“O conservador pensa na política como um meio de preservar a ordem, a justiça e a liberdade. O ideólogo, pelo contrário, pensa na política como um instrumento revolucionário para transformar a sociedade e até mesmo transformar a natureza humana. Na sua marcha em direção à Utopia, o ideólogo é impiedoso.”. As palavras de Russell Kirk, teórico político americano, podem ser usadas para explicar o que é conservadorismo.
Alguns consideram que ser chamado de conservador é ofensa, outros veem nisso um sinal de continuidade na tradição e valores morais.
Leia esse artigo e tenha uma base para começar a estudar sobre o que é conservadorismo.
O conservadorismo pode ser entendido como uma filosofia de vida que orienta a ação política, econômica e social de determinados indivíduos ou grupos. Está intimamente ligado aos valores tradicionais. Opõe-se às mudanças radicais ou violentas e defende a permanência de instituições que geraram bons frutos ao longo do tempo, afirma Roger Scruton, filósofo formado em Cambridge.
Exemplos de instituições tradicionais que os conservadores em geral defendem: a família, a Igreja e a comunidade local, além de seus usos e costumes.
A estabilidade, continuidade e liberdade dessas instituições é um ponto essencial para o conservadorismo.
O pensamento conservador se define como realista por se basear na observação, na indução e na experiência. Isso contrapõe o idealismo e utopismo de progressistas ou reacionários, afirma Russel Kirk, professor da Universidade de Michigan State.
Os valores conservadores estão ligados às tradições locais. Portanto, não são um conjunto fechado de ideias. Eles variam de acordo com o lugar e com o tempo.
Por exemplo: o conservadorismo francês pode ser diferente do brasileiro, ou do indiano, uma vez que cada sociedade possui suas tradições e costumes próprios.
É importante distinguir o conservadorismo da postura conservadora.
Conservadorismo é um modo de encarar a realidade social, como está sendo exposto neste artigo. Já a postura conservadora é exclusivamente uma resistência às mudanças, podendo ser uma característica atribuída a qualquer lado político.
De acordo com Quintin Hogg, presidente do Partido Conservador britânico em 1959:
“o conservadorismo não é tanto uma filosofia, mas uma atitude, uma força constante, que desempenha função atemporal no desenvolvimento de uma sociedade livre e correspondente a uma exigência profunda e permanente da própria natureza humana”.
Alguns valores e algumas instituições são universais dentro do pensamento conservador.
As principais características e princípios do conservadorismo são a defesa das seguintes pautas:
É comum que os conservadores ocidentais valorizem as instituições mais antigas de sua própria cultura e que conseguiram produzir sociedades sólidas.
Nesse caso, valorizam uma ordem social e moral baseadas no transcendente, representadas principalmente por 3 tradições principais segundo o Papa Bento XVI em seu discurso ao parlamento alemão:
"De facto, na primeira metade do século II pré-cristão, deu-se um encontro entre o direito natural social, desenvolvido pelos filósofos gregos, estóicos e autorizados mestres do direito romano. Neste contacto nasceu a cultura jurídica ocidental, que foi, e é ainda agora, de importância decisiva para a cultura jurídica da humanidade.
Desta ligação pré-cristã entre direito e filosofia parte o caminho que leva, através da Idade Média cristã, ao desenvolvimento jurídico do Iluminismo até à Declaração dos Direitos Humanos e depois à nossa Lei Fundamental alemã, pela qual o nosso povo reconheceu, em 1949, 'os direitos invioláveis e inalienáveis do homem como fundamento de toda a comunidade humana, da paz e da justiça no mundo'" afirmou Bento XVI.
Estes são os pilares do conservadorismo ocidental.
Em cada exemplo desses, nota-se que a liberdade do indivíduo é essencial para o funcionamento das instituições econômicas.
Ainda nesses exemplos, os corpos intermédios da sociedade são a família, a Igreja e as comunidades locais, que se juntam de modo autônomo.
Em um determinado modelo de construção política e econômica, a liberdade desses grupos é essencial, além de dever pautar-se nos valores corretos.
O ataque aos corpos intermédios e à liberdade irrestrita pode ser visto como o caminho para o autoritarismo, estatismo e totalitarismo, defende José Pedro Galvão de Souza.
Observando a constituição física e psíquica e as aptidões de cada pessoa, nota-se uma diferença natural entre cada um. Também seus interesses, escolhas e decisões contribuem para essa diferença.
Estudando o que é conservadorismo, não raro encontra-se a explicação de que o individualismo permite as diferentes expressões de cada ser humano. Nesse caso, somente é necessário ter igualdade jurídica para oferecer a mesma chance a todos.
O coletivo é visto como a expressão natural dos indivíduos, não como uma tentativa de controlar convicções políticas, sociais, econômicas e morais. Esse controle feriria a liberdade individual.
Os conservadores típicos valorizam a cultura nacional, desde que respeite o conjunto de valores conhecidos como lei natural.
Outro ponto importante para entender o que é conservadorismo é a ideia de que não existe bom selvagem. Considerando o homem com uma natureza inclinada ao mal, não fará sentido projetar sociedades ideais e utópicas.
Se no estudo da tradição é patente que o homem comete um conjunto de crimes típicos, o pensamento sobre o que é justiça e ordem social devem se basear nisso, e não na possibilidade de o homem mudar a própria natureza.
O conservadorismo político é visto como sinônimo de política da prudência. Nem as mudanças e nem o progresso são descartados. Embora entendidos como elementos necessários, espera-se que ocorram de forma lenta, pensada e trabalhada.
Outro aspecto dessa visão é o racionalismo político. As mudanças e reformas vêm após uma comparação com os valores fundamentais, com um estudo do que a tradição oferece de experiência.
O desejo de manutenção do essencial e do que funciona permanece. A política é a arte do possível, não um laboratório de testes para alcançar as projeções do pensamento humano.
Os conservadores buscam guardar a lei natural e tudo o que é duradouro. Esta lei significa que há princípios e valores universais inscritos no próprio homem.
Quando a lei natural é entendida como universal para todos os homens, isso significa que estes valores devem se tornar guias naturais das posições morais e éticas para uma boa vivência humana.
No Ocidente, por exemplo, a lei natural está firmada na tradição da filosofia grega, do direito romano e da religião cristã. A experiência ao longo da história humana também contribuiu para essa concepção.
Não há fórmula nem forma certa para ser conservador, afirma Roger Scruton. Coisas essenciais devem ser preservadas, mas se, vez por outra, alguma mudança não trouxer riscos para a sociedade como um todo, ela pode ser analisada e discutida.
Scruton chama isso de “ordem social contínua”, que é uma sabedoria natural da civilização humana, construída através de erros e acertos.
Essas sucessões vão aprimorando as experiências humanas, suas éticas, artes, constituições e leis; fazendo com que o tempo seja um mestre eficaz e verdadeiro consultor dos homens prudentes.
Para Gilbert Keith Chesterton, jornalista inglês, o nome dessa experiência é “democracia dos mortos”. Essa continuidade é a construção de uma sociedade inteligente, onde colaboram aqueles que viveram, que vivem e que viverão.
A tradição não é algo estático e inalterável, mas formou-se ao longo dos anos e permaneceu através das mudanças.
Alguns conservadores associam seus pensamentos aos escritos de Cícero e Aristóteles. Todavia, o conservadorismo, enquanto doutrina política, surgiu nos séculos XVII e XVIII, período de rápidas transformações na Europa, das grandes revoluções burguesas, do surgimento de novas doutrinas, ideologias e políticas.
O termo vem da palavra francesa “conservateur”, que apareceu durante a Revolução Francesa. Esta expressão designava: os opositores dos jacobinos, de Napoleão e os que defendiam o Antigo Regime.
O primeiro uso estabelecido do termo originou-se com François-René de Chateaubriand em 1818, durante o período de restauração de Bourbon que procurou reverter as políticas da Revolução Francesa.
O primeiro grande teórico do conservadorismo, considerado o pai da organização do pensamento conservador, é o inglês Edmund Burke.
Em 1790, ele previu que a Revolução decairia em terror e ditadura.
Por ter jogado fora instituições testadas pela experiência humana em troca de promessas e esperanças humanas sem garantia de algo melhor, David Hume, criador da teoria do ceticismo político, é também considerado um dos mais importantes teóricos do conservadorismo.
Desde então, o termo passou a descrever uma ampla gama de experiências políticas. É uma postura pautada em valores e crenças, e não uma ideologia.
O termo é historicamente associado à política da direita, mas compreende diversas experiências e pensamentos.
O próprio Burke criticou veementemente a Revolução Francesa, embora apoiasse a Revolução Americana.
Na política, o conservador procura conservar as instituições políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do tempo. Eles entendem que elas são frutos dos usos, costumes e tradições daquele povo.
Uma sociedade saudável está aberta a mudanças, contanto que sejam cautelosas e graduais.
A política do conservador é a política da prudência, preferindo manter e melhorar as instituições estáveis e testadas; e recusando tentar rupturas para implantar modelos de sociedade e instituições que foram imaginadas, frutos de ideias não provadas pelo tempo.
E como os valores conservadores se relacionam com a economia?
A economia é o principal ponto onde não há consenso entre as distintas correntes do pensamento conservador. Porém, como na política, há alguns pontos que são comuns.
A economia deve também ser pautada nos valores imutáveis da lei natural. Portanto, há uma moralidade a ser respeitada também no campo econômico.
Os principais aspectos que defendem são:
Há grupos conservadores que defendem o livre mercado junto com os liberais. Mas nem todos encaram bem a abertura dos mercados e a globalização econômica.
Deste assunto fica a pergunta, é possível ser conservador e liberal ao mesmo tempo?
Como anteriormente se disse, algumas correntes veem com bons olhos o mercado à moda liberal, denominando-se conservadores liberais. Já outras não compactuam com a abertura dos mercados e com a globalização econômica.
Alguns conservadores rejeitam a ideia de Estado mínimo. O ponto central do debate entre liberalismo e conservadorismo é o valor da liberdade.
Para o conservador, a liberdade é algo essencial e que se constrói com o tempo. Para o liberal, é um valor absoluto e o ponto de partida de qualquer regime.
Assim, é possível compactuar com ideais conservadores e defender o liberalismo de mercado, mas é impossível juntar plenamente as duas correntes de pensamento.
Dentre as referências dos autores conservadores, destacam-se:
O conservadorismo no Brasil usualmente associa-se ao cristianismo e a tradição ibérica, devido a sua tradição histórica, mas no geral, não existe representação ou união formal. Não há representação partidária do conservadorismo, cujas pautas se identificam em alguns partidos de direita. Há uma grande quantidade de grupos da sociedade civil, de diferentes vertentes cristãs e religiosas, que assumem a postura conservadora.
De acordo com o professor Olavo de Carvalho, não há partido, revista, jornal diário, estação de rádio ou universidade conservadora no Brasil. Isso significa que o povo, majoritariamente conservador e cristão, não tem representação.
Ele explica que a esquerda entende que isso é a democracia. Essa é a razão para que Olavo afirme que o problema não é a esquerdização, mas a exclusão das alternativas. Isso o motivou a escrever O Imbecil Coletivo, 1996.
Na ausência de uma única identidade conservadorista brasileira, alguns liberais econômicos defendem o conservadorismo, também monarquistas, grupos religiosos, etc.
As pautas estão distribuídas entre diversas influências do conservadorismo inglês e francês. Assim, o uso deste termo no Brasil geralmente se refere a defensores das tradições culturais do direito romano, da filosofia grega, do cristianismo e dos valores ibéricos.
Alguns importantes autores conservadores brasileiros são:
As principais críticas às propostas conservadoras são as seguintes:
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