Uma saga de perseguição e violência: é o que o 'Livro Negro do Império Britânico' expõe sobre as ações da Inglaterra em suas colônias na metade do século XX, com um foco especial no Quênia, África.
O ensaio, intitulado 'Imperial Reckoning' e publicado em 2005, aborda temas complexos do período imperial britânico.
Ele destaca documentos que contradizem as versões oficiais e geraram tensões com as Cortes inglesas. Esta pesquisa oferece uma nova perspectiva sobre o legado do império.
O livro explora como o Estado britânico brutalmente reprimiu e ostracizou, de maneira particularmente cruel, os Mau Mau no Quênia, após o grupo realizar uma série de ações de guerrilha com o objetivo de libertar o país do domínio europeu.
Durante o julgamento, foi revelada a existência de um arquivo secreto em Hanslope Park, uma fortaleza-armazém no interior da Inglaterra
No local foram encontrados documentos confidenciais que forneciam evidências de crimes cometidos pelo Estado britânico em algumas de suas antigas colônias.
De acordo com Elkins:
“Esse material de arquivo demonstrou inequivocamente que ministros e altos funcionários públicos em Londres estavam totalmente cientes dos assassinatos sistemáticos e abusos perpetrados contra prisioneiros internados em campos de detenção britânicos”.
Foram esses documentos inéditos que permitiram à acadêmica ampliar o campo de sua investigação até resultar em sua última obra, Um Legado de Violência: Uma História do Império Britânico.
Conhecida como “O livro negro do império britânico” contradiz a história atual do império.
Após cruzar referências de sua pesquisa em outros vinte arquivos, a historiadora de Harvard reuniu evidências das violações cometidas pelo Império Britânico.
Seu estudo se concentra em certas colônias, como Quênia, Chipre, Malásia, Áden, Palestina e Irlanda do Norte e busca explicar como o império usou da violência. Explica também como os sistemas de imposição foram criados, implementados e executados tanto nas colônias quanto na Grã-Bretanha.
A pesquisa começa com o julgamento de Warren Hastings, governador de Bengala no final do século XIX, e abrange os dois últimos séculos da história do império até sua dissolução após a Segunda Guerra Mundial.
Enquanto se tornava democrática, Grã-Bretanha subjugou vários povos Há uma questão crucial que o acadêmico tenta responder:
Como a Grã-Bretanha justifica ter mantido o controle sobre os povos que dominou, enquanto ela própria se tornava mais democrática, a partir de valores liberais?
Elkins responde:
“Numerosos juristas, antropólogos e acadêmicos de vários tipos tornaram-se substancialmente cúmplices do projeto colonial, alimentando teorias segundo as quais os nativos eram selvagens desprovidos de moral, contra os quais o uso da força era legítimo e necessário”.
Como exemplo, a autora relata um episódio que aconteceu logo após a introdução da lei marcial colonial britânica.O general britânico Reginald Dyer ordenou que suas tropas abrissem fogo contra uma multidão de manifestantes indefesos durante um comício na Índia, em 1919. Mais de 400 quatrocentas pessoas foram massacradas.
O livro também traz algumas figuras históricas. Uma delas é a do jovem Winston Churchill, que, segundo a autora, defendia armas químicas e o uso de projéteis expansivos, proibidos por convenções internacionais, mas usados com frequência nas guerras coloniais.
Embora a pesquisa histórica tenha revelado a verdadeira face do Império Britânico, em um levantamento de 2014, cerca de 70% por cento da população da Grã-Bretanha ainda acreditava que o império era algo de que deveriam se orgulhar”, conclui Elkins.
O ensaio se tornou a principal evidência por trás de um pedido de indenização multimilionário apresentado ao governo britânico por um grupo de veteranos.
Após a pesquisa, Caroline Elkins dividiu o mundo acadêmico britânico em dois:
A obra de Caroline Elkins venceu o prêmio Pulitzer nos Estados Unidos em 2006.
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