Os efeitos da música no cérebro são notáveis e podem ser facilmente percebidos. A questão que ainda gera polêmica e continua sendo estudada é: as músicas são capazes de influenciar a inteligência e a personalidade das pessoas?
Em outras palavras, é possível afirmar que a depender do que se ouve, as pessoas podem ser mais inteligentes ou menos?
Essa é uma importante questão, também foco de reflexão no documentário A Primeira Arte, disponível gratuitamente. Esse documentário está entre os mais belos já produzidos e levou muitas pessoas às lágrimas.
A música sempre teve forte influência na cultura e marcou gerações inteiras, inspirando e criando diferentes movimentos culturais. Seu surgimento está vinculado à comunicação, à dança e aos rituais.
No desenvolvimento da história da humanidade a música cumpriu papéis sociais. Algumas percepções não necessitam de estudo aprofundado para serem minimamente percebidas.
Por exemplo, algumas músicas despertam sentimento de tristeza e outras de alegria. Algumas ainda podem dar ritmo ao furor de um exército ou ao êxtase de um ritual. Ela desperta sentimentos.
Para Andrew Fletcher, tecladista da banda inglesa Depeche Mode:
“Deixe-me escrever as músicas de uma nação e eu não me importarei com quem escreve suas leis”.
A música cumpre papéis políticos também. Os governos ditatoriais não negligenciaram o poder da música, por exemplo. Ao contrário, usaram canções para transmitir seus valores e ideais. Muitos ditadores já se valeram da música para alienar as pessoas, não só mediante as letras, mas também o ritmo.
Na argentina, até hoje se canta:
“Perón, Perón, ¡qué grande sos!
Mi general, ¡cuanto valés!
Perón, Perón, gran conductor,
sos el primer trabajador!”
Com Hitler, Mussolini e até com Getúlio Vargas no Brasil, os exemplos não são diferentes. Jingles de exaltação da figura do presidente e o uso da música eram comuns para criar um sentimento uniforme na população.
O Dr. Nghiem viu na propagação da música de massa um forte apelo comercial e revolucionário.
A massificação da cultura e sua homogeneização, segundo ele, seguem uma tendência internacional que busca facilitar a composição de músicas que possam ser vendidas mundialmente, efêmeras e substituíveis.
Já o fator da contracultura se vincula à criação do homem novo, que busca o Paraíso na Terra. Para isso, tenta destruir a ordem vigente e ataca as bases da civilização ocidental, particularmente o cristianismo.
Isso envolve o ataque feito à música clássica, por exemplo, condenada de elitista por ser erudita.
O próprio mercado já sabe usar as músicas para influenciar as pessoas a comprar mais. Não é vão que muitos supermercados e restaurantes adotam música ambiente, além dos comerciais usados.
Esses são exemplos diversos, que mostram com evidência que a música influencia o cérebro de alguma forma. Da música clássica ao jazz, do blues ao rock n’roll, em todas existe uma história e uma mensagem.
Todavia, perceber a influência da música não é reconhecer que ela pode mudar o intelecto e a personalidade das pessoas. Por essa razão, um pediatra e cardiologista que aprendeu musicoterapia publicou um livro com sua pesquisa.
O livro Música, Inteligência e Personalidade – O comportamento do homem em função da manipulação cerebral, foi escrito pelo Dr. Minh Dung Nghiem e publicado em 1999 pela Godefroy de Bouillon.
O Dr. Nghiem foi um médico pediatra, cardiologista e escritor franco-vietnamita. Nasceu em 1935, em Hai Duong, Vietnã, mas se radicou na França.
Ele percebeu que há algumas gerações a música passou a ocupar um espaço na vida cotidiana do homem que ela antes não tinha, graças aos meios de difusão modernos. Isso sucede a partir da mais tenra infância e alcança todas as idades.
“Segundo as neurociências, o pensamento de certos jovens já sofreu uma mutação por conta do desenvolvimento e da vulgarização do audiovisual: ele se desenvolve como o roteiro de um filme de televisão, plano por plano, cena por cena; ele se faz por meio de imagens como no homem primitivo, e tudo isso malgrado a escolarização obrigatória”.
A pergunta que o Dr. Nghiem se faz é:
“O que ocorreu com a sensibilidade das pessoas durante essa regressão intelectual, essa substituição da civilização do escrito pela civilização da imagem e do ritmo?”
Mesmo sendo médico, o Dr. Nghiem tinha como hobby ensinar patinação artística no gelo. Curiosamente, essa experiência foi fundamental para que ele estudasse os efeitos da música no cérebro.
Ele notou que os jovens não usavam a valsa, mais suave e elegante, para dançar. Preferiam as batidas, caracterizadas no livro como tam-tam, músicas de cultura de massa com o ritmo que prevalece sobre a melodia.
Em sua prática diária, ele notou que a qualidade dos patinadores havia caído. Sua suposição é que a música estava envolvida no problema.
O Dr. Nghiem observou mudanças na postura, nos gestos e no vocabulário dos jovens e buscou na literatura encontrar algo que explicasse os efeitos da música no cérebro. Entretanto, apenas encontrou os benefícios da música. Em nenhuma obra conseguiu ver pesquisas sobre os efeitos negativos.
Por essa razão, ele próprio começou a estudar sobre o assunto para entender a relação da música com o desordenamento sobretudo nas crianças e adolescentes expostos a todo momento às músicas de massa, ao que chamou de tam-tam.
Em suas palavras:
“Para compreender e explicar a ação da música sobre o homem, voltei a estudar as neurociências e tentar fazer uma síntese das descobertas feitas nos últimos trinta anos, levando em conta certas obras realizadas em ciências humanas. Depois, ao aprofundar meus conhecimentos em musicoterapia, dei-me conta da urgência da situação: milhares ou talvez mesmo milhões de crianças correm o risco de comprometer definitivamente seu futuro por causa de uma ‘audição forçada’ da ‘poluição sonora’”.
Seu livro já possui tradução para o português e aborda o impacto do showbusiness na inteligência.
Em suas pesquisas ele lidou com crianças e jovens constantemente envolvidos com músicas extremamente emotivas, sensuais e ritmadas. Concomitantemente, esses mesmos jovens tinham dificuldade de dançar dentro de um compasso e também tinham dificuldades na escola.
A vida deles estava tão desordenada quanto a falta de compasso na dança.
Notando os problemas na educação e o impacto da música, o Dr. Nghiem sustentou haver fundamentos científicos para a degradação que ele notou.
Não é em vão que, antes de qualquer coisa, ele ressaltou o que os gregos já pensavam sobre a música, que elevava o homem tocando-lhe a alma, trazendo harmonia e ordem para a vida cotidiana.
Filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles perceberam uma harmonia no universo, que se refletia no interior do homem e se aprende pela música.
Segundo esses filósofos, o professor Guilherme Freire afirma ser preciso ordenar a vida, ter ritmo. Segundo ele, a música dá ritmo às pessoas, mas também melodia e harmonia.
“Sons harmônicos entram em ressonância conosco e nos causam bem-estar, enquanto que sons dissonantes causam perturbação e aflição”.
A música possui papel civilizatório, pode auxiliar a tirar uma pessoa da barbárie. Ela conduz à contemplação da beleza e afasta de uma visão apenas utilitarista, materialista e mais animalesca.
Mesmo involuntariamente, o cérebro modifica a forma de ouvir e compreender as mensagens do mundo exterior, além de alterar a personalidade, principalmente de crianças.
A audição se adapta às características da língua materna das pessoas e modela os processos de fonação e elocução, ou seja, emissão de som. Há também uma relação entre audição e motricidade. Certos sons são ligados a gestos.
O trato corticoespinhal é responsável pela motricidade voluntária. É através dele que se aprendem atividades como andar, correr, nadar e dançar. Através da música, essa região do cérebro é estimulada, ocasionando um melhor desenvolvimento dessas funções.
“Finalmente reconhecemos que a audição é um ato voluntário ou inconsciente e automático, mas colocado sob a regência do cérebro. Ela depende, portanto, do aprendizado, como outras funções sensoriais como visão, paladar, olfato, tato”.
Com a repetida audição de músicas da cultura tam-tam, certas regiões do cérebro não se desenvolvem na sua plenitude, afetando o desenvolvimento cognitivo, principalmente das crianças.
Elas, se continuamente expostas a isso, passam a ter maior dificuldade de se expressarem verbalmente, podendo ter desempenho mais fraco na escola.
Muitos jovens vêm desenvolvendo tal problema de se expressar e repetem mais palavras ao longo da frase.
Músicas libidinosas podem deixar as pessoas mais propensas à promiscuidade. Já as que exageram nos sons graves, podem também tornar as pessoas mais violentas.
“A energia dos sons graves se concentraria na bacia e dos sons agudos na cabeça. Quando cantamos ou ouvimos essa percepção das cavidades do corpo funcionando como analista, viria reforçar aquela dos ouvidos”.
Não se ouve apenas com o ouvido, mas com todo o corpo. O som grave se liga ao pélvico e o agudo à cabeça.
Se as crianças se desenvolverem em ambientes perturbados, segundo a tese do Dr. Nghiem, elas serão mais propensas à desordem e à desobediência.
Para o Dr. Nghiem:
“Temos diversas provas do desenvolvimento cerebral incompleto no macaco recém nascido, Assim, por exemplo, o fechamento de um olho nos primeiros dias de vida conduz à perda definitiva das vias cerebrais da visão correspondente por atrofia anatômica”.
“De igual modo, na criança com menos de 7 anos, a privação de cuidado e de afeto conduz a uma debilidade intelectual profunda e a um menor desenvolvimento do corpo, hipotropia. Se a criança for privada do cuidado e do afeto, isso conduz a uma debilidade intelectual”.
“Nessa longa provação iniciática, cada experiência psicológica, intelectual, emocional por sua repetição voluntária ou forçada, determina circuitos nervosos particulares no cérebro e deixa, portanto, vestígios indeléveis na personalidade e gostos e, por isso, determinará o comportamento do futuro cidadão.
É uma verdade mais que óbvia dizer que o adestramento compreendendo a educação e a instrução, marcam o indivíduo por toda a vida e na criança tudo faz parte do adestramento, mesmo os jogos, lazeres ou escuta musical.”
Os bebês já sentem os efeitos da música no cérebro. A música faz parte do íntimo do ser humano. Por exemplo, a criança recém nascida reconhece a voz da mãe desde os três meses de idade (12 semanas).
A audição é o primeiro dos sentidos a se desenvolver por completo. A 21ª semana gestacional marca o início da aventura sonora do bebê.
Os primeiros ritmos a serem percebidos são os do coração da mãe, depois começam a ouvir melodias. Por isso é tão importante cantar para o bebê ainda na barriga.
O cérebro se desenvolve a partir de estímulos que se lhe chegam. Os primeiros estímulos recebidos envolvem a audição, o que não acontece com a visão nem com o tato. O sinal sonoro é treinado primeiro.
Outra constatação importante é que a música faz a linguagem falada ser lembrada. A entonação é, de certa forma, uma musicalidade que aparece na oralidade. Muitas músicas são lembradas por causa da melodia e não da letra.
Isso acontece porque há mais de vinte regiões no cérebro voltadas à audição. Algumas dimensões da música são percebidas no hemisfério esquerdo, outras no direito. Por isso, o estudo da música ajuda as pessoas a desenvolverem as regiões hemisféricas de tempo e espaço.
Essa integração é fundamental para cruzar o corpo caloso, a estrutura mais importante do cérebro.
A música também afeta a fisiologia, alterando o nível de dopamina, serotonina, opióides, beta endorfina e hormônios. Todo esse aparato de neuroquímicos são responsáveis pela motivação, imunidade e sociabilidade.
Não só no caso de bebês, mas muitos tratamentos de Alzheimer tem mostrado resultados por intermédio da música. Por exemplo, a ex-bailarina Marta C. González sofria de demência, reviveu sua coreografia ao ouvir música.
Dependendo do que se escuta, o arranjo neuroquímico vai para um lado ou para o outro. Todos têm musicalidade, pois ela é herdada na fala. Se vale a pena entender a linguagem direito, vale a pena receber a herança da música.
As conclusões do Dr. Nghiem apontam para a importância de ouvir músicas que exijam o exercício dos ouvidos. Se isso não for feito, pode-se perder a capacidade de perceber certos sons, harmonias e melodias.
Confirmando o que o doutor pesquisou, o ganhador do prêmio Nobel, Conrad Lawrence, disse:
“E, no entanto, tudo aquilo que compõe o ambiente de um ser em processo de desenvolvimento e de amadurecimento pode deixar em seu organismo uma marca que, combinada com a hereditariedade, altera o seu metabolismo, cria uma aptidão e modifica definitivamente o seu comportamento futuro.”
No último capítulo de seu livro em que aborda os efeitos da música no cérebro, o Dr. Nghiem enxergou como solução a recuperação das origens greco-latinas e judaico-cristãs da cultura.
Isso significa restaurar o amor pelas artes, pela beleza e, claro, pela boa música.
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