“O ponto de partida para a resolução do problema das relações entre poesia e filosofia está na seguinte observação: a participação do povo nas impressões do poeta, ou de qualquer outro artista, não é direta e física: é imaginativa.
Não nos apaixonamos por Beatriz, que nunca vimos, mas por seu análogo que o poeta imaginou em palavras” (Olavo de Carvalho).
As artes poéticas e a poética aplicada na arte permitem ao admirador adquirir experiências de vida necessárias para a sua própria biografia. Elas também garantem maior conhecimento da realidade e ainda geram grande deleite e divertimento, conforme observou Aristóteles.
Poética é um ramo da Filosofia que busca analisar a qualidade das obras de arte de acordo com o conceito e objetivo de cada uma das sete artes. Busca, também, explicar o propósito das artes narrativas, que hoje em dia pode-se dizer que estão entre literatura e poesia.
A poética é uma investigação filosófica sobre o que é uma boa poesia e uma boa literatura segundo seu gênero.
Para Aristóteles, o objetivo central de todas as artes é alcançar a Beleza.
Aristóteles, um dos principais e primeiros organizadores da poética, afirmou em seu livro — de igual nome ao dessa disciplina — que a arte imita a realidade, a vida.
O ser humano não consegue criar algo a partir do zero, necessita receber previamente a base do que quer desenvolver, seja uma matéria prima ou um conhecimento.
O bebê aprende a falar imitando os pais, o cientista aprende imitando experiências prévias e desenvolvendo-as a partir de dados e matérias fornecidas pela realidade.
Dessa maneira, as artes poéticas imitam aspectos diversos da realidade em suas histórias, através da visão e qualidade únicas de cada artista.
Devido a grandeza e complexidade da realidade, diversos são os ramos da ciência, bem como os da arte.
Existem mais do que sete gêneros artísticos, e cada gênero de arte possui suas ramificações, seus aprofundamentos.
Por causa da profundidade da vida humana e a incapacidade de observar tudo ao mesmo tempo, a percepção humana deve focar em uma coisa de cada vez.
Ao olhar o corpo humano, não é possível estudá-lo totalmente de uma vez, mas é necessário em um momento conhecer como funciona sua química, depois a biologia e depois a física.
O mesmo se dá com as artes.
Pela incapacidade de expor todas as nuances da vida de uma só vez, é necessário que existam histórias de comédia, histórias de suspense, histórias de romance e assim por diante.
Assim, Aristóteles tratou sobre as seguintes espécies da arte poética:
O filósofo destaca 3 aspectos presentes na poética das artes narrativas:
Cada um dos gêneros trata esses fatores de modo diferente.
A conduta e posição dos personagens define a categoria da história.
Três são os tipos de personagens que podem ser retratados (em conjunto ou separados), segundo Aristóteles:
Cada tipo de narrativa tem o foco em um desses personagens.
A comédia foca no homem comum e na sua vida. A epopeia foca nos homens superiores e a tragédia nos inferiores.
Para além dos personagens imitados, as artes estudadas pela poética tocam em outro aspecto fundamental da vida humana...
Aristóteles afirmou que as artes narrativas permitem extravasar emoções.
Chorar e socar uma parede podem aliviar um sentimento, fazer a emoção passar. As artes narrativas também podem ter esse efeito.
Ao assistir um espetáculo no qual o herói injustiçado consegue a beatitude ou o casal enamorado consegue viver seu romance, o espectador pode se sentir bem, mesmo que experimente o contrário em sua vida.
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Aristóteles também afirmava que as obras de arte permitem ao espectador sentir emoções negativas importantes.
Essas emoções podem trazer uma importante lição para alguma determinada ocasião. Podem, também, ensinar o espectador a evitar certas situações.
Caso essas emoções fossem vividas em situações pessoais ou concretas, a pessoa sofreria muito dano.
E tudo isso acontece devido ao terceiro fator elencado pelo filósofo grego:
As artes narrativas, como o teatro, a poesia e a literatura, são um dos principais entretenimentos da humanidade desde os tempos mais longínquos.
As pessoas se entretêm seja por meio de tragédias ou comédias.
Existe um motivo pelo qual as artes narrativas são tão importantes para as pessoas: a substância da vida humana é a própria narrativa.
Ao falar quem é uma pessoa, conta-se a sua história de vida, sua narrativa. O que define essa pessoa são as suas atitudes ao longo de sua própria história.
Para contar quem foi São Pedro, fala-se sobre qual era sua profissão, como foi sua conversão, o que ele fez como apóstolo e quais encargos recebeu em vida. Ou seja, a essência da vida de São Pedro é sua história, bem como a de qualquer outra pessoa.
As artes narrativas entram em contato com o centro da vida humana.
Elas conseguem manifestar histórias pessoais, estilos de vida, grandes momentos históricos e características da vida humana com toda a psicologia que envolve essas realidades.
Assim, a proximidade com histórias leva o ser humano a apreciar e se divertir muito com os diversos gêneros das artes poéticas.
A comédia, na perspectiva medieval, é uma história que começa mal e termina bem.
Não se entenda comédia no sentido de dar risadas, mas um conceito de enredo que possui um final feliz.
A divina comédia exemplifica bem esse estilo de arte.
No consagrado poema de Dante Alighieri, o protagonista, após perder sua amada, visita os abismos do Inferno para depois alcançar a glória do Paraíso.
Nas comédias, os personagens lutam para alcançar o triunfo final. É um movimento de ascensão, ao contrário das tragédias.
Porém, segundo Aristóteles e os gregos clássicos, a comédia possui o mesmo sentido dos dias de hoje.
Em sua obra Poética (cap. V, 1149a, 32), o filósofo a define como:
"[...] imitação de homens inferiores; não, todavia, quanto a toda a espécie de vícios, mas só quanto àquela parte do torpe que é o ridículo. O ridículo é apenas certo defeito, torpeza anódina e inocente; que bem o demonstra, por exemplo, a máscara cômica, que, sendo feia e disforme, não tem [expressão de] dor".
Assim eram as principais comédias do berço dos teatros. Algumas dessas obras são:
A comédia, no sentido moderno e clássico, exibe pessoas e situações ridículas. As histórias de comédia quebram o pensamento lógico, e é justamente nesse momento que acontece a risada.
As piadas exemplificam essa realidade.
É devido aos homens serem os únicos animais dotados de razão que não há risada por parte de outros animais.
As comédias agradam ao homem pois trazem leveza à vida. Mostram que o ser humano é falho e não pode levar-se muito a sério.
Elas mostram que não é necessário carregar o peso do mundo nas costas, já que o homem não consegue pensar corretamente o tempo todo, muito menos cuidar de tudo ao seu redor.
A tragédia é uma história onde um personagem de ótimo caráter sofre maldades terríveis. Segundo Aristóteles, essas histórias devem gerar terror e piedade no espectador. Para o filósofo, o objetivo dessas histórias é purificar estas emoções do espectador.
Após presenciar uma história tão triste, a pessoa experimenta o mal, o que deve gerar uma busca ao máximo para evitá-lo.
Para isso, é necessário treinar as emoções para buscar o bem, objetivo de todas as ações humanas.
Assim, o autor da Poética categoriza a tragédia como o principal gênero narrativo, por ser o que mais toca o espectador.
Nesse caso, há mais chance de o apreciador da obra ter suas emoções e intenções purificadas.
A Antígona, de um dos principais taumaturgos da Grécia clássica, Sófocles, demonstra a força das tragédias:
"Ismênia — Pobres de nós! Lembra, minha irmã, como nosso pai foi aniquilado pelo ódio e pelo opróbrio, quando, revelados seus próprios crimes, mutilou os olhos com as próprias mãos! E também sua mãe e esposa, duas mulheres em uma só, que acabou com a própria vida em uma corda ignominiosa!
[...] pensa no fim ainda mais terrível que nos espera se contrariarmos o decreto e afrontarmos o poder de nosso rei! Convém também lembrar que somos mulheres e não temos poder algum e estamos submetidas aos mais poderosos. Por isso, somos obrigadas a obedecer a suas ordens, por mais que nos contrariem. Por mim, não tendo como resistir aos poderosos, peço perdão a nossos mortos: acatarei a ordem do rei.
Antígona – Está bem. Não insistirei mais; e ainda que depois mudes tua decisão, já não terá valor algum. Faça o que quiseres, obedece a teus senhores. Eu sepultarei meu irmão! Será um digno fim, se eu morrer em seguida ao cumprimento desse dever.
Sempre, em vida, muito nos quisemos… com ele repousarei no túmulo… com alguém a quem amava; e um dia, meu crime de hoje será louvado, pois terei muito mais a quem agradar no reino das sombras do que entre os vivos…
Hei de jazer sob a terra eternamente!… E tu, irmã, se isso te apraz, és livre para ficar com os vivos, desonrar os mortos e desprezar as leis divinas”.
Alguns dos principais autores e obras de tragédias da Antiguidade são:
A epopéia é uma história de feitos heróicos que apresenta os personagens principais lutando em direção ao bem e a vitória de seu povo. Segundo Aristóteles, demonstra os feitos dos homens superiores.
As epopeias tocam o coração humano devido ao fato de a vida humana ser uma luta pelo bem. Mesmo que em menor escala com relação a histórias épicas, cada pessoa vive uma eterna batalha contra suas más inclinações, sempre visando o bem.
Os Lusíadas, obra do português Luiz Vaz de Camões, demonstra o que é uma epopeia ao narrar a heróica jornada dos marinheiros lusitanos.
Os portugueses percorrem um caminho nunca antes navegado na história, alcançando grandes feitos à Fé Católica e à nação portuguesa.
Camões eterniza a jornada:
“Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta”.
Alguns dos principais autores e das principais epopeias são:
A poesia lírica surgiu na Grécia antiga. Trata-se de um poema cantado que era acompanhado de um fundo musical, normalmente a flauta ou a lira (donde o nome do gênero). A maioria das músicas modernas pode ser chamada de poesia lírica.
Aristóteles também tratava a música como arte poética, até mesmo as músicas sem declamação ou canto. Segundo o filósofo, elas também possuem um aspecto narrativo que busca a Beleza.
O documentário, A Primeira Arte, demonstra como a música grega e a música erudita, mesmo sem uma declamação de voz humana, contam uma história e buscam a Beleza.
Assim, para Aristóteles, o que determina a qualidade de cada obra é o atingir ou não o objetivo do ramo da poética que ela se enquadra.
O movimento modernista, surgido no século XX, diverge da filosofia estética clássica de Aristóteles e seus discípulos. Este movimento trouxe uma definição diferente de poética.
Segundo os modernistas, a poética na arte é apenas o sentimento subjetivo do artista empregado em sua obra.
Não existe uma busca pela Beleza ou por objetivos claros.
Existe apenas a expressão única de cada indivíduo, que não busca chegar a nenhum fim, mas apenas sentir emoções.
Alguns dos artistas e pensadores modernistas são Frida Kahlo, Tarsila do Amaral e Marcel Duchamp.
A obra Fonte, de Marcel Duchamp, é um dos principais exemplos de poética no sentido moderno:
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