O presidente Javier Milei realizou, no último fim de semana (06 e 07 de junho), sua primeira visita ao Brasil desde que foi eleito. Aceitando um convite de Jair Bolsonaro, principal representante da oposição, o chefe de Estado vizinho participou da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) 2024, o mais importante evento conservador realizado no país e não cumpriu agenda oficial com o presidente Lula.
Segundo alguns veículos de imprensa, o argentino teria afirmado que viria ao Brasil não como chefe de Estado, mas como ativista da liberdade.
Segundo alguns veículos de imprensa, o argentino teria afirmado que viria ao Brasil não como chefe de Estado, mas como ativista da liberdade.
Antes de desembarcar no Brasil, autoridades diplomáticas brasileiras e argentinas tinham o temor de que a visita do mandatário “hermano” pudesse prejudicar a relação diplomática entre o Brasil e a Argentina. O país é o terceiro principal parceiro comercial brasileiro e com quem o Brasil mantém uma das mais sólidas relações diplomáticas. No domingo de manhã, o jornal argentino Clarín reportou que teria ouvido de parlamentares que o governo poderia propor algum tipo de retaliação, a depender do que o Milei dissesse em seu discurso.
O Itamaraty avaliava a possibilidade de dois cenários distintos, a depender de como fosse o discurso: se o argentino optasse por um discurso fiel às suas opções ideológicas, porém menos incisivo, o resultado provavelmente não impactaria as relações diplomáticas entre os dois países. Caso a opção fosse algo parecido com o que foi na Espanha, em que direcionou nominalmente a esposa de Pedro Sanchéz, poderia criar um clima diplomático tenso entre os dois países.
Em seu discurso no Brasil, o presidente argentino optou pela primeira estratégia. Realizou severas críticas, sem mencionar diretamente o presidente da República ou seu partido: "Os governos socialistas adotam uma série de estratégias artificiais, e em um primeiro momento a economia cresce. Então, eles se deslumbram com a popularidade e aumentam as despesas públicas de forma descontrolada”, enfatizou.
O mandatário enfatizou ainda que isso sustenta uma espécie de “bonança fictícia”. “Quando o dinheiro acaba, [governos socialistas] cometem o pior dos males que é emitir moeda, criando uma espécie de hipoteca futura”, afirmou. O presidente ainda ressaltou que, no final, o custo é pago por toda a população.
Em outro momento de seu discurso, Milei fez críticas críticas diretas e severas a regimes socialistas ou comunistas na América Latina. Mas uma vez poupou tanto o governo brasileiro, o presidente e seu partido: “Vejam o que aconteceu na Venezuela, ou o que aconteceu na Bolívia quando Evo Morales ganhou pela terceira vez. Vejam a perseguição que o nosso amigo Bolsonaro sofre aqui no Brasil, e vejam o que está acontecendo na Bolívia, um falso golpe de estado”.
Milei finalizou dizendo que: “do socialismo deriva apenas a escravidão ou a morte”.
Discordâncias entre Lula e Milei vêm de longa data. Milei e Lula não têm uma boa relação. Durante o período de campanha, ambos trocaram ofensas. Em outubro de 2023, por exemplo, o argentino se referiu ao mandatário brasileiro como “comunista” e “corrupto” e afirmou que “por isso ele esteve preso”. Disse que, se chegar à Casa Rosada, seus “aliados” serão os Estados Unidos, Israel e “o mundo livre”.
O presidente do Brasil já chamou o chefe de Estado brasileiro de “fascista” e afirmou que o presidente argentino é contra o mercado. A situação se agravou no período eleitoral, quando o presidente brasileiro manifestou seu apoio ao opositor de Milei, o candidato peronista Alberto Fernández. Lula teria ido além. O presidente brasileiro intercedeu por um aporte de US$1 bilhão do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) para a Argentina. O aporte teria o objetivo de tornar possível a liberação de outros US$7,5 bilhões ao país, o que favorecia o candidato kirchnerista, opositor a Milei. Na época, o libertário denunciou a articulação do presidente Lula contra sua campanha.
O clima adverso com o presidente brasileiro não melhorou após a posse. Em entrevista recente, o presidente petista disse que Milei deveria se desculpar por ter dito "muita bobagem" sobre ele e o Brasil durante a campanha eleitoral no ano passado. Na última semana, o presidente argentino se recusou a pedir desculpa:
“Qual é o problema? Que eu disse que ele era corrupto? Ele não foi preso por corrupção? E o que eu disse, comunista? Ele não é comunista? Desde quando você tem de se desculpar por dizer a verdade?”, afirmou o mandatário argentino em entrevista à emissora LN+.
O presidente argentino continuou:
“Será que estamos tão infectados pelo politicamente correto que nada pode ser dito sobre a esquerda, mesmo que seja verdade?”, complementou.
Outro ponto polêmico em relação é o mandatário argentino não ter viajado a Assunção, no Paraguai, para o encontro.
A delegação argentina foi liderada pela chanceler Diana Mondino, que defendeu que o bloco possa aceitar que cada país feche acordos de livre comércio isoladamente. O discurso enfatiza as propostas de campanha do atual presidente argentino e deixa claro, em um evento formal, a intenção do governo no bloco.
A posição é antagônica à da política internacional defendida por Lula, que preza pelo fortalecimento das relações com parceiros sul-americanos. No centro do discurso está a intenção de negociar com a China, algo que o Itamaraty declarou que só faria em bloco, não de modo bilateral. Brasil e Paraguai defendem a atual posição; enquanto Argentina e Uruguai defendem a possibilidade de negociação bilateral.
Há ainda outro ponto de controvérsia em relação a Argentina e Brasil: o presidente Milei tem defendido a tese de autogolpe na Bolívia. Há ainda outras questões: comenta-se nos bastidores de que a chanceler argentina se opôs ao avanço de pautas identitárias, socioambientais e relacionadas à agenda de mulheres. Todas essas agendas são caras ao progressismo.
Os recados velados de Lula. Ao longo de seu discurso, Milei enviou alguns recados velados ao presidente Lula. Em um trecho de seu discurso afirmou que “não nos cabe apequenar o Mercosul com propostas simplistas que o debilitam institucionalmente". O presidente ainda enalteceu a importância da diversidade de opiniões no bloco.
O presidente também enfatizou a importância de políticas públicas de gênero. E sem citar diretamente Javier Milei, criticou o “ultraliberalismo” e o “nacionalismo arcaico”:
O presidente enfatizou que o livre-mercado não é uma solução universal e que o papel do Estado é crucial no desenvolvimento da América Latina. Ele também se manifestou contra as propostas argentinas de reforma do Mercosul que, segundo ele, enfraqueceriam suas bases sociais:
“Quem conhece a história da América Latina reconhece o valor do estado como planejador e indutor do desenvolvimento”, afirmou o presidente do Brasil.
Os últimos acontecimentos envolvendo os dois líderes latino-americanos indicam que, ainda que as relações comerciais permaneçam preservadas, o clima tenso não tende a melhorar.
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