As ideologias marcaram o século XX. Essas teorias foram utilizadas para a formação de organizações artísticas famosas, partidos políticos, governos e justificar guerras sanguinárias, o que gerou por volta de 187 milhões de mortes no século XX. Entenda quais são as visões filosóficas — e até mesmo religiosas — por trás do que é ideologia.
Etimologicamente, ideologia significa o estudo de algum protótipo ideal. Seu conceito filosófico e político é bem parecido com a origem linguística, designando um conjunto de ideias que propõe uma sociedade ideal.
As ideologias podem não ser consideradas visões de mundo. Isso é assim porque grande parte dos ideólogos propõe transformações sociais ao invés de uma teoria que tente explicar a realidade. Segundo Karl Marx:
“Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo” (frase de Karl Marx em Teses Sobre Fuerbach).
O termo foi consagrado nas ciências humanas a partir do século XIX, com a teoria de um pensador francês, Destutt de Tracy.
Os principais e primeiros ideólogos foram:
Cada um desses pensadores teve muitos seguidores que desenvolveram outras teorias, baseadas nas suas principais premissas.
Segundo esses pensadores, ideologia é um conjunto de teorias e doutrinas orientadas para promover ações sociais e políticas.
O criador do termo, Destutt de Tracy, buscava criar uma ciência que abarcasse e superasse todas as ciências humanas. Seu desejo era conhecer a origem de todas as ideias, que entendesse o sentido de todas as cosmovisões já existentes.
Destutt afirmavam que a sua ideologia estaria no “topo da hierarquia das ideias, uma vez que todas as outras ciências sempre partiam de ideias preconcebidas”.
As ideias de Tracy surgiram no contexto do Iluminismo, por isso a crença de que a razão humana iria alcançar o conhecimento de todas as ideias e transformá-las em conceitos sensíveis.
Ao longo do tempo o conceito de ideologia passou por transformações, mas o objetivo das ideologias permanece semelhante.
O objetivo de uma ideologia é transformar a realidade de acordo com seus princípios, visando alcançar um mundo perfeito, de felicidade na vida terrena.
Destutt de Tracy alcançou o posto de Conselheiro de Instrução Pública da França, divulgando no país sua criação. Suas ideias espalharam-se pela Europa, ajudando a gerar correntes sociais e políticas da modernidade, como o positivismo e alguns segmentos do liberalismo.
Karl Marx, embora seja comumente denominado como o criador da ideologia comunista, era contrário ao termo e a teoria de seu criador. Marilena Chauí, filósofa marxista, explica em seu livro "O que é ideologia" a visão de Marx sobre o assunto. Segundo ela, resumindo a visão de Marx:
"Mascaramento da realidade social que permite a legitimação da exploração e da dominação. Por intermédio dela, tomamos o falso por verdadeiro, o injusto por justo".
Marx acreditava que a burguesia criava ideias ilusórias, como a religião, para enganar as outras classes e conseguir dominá-las mais facilmente. Ele chamava as supostas ideias falsas da burguesia de ideologia.
Contudo, as características das teorias de Marx são semelhantes as da ideologia de Destutt, especialmente devido as influências iluministas nas obras de ambos.
As principais características de uma ideologia são:
Como a etimologia da palavra já diz, as ideologias afirmam ter a resposta perfeita para qualquer tipo de problema humano.
Os criadores de ideologias buscam desenvolver planos para a criação de uma sociedade perfeita.
O próprio Auguste Comte, considerado por muitos acadêmicos como o pai da sociologia, afirmou o seguinte em seu livro Discurso Preliminar sobre o Espírito Positivo:
“O espírito humano renuncia de ora em diante às pesquisas absolutas, que só convinham à sua infância, e circunscreve os seus esforços ao domínio desde então rapidamente progressivo da verdadeira observação [da matéria, das coisas relativas], única base possível dos conhecimentos realmente acessíveis, criteriosamente adaptados às nossas necessidades efetivas”.
Segundo Comte, o conhecimento humano consegue compreender toda a realidade, chegando a estabelecer um projeto de uma civilização perfeita. Ele afirmava que seu sistema havia desvendado todos os recônditos da realidade.
Sua ideologia positivista fez uma previsão da nova fase da humanidade. Segundo ele, as religiões seriam superadas, a moral tradicional do Ocidente também, sendo erguida uma sociedade totalmente pautada na ciência e no materialismo. Essa sua ideologia é a base de sua sociologia.
Essa visão faz com que os ideólogos observem a realidade a partir do que pensaram, fechando-se a tudo o que a realidade apresenta e que está fora da sua linha de pensamento.
A previsão de Comte não se concretizou. Os países ocidentais, especialmente todos do continente americano, possuem a maioria da população com alguma crença religiosa.
Segundo pesquisa do Fórum PEW, apenas 16% da população mundial não professa nenhuma religião.
Karl Marx também realizou o mesmo processo reducionista em sua ideologia. Em suas teses, o autor alemão afirmou que inevitavelmente a revolução comunista seria realizada em países industrializados.
Porém, na realidade, aconteceu exatamente o oposto. O único país que fez uma revolução comunista contundente foi a Rússia, um país nada industrializado, cujo sistema marxista caiu após entrar em colapso interno.
As ideologias só criam protótipos de civilizações perfeitas porque seus autores acreditam que entendem toda a realidade, ou a maior parte dela.
Contudo, até mesmo nas ciências empíricas existem poucas certezas. Um exemplo é a estrutura base do ser humano: o DNA.
O DNA são moléculas orgânicas que estruturam o corpo humano em nível biológico. Estima-se que existam 100 mil proteínas que o formam. De todas essas possibilidades, o homem apenas conseguiu catalogar 7 mil.
As outras 93 mil são possibilidades desconhecidas.
Ainda falta conhecimento básico sobre a base do homem.
Uma vez que a sociedade perfeita pode ser formada, o governo ideológico se vê no direito de eliminar aqueles que atrapalhem tamanho bem aparente, já que não existe uma punição além da terrena.
Os governos comunistas do mundo contemporâneo ainda seguem essa ideia de Karl Marx.
Os ideólogos acreditam que conseguem gerar uma civilização perfeita na Terra com seus próprios esforços.
Era o que afirmavam alguns dos principais líderes de ideologias do século XX, como Hitler, Mussolini, Stalin, Lenin e outros.
Já a maioria das religiões acreditam que a vida perfeita está para além deste mundo, afirmando que o homem não tem uma tal possibilidade devido a sua tendência ao mal.
Este conflito de ideias levou à proibição da religião em países onde as ideologias triunfaram.
A União Soviética, por exemplo, proibiu qualquer tipo de manifestação religiosa em seu território por 70 anos.
Aproximadamente, cerca de 12 a 20 milhões de cristãos foram perseguidos violentamente pela URSS, segundo o estudo Psychology, Religion, and Spirituality, do autor James M. Nelson. Springer Science & Business Media, 2009, pág. 427.
O cientista político, Russel Kirk, denomina as ideologias como religiões imanentistas. Segundo ele, o funcionamento de uma ideologia é igual ao de uma religião, mas com um objetivo totalmente terreno.
Ele dá o exemplo do comunismo.
Para os comunistas, após viver a doutrina marxista e conseguir a conversão de um número de pessoas adequado, a revolução seria feita e o paraíso seria atingido.
A luta comunista é uma busca pelo paraíso futuro.
Contudo, as ideologias rechaçam a metafísica; todos os seus meios são materiais; e a felicidade perfeita será no mundo terreno, físico.
Ao observar fenômenos como as religiões antigas e as ideologias modernas, o antropólogo consagrado, Mircea Eliade, afirmou que o fenômeno religioso é universal e inerente ao ser humano.
Entender o oposto do que é ideologia pode auxiliar na melhor compreensão de seu conceito.
O oposto de uma ideologia pode ser compreendido como a observação da realidade. Essa observação gera a construção de teorias e a descoberta de postulados, mas que não esgotam toda a existência.
O pensamento de Santo Tomás de Aquino e de Aristóteles são antagonistas das ideologias.
Segundo os dois filósofos, a verdade é a adequação do intelecto à realidade. Para eles, o Bem Supremo criou o mundo e com uma sabedoria tão grande, que os homens passarão a eternidade descobrindo novos bens.
Estes filósofos aceitam realidades imutáveis, mas, segundo eles, tais realidades sempre apresentam novos fatores e tantas nuances, que o homem as não consegue absorver por inteiro, mesmo com gerações de estudos.
Para os ideólogos, a verdade é a adequação da realidade aos seus pensamentos.
Para conhecer exemplos de ideologias atuantes nos dias de hoje, os seguintes artigos elucidam seus conceitos e seus objetivos:
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