Menos de 24 horas antes do início da votação para escolha do próximo prefeito de São Paulo, o candidato Guilherme Boulos (PSOL) apresentou uma notícia-crime com pedido de prisão contra Pablo Marçal (PRTB).
O juiz Rodrigo Colombini,da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, determinou que o caso prossiga sob condução do Juízes de Garantia da cidade de São Paulo. Além disso, o Ministério Público será chamado a se manifestar por meio da abertura de um inquérito. Não há prazo para essa tramitação.
A Justiça também determinou que Pablo Marçal e outros perfis removam de suas redes sociais as imagens do documento que motivou as ações: um laudo médico que associa Boulos ao uso de cocaína.
A decisão foi divulgada às 8h02 deste sábado, 5 de setembro de 2024.
O magistrado acatou a tese dos advogados de Boulos, que apontaram indícios de falsificação no laudo, incluindo a proximidade do dono da clínica onde foi gerado, o fato de ter sido assinado por um profissional já falecido, e a divulgação do documento na antevéspera da eleição.
Essas alegações justificaram a suspensão liminar dos vídeos impugnados.
No entanto, até o momento, a Justiça não atendeu o pedido de Boulos de suspender as redes sociais de Marçal e outros envolvidos nem de cobrar multa.
Além de solicitar a retirada das imagens do ar, Boulos afirmou que pedirá a aplicação de multa de R$30 mil a Marçal. Também pediu e o envio dos autos para que o Ministério Público investigue a suposta falsificação.
A imagem publicada nas redes sociais seria de um documento que comprovaria que, em 19 de janeiro de 2021, o candidato do Psol foi encaminhado para uma emergência psiquiátrica devido a um suposto surto causado pelo uso de cocaína.
O alegado laudo é assinado por um médico chamado José Roberto de Souza, registrado no Conselho Regional de Medicina sob o número 17.064-SP.
Em live realizada ontem, 4 de setembro, Guilherme Boulos nega veementemente a veracidade do documento e, em suas redes sociais, afirma que irá pedir a prisão do influenciador:
“Pablo Marçal pagará por seus crimes”, afirma Boulos.
A imagem foi derrubada um pouco mais de uma hora após a divulgação do laudo. Na rede social, o influenciador escreveu:
“O Instagram removeu minha publicação. Parabéns pela democracia da esquerda. Acha isso justo?”, questionou seu público.
Boulos, por sua vez, abriu uma live na hora para explicar o ocorrido.
No documento consta que Boulos tinha dado entrada na unidade de uma rede de clínicas denominada Mais Consulta, no bairro Jabaquara, em 19 de janeiro de 2021.
Na ocasião, ele estaria em um “surto psicótico grave, [com] delírios persecutórios e ideias homicidas, além de confusão mental e episódios de agitação”.
De acordo com a publicação, o Psolista também teria realizado outro exame toxicológico, que foi entregue à um assistente.
No vídeo publicado em suas redes sociais, Boulos enfatizou que Marçal “não tem limites”. Ressaltou também que o laudo é falso e que pediria a prisão de seu concorrente, o que fez ontem mesmo.
Ele alega que o documento foi providenciado por um apoiador de Marçal, que era sócio do suposto médico que assinou o laudo. O doutor José Roberto de Souza de fato era psiquiatra, mas faleceu há dois anos, conforme confirmou o Conselho Federal de Medicina. Seu ex-sócio, então, teria usado seu número de registro na assinatura do suposto laudo de Boulos, favorecendo Marçal de quem é um apoiador.
O Brasil Paralelo tentou entrar em contato com alguém próximo ao Dr. José Roberto Souza pelas redes sociais, mas não obteve sucesso até o fechamento desta reportagem. A consulta feita ao site do Conselho Regional de Medicina de São Paulo revela que o registro está inativo desde 08/04/2022, e que o médico faleceu.
O jornalismo da Brasil Paralelo também tentou contato com a Clínica Mais Consulta, mas verificou que os números indicados não atendiam a ligação. No Instagram, a última postagem foi realizada em 2020.
Além disso, há outro fato grave. O biomédico José Luiz Teixeira da Silva, o sócio da clínica Mais Consulta, teria tentado obter um registro profissional de medicina a partir da apresentação de documentos falsos.
Segundo uma reportagem do Poder 360, em 2017, Teixeira foi condenado pela 22ª Vara Federal de Porto Alegre por apresentar documentos falsos ao Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul para obter o registro profissional de médico.
Outros veículos de mídia, como o Estado de São Paulo, confirmam que, na sentença consta que Luiz Teixeira da Silva Junior teria pago R$27.000 por diploma de medicina e ata de colação de grau falsos.
A pena teria sido de 2 anos e 4 meses de reclusão, posteriormente substituídos por restrição de direitos.
Em suas redes sociais, Guilherme Boulos afirmou que espera agilidade da Justiça, tanto da eleitoral para derrubar a publicação, quanto da Justiça Criminal, para responder os pedidos de prisão de Marçal e do “suposto dono da clínica farsante”.
Ao longo de toda a campanha para prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos e Pablo Marçal trocaram acusações.
Boulos chamou Marçal de mentiroso, picareta e condenado em processos judiciais por fraude bancária. Também disse que o influenciador é filiado a um partido cujo presidente é envolvido com membros do PCC.
Marçal, por sua vez, já insinuou que Boulos é usuário de drogas. Durante a sabatina da CNN chegou a dizer que Boulos conhecia bem a cidade de São Paulo porque “deve ter ido para todas as biqueiras atrás daquilo que mais o agrada”.
De acordo com Boulos, as acusações que o empresário fez contra ele se baseavam na conduta de um hormônio, chamado Guilherme Bardaull Boulos. O nome completo dele é Guilherme Castro Boulos.
No último debate da Globo, Boulos apresentou um exame toxicológico para comprovar que não faz uso de drogas. Os dois candidatos estão empatados nas pesquisas eleitorais, na margem de erro.
De acordo com o último levantamento da Real Time Big Data, divulgado ontem, 3 de setembro de 2024, Boulos tinha 27% das intenções de votos; Marçal, 26%; e Nunes, 24%.
Outros institutos, como Paraná Pesquisa e Veritá revelam intenções de votos bem próximas em relação a todos os candidatos.
O laudo exibido por Marçal apresenta algumas inconsistências.
Em primeiro lugar, no documento, consta o número errado do documento de identidade de Boulos.
Em segundo, antes da divulgação do documento, as redes sociais do candidato do PSOL, já apresentavam atividades realizadas na data e em datas próximas ao período do suposto surto psicótico.
Um terceiro ponto é o fato de Boulos ser filho de médicos renomados: o pai é ex-diretor do hospital da Faculdade de Medicina da USP e a mãe é coordenadora de uma unidade do Hospital das Clínicas. Parece pouco provável que, em caso de um surto desta gravidade, ele fosse levado a uma clínica pouco conhecida no bairro do Jabaquara.
Além disso, em 2022, Boulos já era uma figura política nacionalmente conhecida; já havia, inclusive, sido candidato a presidente da República em 2018.
Dificilmente, a informação de uma internação por surto psicótico associado ao uso de cocaína passaria despercebida da imprensa.
A Brasil Paralelo fez essas mesmas perguntas à assessoria de Marçal e, até o fechamento desta reportagem, aguardava retorno.
Tudo indica que os últimos dias da campanha eleitoral de São Paulo serão movimentados.
Leia a nota da campanha de Boulos:
"O documento publicado por Pablo Marçal é falso e criminoso e ele responderá e arcará com as consequências em todas as instâncias da Justiça – eleitoral, cível e criminal. Uma atitude inaceitável de quem prova não ter limites em sua capacidade de mentir. Marçal mostra mais uma vez ser um criminoso recorrente, que usa de mentiras absurdas para atacar a honra e a reputação e tentar promover uma manipulação sem precedentes no processo eleitoral. Não podemos normalizar esse tipo de método que já colocou em xeque a nossa democracia no passado recente e que, agora, ameaça a normalidade destas eleições.
Marçal pagará pelos seus crimes."
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