Há 100 anos, a primeira fase do modernismo brasileiro causava uma verdadeira revolução no país. Mais do que criar novos tipos de obras de arte, o movimento trouxe uma mudança social robusta que influenciou gerações. O pensamento da 1ª fase modernista ainda influencia o Brasil a ponto de determinar os rumos de grande parte da cultura.
A primeira fase do modernismo no Brasil teve seu início em 1922, estendendo-se até o ano de 1930. Também é chamada de fase heróica, porque seus membros foram os primeiros a abrir a revolução artístico-social no Brasil.
Seus principais autores, como Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, trouxeram ideias modernistas da Europa. Muitos dos primeiros modernistas estudaram artes nas principais academias da França.
O objetivo do movimento era romper com a tradição da cultura ocidental. Algumas das principais características de que o movimento buscava se desvincular eram:
Os artistas modernistas seguiam os rumos do movimento liberal, preconizado por intelectuais como Guilherme de Ockham, Martinho Lutero, Jean-Jacques Rousseau e muitos outros.
Segundo eles, os homens deveriam ser livres para seguir seus sentimentos, suas paixões, por isso passam a não mais usar a estética tradicional.
A arte clássica buscava delimitar as formas e apresentar os detalhes das diversas belezas existentes.
Os modernistas buscavam focar nos sentimentos e paixões. Por isso as suas obras não possuíam formas bem delimitadas. A intenção era que a obra se parecesse com um movimento interior, um sentimento que passa pelo apetite.
As obras literárias seguiam a mesma ideia. Exaltavam os desejos carnais, indo contra os valores da sociedade da época.
Uma dessas obras é o poema Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira, que diz:
"Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
[...]
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
[...]
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
[...]
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.”
Manuel Bandeira foi membro titular da Academia Brasileira de Letras. Até hoje suas obras influenciam os membros da ABL e de instituições acadêmicas e artísticas.
O movimento modernista promoveu seus ideais em cada uma das 7 artes.
Os artistas do movimento falavam abertamente sobre política, moral e outros temas não artísticos.
Grande parte dos principais modernistas filiaram-se ao partido comunista brasileiro. Alguns deles são Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e muitos outros.
Buscando expandir seu pensamento para todo o Brasil, os modernistas do início do século XX se organizaram e promoveram a famosa Semana da Arte Moderna, em São Paulo, no ano de 1922.
Considerada o principal marco da arte moderna no Brasil, a Semana de 22 foi a primeira a exibir em conjunto e sem pudor as obras da primeira fase do modernismo brasileiro.
Os principais organizadores do evento foram:
O pintor Di Cavalcanti, que também expôs suas obras no teatro, assim a descreveu:
“Seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista”.
As principais apresentações do evento foram:
O evento teve grande repercussão no Brasil, muitos criticaram os modernistas e seu estilo de arte. A principal crítica será exposta no último tópico.
A semana de arte moderna foi um importante combustível para a primeira fase modernista. Seus membros se tornaram mais ativos, criando revistas, novas obras e novas exposições.
Os artistas modernistas passaram a militar mais ativamente pelos seus valores e ideais políticos. Passaram a ocupar espaços importantes como cargos de professores acadêmicos e jornalistas de grandes empresas.
A adesão ao comunismo e a valores anti-tradicionais se tornava cada vez maior.
As principais características da primeira fase do modernismo são:
Os principais autores e obras da primeira fase do modernismo brasileiro são:
Oswald de Andrade — A Trilogia do Exílio: Os Condenados (1922), Manifesto Pau-Brasil (1924), Manifesto Antropófago (1928), Poesias Reunidas (1945);
Manuel Bandeira — A Cinza das Horas (1917), Libertinagem (1930);
Tarsila do Amaral — Abaporu (1928), Operários (1933), A Cuca (1924), A Negra (1923);
Anita Malfatti — A Boba (1916), O Homem Amarelo (1917), A Estudante (1916);
Mário de Andrade — Macunaíma (1928), Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917), O Movimento Modernista (1942).
A principal crítica à primeira fase do modernismo foi feita por Monteiro Lobato. O autor da obra O Sítio do Pica-Pau Amarelo possuía grande reconhecimento artístico em vida, difundindo sua crítica por todo o país.
Em sua coluna no jornal O Estado de São Paulo, em 1917, ele criticou especialmente as obras de Anita Malfatti. Sua fala teve tanta repercussão que Anita perdeu grande parte de seus compradores e deixou de pintar por 1 ano.
O argumento central da crítica feita por Monteiro Lobato condenava o aspecto disforme das obras modernistas, que transformavam a beleza da vida em tristeza e melancolia.
Ele afirmou que Anita Malfatti tem talento, mas obras daquele estilo não possuíam “nenhuma lógica, sendo mistificação pura”.
Os principais trechos da crítica são:
“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália.
[...]
A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro.
[...]
Embora eles se dêem como novos precursores duma arte a ir, nada é mais velho de que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação. De há muitos já que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios.
A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses;
Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor.
[...]
A fisionomia de que sai de uma destas exposições é das mais sugestivas. Nenhuma impressão de prazer, ou de beleza denuncia as caras; em todas, porém, se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso de si próprio e dos outros, incapaz de raciocinar, e muito desconfiado de que o mistificam habilmente.
[...]
Não fosse a profunda simpatia que nos inspira o formoso talento da Sr.ª Malfatti, não viríamos aqui com esta série de considerações desagradáveis [...]”.
Para ler a crítica completa de Monteiro Lobato, acesse o link.
Em defesa de Malfatti, os principais artistas da primeira fase se manifestaram na mídia da época.
Para consolidar o movimento, os artistas fundaram revistas e adaptaram suas obras para o novo momento histórico que estava surgindo, dando início a segunda fase do modernismo .
Comente e compartilhe. Quem você acha que vai gostar de ler sobre a primeira fase do modernismo?
A Brasil Paralelo é uma empresa independente. Conheça nossas produções gratuitas. Todas foram feitas para resgatar os bons valores, ideias e sentimentos no coração de todos os brasileiros.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP