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O que é Desigualdade Social? Entenda a origem do termo e a análise política dela no Brasil

Sociologia
Sociedade
Política
Desigualdade Social no Brasil e no mundo
Redação Brasil Paralelo

O índice de Gini é um dos mais importantes para medir o nível de desigualdade social de um país ou região. Em 2020, o Brasil foi avaliado com o coeficiente de Gini em 0,489 segundo o Banco Mundial.

O índice varia de 0 (menos desigual) a 1 (mais desigual). Isso coloca o Brasil como o segundo país mais desigual do G20 e embasa a defesa de alguns economistas que este é um dos maiores problemas sociais do país.

Por outro lado, outros estudiosos afirmam que mais importante do que a desigualdade social, é o nível da pobreza. Para analisar esses dois argumentos e entender de fato a situação do Brasil, é preciso entender realmente o que é desigualdade social.

O que você vai encontrar neste artigo?

O que é Desigualdade Social?

A desigualdade social refere-se à diferença de renda e acesso às oportunidades entre os ricos e os pobres de um país ou região. Ela é definida a partir de dados socioeconômicos, aqueles que levam em consideração questões sociais e econômicas como: qualidade de vida, renda per capita e força de consumo.

Em países subdesenvolvidos o índice de desigualdade econômica tende a ser maior. Isso ocorre pois as classes mais baixas não conseguem ter acesso ao mínimo necessário para se desenvolverem profissionalmente e conquistarem melhores condições financeiras.

O principal índice que mede a desigualdade econômica é o índice de Gini. Ele é utilizado globalmente para mapear a situação da desigualdade social.

O que é Índice de Gini?

O coeficiente de Gini, ou índice de Gini, é um cálculo criado por Conrado Gini em 1912 para medir o nível de desigualdade social de um país. O índice varia de 0 até 1, sendo que quanto mais próximo de 1, mais desigual é a nação.

Normalmente, o gráfico compara o rendimento econômico dos 20% mais ricos com os 20% mais pobres. Países em desenvolvimento ou subdesenvolvido tendem a ter um nível de desigualdade social maior.

Um exemplo é a comparação entre Brasil e Dinamarca. O Brasil é o 17º país mais desigual do mundo segundo o índice Gini de 2020. Entre 0 e 1, seu gini está em 0,489. Já a Dinamarca é o 14º país menos desigual do mundo segundo o índice Gini de 2019. Entre 0 e 1, seu gini está em 0,277.

Existem diferentes interpretações para o que significa um país ter tanta desigualdade social como o Brasil e quais as consequências disso.

Causas da Desigualdade Social no Brasil

A formação do Brasil envolveu atos heroicos como a coragem das Grandes Navegações, a ambição da propagação da fé cristã. Como em toda nação, houve erros e acertos. Algumas opções dos portugueses atrasaram socialmente o país.

Para colonizar o Brasil, os portugueses adotaram o modelo das Capitanias Hereditárias. Elas eram grandes faixas territoriais administradas por homens chamados de capitães donatários.

Algumas dessas faixas territoriais eram maiores do que o próprio Portugal. Esse método trouxe benefícios, como fazer com que as riquezas produzidas no Brasil ficassem no território nacional, mas isso acabou gerando uma concentração de terra muito grande nas mãos de poucas pessoas.

Para a historiadora Thaís Cristina Innocentini, em seu artigo Capitanias Hereditárias: Herança colonial sobre desigualdade e instituições, uma das principais desigualdades sociais que se perpetuou no Brasil foi gerada neste momento.

Outro ponto importante da História do Brasil é a escravidão. Ela foi o que forneceu a mão de obra para o processo produtivo da colônia e do império.

Essas pessoas tinham longas jornadas de trabalho e, tirando o caso dos escravos de ganho, não recebiam por isso. Eram consideradas posses de outras pessoas e não tinham renda.

Os primeiros escravos no Brasil vieram dos povos indígenas e africanos. Isso acabou levando parte relevante de seus descendentes às classes sociais mais baixas. Além do que, o estigma colocado em cima desses povos causou um problema que dura até os dias de hoje, o racismo.

Na virada do Império para a República, o Brasil recebeu uma quantidade muito grande de imigrantes da Europa. O governo fazia propagandas vendendo um país dos sonhos no exterior.

Chegando em território brasileiro, essas pessoas acabavam tendo que lidar com péssimas condições de trabalho e baixa renda. Com essa quebra de expectativas ao se depararem com uma realidade muito difícil, muitos tiveram problemas sérios econômicos e deram mais volume à massa de pessoas pobres no Brasil, aumentando o baixo desenvolvimento humano do país.

Enquanto isso, durante todos esses anos de história brasileira, o Brasil andou de maneira distanciada da modernização do resto do mundo. Um plano efetivo de industrialização só foi aparecer no governo de Dom Pedro II, ampliado na Primeira República e consolidado na Era Vargas.

Em comparação às grandes potências como Inglaterra, EUA e França, o Brasil era industrialmente muito atrasado. A sua economia dependia substancialmente do setor rural.

  • A História do Brasil vai muito além dos problemas que contribuíram para a desigualdade social. Clique no link e conheça a história brasileira.

Além dessa economia que dependia de apenas um setor controlada por poucas pessoas e com grandes grupos marginalizados, o brasileiro desenvolveu uma cultura de acreditar que o grande solucionador dos problemas sociais e econômicos é o Estado.

Nos dias atuais é possível mapear esse pensamento do Estado como o motor da sociedade no brasileiro.

Segundo a pesquisa “Nós e as Desigualdades”, da OXFAM Brasil e Datafolha feita em 2022, 96% das pessoas acreditam que é papel do Estado é promover justiça social, sendo o problema da desigualdade social um dos principais a serem solucionados.

Em seu livro “Por que o Brasil é um País Atrasado?”, o professor de ciência política e deputado, Luiz Philippe de Orléans e Bragança defende que essa crença no Estado como resolvedor dos problemas é uma das principais causas do atraso da economia brasileira.

O Estado interferindo na economia, acaba privilegiando os grandes empresários que se aliam a determinados políticos e prejudicam os pequenos empreendedores com impostos abusivos, diminuindo sua renda e poder de compra. Para ele, isso gera mais pobreza e atrapalha a justiça social, que é o real problema do Brasil, não a desigualdade em si. Ele escreveu a seguinte tese em seu livro:

Chomsky argumenta que num contexto de desigualdade social extrema, o sistema político pode entrar em colapso. Como vimos, isso é mera especulação — portanto, não verificável por experimento. O que se pode afirmar, isso sim, é que uma sociedade livre e politicamente madura, com uma economia de mercado que garante a todos a possibilidade de ascensão social, é capaz de gerar riqueza, reduzir a pobreza e manter um sistema político estável independentemente das medições de desigualdade social.”

Essa tese vai totalmente de encontro a do livro “Projeto Nacional” do professor de direito e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes. O autor defende que o Brasil só passou a ter de fato um desenvolvimento econômico a partir do momento em que o Estado de fato liderou a economia, o que ele sinaliza como tendo ocorrido na Era Vargas.

Para ele, essa mentalidade do brasileiro de querer mais Estado para resolver seu problema é uma percepção acertada do povo entendendo o que de fato funciona para combater a pobreza e a desigualdade social no país. Ele escreveu o seguinte trecho em seu livro:

Nada substitui um projeto nacional, e por sua natureza o mercado não pode oferecer a gestão e a coordenação deste. É o Estado que tem que organizar as forças políticas, econômicas e acadêmicas, criando as condições de investimento e trabalho para superar os gargalos da economia em direção a metas. Deve fazer isso contando com uma academia ocupada em encontrar as respostas tecnológicas aos problemas de desenvolvimento.”

Com essas duas visões de mundo, é possível perceber que não há um consenso das causas da desigualdade no país. Muitos intelectuais também compartilham da linha do Luiz Bragança de que o problema real não é a desigualdade, ou seja, a diferença entre o rico e o pobre, mas sim a pobreza.

Era o caso do cientista político, Bruno Garschagen, que acabou alterando um pouco a sua visão. Assista a resposta dele quando o entrevistador traz a polêmica em torno deste conceito:

Consequências da Desigualdade Social

Segundo a obra O nível: Por que uma sociedade mais igualitária é melhor para todos, os autores afirmam que sociedades com maior nível de desigualdade social têm piores índices de saúde e felicidade.

De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, fornecidos em dezembro de 2022, a população em situação de rua superou 281,4 mil pessoas. Isso comprova que houve um crescimento de 38% de pessoas nestas condições no Brasil durante a pandemia.

A partir dos critérios do Banco Mundial, e baseado nos dados fornecidos pelo IBGE, é possível concluir que 52 milhões de pessoas no Brasil estão em situação de pobreza, desse número, 13 milhões estão em situação de extrema pobreza.

A desigualdade social entendida como a existência de uma camada de pessoas pobres que não possuem acesso ao básico para viverem, gera pesadas consequências ao país. Além da fome e dos problemas psicológicos, essas pessoas estão mais suscetíveis às drogas e violência.

Esse ciclo vicioso faz com que a parcela pobre do Brasil tenda a permanecer na mesma situação econômica ou até piorar.

Existe uma linha intelectual que tenta fazer uma relação direta entre pobreza e criminalidade, e outra que defende que não existe essa relação direta e as causas da criminalidade têm relação com outros fatores.

Pobreza causa violência?

A crença de que a pobreza, ou a desigualdade social, é um fator relevante para o aumento da violência não é uma unanimidade dos estudiosos. Existem especialistas com respostas diferentes para essa pergunta.

Um exemplo é Theodore Dalrymple, pseudônimo usado pelo médico psiquiatra Anthony Daniels que trabalhou mais de 30 anos em presídios. Ele defende a tese de que a pobreza não tem essa relação direta com a criminalidade. Em 100 anos a Inglaterra passou por um enriquecimento considerável, ao mesmo tempo que viu a criminalidade crescer.

Essa tese também é defendida por Pery Shikida, especialista em economia do crime, que afirma que falar que pobreza causa violência é uma falácia.

Em contraposição a esses autores, a economista da FGV, Sônia Rocha, afirma que o que gera a violência não é a pobreza, mas sim a desigualdade:

Não é pobreza [a causa da violência]. É a ruptura do tecido social, a falta de estrutura das famílias, a desigualdade e os conflitos.”

As opiniões e análises são muitas, mas o fato é um: em 2017, 64 mil pessoas foram assassinadas no Brasil. Isso equivale a um estádio de futebol lotado.

Todo brasileiro que vive em alguma cidade grande vive com medo. O crime destrói a qualidade de vida das pessoas e gera pesados prejuízos econômicos.

Diante desse cenário, a Brasil Paralelo fez uma investigação completa sobre as raízes da criminalidade no Brasil.

O documentário Entre Lobos possui gravações em alta qualidade por todo o Brasil e entrevistas com os maiores especialistas do tema.

Esse é o maior documentário já feito sobre o maior problema do Brasil. Clique no link e veja como assistir.

Quais os países menos desiguais do mundo?

Os 10 países menos desiguais do mundo, de acordo com o índice Gini fornecido pelo Banco Mundial, são:

  1. Eslováquia;
  2. Belarus;
  3. Eslovênia;
  4. Armênia;
  5. Tchéquia;
  6. Ucrânia (dados de 2020, antes da Guerra);
  7. Moldávia;
  8. Emirados Árabes Unidos;
  9. Islândia;
  10. Azerbaijão.

Quais os países mais desiguais do mundo?

Os 10 países mais desiguais do mundo, de acordo com o índice Gini fornecido pelo Banco Mundial, são:

  1. África do Sul;
  2. Namíbia;
  3. Suriname;
  4. Zâmbia;
  5. República Centro-Africana;
  6. Essuatíni;
  7. Colômbia;
  8. Moçambique;
  9. Belize;
  10. Botsuana.

A economia tem alguma relação com a felicidade? Essa foi a tese de um economista que chegou a ganhar um prêmio Nobel, Theodore Schultz. Clique no link e entenda essa teoria.

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