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Ministério Público acusa Nego Di de mentir sobre doação de R$ 1 milhão

A informação foi revelada pelo grupo Bandeirantes após quebra de sigilo do influenciador

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Rio Grande do Sul
Ministério Público
Reprodução Instagram
Redação Brasil Paralelo
Comunicação Brasil Paralelo

O humorista Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, teria mentido sobre a realização de doação de R$1 milhão às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. É o que afirmou o Ministério Público (MP) do RS, na última sexta-feira, dia 19/07, de acordo com o grupo Bandeirantes de comunicação. Na semana passada, a Justiça aceitou a denúncia contra o ex-BBB e seu sócio Anderson Bonetti, por estelionato relacionado à loja virtual “Tá Di Zueira”. 

A acusação

O Rio Grande do Sul foi fortemente impactado por fortes chuvas que se iniciaram no dia 27 de abril. As enchentes se prolongaram por quase um mês, e os prejuízos afetaram mais de 2 milhões de pessoas. Mais de 180 gaúchos perderam a vida e, em 94% dos municípios do estado, os prejuízos foram consistentes.  

A gravidade da situação mobilizou cidadãos a se unirem em prol da assistência às vítimas. Entre as centenas de artistas e influenciadores que trabalharam para captar recursos ou prestar serviços pessoalmente, Nego Di se destacou como um dos mais atuantes. Natural do Rio Grande do Sul, constantemente publicava vídeos e fotografias de seu trabalho em diversos municípios do estado.

Nego Di. Reprodução: X.

Em meio às ações para mitigar os danos das tragédia, Nego Di  gravou um vídeo em sua rede social em que afirmou que havia decidido doar de R$ 1 milhão de reais para ajudar aos cidadãos do estado: 

"Galera, gostaria de compartilhar com vocês uma decisão que tomamos aqui em casa hoje, minha esposa e eu. Conversamos bastante, e eu fiz uma escolha que não foi fácil, confesso para vocês, mas fizemos essa escolha de coração.
Decidi doar R$1 milhão para o Rio Grande do Sul. Enviei R$1 milhão para a vaquinha do meu parceiro Badin [Colono], que já estava em R$50 milhões. Eu sou um desses R$51 milhões".

Foi noticiado que a quebra de sigilo teria constatado que o valor depositado por Nego Di, na data que anunciou a doação, foi de apenas R$100. Segundo informações da Band TV, o valor seria direcionado diretamente para a conta do Instituto Vakinha, em campanha divulgada pelo humorista Eduardo Gustavo Christ, conhecido como Badin Colono. Colono se pronunciou sobre o caso. Em vídeo publicado em seu perfil no Instagram, afirmou que foi procurado por Nego Di com a proposta de doar R$1 milhão para auxiliar as vítimas da tragédia. O valor seria repassado diretamente para a conta do Vakinha, em parcelas. Colono afirmou que não conferiu o total recebido:

“Aí, ele me mandou aquele comprovante lá e eu postei e agradecie comemorei porque R$1 milhão era um valor muito grande e eu fiquei feliz mesmo.Teve dias em que entrou mais de 10 milhões na vaquinha. Eu não tinha como ficar acompanhando se essas doações que ele falou que seriam feitas entraram ou não. A gente seguiu a vida e “pau”, ressaltou. 

O humorista enfatizou que não administrou nenhuma quantia diretamente. 

“O dinheiro dessa vez foi totalmente administrado pelo Instituto Vakinha. As demandas chegavam até mim, eu repassava para eles, e eles destinavam. As doações eram feitas diretamente na conta deles. Eles faziam todo o gerenciamento,  era tudo realizado na conta deles”, ressaltou. 

Badin Colono não fez nenhuma crítica a Nego Di. Afirmou que o humorista ajudou na divulgação da “vakinha” e colaborou com muita gente. Seu vídeo se dedicou exclusivamente a explicar o ocorrido.  

Os inquéritos

Dilson Alves da Silva Neto foi detido em uma residência de luxo em Jurerê, no último domingo, dia 14 de julho. Em seguida, foi transferido para a Penitenciária Estadual de Canoas, onde responderá às acusações.

A detenção não tem relação com o suposto desvio dos recursos do Rio Grande do Sul. 

A suposta farsa na doação teria sido identificada pela quebra de sigilo relacionada a outros dois inquéritos aos quais Dilson responde por:

  • Lavagem de dinheiro. A Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) investigam se ele promoveria rifas ilegais para ajudar às vítimas. O ilícito teria rendido cerca de R$2 milhões. De acordo com o inquérito, os prêmios prometidos seriam bens de alto valor e grandes quantias em dinheiro. As investigações apontam que essas recompensas nunca teriam sido entregues. 

Na última sexta-feira, o ex-BBB foi alvo de uma Operação da Polícia Federal em virtude dessa acusação para apurar esses fatos. 

  • Suspeita de estelionato. As denúncias foram feitas por clientes lesados pela loja virtual "Tá di Zuera" da qual era um dos sócios. 

O inquérito remete a 2022 e foi o que levou Nego Di à prisão. 

Em relação à loja “Tá Di Zueira”, há um vídeo em que o influenciador afirma que foi apenas contratado por Anderson Bonetti para divulgar os produtos. 

Em uma publicação posterior afirma que a loja era dele e que as pessoas poderiam comprar, “que ele garantia”.  

Após as denúncias, publicou novamente um vídeo afirmando que estava empenhado em resolver o problema, ressarcindo os prejuízos com recursos pessoais. 

A CNN Brasil denunciou que há outro vídeo em que Nego Di debocha dos clientes que lesou: 

“No vídeo, ele aparece em um carro de luxo, fazendo referência a quem comprou um celular ou um ar-condicionado”, afirma a jornalista

O inquérito da PF alega que Dilson Neto e seu sócio teriam comercializado produtos fantasma, ou seja, que não eram entregues aos clientes. A proposta da loja era vender produtos a preços bem menores do que os praticados pelo mercado. Só que os ítens jamais chegavam aos clientes. 

A Polícia acredita que a fraude teria gerado R$5,3 milhões de lucro aos dois supostos golpistas. 

O golpe teria vitimado 370 pessoas. Um dos clientes da loja, que preferiu não se identificar, alegou que fez a compra de aparelhos de ar-condicionado para revender e custear um tratamento de saúde. Ele havia feito contato com instaladores dos aparelhos para garantir a revenda e precisava do dinheiro que intencionava arrecadar: 

"Fiz a compra de 33 aparelhos, desembolsando um dinheiro emprestado no valor de quase R$30 mil", afirmou a vítima. 

O cliente nunca recebeu os aparelhos. O processo relacionado à loja “Tá di Zueira” data de 2022 , pelo qual Nego Di foi preso, não tem relação com o suposto desvio do valor para doação para as vítimas do Rio Grande do Sul. 

A investigação que a Polícia conduziu encontrou a documentação que comprovaria a nova fraude. 

A esposa de Nego Di também foi presa. Gabriela Sousa foi detida em flagrante na Operação de sexta-feira, dia 12/07, por porte ilegal de arma. Além disso, a Polícia apreendeu dois veículos do casal. 

O sócio do ex-BBB, Anderson Bonetti está foragido. 

Nego Di e a mulher, Gabriela Souza. Imagem: Reprodução Instagram.

O que diz a defesa de Nego Di

Os advogados de Nego Di afirmam que ele é inocente.

Em 2022, ele enfatizou que as entregas foram um “erro de logistica”. Posteriormente, alegou ter sido ludibriado. 

A tese da Polícia Federal é de que ele sabia do esquema fraudulento e recebeu diretamente R$300 mil proveniente das fraudes, no período entre março e maio de 2022. 

Os advogados do influenciador confirmam a tese da inocência. Ainda solicitam aos admiradores cuidado em relação a julgamentos precipitados que possam atrapalhar a carreira do ex-BBB.

Críticas ao governo, Rede Globo e celebridades

Ao longo da campanha de ajuda aos municípios do Rio Grande do Sul, Nego Di também utilizou suas redes sociais para criticar outras celebridades. Em suas redes sociais, ele cobrou uma posição da ex-apresentadora  Xuxa Meneghel, e dos influenciadores Mitico e Igão, do PodPah, sobre auxílio às vítimas do Rio Grande do Sul. 

No dia 12 de maio, o influencer também fez críticas ao Governo Federal, ao Poder Judiciário e à rede Globo. Em sua rede social, publicou um vídeo em que afirmava receber tentativa de censura. 

O ex-BBB foi uma das personalidades que compartilhou fotografias trágicas, como a de corpos boiando em Canoas. Segundo o site Metrópoles, as imagens eram de uma tragédia no Rio de Janeiro. 

Outro vídeo publicado na internet mostrava mantimentos supostamente sem distribuição em virtude da burocracia. Um voluntário o desmentiu, mostrando prateleiras vazias e o trabalho intenso de distribuição.

Ele também publicou vídeos em que acusava o Poder Público de impedir caminhões com doações de serem barrados por falta de nota fiscal.   

Nego Di afirmou que suas críticas foram importantes para que os problemas fossem corrigidos.

As publicações incentivaram a Justiça a atender a um pedido do Ministério Público e concedeu uma liminar que obrigava a remoção das publicações. 

Os próximos passos dos inquéritos que envolvem Nego Di deverão acrescentar informações relevantes aos processos. Provocam também um debate fundamental sobre a credibilidade de influenciadores aclamados por redes sociais e também campanhas de destruição reputacional na internet. 

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