O novo documentário da Netflix "Pornhub: Sexo Bilionário" explora a fundo a realidade do maior site de conteúdo pornográfico no mundo. Na opinião de Rafael Braz, crítico de cinema e jornalista de A Gazeta, o “documentário promete um mergulho na indústria de pornografia, mas busca apenas vender o Pornhub ao espectador”.
O site Pornhub sofreu acusações de abrigar vídeos de sexo não consensual, de estupros e revenge porn, quando uma pessoa expõe vídeos íntimos de um ex-casal em retaliação ao término.
Em 2020, o site foi denunciado por conter um farto conteúdo de pornografia infantil. Em março do mesmo ano, uma reportagem da Vice relatou que a plataforma abrigava vídeos não consensuais feitos pela extinta produtora GirlDoPorn.
Em 2022, o fundador do Pornhub, Michael Pratt, foi preso pelo FBI por diversos crimes:
Grupos que combatem a exploração sexual colocaram o site na mira após tantos escândalos.
Após o escândalo, o Pornhub apagou os vídeos da plataforma. Todos os sites de cartão de crédito que tinham parceria romperam com a plataforma.
Sob a ótica dos problemas recentes que o site enfrentou, que o documentário Pornhub: Sexo Bilionário desenvolve sua narrativa.
Os principais personagens são apresentados na introdução, todos eles atores e atrizes de filmes adultos. Asa Akira, Siri Dahl, Cherie DeVille, Allie Knox, Gwen Adora, Wolf Hudson e Natassia Dreams são os principais depoentes da obra.
O documentário busca apresentar o Pornhub como uma empresa como qualquer outra. Uma plataforma de conteúdo que vende seus produtos aos interessados, com um time de dados para otimizar a plataforma, os mecanismos de busca e a experiência do usuário.
O filme busca mostrar como as plataformas digitais permitiram aos atores e atrizes "mais controle e liberdade" sobre seus negócios
Em seguida, o documentário aborda superficialmente as pesadas denúncias que o site enfrenta:
Após passar pelos problemas, as consequências são apresentadas: entre 2020 e 2022, a plataforma de filmes adultos perdeu boa parte de sua monetização e as parcerias com sites de pagamento em cartão de crédito.
Para o colunista Rafael Braz, esse arco narrativo dá força ao objetivo principal do documentário:
“Como uma espécie de mea culpa, o filme traz os responsáveis pelo site reconhecendo a dificuldade de se combater o upload ilegal de conteúdo e mostra os esforços deles na tarefa enquanto uma narrativa maior se desenvolve”.
Além dos atores e atrizes, advogados aparecem neste momento comentando os desafios do site.
O filme busca mostrar os dois lados da história das controvérsias do Pornhub, mas apresenta principalmente entrevistados ligados à indústria direta ou indiretamente.
Alguns jornalistas e ativistas do combate à exploração sexual são mostrados, mas, em geral, parecem associados à grupos conservadores que querem abolir por completo a pornografia.
Atrizes e atores contam como conquistaram liberdade financeira, estabilidade a partir da plataforma e dos seus recursos. As parcerias encerradas com operadoras de cartão de crédito são algo bem prejudicial para os entrevistados.
Uma das entrevistadas chega a afirmar:
"Se não fosse pela pornografia, acho que não estaria viva".
O objetivo é gerar empatia no espectador para com essas pessoas.
“Pornhub: Sexo Bilionário fnciona como o produto que quer ser, mas falha muito ao explorar os problemas que ocorrem na plataforma, praticamente lavando as mãos, ‘fazemos o que podemos’. Ao fim, fica a mensagem de ‘ruim com ela, muito pior sem ela’, principalmente quando o texto informa que aqueles atores e aquelas atrizes independentes que vimos no início do filme tiveram que voltar ao antigo modelo de negócios”, conclui Rafael Braz.
O documentário levanta questões e não as responde explicitamente:
O tráfico humano está intimamente conectado à indústria da pornografia, segundo a associação The Exodus Road, grupo dedicado ao combate contra o tráfico humano:
“Indivíduos traficados são frequentemente explorados de mais de uma maneira. Alguns traficantes tiram fotos pornográficas de vítimas como meio de controle, ameaçando envergonhá-los expondo as fotos para suas famílias. Os traficantes vendem o conteúdo enviando-o para sites pornográficos enquanto exploram simultaneamente as vítimas através da prostituição.
Em outros casos, os sobreviventes são explorados apenas para produzir pornografia” afirma um texto da página da associação.
O site brasileiro Recuse a Clicar aponta, com histórias reais, como o consumo de pornografia favorece a violência contra a mulher.
Ex-atrizes de filmes adultos confirmam com relatos chocantes a penosa realidade por trás das câmeras. Espancamento, sufocamento e ferimentos graves são as principais denúncias.
Emily Eve, ex-atriz, relata a violência que sofreu na gravação de uma cena: “quando terminei, minha garganta estava sangrando”.
Segundo dados da ONU, 59% das vítimas do tráfico de pessoas hoje são exploradas sexualmente, das quais 94% são mulheres.
A apuração da National Center for Missing and Exploited Children aponta que 20% de toda a pornografia na internet hoje possui abuso sexual de crianças.
Vanessa Danieli, dividiu alguns dos traumas que sofreu enquanto trabalhou para a indústria da pornografia:
“Estava decidida a me matar
“Ele [produtor] quase me bateu porque eu não estava conseguindo fazer uma cena de pum, pois meu intestino estava preso. Ele jogou as notas de 50 na minha cara, gritou comigo e me largou no motel. Eu sentia o ódio dele por eu não estar seguindo as ordens.” relatou Vanessa em entrevista à CNN.
Do ponto de vista psicológico, a pornografia também é um enorme problema. Para conscientizar as pessoas dos riscos, nos Estados Unidos foi feita a campanha “Pornografia mata o amor” (Porn Kills Love)
Doenças como depressão, ansiedade, estresse, dificuldade de se satisfazer em relações comuns, impotência sexual e piora de qualidade de vida estão associados ao consumo da pornografia.
O documentário é dirigido por Suzanne Hillinger e foi lançado dia 15 de março de 2023 como um original Netflix. O filme dura 94 minutos e conta com atores e atrizes da indústria pornográfica em seu elenco.
A diretora produziu também o documentário Rats: Realidade Urbana (2016). A sinopse do documentário é:
Com depoimentos de artistas, defensores de sobreviventes de exploração sexual e ex-funcionários, este documentário mostra em detalhes os sucessos e escândalos do site Pornhub.
O site Pornhub foi fundado em 2007 e é propriedade da empresa MindGeek. Fundado no Canadá, a plataforma conta com colaboradores ao redor de todo o mundo.
O documentário não apresenta cenas explícitas, diferentemente de outras produções da Netflix.
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