A compreensão da teoria das quatro causas aristotélicas é necessária para o estudo da Filosofia Ocidental. Estes conceitos são indispensáveis para aprender a metafísica e a própria realidade.
Como Aristóteles teve seus tratados comentados por filósofos medievais, grandes nomes como Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino, e também no Renascimento e na modernidade, seus conceitos são fundamentais.
Uma das principais partes é a distinção entre as quatro causas.
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Comumente, o que se costuma pensar quando se diz “causa”? Nos noticiários ouvimos dizer que a causa de um acidente foi a imprudência do motorista. Muitos filhos ouvem suas mães dizerem que se feriram porque correram, sendo a queda a causa da ferida.
Se alguém se molhou, a causa foi a água. Se se queimou, a causa foi o fogo. Em geral, pensa-se em causa e consequência de forma binária, pensando-se em uma consequência definida para uma causa específica.
Aristóteles observou este assunto de forma mais ampla em seus escritos em que pensa a filosofia natural.
Para responder a esta pergunta, de fato, são necessários livros e mais livros. O que está condensado aqui é apenas um resumo orientador. Basicamente, a metafísica de Aristóteles está além da física, no sentido de que precede a física e a explica.
Aristóteles teve uma série de tratados organizados após sua morte. Seu aluno, Andrônico Rodes, organizou 14 de seus livros e atribuiu este nome, afinal, Aristóteles mesmo nunca chegou a usar usou o termo “metafísica”.
Ele, por sua vez, escreveu sobre a filosofia primeira, sobre o ser em si. O objeto de estudo da metafísica não é um ser qualquer, mas o ser enquanto ser. Procura-se saber o que pode ser afirmado de qualquer coisa, independentemente do atributo que tenha, apenas por existir, ter ser, ser.
O ser é aquilo que é (existe), opondo-se ao que não tem ser, aquilo que não é (não existe).
Neste conjunto de tratados metafísicos, Aristóteles fala sobre as quatro causas.
Aristóteles pensou quatro tipos de causas para as coisas. São elas:
As duas primeiras, causa material e causa formal, concentram-se em explicar a constituição dos seres. As duas últimas, causas eficiente e causa final, concentram-se em explicar o movimento, a mudança.
Cada uma delas será detalhada na sequência. A compreensão destes conceitos é uma necessidade para quem deseja aprender mais sobre quem foi Aristóteles e sobre a filosofia de São Tomás de Aquino, que resgatou grande parte do conteúdo aristotélico.
A causa formal é a responsável pela coisa ser o que é. Uma cadeira é reconhecida como cadeira por causa da forma de cadeira. Uma mesa é reconhecida como tal por causa de sua forma e assim com todas as coisas.
Algo é o que é por causa de sua forma e isto é o oposto da matéria.
Uma estátua é o exemplo tradicional para que isto seja bem compreendido. Grandes artistas olharam para blocos de mármore e viram, dentro do bloco, a forma que queriam esculpir.
Assim, com o cinzel e o martelo, eles tiraram os excessos do bloco, de modo que restasse em seu interior somente a forma que tinham visto.
As disposições que um escultor introduz no mármore são a causa da estátua, segundo a forma. Esta escultura se torna uma obra de arte e não um simples bloco por causa da forma pensada pelo artista. O mármore, por sua vez, é a causa material.
O exemplo explica bem, mas é apenas uma analogia. Para refletir de forma mais profunda, antes que a estátua existisse, o mármore já existia, reconhecido como tal. Ora, o mármore também possui sua forma; portanto, é mármore e não granito.
O escultor que usa a pedra para criar algo, na verdade, introduziu uma forma acidental à forma que já existia, dita substancial.
Como visto acima, a forma acidental é aquela que é acrescentada a um sujeito já existente. A forma substancial, por sua vez, é aquela que já existe, sendo a primeira a se unir à matéria. Neste caso, não é uma forma que é acrescentada a um sujeito, mas a forma do próprio sujeito.
Na doutrina das quatro causas aristotélicas, todos os seres corpóreos da natureza (todos os objetos, todas as coisas, todos os entes, todos os seres vivos ou inanimados) são compostos de matéria e forma. Isto é chamado hilemorfismo.
Quando percebemos que os seres mudam, estamos vendo uma transformação. A matéria primeira é privada de sua forma substancial para outra e vice-versa. Um sujeito pode passar pela privação de uma forma acidental para outra e vice-versa.
Pode parecer confuso, mas são as formas que a “matéria-prima” vai ganhando. Um tronco pode se tornar uma cadeira, a cadeira um banco, o banco um artefato de decoração.
Ao contrário da forma, a causa material é a própria matéria que constitui todos os seres corpóreos, todos os objetos, todas as coisas na natureza.
No exemplo da estátua, o mármore é a causa material de sua existência.
Como esta é apenas uma analogia, a continuação da reflexão exige um pouco mais: o próprio mármore é um sujeito que possui sua própria matéria.
O mármore, como qualquer pedra da qual se queira esculpir uma estátua, é uma composição de uma matéria primeira com uma forma substancial. Em seguida, recebe formas acidentais.
A matéria primeira é o que constitui todos os corpos e não possui qualquer forma. Portanto, é chamada de pura indeterminação, pois a forma não a determina.
A matéria pura, sem forma, ainda não é algo. Não é sujeito, nem objeto, nem coisa, nem ser, em suma, não é. É apenas é alguma coisa potencialmente, porque quando receber a forma será algo e, portanto, será identificada. A forma substancial será aquilo que a determinará.
Tal matéria não existe na natureza, pois tudo o que identificamos já possui forma, ou não identificaríamos. Para existir, é necessário que a matéria receba uma forma. Quando isto acontece, podemos conhecê-la pelos sentidos.
Com nossos cinco sentidos, aprendemos apenas as formas acidentais. Portanto, a visão, a audição, o olfato, o tato e o paladar não são capazes de perceber a matéria primeira dos corpos existentes.
A utilização de instrumentos de laboratório também não resolve, pois eles apenas amplificam os sentidos, conduzindo à percepção de novas formas acidentais.
A forma substancial dos corpos também não é aprendida pelos cinco sentidos ou pelos instrumentos.
No caso do mármore, a forma substancial é a que o trouxe ao ser, à existência. Percebemos apenas as formas acidentais que o fazem ter extensão, cor, temperatura e afins.
Seguindo o raciocínio da teoria das quatro causas aristotélicas, a resposta é não.
Em tese, a inteligência poderia, se fosse dirigida diretamente a seres existentes fora do homem. Mas, como ela está unida a um corpo e depende dos sentidos, só trabalha com as formas acidentais.
A inteligência humana opera a partir da imaginação, com o conteúdo que foi fornecido pelos sentidos. A partir das formas acidentais, a inteligência pode deduzir indiretamente a existência da forma substancial e a matéria primeira.
A causa eficiente é o princípio do movimento e do repouso dos seres.
Qualquer mudança, alteração, é considerada movimento de acordo com a definição acima. Diz-se que há movimento sempre que a forma muda, adquirindo ou perdendo qualidades.
Isto ocorre de forma substancial para substancial e de forma acidental para acidental.
Um carro que se desloca movimentou-se porque deslocou-se de um lugar para outro. Uma pessoa que envelhece movimentou-se, neste sentido, porque perdeu certas formas e recebeu outras.
Para entender isto da melhor forma, é preciso acrescentar à explicação da teoria das quatro causas de Aristóteles a noção de ato e potência.
Um exemplo simples é o de uma semente. É de fato uma semente, mas potencialmente é uma árvore, porque pode sê-la.
A matéria, ou um sujeito privado de uma forma acidental qualquer, é potencialmente outra coisa. O bloco de mármore já é um bloco de mármore; uma pedra, é assim em ato. No entanto, pode ser uma estátua de mármore, embora ainda não a seja.
Neste caso, a pedra está em potência em relação à escultura. Quando for uma escultura de fato, pode-se dizer que ela mudou ou se moveu.
Todo movimento envolve passar algo em potência para algo em ato, isto é, mudança.
A matéria primeira, como é indeterminada e ainda pode receber uma forma, é pura potência. Ainda não é nada em ato, mas pode vir a ser. Já a forma, princípio que determina a matéria, também pode ser dita ato.
Todas as formas possuem operações próprias, por exemplo:
A matéria pura ainda não possui operações próprias. Se tivesse, estaria determinada por uma forma e não seria mais pura. Compete à forma definir as operações próprias dos seres.
Este é o entendimento básico de ato e potência, mas por que é necessário para entender a causa eficiente como Aristóteles a concebe?
O movimento, ou mudança, não pode ser explicado apenas através da forma e da matéria. Somente estas duas causas não explicam as transformações que acontecem o tempo todo em nós e no mundo ao nosso redor.
O movimento não pode ser compreendido sem a causa eficiente.
Em todo movimento, algo passou de potência para ato. A potência da semente para ser árvore foi atualizada e, algum tempo depois, ela se tornou, de fato, árvore. A potência da madeira para ser cadeira foi atualizada e ela passou a ser, de fato, árvore.
A potência do mármore para ser estátua foi atualizada e ele realmente se tornou a estátua que antes não era.
O que fez com que a potência se tornasse ato? A causa eficiente. É uma causa transformadora.
A matéria é potência pura, por isso não se determina, pois se o fizesse teria alguma determinação e não seria matéria pura.
A determinação própria da forma é o que leva uma matéria a sair da potência e passar ao ato. Esta determinação deve ser externa à matéria que receberá a forma.
Para o movimento, uma forma externa àquilo que será movimentado precisa agir. Algo externo, que já existe, que já tem forma, que já apresenta uma operação, leva uma matéria indeterminada a ter uma forma, passando a ser algo em ato.
A pedra por si só não se torna uma estátua; precisa do artesão, símbolo análogo à causa eficiente. A semente por si só não se torna árvore sem a água e a terra em ato, para atualizar sua potência.
Portanto, segundo Aristóteles, a causa eficiente é responsável pelo movimento, por fazer algo passar da potência ao ato.
Fazendo par com a causa eficiente, a causa final é o princípio do movimento e do repouso em vista da finalidade.
São Tomás, que comentou a obra de Aristóteles e a resgatou em sua teologia, explica a causa final:
“Ao perguntarmos por que alguém caminha, respondemos convenientemente ao dizer: para que ganhe saúde. E, assim respondendo, opinamos ter colocado a causa. De onde que é patente que o fim é causa”.
A existência da causa eficiente também exige a existência da causa final. Pensando em exemplos de causas eficientes inteligentes, a causa final é óbvia. Ora, todo agente inteligente age movido por uma vontade, que tende, por natureza, a um fim.
O escultor da estátua em mármore esculpe com uma finalidade em mente, para produzir uma estátua e agradar, pela beleza, a quem a ver. Neste sentido, a causa da estátua foi a vontade do escultor e sua vontade é a finalidade, o motivo da estátua, sua razão de ser.
Mesmo quando não há um agente inteligente, a causa final está lá. Por exemplo, quando uma flecha é arremessada contra um alvo, qual é sua causa final? O alvo. Embora ela não pense, um agente inteligente disparou-a com essa intenção.
Para São Tomás e Aristóteles, todos os agentes na natureza estão se movendo em direção a algum fim, mesmo que não o saibam.
Isto é evidente, porque, como já foi explicado, um agente externo é a causa eficiente da passagem da potência ao ato. Os agentes que fazem isso, operam de acordo com sua forma, que é sua operação própria.
A direção que as coisas tomam é a causa final. Vê-se isto na natureza. Todos os movimentos acontecem sempre, ou na maioria das vezes, do mesmo modo.
São Tomás de Aquino comentando a física, diz o seguinte:
“Que sempre todo agente age em vista de um fim, aja ele pela natureza ou pelo intelecto”.
“As coisas que acontecem sempre ou frequentemente o são pela natureza ou pelo que é proposto pelo intelecto. Portanto, nas coisas que acontecem sempre ou frequentemente, estas coisas acontecem tendo em vista um fim”.
Mas por que alguns seres conhecem o fim enquanto outros não?
“É preciso que conheçam o fim aqueles agentes cujas ações não estão determinadas, mas que podem, ao contrário, dirigir-se a extremos opostos, como ocorre nos agentes voluntários; portanto, é necessário para estes que conheçam o fim, pelo qual determinam suas ações. Por outro lado, entre os agentes naturais, as ações já estão determinadas: não tem, portanto, necessidade de escolher entre as coisas que são meios de alcançar o fim.
Por esta razão, é possível que o agente natural tenda sem deliberação a um fim, caso em que tender a um fim não significa senão que ele tem inclinação natural a algo”.
Para Aristóteles, estas razões justificam a teoria das quatro causas, e não podem excluir nenhuma das que foram explicadas.
Resta apenas enquadrar nesta explicação os acontecimentos fortuitos.
Tendo sido explicadas as quatro causas aristotélicas, ainda é preciso abordar algumas possibilidades.
É possível que um agente cause, acidentalmente, uma transformação para a qual ele não era movido de acordo com a causa final. Diz-se que o efeito gerado foi um acaso. Sendo um agente inteligente, pode-se dizer que o efeito foi sorte, caso tenha sido benéfico.
O acaso ou a sorte são causas acidentais. Seus efeitos possuem causa eficiente, gerando efeitos não previstos ou não queridos primariamente.
Um efeito chamado per se é o resultado da exigência de uma forma ou a intenção de um agente inteligente.
Um construtor pode ser a causa de uma guerra quando esta é consequência da construção de sua residência em um território disputado ou inimigo. Quer seja efeito esperado ou não, toda a linha de causalidade também lhe está atrelada.
Não há puro acaso. Para ser entendido como acaso, o efeito é referenciado à finalidade primária. Considerado isoladamente, terá suas quatro causas, se considerado paralelamente.
Leia também sobre Sócrates, Platão e a Mitologia Grega. E se você gostou deste artigo sobre a teoria das quatro causas aristotélicas, comente e compartilhe.
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