Na última quinta-feira (21), o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a tese do marco temporal das terras indígenas, com 9 votos a 2. A tese estabelecia que a demarcação dos territórios indígenas deveria respeitar a área ocupada pelos povos até a promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988.
O marco é criticado por advogados especializados em direitos dos povos indígenas, pois segundo eles validaria invasões e violências cometidas contra indígenas antes da Constituição.
Já ruralistas defendem que tal determinação serviria para resolver disputas por terra e dar segurança jurídica e econômica.
Segundo apuração da Revista Oeste, os indígenas ocupam hoje cerca de 14% do território. Com a derrubada do marco, a ocupação pode subir para 28%.
As terras indígenas no Brasil hoje estão distribuídas da seguinte forma:
Atualmente, 13,75% do território brasileiro está com menos de 1% da população. Os autodeclarados indígenas são 0,83% da população brasileira. Eles poderão deter cerca de 28% do território nacional.
Com base nos resultados preliminares do Censo Demográfico 2022 e no levantamento de terras indígenas no Brasil, a situação das terras indígenas representam hoje:
No início do mês passado foi noticiado que a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e o presidente Lula estavam homologando a demarcação de mais terras indígenas.
Para o advogado Francisco de Godoy Bueno, do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA), a ampliação dos territórios indígenas:
“Cria novos conflitos, ao potencializar demandas territoriais sob territórios já titulados e ocupados por não índios. A solução segura desses conflitos precisa de um critério objetivo, diferente dos laudos antropológicos. Se a gente depender como é hoje, de um laudo antropológico que vai indicar se existe ou não essa apropriação cultural, vamos continuar num conflito que se dá repetidamente por abuso de processos administrativos de reconhecimento de territórios indígenas, e vamos continuar num ambiente de total insegurança jurídica”.
O Ministro do STF Dias Toffoli destacou justamente a prevalência do laudo antropológico chancelado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como “elemento fundamental para demonstração da tradicionalidade da ocupação da comunidade indígena, determinada de acordo com seus usos, costumes e tradições”, posição que já havia sido defendida pelo Ministro Edson Fachin.
A Deputada Federal pelo Amapá, Silvia Waiãpi, é indígena e falou exclusivamente à Brasil Paralelo sobre os problemas de aprovar derrubar o marco temporal.
Para a deputada, é impossível voltar no tempo e impedir um fato que aconteceu.
"Nós não podemos voltar na história em 1500. Talvez em 1530 nós pudéssemos intervir e impedir que aqueles invasores ou aqueles desbravadores chegassem ao território.
Hoje, os anos se passaram, mais de 500 anos e eu não posso simplesmente imputar agora, em 2023 uma culpa sobre você ou sobre qualquer outra pessoa que descendeu um dia de portugueses, espanhóis, italianos, africanos e também de indígenas".
O marco temporal é a Constituição, afirma a deputada, ele é "o momento em que se põe fim nesta guerra ideológica".
Caso o marco temporal seja derrubado, os conflitos por território serão retomados, na visão da deputada.
"Ineptos e néscios estão dizendo que o marco temporal é inconstitucional e, na realidade, se nós votarmos isso nós tornamos o Brasil num campo de guerra onde qualquer um pode requerer esse território.
Porque quem pode provar que asiáticos já não moravam aqui antes de nós? Quem pode provar que essa terra já foi habitada antes por outros povos?
Império Inca, Império Maia, Império Asteca, cada um nos seus países, cada um nas suas extremidades territoriais, dizer que isso agora vai servir como referência para o domínio de território significa induzir povo a uma guerra".
Somente o que foi definido pela Constituição, o marco temporal, pode trazer segurança jurídica ao país e pôr fim às disputas territoriais:
"Nós precisamos dar uma estabilidade jurídica para o nosso país, e foi justamente a Constituição, no seu artigo 231 que garantiu a terra para os povos indígenas em Roraima, dizendo que os arrozeiros deveriam sair daquele território, porque aquela terra já era habitada por indígenas em 1988.
Então, tornou-se a Constituição o marco temporal, e é isso que nós precisamos garantir: que a Constituição seja respeitada e que 1988 ponha fim à briga por territórios".
Os indígenas brasileiros, como qualquer pessoa ou povo, desejam se desenvolver, prosperar e estar inseridos no mundo atual. Sem perder a sua cultura. Entrevistamos vários povos e eles mesmos nos reportaram isso.
No documentário A Esperança se chama Liberdade, indígenas de diversos povos originários foram entrevistados e apresentaram suas tradições e seus anseios no mundo de hoje.
Muitos estão enganados ao acreditar que os povos indígenas desejam viver isolados, presos a hábitos arcaicos. Muitos desejam trabalhar, produzir e prosperar, isto aliado à preservação de suas culturas e tradições.
“Quanto maior for a pobreza de espírito social do indígena, mais se beneficiam as ONGs, porque elas sobrevivem da desgraça dos índios. Isso para nós é ruim. No Brasil, tem 305 povos, mais de 187 línguas faladas, uma diversidade imensa, como só um povo vai representar a todos? Tem povos que nem sabem que essa organização existe.” Edson Kulewâra, Líder Bakairi
Para muitos dos indígenas entrevistados, as ONGs impõem aos povos originários uma vida presa ao passado e toma a sua liberdade de empreender e de sua cultura se encontrar com a modernidade.
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