Sigmund Freud - vida e pensamento de um dos pensadores mais influentes do mundo moderno

Biografia de Sigmund Freud

Sigismund Schlomo Freud, mais conhecido como Sigmund Freud (1856–1939), nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg, na Morávia (atual Příbor, República Tcheca). 

Sua família, de origem judaica, mudou-se para Viena quando ele tinha quatro anos, onde Freud cresceu e viveu grande parte de sua vida. Ele era o mais velho de oito filhos e desde cedo demonstrou um talento para os estudos, especialmente em línguas e ciências.

A mãe de Freud, Amalia Freud, era descrita como uma figura carinhosa e amorosa, especialmente em relação a Sigmund, o seu filho mais novo. Ela o mimava e sempre o tratava de forma especial, o que Freud relembrou em vários momentos de sua vida.

Por outro lado, o pai de Freud, Jakob Freud, era uma figura mais distante e severa. Freud tinha sentimentos ambíguos em relação ao pai, o que influenciou muitas das suas teorias psicanalíticas sobre a relação entre pais e filhos, como o famoso "complexo de Édipo". 

Já adulto, Freud apaixonou-se pela amiga de sua irmã, Martha Bernays, mas demorou até conseguir casar com ela, o que o instigou a fazer cartas de amor mas também cartas de tristeza e melancolia devido ao período em que ela morou longe.

Em 1886, Freud finalmente conseguiu casar-se com Martha, tendo seis filhos ao longo de sua vida. 

Polêmicas na vida pessoal 

Em sua vida pessoal, Freud tomou atitudes que podem ser chamadas de sua "face oculta". Durante sua vida, ele chegou a:

• usar e promover o uso de cocaína, "espalhando uma praga", nas palavras de um médico de sua época. Após receber indicações de uso de cocaína por Freud, um de seus pacientes apresentou pioras em seu quadro clínico e morreu prematuramente aos 40 anos;
• alegar que as dores de uma jovem eram causadas por uma paixão reprimida de seu cunhado, incentivando-a aceitar a suposta paixão; 
• insinuar a uma paciente que ela deveria ceder às investidas sexuais de seu assediador, sendo que o abusador começou as investidas quando a jovem tinha 14 anos.

Esses e outras polêmicas pouco comentadas sobre Freud podem ser vistos em detalhes no programa Face Oculta, no episódio sobre Sigmund Freud:

Amizades ilustres

Ao longo de sua carreira como professor e pesquisador, Freud teve contatos e amizades ilustres, como Dom Pedro II, Albert Einstein e Maria Bonaparte, mas também ficou marcado por conflitos. 

Entre seus amigos próximos estavam figuras como Viktor Frankl, Carl Jung e Rudolf Allers, com quem teve fortes amizades, mas que acabaram em ruptura devido a divergência em suas teorias psicológicas.

Vida acadêmica

Após se formar em Medicina, Freud especializou-se em neurologia. Unindo a medicina e estudos de psicologia, ele lecionou por anos na Universidade de Viena, local onde desenvolveria e ensinaria suas principais teorias e supostas descobertas.

As teorias de Freud

As teorias de Sigmund Freud mudaram a psicologia. Ele deu um destaque inédito à influência do subconsciente na vida humana, criando novos métodos para tentar compreender e tratar os pacientes da psicologia e medicina.

Alguns dos principais conceitos desenvolvidos por Freud são:

1. Inconsciente: para Sigmund Freud, a maior parte de nossas ações é impulsionada por forças inconscientes, ou seja, por pensamentos e desejos dos quais não temos plena consciência. Esse "subterrâneo mental" está repleto de impulsos reprimidos, memórias e conflitos que afetam nossa vida cotidiana.
2. Estrutura da mente: Freud dividiu a mente em três partes – id, Ego e Superego. O id é a parte primitiva, que busca a gratificação imediata. O superego age como uma força moral, enquanto o ego tenta mediar o equilíbrio entre esses dois extremos, garantindo que os desejos sejam atendidos de maneira socialmente aceitável.
3. Teoria do desenvolvimento psicossexual: Freud acreditava que o desenvolvimento infantil ocorre em cinco estágios relacionados a sensações e gostos eróticos; as fases seriam: oral, anal, fálico, latência e genital. Cada estágio envolve uma fixação em diferentes zonas erógenas, e problemas em qualquer um deles levariam a neuroses na vida adulta.
4. Complexo de Édipo: Um dos conceitos mais controversos, sugere que, na infância, o indivíduo experimenta um desejo inconsciente pelo genitor do sexo oposto e vê o genitor do mesmo sexo como rival. Este conflito deve ser resolvido a partir da identificação com o genitor do mesmo sexo, gerando um desenvolvimento psíquico saudável.
5. Mecanismos de defesa: Para lidar com a ansiedade e os conflitos internos, o ego utiliza mecanismos de defesa, como repressão, negação, projeção e racionalização. Esses processos são tentativas inconscientes de evitar desconforto emocional.

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6. Sonhos e o inconsciente: Freud via os sonhos como uma "via régia" para o inconsciente. Em seu livro A Interpretação dos Sonhos (1900), ele argumenta que os sonhos são expressões disfarçadas de desejos reprimidos.
7. Pulsão de vida e pulsão de morte (Eros e Thanatos): Freud postulou que os seres humanos são motivados por duas forças instintivas fundamentais: a pulsão de vida (Eros), associada à sobrevivência, reprodução e prazer, e a pulsão de morte (Thanatos) está ligada ao desejo inconsciente de retornar a um estado de calma ou inércia, o que pode se manifestar em comportamentos autodestrutivos ou agressivos.
8. Transferência e contratransferência: No contexto da psicanálise, Freud identificou a transferência como o fenômeno em que o paciente projeta sentimentos e desejos inconscientes, muitas vezes em relação a figuras parentais, no terapeuta. A contratransferência, por sua vez, ocorre quando o terapeuta projeta seus próprios sentimentos no paciente. Para ele, esses conceitos são importantes para uma terapia de sucesso.
9. Repressão: Freud acreditava que os traumas e desejos inaceitáveis são reprimidos no inconsciente. A repressão é um dos principais mecanismos de defesa e ocorre quando o ego empurra pensamentos ou sentimentos indesejados para fora da consciência. Porém, essa repressão pode gerar sintomas neuróticos ou ansiedades que precisam ser analisados e resolvidos através da terapia​, explica o texto da Freud Museum London.

O impacto das ideias de Freud

Sigmund Freud teve um impacto profundo na história, influenciando não apenas a psicologia, mas também a cultura, filosofia, arte, e até mesmo os estudos literários e sociais:

1. Psicologia e psiquiatria: Freud é reconhecido como o fundador da psicanálise, reconhecida como a doutrina mais disseminada em estudos de psicologia moderna;
2. Cultura e artes: ele também influenciou profundamente as artes e a cultura popular. Seu trabalho sobre os sonhos, repressão e sexualidade impactou autores, dramaturgos e cineastas, como Salvador Dalí, Franz Kafka e Luis Buñuel. Muitos movimentos artísticos do século XX, como o surrealismo, se inspiraram diretamente em suas teorias;
3. Filosofia: filósofos influentes como Michel Foucault, Jacques Lacan e Herbert Marcuse​ são conhecidos por citar Freud constantemente;
4. Ciências sociais: os trabalhos de Freud sobre religião, como Totem e Tabu, e sobre a dinâmica familiar influenciaram debates sobre cultura, sociedade e comportamento humano. 
5. Popularização do inconsciente: A noção de que o inconsciente desempenha um papel crucial na vida humana se tornou um conceito amplamente aceito na cultura ocidental, mesmo fora dos círculos acadêmicos. Expressões como "lapsos freudianos" e "interpretação dos sonhos" entraram no vocabulário popular devido a suas obras e teorias.

O legado de Freud permanece complexo e controverso, mas seu impacto no pensamento ocidental é inegável.

Críticas a Freud

Alguns alunos renomados de Freud, como Allers, Jung e Adler tinham visões de mundo diferentes, mas seu pensamento sobre a psicologia de Freud convergia em um aspecto: para eles, o criador da psicanálise exagerou no papel da sexualidade na vida humana.

Cada um deles criou sua teoria, mas eles acreditavam que a sexualidade não é o motor principal da vida. Veja a crítica de cada um deles.

Rudolf Allers 

Rudolf Allers foi um importante psiquiatra e psicólogo austríaco que se destacou por sua crítica às teorias freudianas, especialmente no que diz respeito ao determinismo psicológico e ao papel central da sexualidade.

Inicialmente formado dentro do círculo da psicanálise, ele acabou se distanciando das ideias de Sigmund Freud, aproximando-se de uma visão mais filosófica e personalista do ser humano, o que o levou a criticar o enfoque mecanicista e reducionista da psicanálise freudiana.

Ele acreditava que a abordagem freudiana negligenciava a importância dos fatores éticos, espirituais e existenciais na formação da personalidade. 

Em vez de ver o comportamento humano como rigidamente determinado por forças inconscientes, Allers promovia uma visão mais holística, na qual a inteligência tinha a função principal.

Para ele, o ser humano compreende o mundo e assim orienta sua vontade em prol do bem, não do prazer. Sua teoria psicológica tinha como uma das principais bases a cosmovisão elaborada de Santo Tomás de Aquino.

Algumas de suas principais teorias e críticas a Freud podem ser encontradas no livro A Educação Sexual e Relações Humanas. 

Carl Jung

Para Jung, a psique era muito mais complexa e envolvia outras formas de energia psíquica que não se limitavam ao instinto sexual. Ele propôs a ideia de uma energia psíquica mais ampla, que incluía impulsos criativos, espirituais e culturais.

Uma das principais diferenças é a disputa entre:

Inconsciente Pessoal vs. Inconsciente Coletivo.

Freud analisava o inconsciente como foco na experiência pessoal, aos desejos reprimidos e conflitos internos. Jung ampliou esse conceito, introduzindo a ideia do inconsciente coletivo, uma camada mais profunda da mente que abrange memórias e arquétipos compartilhados por toda a humanidade. 

Esses arquétipos são padrões universais de comportamento e pensamento que se manifestam em mitos, religiões e sonhos, e não se limitam às experiências individuais reprimidas.

Outra diferenças é a:

Natureza Espiritual e Mítica da Psique.

Freud era cético em relação à espiritualidade e religião, considerando-as muitas vezes como neuroses coletivas e formas de repressão sexual. 

Jung, por outro lado, via a espiritualidade como um aspecto fundamental do desenvolvimento humano e da saúde psíquica. 

Ele acreditava que a jornada psicológica de um indivíduo envolvia uma busca por individuação, ou seja, o processo de integrar o consciente e o inconsciente, que muitas vezes passava por experiências de natureza espiritual e simbólica.

A divergência entre Freud e Jung não foi apenas teórica, mas também pessoal, com Jung sentindo que Freud era excessivamente dogmático em suas ideias.

Enquanto Freud via Jung como seu "herdeiro", as diferenças teóricas e filosóficas levaram a uma ruptura definitiva entre eles, com Jung fundando a psicologia analítica, em contraste com a psicanálise freudiana.

Alfred Adler

Adler argumentava que os impulsos sexuais não eram a única ou principal força motivadora dos seres humanos. Ele introduziu o conceito de "vontade de poder" (ou busca por superioridade), sugerindo que o principal motor psicológico humano era a luta por auto superação e status social, em vez de desejos sexuais reprimidos.

Outra crítica é a da Individualidade e contexto social: enquanto Freud focava nas forças inconscientes internas, Adler enfatizava a importância do contexto social e das interações interpessoais no desenvolvimento da personalidade. 

Para Adler, os seres humanos eram moldados pelas circunstâncias e metas sociais e culturais, e não apenas por impulsos biológicos inconscientes. Ele desenvolveu a psicologia individual, que colocava maior ênfase nas escolhas conscientes e no desejo de alcançar metas pessoais e sociais.

O discípulo de Freud também tinha divergências quanto um possível determinismo das teorias do mestre. Freud via a psique como fortemente determinada por forças inconscientes, enquanto Adler acreditava no livre arbítrio e na capacidade das pessoas de moldar suas próprias vidas. 

Ele afirmava que, embora as experiências da infância fossem importantes, os seres humanos não eram prisioneiros dessas experiências e podiam mudar ativamente seus destinos por meio de suas escolhas e decisões​

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