Eric Voegelin foi um professor austríaco de filosofia política. Lecionou em muitas das principais Universidades europeias e conviveu com alguns dos maiores intelectuais de sua época, como Friedrich Hayek, Hans Kelsen e Leo Strauss.
No livro Reflexões Autobiográficas, Eric Voegelin mostra que foi um dos filósofos mais originais e incompreendidos do século XX. Segundo o próprio autor:
"Tenho em meus arquivos os documentos segundo os quais sou comunista, fascista, nacional-socialista, velho-liberal, novo-liberal, católico, protestante, platônico, neo-agostiniano, tomista, e, é claro, hegeliano”.
Como um autor pode gerar tantas respostas contraditórias? Autores como Olavo de Carvalho e Russel Kirk afirmam que essas contradições mostram justamente uma das qualidades de Voegelin: sua originalidade.
A intenção do autor austríaco era encontrar a verdade e as principais explicações para questões sociais e filosóficas, independente das ideologias.
Suas ideais anti preconceitos étnicos e suas críticas a Hitler fizeram com que ele fosse condenado pelos nazistas, levando-o a fugir do próprio país. Seu exílio nos Estados Unidos trouxe frutos importantes para sua carreira: a elaboração da obra História das Ideias Políticas.
Ao analisar os problemas sociais da Modernidade como o nazismo e comunismo, Voegelin queria ir além do combate aos sintomas.
Sua extensa obra destrinchou qual seria a origem dos problemas modernos, gerando suas teorias em defesa da metafísica e suas condenações a ideologias, consideradas consequências do gnosticismo.
As obras e teorias de Eric Voegelin trazem novas perspectivas para se analisar o mundo. Entenda mais sobre seu pensamento e veja indicações de cursos para se aprofundar na obra de um dos filósofos mais profundos da modernidade.
Alguns dos principais temas do pensamento político de Voegelin são:
Mesmo sendo reconhecido como filósofo, a formação de Eric Voegelin foi em Ciências Políticas. Sua primeira graduação mostra um de seus principais interesses: as bases e os melhores caminhos para a vida social humana, tema recorrente em seus livros.
Na Universidade de Viena, Voegelin teve aulas com Hans Kelsen e com Friedrich Hayek, um dos membros mais proeminentes da Escola Austríaca de Economia.
Seus conflitos com Kelsen elucidam seu ponto de vista político e filosófico. Hans Kelsen é um dos criadores da teoria do Direito Positivo: baseado na visão de Kant, o professor austríaco acreditava que as leis deveriam ser determinadas de acordo com as tendências da época e a vontade estatal.
No pensamento de Kelsen e Kant, o ser humano não consegue conhecer a essência das coisas nem de realidades superiores a matéria, sendo o Direito uma ferramenta de ordenar a sociedade de acordo com as necessidades do contexto social.
Uma das consequências da tese de Kelsen é o ordenamento jurídico basear-se na concepção de sociedade que os legisladores e juristas possuem. Independentemente de códigos éticos ou condutas morais clássicas.
Kelsen publicou um artigo criticando o pensamento de Voegelin, que posteriormente foi chamado New Science of Politics: Hans Kelsen's Reply to Eric Voegelin's 'New Science of Politics.
Eric Voegelin foi contra o pensamento de seu professor, aponta Tales Ferreira de Lima, graduado em Filosofia, em um artigo para a Faculdade Vicentina. No livro A Nova Ciência Política, Voegelin escreveu:
"Ao significado existencial da representação, deve-se acrescentar o sentido de que a sociedade é a representante de uma verdade transcendente".
Seu pensamento defende que a realidade possui uma ordem superior à vontade humana. Essa ordem pode ser percebida pela razão humana que pode ou não seguir as regras estipuladas pela natureza.
Por exemplo: do ponto de vista individual, o intelecto humano é capaz de compreender que comer em excesso é um mal, mesmo assim, muitas pessoas podem escolher o exagero na alimentação, bem como podem escolher usar drogas ou outras substâncias que causam efeitos negativos.
Mesmo escolhendo o erro, o intelecto consegue compreender o porquê essas ações estão erradas. Independente da vontade da pessoa, comer em excesso faz mal.
Do ponto de vista social, a realidade apresenta diversas leis e princípios. É perceptível que assassinar pessoas inocentes é errado, independente do contexto social. A vida sempre busca manter sua existência, como mostram os instintos animais de luta e fuga.
Para John Locke, alguns dos principais direitos naturais são:
Dois dos autores que mais influenciaram Voegelin foram Aristóteles e Platão. Para os filósofos clássicos, esses princípios são realidades imateriais percebidas pela inteligência. Eric Voegelin defendia que princípios como Bondade, Beleza e Verdade mostram que o ser humano busca realidades que vão além do mundo material e que não existem nele.
No livro De Anima, Aristóteles indica que a elaboração de conceitos, adesão a princípios imateriais e a unidade do corpo se dão através da existência de uma alma imaterial.
Essas realidades e as regras do Direito Natural transcendem o contexto cultural do momento, são absolutas e atemporais. Com essa visão, Voegelin defendia que a política deveria se adequar às leis do Direito Natural, afirma José Pedro Galvão de Souza no prefácio de A Nova Ciência da Política.
Livros de Voegelin como Ordem e História e História das Ideias Políticas mostram como essas regras eram percebidas por diferentes sociedades em diferentes períodos históricos - em maior ou menor grau.
No texto Direito Positivo: Hans Kelsen e o Nazismo, Celso Paulo Costa comenta como o pensamento anti-Direito Natural de Kelsen podem levar a catástrofes como os crimes nazistas:
“Hans Kelsen, em sua Teoria Pura do Direito, deixa claro que a observação do que é efetivamente, não pode oferecer nenhuma pauta de valor e que o direito deve ser livre de elementos metajurídicos, não deixando-se violar por elementos da Psicologia, Economia, Política ou Sociologia.
Porém, a decadência do positivismo é emblematicamente associada à derrota do regime nazi-fascista, após a Segunda Guerra Mundial, que, dentro do quadro de legalidade vigente à época, promoveu a barbárie em nome da lei".
Além do Direito Positivo e do relativismo moral, Eric Voegelin identifica outro responsável pelas crises modernas: a imanentização do transcendente, ou seja, trazer a esperança do Paraíso para a vida temporal terrena, negando a existência das realidades imateriais.
Dependendo do caso, esse processo seria causado ou causaria o pensamento gnóstico (palavra grega para "conhecimento").
Por gnosticismo, Voegelin entendia o termo como a crença de que é possível ao homem escapar ou eliminar os males e dificuldades que afligem sua existência por meio do poder de algum conhecimento especial.
Uma das primeiras obras de Voegelin, As Religiões Políticas, analisa essa realidade.
Segundo ele, os movimentos de massa do século XX são religiões imanentistas. O comunismo, por exemplo, é a promessa de um paraíso na terra após a redenção social gerada pela revolução.
Os comunistas da União Soviética erigiram um santuário para Lênin. O local mantém o corpo do revolucionário exposto para a exibição, quase como a adoração de um deus grego ou a veneração de um santo.
O mesmo país realizava paradas e eventos litúrgicos para homenagear o poder e história do país, como o triunfo da revolução bolchevique e a vitória da URSS contra os nazistas.
Para Voegelin, trazer a realidade transcendente para a vida material poderia fazer com que os valores como Verdade, Bondade e Justiça fossem pervertidos. A verdade passaria a ser o que o partido deseja, a bondade seria o serviço a ideologia, e a justiça seria a retirada da propriedade conquistada através do trabalho honesto.
Segundo O Livro Negro do Comunismo:
Essas são apenas algumas das catástrofes geradas pelas ideologias. Para combater esse problema, Voegelin defende o retorno à metafísica.
O pensamento filosófico de Voegelin busca investigar como no desenrolar da história os seres humanos cumpriram a tarefa de compreender qual é seu papel na existência.
Segundo Voegelin, no livro Ordem e História:
"Ele [o homem] é um ator, desempenhando um papel no drama do ser e, pelo simples fato de sua existência, comprometido a desempenhá-lo sem saber qual ele é. A própria circunstância em que o homem se vê acidentalmente na condição de não ter plena certeza de qual é a peça e de como deve se conduzir para não estraga-la já é desconcertante.
Sua luta pela verdade da ordem é a própria substância da história; e conforme os progressos rumo à verdade são alcançados pelas sociedades à medida que elas sucedem-se umas às outras no tempo, a sociedade singular transcende a si mesma e se torna um partícipe no empenho comum da humanidade".
Eric Voegelin diferencia as sociedades antigas (cosmológicas) das sociedades pós-filosofia grega e revelação judaico-cristã (transcendental). Fábio Gonçalves comenta esse pensamento em um artigo publicado na página Contra os Acadêmicos:
O homem primitivo, o homo religiosus de que fala Mircea Eliade, vive num mundo mágico. Tudo para ele pode ter algum sentido, tudo pode redundar numa explicação para além daquela realidade material circundante.
O homem moderno, por sua vez, tem signos linguísticos para explicar quase tudo que vê; tem a ciência ditando o que pode e o que não pode ser considerado real ainda que isso não lhe caiba e tem uma série de ideologias turvando sua percepção direta da realidade".
Analisando a história da humanidade, Voegelin chega a uma das suas principais teorias: os dois saltos no ser.
Para ele, o ser humano mudou sua forma de encarar a realidade em dois momentos cruciais:
Esses dois momentos fizeram com que o ser humano passasse a não mais pensar em si como objeto imanente de uso e barganha dos deuses naturais, mas como criaturas livres de um Deus transcendente, capazes de alcançar a realização eterna. Esse salto possibilitou a ciência e a metafísica.
Os filósofos gregos elaboraram a base racional na existência de Deus e da alma imaterial, enquanto os judeus e cristãos receberam a revelação de Deus para viver com Ele e conhecer o princípio e o fim da existência.
Autores como Bento XVI e Olavo de Carvalho possuem pensamentos semelhantes a Voegelin, defendendo os dois saltos no ser como estruturas básicas da sociedade ocidental. Para eles, quanto mais o mundo ocidental se afasta dessa base, mais a sociedade entra em ruínas.
Para se aprofundar no pensamento de Voegelin, a Brasil Paralelo desenvolveu o curso Platão e Voegelin em parceria com a professora de Filosofia Natália Sulman, graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Conhecer a filosofia de Voegelin em profundidade é poder desvendar possíveis caminhos de desenvolvimento pessoal e social.
Suas teorias foram reconhecidas e admiradas por autores renomados, como Russel Kirk e Leo Strauss. A divulgação e aprofundamento das teorias de Voegelin é um dos caminhos para desenvolver a cultura individual e social.
Divulgar autores como Eric Voegelin faz parte da missão da Brasil Paralelo. A BP é uma empresa de entretenimento e educação cujo propósito é resgatar bons valores, ideias e sentimentos no coração de todos os brasileiros.
Em sua história, a empresa já produziu documentários, filmes, programas e cursos sobre história, filosofia, economia, educação, política, artes e atualidades.
Em 3 de janeiro de 1901 nascia Eric Voegelin na cidade de Colônia, na Alemanha. Sua mãe era católica e seu pai era luterano. Voegelin aderiu à religião luterana pelo resto de sua vida, tendo pedido para que um pastor luterano fizesse seu funeral.
Aos 9 anos sua família se mudou para Viena, onde Voegelin fez sua graduação e seus primeiros trabalhos. Casou-se com Lissy Voegelin, não tendo filhos. Desde o início da ascensão do regime nazista na Alemanha, Voegelin foi um crítico de Hitler e do nazismo.
Em 1933, Voegelin publicou o livro Raça e Estado, afirmando que o conceito de "raça" se trata de uma pseudociência. Voegelin continuou suas críticas aos nazistas, publicando em 1936 o livro O Estado Autoritário.
Sua posição fez com que ele fosse demitido da Universidade de Viena. Temendo ser perseguido, ele e sua esposa fugiram para a Suíça e depois se estabeleceram nos Estados Unidos.
A vida no novo país foi boa para o casal, ambos conseguiram cidadania americana e Voegelin trabalhou nas principais Universidades do país, tais como:
Voegelin também foi professor catedrático da Universidade de Munique, ocupando a cadeira do sociólogo Max Weber. Ao longo de sua carreira, suas obras influenciaram diversos autores de países diferentes. Alguns de seus principais livros foram:
Eric Voegelin marcou o século XX como um dos pensadores mais versáteis da época, tendo tratado sobre temas diversos como política, história, metafísica, filosofia da consciência e as bases das ciências.
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