A teoria do capital humano inovou a concepção de sociedade dos políticos e empresários modernos. Enquanto o mundo todo buscava aumentar a linha de produção, intensificar o ritmo de trabalho e focar no maquinário, Theodore Schultz caminhou na direção contrária, focando a economia na alegria do homem de carne e osso.
A Teoria do Capital Humano alega que investimentos em educação e saúde podem aprimorar as habilidades e a vontade de trabalhar dos indivíduos, aumentando sua satisfação e produtividade, o que melhoraria a sociedade como um todo, afirmava o economista Gary Becker, um dos intelectuais que desenvolveram essa teoria.
Para entender a teoria do capital humano é necessário entender o que é capital, e como a teoria surgiu.
Capital vem do latim, capitale, palavra latina originada da palavra caput, que significa “cabeça”. Isto é uma alusão à riqueza, que em outros tempos era maior de acordo com a quantidade de cabeças de gado possuídas. O termo também pode significar liderança e poder.
Em economia, capital é um bem destinado à produção de outros bens econômicos, explica Ludwig von Mises em seu livro Ação Humana. Por exemplo, uma máquina que faz xícaras é um capital, porque produz outros bens econômicos.
O dinheiro é uma espécie de capital, porque com ele é possível adquirir outros bens ou comprar materiais necessários para alguma produção. O dinheiro, portanto, gera valor ou itens de valor.
Por sua vez, os bens de consumo estão diretamente ligados à satisfação do homem. Antes de Schutz, grande parte dos intelectuais da economia não consideravam os bens de consumo como capital.
A teoria do capital humano de Schultz, em resumo, traz uma inovação na maneira de classificar o capital e no modo de hierarquizar os bens econômicos.
Muitos economistas encaravam os bens de consumo como algo não produtivo, focando no desenvolvimento do capital técnico, ou seja, equipamentos e geração de valor stricto sensu. Schutz vê a economia de modo diferente.
Para ele, quanto mais um funcionário estiver satisfeito na vida pessoal, maior será a possibilidade de que ele trabalhe mais e melhor.
Schutz vê nos bens intelectuais, nos bens de consumo e nos bens pessoais uma possibilidade de aumentar as produções de capital. Assim, os bens da vida particular, que estão fora do termo capital da economia, foram chamados de capital humano.
A teoria afirma que o auxílio no aperfeiçoamento da vida pessoal dos trabalhadores é um investimento. Esse investimento pode ser feito pelo governo e pelas empresas. Alguns exemplos são:
Segundo a teoria de Schultz, quanto maior o desenvolvimento do capital humano, maior o desenvolvimento do capital.
A maneira como Theodore Schultz descobriu esses elementos influenciou grande parte dos postulados da teoria do capital humano.
A teoria do capital humano surgiu em 1971, através das observações do economista da Universidade de Chicago, Theodore Schultz, ganhador do prêmio Nobel de economia. Schultz estava desenvolvendo a disciplina da Economia da Educação, até que chegou ao ápice dos seus estudos no lançamento do livro Investment in Human Capital: The Role of Education and of Research, em 1971.
O rápido reerguimento de alguns países após a II Guerra Mundial foi vital para a teoria do capital humano.
O Japão e a Alemanha reergueram suas economias rapidamente no pós-guerra. Em contrapartida, a Inglaterra fazia racionamento de alimentos anos depois do fim dos conflitos.
Estudando esse fenômeno, Schult percebeu que os países que melhor se reconstruíram, passaram por uma intensa dedicação nas áreas da saúde e da educação de todos os seus cidadãos.
Sem os empecilhos de ter que correr atrás de sua sobrevivência e com um bom foco profissional, fornecido pela educação, os cidadãos japoneses e alemães podiam dedicar-se à vida acadêmica e de produção técnica com muita facilidade.
Schultz também constatou que os EUA tinham uma vantagem que os favorecia economicamente: seus cidadãos investiam em aprimoramento pessoal. Os EUA eram a maior economia do mundo, e ao mesmo tempo eram um dos países que mais possuíam a cultura de desenvolvimento pessoal.
Schultz relacionou os dois fatores e descobriu que os investimentos pessoais eram uma das causas primárias do sucesso econômico dos Estados Unidos.
A teoria do capital humano passou a ver o investimento em bens particulares e bens de consumo como um dos principais potencializadores da economia, diferentemente do que propõe a tese marxista.
Os marxistas rejeitaram a teoria do capital humano. Segundo eles, o investimento dos patrões na vida dos trabalhadores é encarado como uma ação voltada para a alienação, domínio, reforçando o que os marxistas chamam de mais valia.
A crítica vem em grande parte do fato do comunismo pregar a igualdade radical entre todos, independente dos méritos próprios.
Os representantes da teoria econômica do capital humano, por sua vez, afirmam que a aplicação de seus métodos é benéfica tanto para os patrões quanto para os funcionários. Os trabalhadores receberiam o salário justo e investimentos que vão além do pagamento devido.
Os capitais humanos são todos os bens pessoais que geram satisfação à pessoa e que elevam as capacidades que não estão diretamente ligadas a função do trabalhador.
Exemplos de capitais humanos são:
A teoria do capital humano foi muito influente no aumento dos investimentos em educação dos últimos anos. Um dos principais fatos sociológicos para a disseminação da teoria foi o apoio das instituições pertencentes ao acordo de Bretton Woods.
O acordo consistiu na resolução de grandes instituições financeiras para financiar iniciativas vocacionais e educacionais pelo mundo. As principais instituições que assinaram o pacto foram o FMI e o Banco Mundial. A decisão foi influenciada pela teoria do capital humano.
O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial realizaram diversas políticas sociais de investimento educacional. Um dos principais investimentos no Brasil é o BIRD, projeto que emprestou 250 milhões de dólares para a realização do projeto Novo Ensino Médio.
Gary Becker foi um dos responsáveis em disseminar a teoria do capital humano no meio acadêmico, fazendo com que o pensamento adquirisse importância intelectual em diversas faculdades.
Uma das influências de Schultz no Brasil pode ser vista no grande investimento do país em educação, que cresceu exponencialmente após a década de 80. Brasil, Pátria Educadora, era o principal lema do governo da presidente Dilma Rousseff, a partir de 2015.
O economista James Heckman apresentou um dos principais estudos para comprovar os benefícios da aplicação da teoria do capital humano, especialmente em investimentos no desenvolvimento na primeira infância.
Outra pesquisa importante para a teoria do capital humano é a Schooling, Experience, and Earnings (1974), de Jacob Mincer. Este examina a relação entre a educação, a experiência e os salários dos trabalhadores nos Estados Unidos.
Mincer usa dados de pesquisas realizadas nos anos 1960 e 1970 para mostrar que a educação e a experiência têm um efeito significativo nos salários dos trabalhadores, o que sugere que o investimento em capital humano, especialmente na educação infantil, pode aumentar os ganhos dos trabalhadores ao longo do tempo.
Porém, a aplicação de um pensamento semelhante à teoria do capital humano no Brasil não obteve sucesso.
Um estudo feito por Ricardo Paes de Barros demonstra que os investimentos financeiros na educação brasileira cresceram, mas a produtividade profissional ficou estagnada e demonstrou quedas em alguns períodos.
Em 2018 o Brasil participou do PISA, uma pesquisa de avaliação do ensino escolar internacional. Dos 79 países que participaram, o Brasil ficou na 60ª posição. Atrás dos Emirados Árabes Unidos, Vietnã e México.
Quem se depara com esses dados pode pensar em um primeiro momento que a culpa disso é a falta de investimentos. Mas o Brasil investe em educação um valor proporcional à Suécia, um dos países com as melhores posições no ranking de qualidade.
O percentual do PIB brasileiro que sai dos cofres públicos para financiar a educação chega a ser de quase 6%, totalizando mais de R$100 bilhões de reais. Esse número não está abaixo do padrão da OCDE; antes, pelo contrário, é 30% maior que a média.
O problema da educação brasileira não é de investimento. É necessário analisar como é usado esse investimento e qual é o método de ensino.
O Brasil utiliza o método educacional do socioconstrutivismo, na vertente de Paulo Freire, o único país a adotar as teorias do educador.
Essa vertente vislumbra uma educação que liberta, embora Paulo Freire não tenha sido o inventor desta ideia.
Platão, Aristóteles e tantos outros falaram sobre o papel que a educação tem, incluindo o viés de libertação da alma.
O professor de história, Thomas Giulliano, autor do livro Desconstruindo Paulo Freire, explica que o patrono da educação tratava a história do Brasil como formada pela alienação, pelas desigualdades e pela opressão e, assim, sua pedagogia deveria ser o meio de libertação do aluno.
Neste entendimento, os professores que seguem a doutrina freiriana tratam o aluno como um agente transformador.
O ensino de Paulo Freire é baseado na doutrina da luta de classes de Karl Marx. Segundo Freire, o aluno deve ser educado para militar contra a lógica da economia de mercado e dos valores conservadores, instituições que Marx encarava como as causas dos males da sociedade.
Segundo o especialista em educação, professor Felipe Nery, o problema da educação no Brasil não é um problema de falta de recursos ou de pouco investimento.
Na verdade, o Brasil aplica em seu sistema educacional um valor acima da média dos países desenvolvidos. O problema é ideológico.
A ideologização do ensino começou no período militar.
Nesse período, o primário passou a ser voltado à formação intelectual do aluno e o secundário à preparação para o mercado de trabalho.
A ditadura militar permitiu a infiltração da esquerda nos ambientes culturais e educacionais, e a anistia permitiu o retorno de vários intelectuais de esquerda para o Brasil que ocupam postos nas universidades.
Paulo Freire tornou-se secretário da educação de São Paulo, criou a medida da aprovação automática e sua doutrina educacional, que envolve a alfabetização e a educação militante, tornou-se regra nos currículos universitários brasileiros.
Ou seja, uma educação que não representa o compromisso com o ensino e com a verdade, mas sim com uma ideologia de esquerda. E assim uma alfabetização que não demonstra ser o método mais eficaz, toma conta da formação brasileira.
Paulo Freire é o grande nome que dissemina o vínculo da revolução cultural com a pedagogia no Brasil, estabelecendo esses fundamentos na sua maior obra, intitulada Pedagogia do Oprimido.
O que se vê hoje no Brasil é a fusão entre educação crítica/revolucionária e o ensino pragmático para o trabalho. A primeira educa o homem como agente transformador da sociedade e a outra forma trabalhadores para o mercado.
Ou seja, há um problema na cultura educacional: ela instrumentaliza politicamente os alunos ao mesmo tempo que compacta seus conhecimentos e técnicas para o mercado de trabalho.
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