Você morreu. Consegue imaginar como foi sua vida? Para fazer o exercício do Necrológio, é necessário pensar no seu fim para avaliar suas ações no presente. O professor Olavo de Carvalho explicou as razões e os benefícios de refletir sobre isso. Ao final, percebe-se que pensar na morte pode conduzir a uma vida melhor.
O necrológio está intimamente ligado à vida intelectual. Muitos dos professores que contribuíram com o conteúdo da Brasil Paralelo fizeram este exercício. Conheça as nossas produções para ter contato com especialistas em história, filosofia, economia, política e muito mais.
De acordo com o dicionário, há três significados:
O exercício do necrológio, em suma, é uma breve narrativa de sua vida, feita por você mesmo, contemplando-se a si mesmo morto.
Descrito desta forma, é uma atividade proposta nas primeiras aulas do Curso de Filosofia do Professor Olavo de Carvalho. Seus efeitos pedagógicos são notáveis. A narrativa proposta visa ajudar o aluno a compreender melhor quem ele é. Uma vez feito isso, estará pronto para iniciar suas reflexões filosóficas.
Para fazer um necrológio, é preciso presumir a própria morte. Então, você escreverá sobre sua vida após seu falecimento, como se fosse um amigo seu dizendo. Você falará de si mesmo como se tivesse assistido à sua vida sendo seu melhor amigo.
A narrativa deve incluir:
Para esta redação, é necessário supor que você tenha realizado na vida tudo o que desejava. Viveu e tornou-se a melhor versão de si mesmo. É, na verdade, a descrição de quem alcançou a vida que queria e se tornou quem sonhava ser.
Seu amigo, que é você, descreverá sua vida para outra pessoa. O necrológio é como uma carta para que uma terceira pessoa tome conhecimento de sua vida.
Em seu necrológico, você descreve como era sua vida ideal. É preciso fazer isso com seriedade e sinceridade. Não tem que fazer nada hiperbólico, fantasioso.
A narrativa necrológica deve ser resumida, não excedendo vinte ou trinta linhas.
É muito comum que as crianças pensem quem serão quando crescerem. Pensam em heróis, bombeiros, princesas, policiais, mães, professores. As crianças pensam o que querem se tornar e brincam de ser o que sonham para si mesmas.
Mas, chega um momento em que não se pensa mais tanto assim. O necrológio o colocará na posição da criança, mas sem fantasias.
Para responder uma pergunta como essa, além do necrológio, é preciso formar bem a própria personalidade.
Confira quais são as 12 camadas da personalidade descritas pelo professor Olavo de Carvalho.
Primeiro, foi você quem morreu, não um amigo seu. Algumas pessoas confundem isso. Você fala de si mesmo como se fosse seu melhor amigo descrevendo-o.
Segundo, você não morreu sendo uma pessoa fracassada. Você alcançou o que sonhava.
Terceiro, você não se tornou papa ou imperador. O necrológio considera sua versão ideal no fim da vida, não uma fantasia, um sonho mirabolante e fora de sua realidade de possibilidades.
O exercício do necrológio narra as realizações de suas principais qualidades, não suas ideias de fama e poder.
Escreva não o que você se tornou, mas quem você se tornou. Diga a quem está lendo por que sua vida foi importante.
Em seu texto, não é tão importante dizer que você se tornou um médico. Mais importante é dizer que tipo de médico você se tornou, quais virtudes conseguiu viver em sua profissão, em sua vida.
O exercício do necrológio serve para lhe mostrar quem você mesmo gostaria de ser. No final de sua vida. Morto.
Não há problema em mudar seus anseios depois. Se sua intenção nesta vida mudar, muda-se também o necrológio, mas não deixa de ser uma orientação que o acompanha. Servirá por muitos anos.
Ao criar esta narrativa, será possível ter um mínimo de orientação moral na vida.
A prática de reportar-se ao que você percebe de melhor, em si mesmo, ensina a observação atenta da vida. Ensina também a julgar-se a si mesmo com sabedoria. Faça isso com humanidade, levando em conta o conjunto do que você sabe.
A intenção é ter uma direção na vida, como foi explicado. Saber quem você é agora, quem você quer ser e julgar suas ações nesta transição.
Muitos alunos do Professor Olavo começam o necrológio e não o terminam. Têm dificuldade. É importante não desistir e confrontar a própria miséria. Algumas pessoas não terminam sequer três linhas sobre si.
Não ter o que escrever, perceber uma realidade de vida muito aquém do que gostaria, é um bom passo. Afinal de contas, é importante saber estar longe da “meta”.
Uma dica é escrever o necrológio nas seguintes situações:
A razão para fazer o necrológio é que a maioria das pessoas não tem um plano de vida. Se não há um plano de vida, não há um norte, não há um cume, não há lugar para chegar.
Chesterton, escritor inglês, descreve a ausência de um rumo na vida com o exemplo de alguém que embarca em um ônibus sem saber para onde está indo.
Muitos brasileiros vivem apenas o imediato sem uma perspectiva da vida inteira. É como se fosse um caos, uma distração e perda de foco.
Pense: Se você não sabe o que quer ser, como julgará suas ações? Como você dirá a si mesmo se está acertando o caminho ou não?
O necrológio cria um personagem ideal, o modelo que você mais almeja se tornar. Esta sua melhor versão possível será o juiz de suas ações. Caso seja religioso, a versão de seu necrológio será seu “eu” diante de Deus.
O melhor de você é aquele que fala com Deus.
Para as pessoas que têm o hábito da confissão, é este “eu” do exercício que se confessa. Ele é aquele que o julga moralmente. Ele se arrepende. Corrige.
Presume-se o arrependimento daquele que se confessa. Isto significa que algo em você percebeu uma atitude que não corresponde às mais altas expectativas que você tinha de si mesmo.
O “eu” ideal é o único critério objetivo que você terá para elaborar um juízo da própria vida que leva. Ele pode lhe perguntar:
— “O que você está fazendo? Não é assim que você vai alcançar o que quer”.
Neste exemplo de confissão, sua parte mais elevada é capaz de ver seu aspecto que se rendeu a certas satisfações. Ela é uma personalidade consolidada e superior.
Sem uma visão clara de sua melhor versão, bem sucedida nos melhores sonhos, você será julgado por outras instâncias. Imagine-se no tribunal sendo julgado por seus medos, preconceitos, por grupos que você interiorizou, mas com os quais nunca se identificou, etc.
Neste caso, não há orientação moral.
Somente sua parte mais alta pode julgá-lo no exercício do necrológio proposto pelo Professor Olavo. Segundo ele, é apenas esta consciência que Deus aceita.
Desenvolver um juiz interior não apenas orienta a vida, mas também permite a vida filosófica, como prática mais do que como cultura.
A cultura filosófica resume-se em conhecer a prática filosófica de outros estudiosos, os outros filósofos.
Desenvolver a atividade filosófica exige sinceridade para viver o que se acredita, por exemplo, como Sócrates. A verdadeira maneira de fazer filosofia é realmente viver e acreditar no que se ensina.
A filosofia é essencialmente uma busca pessoal na qual você mesmo terá que descobrir seus critérios de certeza.
É a busca da verdade inquestionável, tão óbvia que não pode ser esquecida. O pensamento está seriamente vinculado à existência. Por esta razão, busca-se a credibilidade máxima.
Quando você desenvolve seu juiz interior, você se torna alguém mais autêntico, que sabe quem você é e o que você quer. O necrológio é o primeiro passo para isso. Não é algum professor que irá avaliá-lo, nem uma instituição acadêmica, nem seu chefe ou familiares, nem mesmo seu líder religioso.
Você é quem o fará, você mesmo.
Normalmente os bons juízes são mais velhos, possuem anos de experiência. Um juiz de 21 anos não passaria credibilidade. Por isso, seu melhor juiz é você mesmo, realizado, no final de sua vida.
“Francisco contemplou a morte por muitos anos de sua vida, mas foi em 18 de dezembro de 2020 que ela lhe retribuiu o olhar. Precocemente, ele a namorou sem desejá-la, ainda que soubesse da proximidade de seu beijo. Foram 78 anos para que ela se inclinasse, fixa e fria sobre ele, que a esperou sereno e firme.
Aos 15 anos, notou o desenrolar do dia sem a presença de sua irmã mais nova. Seria comum se ela fosse uma menina afeita à cama como as de sua idade. Levantava-se sempre cedo, mas naquela manhã permanecera no quarto.
Francisco a buscou, mas seu corpo estava frio. Partiu dormindo, provavelmente, pela madrugada. Mas este texto não é sobre o passamento dela. Importa o que aconteceu com Francisco por causa desse fato.
Ele nunca tinha se sentido tão impotente. Neste dia, viu a morte e começou a namorá-la. Era certo que ela o queria, mas ele precisava usar o tempo que tinha para compreender como recebê-la.
Esta é a história de um homem que viveu bem, porque compreendeu a finitude de suas atividades. A virtude de Francisco foi dedicar-se ao que não teria fim com o seu próprio fim.
Ele não foi apegado ao dinheiro, porque o dinheiro terminaria. Nem aos prazeres, porque estes teriam um fim amargo. Nem sequer ao próprio ego, justamente porque viu, na morte de sua irmã, que a vaidade é impotente por natureza.
Seus anos, seus estudos, seus esforços, seu suor, sua dor, tudo fora dedicado à medicina. Ele se tornou pediatra. Sua irmã ele não poderia ter de volta, mas muitas outras irmãs, embora não fossem suas, poderiam não deixar seus irmãos como ele fora deixado.
Estou escrevendo, caro leitor, sobre a motivação do maior pediatra que conheci. O doutor Francisco nunca foi um homem triste, ainda que esta tenha sido sua realidade. Ele conseguiu. Sua profissão e seus títulos não o endeusaram. O valor de seu salário não desviou sua razão. Diante do valor da vida dos pequeninos, seus prazeres nunca foram prioridade.
A morte dava-lhe as costas, enquanto virava-se de frente para sua irmã. Fitando aquela sombra, entendeu como é a vida. Viveu feliz salvando vidas; as alegrias dos seus pacientes eram suas próprias.
Quiséramos nós também ter um propósito tão forte. Francisco teve família, teve filhos, trabalhou nos melhores hospitais e foi respeitado internacionalmente. Mas o que lhe punha brilho e sorrisos na face eram as vitórias de cada alta assinada no hospital.
Ele viveu para curar e sabia disso. Essa sua missão era a primeira na hierarquia.
Em seu leito, antes do fim, apenas sorriu e disse:
‘Nunca dormi sem ter me dedicado a um pequenino sequer. Devotei a todos o amor que tinha por minha querida Helena. Sou feliz’”.
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