Ler não é apenas decifrar letras e saber o que estas dizem. O ato da leitura vai além do reconhecimento de palavras e frases. Há níveis de competência, dos quais o mais elevado e mais exigente é a leitura sintópica.
Em 1940, Mortimer J. Adler e Charles Van Doren publicaram um livro chamado How to Read a Book: the classic guide to intelligent reading (Como ler livros? O Guia clássico para a leitura inteligente).
Em 1972, o livro passou por alterações que os próprios autores fizeram. Foi um sucesso absoluto e parte do que eles ensinaram está resumido a seguir.
A leitura não é uma atividade linear. Existem quatro níveis diferentes no ato de ler, que foram identificados por Mortimer Adler. Lidando melhor com cada etapa, obtém-se muito mais proveito dos livros.
Os quatro níveis de leitura são:
Com as estratégias para ler melhor, presentes em cada nível, é possível melhorar a capacidade de concentração, a capacidade analítica, o nível das discussões e o debate público.
Cada nível de leitura será detalhado para que todos possam identificar qual deles têm praticado.
O primeiro nível é o da leitura elementar. Basicamente, trata-se da decodificação das letras, sem envolvimento intelectual e emocional. De forma elementar, as frases são lidas e o contexto é compreendido, sem entrar em profundidade.
O segundo nível é o da leitura de inspeção. O leitor torna-se capaz de ler como se fosse um detetive, lendo mais de uma vez, analisando sentenças, títulos, índices e cada detalhe que dê pistas sobre o assunto. Trata-se de uma leitura rápida, apenas para descobrir o que está no livro, mas com uma intenção de pesquisa.
A leitura inspecional pode ser feita de forma cruzada, na diagonal. Neste caso, apenas os títulos, subtítulos, citações, listas, índices, sinopses, prefácio e posfácio são lidos. Inclua-se nesta estratégia as informações que ficam no verso dos livros.
Outra estratégia possível é a leitura rápida, sem parar para refletir ou estudar os temas que não foram compreendidos. Basta ler rapidamente, realizando uma “leitura dinâmica” para saber se o livro merece ou não dedicação.
O terceiro nível é o da leitura analítica. O leitor se envolve completamente com o que está lendo, dedicando muito mais tempo e esforço. Ele descobre se quer ler, inspecionando, e então começa a ler de fato. A compreensão do texto é a melhor possível, e a intenção é ser capaz de formular um entendimento sobre o que foi lido.
O quarto nível é o da leitura sintópica. Este é o mais avançado, no qual o leitor pode comparar vários livros diferentes, interligando temas ou comparando vários pontos de vista de vários autores. A conclusão a que se chega pode não estar em nenhum livro, mas pode ser o produto do pensamento do leitor.
Todos estes níveis têm seus próprios detalhes, regras de como proceder em cada etapa e dicas para um melhor aproveitamento.
Neste artigo, a leitura sintópica será mais detalhada e exemplificada.
A leitura sintópica é um dos quatro níveis de leitura pensados por Mortimer Adler. Neste nível, o leitor é capaz de comparar e relacionar vários livros, envolvendo intertextualidade. Textos de um mesmo autor ou de autores diferentes podem ser comparados.
Adler recomendou que se agisse como um advogado, tentando defender seu autor frente a outros autores que escolheu.
Uma das técnicas que ele ensina é a do diálogo com o autor. Para uma boa leitura, é preciso estabelecer uma boa conversa com quem escreveu o livro. Como a leitura sintópica envolve comparação, é como se o leitor estivesse colocando vários autores em conversa uns com os outros.
Desta forma, uma profundidade única é alcançada na leitura.
A leitura é uma ferramenta na transmissão do conhecimento. Vários autores já registraram o produto de suas reflexões, mas em épocas diferentes.
Compete ao leitor atual coletar o que foi dito sobre o mesmo tema e compará-lo, localizando pontos contrastantes ou similares.
Aquele que consegue ler sintopicamente atingiu o nível mais avançado e profundo de leitura. O nível analítico procura por um autor ou um livro em profundidade. O sintópico faz a mesma coisa, mas com vários autores, vários livros.
A partir deste nível, é possível que uma nova ideia, que não está em nenhum livro, surja.
A pesquisa pode revelar algo que nenhum autor escreveu especificamente, mas que é fruto do que vários disseram, como se somasse ao conhecimento ou percebessem algo que não tenha sido contemplado.
O maior benefício da leitura sintópica é levar o leitor a sua própria perspectiva. Ela pode levar o leitor a opiniões e ideias inesperadas.
Nietzsche poderia conversar com Chesterton?
E se Sócrates conversasse com os filósofos modernos?
Até mesmo São Tomás de Aquino poderia se encontrar com aquele a que nomeou de “o Filósofo”, Aristóteles.
Entendendo o que é leitura sintópica, descobrimos que todos estes diálogos, impossíveis no tempo, tornam-se possíveis intelectualmente. Portanto, este é o nível mais exigente de leitura.
Se algum leitor compreende bem as ideias de Platão, por exemplo, ele já consegue representar em sua mente o que Platão diria sobre alguns assuntos. Se também compreendeu Machado de Assis, pode fazer o mesmo.
Finalmente, poderia tentar responder o que um filósofo grego poderia dizer em comum com um mestre da literatura realista brasileira.
Sem o nível da leitura sintópica, bons mestrados e doutorados, por exemplo, não surgem. Quem chega a este nível precisa saber relacionar diferentes autores e obras.
Correlações também podem ser feitas envolvendo os clássicos da literatura mundial. Algo muito comum tem sido perceber como os mitos de vários povos têm um núcleo comum. Isto pode ser percebido e extraído de suas narrativas.
Esta correlação entre temas importantes para várias culturas é um exemplo do modo de leitura mais avançado. Mas, como fazer isso?
Para realizar a leitura sintópica é preciso seguir estes cinco passos:
Quando se diz que os autores respondem ou conversam, deve-se entender que o leitor pode extrair isso da leitura. Mortimer Adler ensina como lidar com livros desta forma, como uma conversa com outra pessoa que não está presente, mas que registrou seus pensamentos.
“Aprender com um livro é aprender com um professor ausente. Ao terminar a leitura, o ideal é saber mais do que antes dela, conhecendo mais”.
Suponha-se que um pesquisador queira abordar o tema da morte na literatura, reunindo diferentes personagens e suas visões sobre o fim da vida. Ele reunirá vários títulos que podem conter este assunto.
Na primeira etapa, ele fará a leitura inspecional de todas as obras que ele supõe que possam ajudá-lo. Desta forma, descobrirá quais devem ser lidos com atenção.
Após esta seleção, ele efetivamente lerá os livros escolhidos. Fará perguntas a seus autores e estudará se eles apresentam uma resposta.
Com a visão da morte de cada um e tendo em mente como foi o fim de cada um dos personagens escolhidos, novos assuntos, temas e perguntas poderão surgir.
Finalmente, o leitor tirará suas conclusões de tudo o que reuniu.
Basicamente, seleciona-se os livros por relevância, busca-se os temas dos livros, encontram-se os argumentos e trechos que são relevantes, as divergências, concordâncias e produz-se uma análise.
Este é o nível mais exigente de leitura e nem todos querem realizá-lo. Não há nenhum problema com isto. Nem todas as leituras cumprem o propósito de intercalar autores e refletir algo a partir do que disseram.
Muitos querem ler em detalhes apenas uma obra. Outros querem ler por diversão, para relaxar e exercitar sua imaginação. Não há depreciação nisto.
O problema é a falta de habilidade com a leitura sintópica por parte daqueles que estão em uma carreira acadêmica. A um certo nível da graduação em uma universidade, já se espera que o aluno tenha estas habilidades.
Nos níveis de pós-graduação, como mestrado ou doutorado, esta é uma exigência. No entanto, na realidade brasileira, muitos atingem estas posições sem estas habilidades de leitura. Este é o problema.
Alguém que queira ser um pesquisador ou professor de nível superior precisa de leitura sintópica.
Não é impossível que estudantes não-universitários alcancem esta profundidade, mas eles são exceções.
Por último, não somente mestres e doutores são chamados a buscar um melhor entendimento sobre assuntos de seus interesses. Todos que iniciam um caminho de estudo podem alcançar o mesmo.
O Padre Sertillanges escreveu um livro sobre a vida intelectual, e as principais dicas que ele legou podem ser lidas no artigo sobre como ser mais inteligente.
Muito se fala sobre o analfabetismo funcional. Esta é a realidade daqueles que aprenderam a ler; ler e não entender. Sabendo o que é a leitura sintópica, e todos os níveis anteriores a ela, as habilidades de uma pessoa podem ser muito melhoradas quando for estudar ou apreciar um livro.
E para cada tipo, existem técnicas diferentes. Manuais, livros históricos, livros filosóficos, fantasias, romances, novelas, peças de teatro, epopeias, teorias científicas… nenhum deles é lido da mesma forma.
Diferentes técnicas de leitura facilitam o proveito de cada gênero textual. Leituras ativas que aumentam o conhecimento do leitor devem ser o objetivo principal, ao contrário das leituras passivas. Nesses casos, fecha-se a última página sem saber o que foi lido.
Comente e compartilhe. Quem você acha que gostará de ler sobre o que é leitura sintópica?
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