efeito secundário reforçar a decepção sentida quando tinha de encarar a disparidade entre o que fora suposto vivenciar e aquilo que as circunstâncias me proporcionavam.
Não estou propondo, no entanto, que não devemos nutrir sonhos e perseguir metas. Dizem que as desilusões podem nos amargurar a ponto de nos entregarmos a outro dogma menos reconfortante. Anestésico mais amargo e de resultados mais devastadores, é alternativa inadmissível supor que nada vale a pena e que a vida sempre será um sucessivo cenário de reduzidas doses de alegria para infindáveis injeções de dor e tristeza.
Não é disto que estou tratando. Minha proposição é mais simples, modesta e esperançosa. Quero alertar para o quê de devaneio que pautou a minha peregrinação em vista de alguns propósitos e anunciar que cada vitória impôs suas batalhas e, ao travá-las, tive de despedaçar o doce sonho de verão que vinha alimentando.
Não advogo, portanto, contra os objetivos, que são o motor que nos faz avançar e causa honesta de realização e felicidade. Relato, humildemente, que para saborearmos adequadamente aquilo que podem nos oferecer, não devemos esperar deles o que jamais poderão nos dar.
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