A Venezuela está entre os países com as maiores crises financeiras e humanitárias do mundo, afirma a organização South American Initiative.
Atualmente, o salário mínimo da Venezuela não é capaz de sustentar necessidades básicas de seus cidadãos, nem mesmo uma cesta básica, aponta o Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores (Cendas-FVM, na sigla em espanhol).
Uma das principais razões para isso é a hiperinflação do país, uma das maiores do mundo. Entenda como está a situação econômica da Venezuela e como um dos países que já foi considerado o mais rico da América Latina alcançou uma inflação superior a 300%.
A inflação da Venezuela ultrapassou a taxa de crescimento de 300%, afirmou a ONG Centro de Difusão do Conhecimento Econômico (Cedice) na mais recente avaliação da economia anual do país.
Os dados foram coletados com base na comparação dos preços de diversos bens e serviços de 2021 para 2022 com relação ao bolívar venezuelano.
O setor de alimentos foi o mais atingido, tendo alcançado uma inflação de mais de 332,43%. A crise econômica no setor alimentício fez com que os venezuelanos precisem de 21 salários mínimos para comprar uma cesta básica, aponta a ONG Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores.
Segundo a Gazeta do Povo, entre 9 e 16 de dezembro, o preço de um quilo de carne passou de 78 bolívares para 117 bolívares em uma loja em Caracas, o que representa um aumento de 50%.
Em 2017, a Pesquisa sobre Condições de Vida (Encovi), realizada a partir da união das principais universidades da Venezuela, afirmou que a média de peso dos venezuelanos diminuiu 11 quilos, já que a inflação fez com que a população não conseguisse comprar alimentos suficientes.
A hiperinflação não se restringiu apenas à moeda oficial do país, o bolívar, mas se estendeu também ao dólar. Segundo a BBC, é estimado que 55% das transações venezuelanas foram feitas em dólar durante o governo de Nicolás Maduro, mesmo a utilização da moeda americana sendo proibida.
Após 8 anos de proibição, Maduro legalizou o uso do dólar em rede nacional através da televisão estatal. Contudo, anos após o uso legal do dólar no país, a moeda estrangeira também sofreu um processo de inflação.
A Cedice informou um aumento de 27,01% na inflação em dólares em 2022 na Venezuela. Um dos principais motivos é a depreciação da moeda local em relação à dos EUA, aumentando os preços para a conversão das moedas.
Oscar Iochunga, de 66 anos, vende legumes em uma feira livre na capital Caracas, mas vê a demanda cair a cada semana porque as pessoas limitam suas compras, disse em entrevista à Reuters.
"Com a situação atual e o dólar, a alta, o bolívar se desvalorizou, então parece que as pessoas estão comprando muito menos do que antes".
Na mesma reportagem da Reuters, a professora Lourdes Villarroel afirmou que alguns de seus colegas não têm dinheiro para jantar todos os dias devido à inflação da Venezuela.
Mesmo trabalhando como professora, cabeleireira e atriz de teatro, Lourdes não consegue comprar muitos alimentos, afirmou durante a entrevista.
De acordo com o Banco Central venezuelano (BCV), a inflação de 2021 foi de 686,4%. No informe oficial sobre 2022, o Banco afirmou que a inflação acumulada entre janeiro e outubro de 2022 chegou a 119,4%, diferente dos dados apontados pela Cedice e pela ONG Observatório Venezuelano de Finanças (OVF), que estimou a inflação em 305,7%.
Para a OFV, organização composta por economistas venezuelanos que conta com o auxílio de especialistas como José Luis Saboin e Daniel Cadenas:
"Esta aceleração da taxa de inflação ocorre em um contexto de intervenção significativa do BCV (Banco Central da Venezuela) no mercado cambial para tentar estabilizar a taxa de câmbio", disse a entidade em uma nota sobre a inflação de setembro de 2022.
A ONG apontou que os setores que mais sofreram alterações de preços devido à inflação de 2022 foram:
O valor da cesta básica para uma família de cinco pessoas foi de US$ 288, 75 para US$ 375 (aproximadamente R$ 1947,71) em 2022, um aumento de 23,05% em relação ao mesmo mês em 2021, apontou a OFV.
Para Javier Corrales, professor de ciência política do Amherst College, os principais motivos da Venezuela ter quebrado são:
Autores como Carlos Alberto Montaner, Álvaro Vargas Llosa e Luis Oliveros concordam com Javier.
No livro Las raíces torcidas de América Latina, Carlos Alberto Montaner diz que políticas econômicas baseadas no estatismo e no controle governamental têm prejudicado o crescimento e a competitividade da economia da Venezuela, aumentando a inflação.
Outro fator apontado pelo autor é a perseguição àqueles que não apoiam o socialismo bolivariano. Segundo Carlos Alberto e organizações como a ONU, o governo tem censurado, torturado e prendido seus opositores políticos.
A adesão ao comunismo e ao socialismo é tida como uma das causas da perseguição, já que o mesmo aconteceu em experiências socialistas/comunistas como em Cuba e na União Soviética.
Os críticos do socialismo venezuelano apontam que Hugo Chávez, fundador do atual regime do país, seguia a doutrina de Karl Marx, fundador do comunismo.
Em 2006, Chávez disse:
"De 2007 a 2021 serão 14 anos para semear, aprofundaremos as raízes e estenderemos a revolução por todos os espaços para que a Venezuela seja uma República Socialista Bolivariana" (Fonte: G1.Globo.com).
O atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, trabalhava no governo de Chávez e ainda é membro do mesmo partido de seu antecessor, o Partido Socialista Unido da Venezuela. Segundo Maduro:
"Estamos empenhados em construir o socialismo do século XXI".
Na eleição presidencial de 2006, o Partido Comunista da Venezuela apoiou oficialmente a candidatura do então presidente Hugo Chávez. O candidato do Partido Comunista foi reeleito no primeiro turno, tendo obtido 62,8% dos votos segundo o sistema eleitoral do país.
O livro La nueva economía venezolana: Propuestas ante el colapso del socialismo rentista aponta que o governo de Hugo Chávez e Maduro gastaram de maneira irresponsável o dinheiro recebido com descobertas de petróleo, iniciadas em 2003 e encerradas em 2014.
José Toro Hardy, economista e ex-diretor da PDVSA, a estatal de petróleo da Venezuela, diz que as principais iniciativas que levaram o país a quebrar foram:
Alguns dos principais erros apontados pelos autores no uso do dinheiro é a tentativa de investir em um modo de produção socialista, condenado pelo economista Ludwig Von Mises. Para ele, o socialismo é intrinsecamente falho.
Segundo os autores apontados, o atual regime da Venezuela impediu que o mercado se regulasse conforme as necessidades orgânicas da população.
Medidas como tabelamento de preços, estatização de empresas e impressão de dinheiro impedem que os bens e serviços sejam valorizados conforme a necessidade da população, aumentando a inflação.
Segundo o historiador Daniel Neves Silva, uma das principais atitudes responsáveis por quebrar a democracia e a economia venezuelana foi a reforma jurídica feita pelo revolucionário Hugo Chávez.
O presidente aumentou o número de juízes de 20 para 32, tendo nomeado 12 defensores de seu governo. Segundo Daniel, Chávez perseguiu opositores e procurou perpetuar-se no poder por meio de reformas na Constituição.
Para outros estudiosos do assunto, a Venezuela não quebrou por causa do comunismo nem por conta do socialismo. O jornalista Ronni Pereira diz:
"Não se deve considerar a essência das instituições (governos e partidos) pelo que elas dizem ser ou pela consciência que as mesmas têm de si próprias, já dizia o mestre Perseu Abramo. É necessário analisar as ações e políticas da mesma e chegar a uma conclusão.
[...] Nunca houve abolição da propriedade privada na Venezuela e nem nenhuma das outras características da economia planificada. Apesar de Chávez ter nacionalizado muitas empresas privadas (não todas), ele fez isso com base na ideologia nacionalista, não para tomar os meios de produção da “burguesia”.
[...] Chávez e Maduro são na verdade líderes autocratas e populistas, não socialistas".
O jornal Left Voice (Voz da Esquerda) concorda com a tese. Em entrevista com Milton D’León, trabalhador marxista de Caracas e editor do site La Izquierda Diario Venezuela, o venezuelano afirmou:
"Na Venezuela não é o “socialismo” que fracassou e sim uma política que manteve o país dependente das receitas do petróleo, que garantiu os lucros dos banqueiros e empresários, enquanto o povo sofre com a fome.
O governo se baseou nas forças armadas, em um permanente estado de emergência que fica cada vez mais repressivo ao longo do tempo. A propriedade privada na Venezuela sempre foi defendida e, durante a bonança do petróleo, os capitalistas prosperaram.
Isto foi acompanhado por uma limitada distribuição de renda através de programas sociais, com base no boom do petróleo".
Para Edgardo Lander, sociólogo venezuelano, o socialismo bolivariano trouxe benefícios para seu país, não sendo culpado pela crise do país. Em um artigo publicado na Revista Movimento:
"Nos anos de governo bolivariano se produziram elevados graus de politização, significativas transformações na cultura política popular, no tecido social e organizativo, assim como nas condições materiais de vida dos setores populares anteriormente excluídos.
Geraram-se amplamente sentidos de dignidade e inclusão, capacidade de incidir tanto sobre a vida própria como sobre o destino do país.
Mediante múltiplas políticas sociais (las misiones) dirigidas a diferentes setores da população, foram reduzidas muito significativamente os níveis de pobreza e de pobreza crítica.
De acordo com a CEPAL, o país chegou a ser, junto com o Uruguai, um dos países menos desiguais de toda a América Latina. A população ficou melhor alimentada. Realizaram-se efetivos programas de alfabetização".
Buscando mostrar a Venezuela como ela é, a Brasil Paralelo foi até o país de Maduro descobrir histórias reais contadas pela população local. Na prática, o que é a Venezuela?
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