“É como se a premissa cristã básica do livre arbítrio fosse negada, ou seja, já não tratamos os indivíduos, os cidadãos, como adultos responsáveis e cientes dos seus atos e capazes de escolher o rumo da própria vida; mas tratamos tais indivíduos como criancinhas indefesas”. Rodrigo Constantino
Para o escritor, jornalista e economista Rodrigo Constantino, a cultura do vitimismo está impregnada nas relações sociais e na consciência do brasileiro médio. Descubra o que é vitimismo e como se livrar dele.
O vitimismo é a postura de pensar ser vítima com frequência, um desvio psicológico que tira a responsabilidade de si e a transfere para outro - mesmo quando a culpa não é alheia.
Quem assume essa postura pensa com frequência que é injustiçado e só não está em uma situação melhor por causa dos outros.
É como um navio solto na tempestade, sendo empurrado pelas ondas e pelo vento, totalmente desgovernado e que nada pode fazer a respeito.
Para o vitimista, ele não é o agente das próprias ações nem da própria vida, mas apenas vítima passiva de um universo, de um governo, de uma sociedade, de um grupo ou de qualquer coisa que sempre contra ele conspira.
Segundo a definição do Dicionário Online Houaiss:
“Significado de Vitimismo:
Substantivo masculino
Sentimento de ser vítima; sensação de quem passa por algum tipo de opressão, maus-tratos, arbitrariedades, discriminação etc.
[Por Extensão] Percepção de quem tem sempre esse sentimento sobre o que lhe acontece.
[Pejorativo] Tendência a se vitimizar, a se fazer de vítima: país que não se responsabiliza por seus erros fica estagnado no seu próprio vitimismo.
Etimologia (origem da palavra vitimismo). A palavra vitimismo deriva da junção de vítima, e do sufixo -ismo.
Sinônimos de Vitimismo
Vitimismo é sinônimo de: coitadismo, autopiedade”.
Do ponto de vista psicológico, o vitimista procura sempre terceirizar a culpa de tudo, isenta-se de qualquer responsabilidade diante de tudo que lhe ocorre. Sua vida é sempre narrada a partir do ponto de vista do que os outros fizeram ou que a circunstância permitiu.
Um exemplo disso é a pessoa que, ao ser reprovada na prova, alega que “o professor que quis me reprovar”.
Não foi ele que estudou pouco ou não se dedicou, é um agente externo que lhe quer prejudicar e deixar para baixo que sempre atua.
Outro caso é a pessoa que não conseguiu a vaga de emprego e, ao invés de reconhecer a superioridade de outro candidato, culpa o entrevistador que o não deixou confortável, seu curso que não lhe preparou adequadamente, a melhor condição financeira do adversário que era uma vantagem clara.
Tudo é culpa alheia, e as consequências dessa postura são várias.
O vitimista foge da responsabilidade de ser autor de sua própria história. O constante padecimento e o prazer que ele nisso adquire, impedem-no de desenvolver uma personalidade forte e madura.
A história do vitimista é sempre contada desde o ponto de vista de alguém que sofre constantemente. Os padecimentos são constantes.
A pessoa se torna um pobre coitado, um injustiçado, que carrega remorso e rancor pelos sofrimentos constantes que a vida e as pessoas lhe impõem.
Completamente estagnado, é incapaz de reagir e tirar-se desta posição. O vitimista vive em plena letargia e inação.
Essa postura defensiva e introvertida é sinal claro de fraqueza, pois empobrece os sentidos e enfraquece a alma.
Quando se assume o papel de vítima, perde-se a capacidade de reação. Na maioria das vezes, a percepção leva o sujeito a acreditar que a vida foi injusta — como se ela lhe devesse algo —, as suas forças vão sendo minadas e acaba desistindo.
Ao isentar-se da responsabilidade, o vitimista vive como se a vida lhe não pertencesse, terceirizando culpas e abdicando da capacidade de tomar nas mãos a matéria daquilo que lhe acontece e, com ela, forjar sua história concreta.
Deixa, assim, de construir sua própria personalidade, a única coisa que lhe pode dar força no mundo, e por isso sente-se cada vez mais fraco e incapaz.
A responsabilidade, para quem padece do vitimismo, nunca é dele.
Por fim, o vitimista é uma pessoa extremamente egocêntrica, vive falando de seus infortúnios, das injustiças de que é acometido e busca com isso chamar a atenção.
Em geral, vivem falando de si, lamentando e reclamando, o que leva ao afastamento das pessoas.
Para amadurecer, é preciso parar com o vitimismo, parar de colocar-se passivamente nas circunstâncias. O problema é que, hoje em dia, a sociedade estimula essa postura.
A sociedade e o mundo hoje impõem um discurso vitimista, como se nada fosse culpa da pessoa, como se as coisas simplesmente acontecessem com ela, e tudo isso é um grande infortúnio.
Essa cultura é estimulada porque a transferência da responsabilidade gera um breve conforto psicológico.
Transfere-se a culpa para o outro, para a sociedade, para a mãe, para o pai, para o professor, porque é muito mais confortável colocar a culpa no outro.
Não encarar os próprios defeitos e falhas gera uma aceitação das coisas como estão, impedindo o desejo de mudança e evitando o desconforto que isto pode causar.
Para o jornalista e escritor Rodrigo Constantino:
“Sem dúvida alguma essa mentalidade que trata o indivíduo como uma vítimazinha, pobrezinho, que é alvo de injustiças de todo lado, dos ricos, do patrão, da sociedade, que é uma abstração; isso sem dúvida nenhuma está presente no Brasil desde sempre”.
E como identificar uma postura vitimista? Basta observar se há uma transferência da culpa, dos insucessos e dificuldades a um amigo, ao governo, aos políticos, a Deus, ou a uma circunstância qualquer.
E como fugir do vitimismo?
Para virar a chave é preciso passar a assumir a responsabilidade de tudo que acontece na vida. Não terceirizar as culpas e nem continuar alimentando pensamentos de que “só comigo coisas ruins acontecem” ou que “o universo contra mim conspira”. Agindo assim, o máximo que poderá atrair é pena, quando não raiva ou antipatia.
Quais sinais demonstram que alguém é vitimista?
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