Foi no início o século XXI que a cultura woke ganhou uma nova conotação que dura até os dias de hoje. Atualmente, a palavra woke se refere a narrativas e linhas de pensamento como a militância LGBTIQIA+, ideologia de gênero, feminismo, aborto e outras pautas progressistas e relativistas.
O termo é comumente utilizado para se referir a inserção desse tipo de conteúdo em filmes, séries e outros meios de entretenimento, mas à expressão também é utilizada para se referir à esquerda política e suas pautas sociais.
Segundo o dicionário inglês de Cambridge, a palavra woke, em sua acepção moderna, significa:
"estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo".
Para mostrar o avanço da cultura woke no mundo social e político, o sociólogo François Bonnet escreveu o seguinte trecho em sua coluna no jornal El País:
"Os filmes mais recentes de Hollywood têm elencos com uma diversidade cada vez maior e os homens ficam eclipsados pelo protagonismo de mulheres perfeitas. Os jornais mais tradicionais começaram a falar de “supremacismo branco”. A Nike e até a CIA lançam propagandas em que falam do patriarcado e da interseccionalidade".
Entenda agora o que é a cultura woke e como ela se tornou tão influente.
Em tradução literal, a palavra woke significa "acordado". Ativistas políticos passaram a utilizar o verbo para designar aqueles que estão "acordados", atentos a questões de justiça social.
Pensadores da linha da filosofia clássica, como o Bispo americano Robert Barron, afirmam que o termo woke para se referir aos adeptos do relativismo moral e de outras políticas progressistas, como a ideologia de gênero
O Bispo Barron afirma que os principais pensadores que geraram a cultura woke são:
Todos defendiam o relativismo moral em algum grau. A cultura woke afirma que o certo e o errado tornam-se conceitos vagos que variam de pessoa para pessoa, de acordo com sua cultura e criação. Tudo se torna uma questão de ponto de vista e circunstância.
Esse princípio faz com que realidades universais e objetivas sejam descartados. Na cultura woke, "é proibido proibir".
Como consequência lógica desse tipo de pensamento, os arquétipos clássicos da cultura ocidental precisaram ser transformados. A cultura woke busca mudar o pressuposto de que existem realidades naturais e objetivas, como masculinidade, família e liberdade de expressão.
Pensadores contrários à cultura woke, como Bispo Barron, afirmam que esse tipo de pensamento é o inverso da cultura ocidental. Para a filosofia clássica, especialmente o pensamento aristotélico-tomista, o intelecto humano é capaz de analisar a realidade e descobrir a essência das coisas e as leis universais de diversos tipos, como a gravidade, a inércia, e até mesmo valores morais, como os princípios da justiça, liberdade e propriedade.
Flavio Morgenstern, escritor e pesquisador em linguagem, afirma que a cultura woke foi adotada por grandes empresas para aumentar seu lucro e poder:
"Quer comprar uma calça? Nos fundilhos virá propaganda pró-GLS. Quer comprar um café? Ele já vem avisando que é um café vegano (como se existissem cafés carnívoros, mas ele avisa). Pensando em um jogo de tabuleiro? Já virá com cartinhas com linguagem neutra.
E quem não se lembra daquele cartão com propaganda contra o patriarcado? Enquanto a universitária se acha super descolada contra o sistema por dar dinheiro pro banqueiro, levantar o punho e tomar cerveja de 20 conto na Vila Madalena. Se eu fosse banqueiro também iria criticar o patriarcado.
Nada melhor para endividar jovem e encher o bolso do que fazê-lo torrar com prazeres imediatos sem preocupação geracional. Isso sem falar na propaganda sexual cada vez mais infantil. O desespero pelos instintos mais primitivos (e venda não é instinto inferior?) é muito forte".
Um dos exemplos da associação da cultura woke com ideologia de gênero e relativismo moral é um episódio promovido pela deputada americana Alexandria Ocasio-Cortez, uma das principais ativistas da cultura woke.
Em suas redes sociais, Alexandria criticou seus colegas por não chamá-la de "latinx", noticiou o Mail Online. Para ela:
"Gênero é fluido, a linguagem é fluida, [você] não precisa fazer drama sobre isso", disse ela em defesa do termo.
Para Jonathan Pageau, artista e conferencista canadense, a cultura woke se manifesta no cinema através da teoria do parasita pós-moderno.
Segundo ele, ativistas woke não têm buscado criar seus personagens ou suas histórias, mas sim tomar os personagens tradicionais e mudar sua estrutura para favorecer a agenda progressista.
Um dos casos mais emblemáticos foi a nova saga de Star Wars, feita pelos estúdios Disney.
Na saga original, Luke Skywalker era um jovem fazendeiro que teve que passar por diversos momentos de superação e sofrimento para se tornar um herói. Aprendendo a tradição jedi com o mestre Yoda, ele se torna um cavaleiro e luta contra o império dos Sith, fazendo com que seu pai deixe o lado negro da força antes de morrer.
Antes um cavaleiro e herói, os novos filmes apresentaram Luke Skywalker como um homem fraco e ressentido. A heroína da nova saga é Rey, uma jovem que não precisa da sabedoria de seus antepassados ou de treinamento para lutar contra seus inimigos.
Ao encontrar Luke Skywalker, Rey entrega a ele seu antigo sabre de luz, símbolo do cavaleirismo e da ordem Jedi. Luke observa o instrumento e o arremessa do penhasco com desdém, menosprezando a tradição que antes era o norte de sua vida.
A nova saga chega no ápice da cultura woke em uma cena emblemática. Quando Luke Skywalker vai em direção a biblioteca que guardava os livros sagrados dos Jedi, o mestre Yoda aparece e queima todos os livros.
Luke não acreditava no que estava vendo, todos os livros mais importantes do passado foram destruídos por aquele que outrora era o maior defensor da ordem religiosa.
Vendo a reação de Luke, o mestre Yoda o censura, afirmando que eles deveriam deixar o passado de lado. Yoda diz que os livros não são necessários pois Rey já tem toda a sabedoria que a biblioteca poderia fornecer.
newsletter Overton.
Outros exemplos de cultura woke nos entretenimentos modernos são:
Entenda a teoria do Parasita Pós Moderno em detalhes com o 3º episódio do documentário A Sétima Arte:
Peter Jordan, empresário e comentarista de cultura pop, disse sobre a cultura woke nos cinemas:
"A cultura pop está sendo deixada de lado em prol de pautas sociais. O conteúdo está ficando de lado."
De acordo com publicação do jornal JSTOR Daily, site de notícias vinculado ao site de artigos acadêmicos e documentos históricos JSTOR, a cultura woke inicialmente se referia aos abolicionistas que apoiavam a candidatura de Abraham Lincoln para a presidência dos Estados Unidos.
Lincoln e os abolicionistas faziam parte do Partido Republicano, considerado como o partido político de direita dos Estados Unidos. Atualmente, a expressão cultura woke é utilizada pelo Partido Democrata, considerado um dos principais representantes da esquerda política do país.
No século XIX, os democratas eram "anti-Awake". Uma das suas principais pautas dos democratas era a manutenção da escravidão.
O movimento Wide Awake foi fundado em 1860 por um grupo de jovens republicanos. Segundo o historiador Jon Grispan:
"Jovens de Bangor a São Francisco e de grandes clubes da Filadélfia a minúsculas trupes de Iowa vestiam uniformes, acendiam tochas e 'se juntavam' a companhias pseudomilitares em marcha. Eles inundaram todos os estados do norte e chegaram às cidades do sul, como Baltimore, Wheeling e St. Louis", narrou Jon com base no Journal of American History.
A principal intenção do grupo era promover políticas anti-escravidão, liberdade de expressão e liberdade de comércio.
Os Wide Awake eram compostos por um grupo variado de homens: alguns eram jovens demais para votar e outros tinham mais de 30 anos. A maioria dos membros eram pessoas de classe média baixa com pautas anti-corrupção, aponta Matthew Wills.
William H. Seward, advogado e futuro secretário de Estado escreveu durante a campanha de Lincoln:
“Agora os velhos estão cruzando os braços e indo dormir e os jovens estão bem acordados”.
O termo cultura woke continuou indicando a consciência da liberdade negra durante o século XX. O blog do dicionário de Oxford afirma que o termo woke no século XX significava a consciência dos negros sobre a segregação racial que sofriam nos EUA.
Dois dos principais exemplos documentados são:
Segundo a pesquisadora Nicole Holliday, professora do Departamento de Linguística da Universidade da Pensilvânia, o termo era mais utilizado de maneira oral e popular, gerando poucos documentos anteriores ao século XXI com a palavra woke.
A cultura woke se tornou ainda mais popular nos Estados Unidos e no mundo a partir de 2016, quando a rede de entretenimento do Black Lives Matter (BLM), a BET ("Black Entertainment Television" - "Televisão do Entretenimento Negro", em tradução livre), produziu o documentário Stay Woke, abordando a situação do racismo nos EUA após o assassinato de Trayvon Martin.
A partir de então, simpatizantes do BLM passaram a usar o termo com frequência, especialmente nas redes sociais.
Em 2010, ativistas e políticos de esquerda adotaram o termo woke para se referir a suas pautas, aponta o jornal Binge Daily, criando a cultura woke.
Essa atitude fez com que o dicionário de Cambridge passasse a se referir a woke como um termo relacionado à desigualdade social e problemas sociais a partir de 2023.
Políticos conservadores americanos também adotaram o termo cultura woke para se referir a política de esquerda:
Defensores do conservadorismo nos EUA são os principais críticos da cultura woke. Ron DeSantis, governador da Flórida e candidato à presidência pelo partido Republicano, afirma estar em guerra contra a cultura woke.
Donald Trump, ex-presidente dos EUA e atual candidato à presidência, também critica o termo com frequência, relacionando-o ao marxismo cultural.
Ativistas conservadores americanos como Ben Shapiro são contra o pensamento de que não existem valores objetivos e universais, de que não existe uma verdade para todos, como defendem muitos ativistas woke.
A cultura woke afirma que o certo e o errado tornam-se conceitos vagos que variam de pessoa para pessoa, de acordo com sua cultura e criação. Tudo se torna uma questão de ponto de vista e circunstância.
Guilherme Freire, professor de filosofia, afirma que uma das consequências do relativismo moral é a de não trazer mais diálogo, já que não existem realidades e verdades universais, que abrangem todas as pessoas.
A cultura woke torna cada ser humano uma ilha isolada da outra, já que essa cultura prega que não existem realidades universais para todos os humanos.
O pensamento woke também pode favorecer a agressividade caso as vontades de alguém sejam contrariadas. Quando se tenta mostrar que a percepção de uma pessoa está dissociada da realidade, ela pode se sentir ofendida.
Como não existe certo e errado para a cultura woke, quem foi contrariado pode agredir seu ofensor sem isso ser um problema moral, caso ela pense que agredir seu ofensor é lícito.
Pensadores contrários à cultura woke, como Bispo Barron, defendem que a partir da experiência da realidade, podemos chegar a certezas. É possível ter conhecimento sobre acontecimentos objetivos, que os relativistas negam. O relativismo põe um fim ao juízo de objetividade sobre as coisas.
Usando a razão é possível constatar que comer em excesso é ruim para a saúde. O exagero é perigoso e todos podem senti-lo por si mesmos. Há excesso e a razão evidencia que é perigoso. Da mesma forma, não há exceção à regra de que a soma dos ângulos internos de um triângulo é de 180°.
Diante dos fatos da realidade, é possível investigá-los e chegar a conclusões objetivas.
Um médico não pode ser relativista no tratamento de uma doença, por exemplo, ele precisa dar o remédio que é estipulado para a doença.
Para saber mais sobre ideologias políticas e sua influência na história moderna, a Brasil Paralelo está oferecendo gratuitamente o e-book Ideologias Políticas: As Diferentes Correntes.
Não perca a oportunidade de conhecer as origens e os principais pensadores que moldaram a atual cultural do mundo ocidental.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP