Após a eleição de Donald Trump, o líder chinês parece ter a intenção de se posicionar como defensor do livre comércio internacional.
Diante dos anúncios de campanha de Donald Trump - de cobrar tarifas alfandegárias de 10% a 20% para vários países e de até 60% para a China, Xi Jinping busca dialogar com potências que possam ter dificuldade de alinhamento com o novo presidente dos Estados Unidos.
O presidente esteve no Peru para o Fórum de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec) e também para a inauguração do megaporto de Chancay. O projeto é um dos mais robustos investimentos da China na América Latina e possibilitará melhorias logísticas sem precedentes para o Peru e região.
A iniciativa faz parte do projeto do Cinturão e da Rota, através do qual a China já investiu mais de US$1,3 bilhões - cerca de US$7,5 bilhões de reais - em projetos na América Latina.
Foi a segunda vez que Xi Jinping compareceu pessoalmente a um evento assim. Em seu discurso, afirmou que a economia global está se fragmentando com a ascensão do protecionismo, o que está criando "desafios severos". Segundo ele, o mundo "entrou em um novo período de turbulência e mudanças".
"Dividir um mundo interdependente é retroceder na história", disse na Cúpula de CEOs da APEC no Peru, no discurso lido por um de seus ministros.
Reiterou sua defesa da liberdade comercial internacional em outro discurso neste sábado, 16 de novembro, direcionado a presidentes ou líderes de mais de 20 economias, incluindo o atual presidente dos EUA, o democrata Joe Biden:
"Precisamos derrubar as barreiras que impedem o livre fluxo de comércio, investimento, tecnologia e serviços, além de manter cadeias de suprimentos e indústrias estáveis, promovendo a circulação econômica na região e no mundo".
A reação do líder chinês é semelhante à que ele teve na primeira vitória de Trump em 2017. Naquela época, apelou às elites empresariais globais no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, para que rejeitassem as guerras comerciais e o protecionismo. Alegava que aquilo traria "danos e perdas para ambos os lados".
Desde então, nos oito anos seguintes, Trump impôs tarifas altas aos produtos chineses, que foram, em grande parte mantidas, pelo governo Biden, que também intensificou esforços para negar tecnologia avançada a Pequim.
Diante disso, Xi Jinping vê uma oportunidade para fortalecer laços com diversos governos que preveem negociações complexas com Trump.
Na sexta-feira, Xi se encontrou pessoalmente com líderes da Tailândia, Cingapura, Chile, Coreia do Sul, Japão e Nova Zelândia — todos aliados importantes dos EUA e parceiros de segurança na região da Ásia-Pacífico.
Nos bastidores, fontes revelam que Xi Jinping intenciona aproveitar o distanciamento entre os presidentes Lula e Trump para se aproximar do chefe de Estado brasileiro.
No último domingo, Xi Jinping publicou uma carta no jornal Folha de São Paulo. No texto, afirma que é necessário reformar órgãos como FMI, Banco Mundial e OMC.
“‘E hora do Brasil e a China navegarem juntos”, afirmou.
No texto, o presidente da China, Xi destacou a importância de Brasil e China fortalecerem a cooperação, ressaltando ser o momento de "abrirem novas rotas de navegação" e aproveitarem as oportunidades futuras. Enfatizou também que ambos os países devem assumir a responsabilidade de proteger os interesses das nações em desenvolvimento e dar voz ao Sul Global.
O artigo ressalta que as relações diplomáticas, iniciadas em 1974, têm se mantido firmes frente às mudanças globais ao longo de 50 anos, tornando-se cada vez mais maduras e dinâmicas.
Xi Jinping destacou ainda que essa parceria tem impulsionado o desenvolvimento de ambos os países, contribuindo para a paz e estabilidade mundial.
Abordando o comércio bilateral, ele ressaltou que a China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por 15 anos consecutivos e uma das principais fontes de investimento estrangeiro. O presidente chinês apontou que a pauta comercial entre os dois países tem se aperfeiçoado constantemente, com a China importando mais de US$100 bilhões do Brasil anualmente, segundo estatísticas chinesas.
Segundo o presidente, o G20 necessita, “persistir nos princípios de respeito mútuo, cooperação em pé de igualdade, benefícios mútuos e ganhos compartilhados”.
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