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Como está a economia da Venezuela? Entenda a extensão da crise do país

Economia
Política
Venezuela
Como Está A Economia da Venezuela? Entenda a Crise Do País
-
Redação Brasil Paralelo

Atualmente, o salário mínimo da Venezuela não é capaz de sustentar necessidades básicas de seus cidadãos, aponta o Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores (Cendas-FVM, na sigla em espanhol). 

Vídeos de venezuelanos comendo lixo viralizaram na internet, mostrando a crise econômica enfrentada pelo país.

O que aconteceu com o país que já foi considerado o mais rico da América Latina? Como a crise econômica está afetando o dia a dia dos venezuelanos?

  • Buscando mostrar a Venezuela como ela é, a Brasil Paralelo foi até o país de Maduro descobrir histórias reais contadas pela população local. Na prática, o que é a Venezuela? O documentário Infiltrados - Venezuela responde.

O que você vai encontrar neste artigo?

O atual estado da economia venezuelana

Segundo a ONG Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores, a Venezuela enfrenta a maior crise econômica de sua história. Para comprar uma cesta básica, os venezuelanos precisam de 21 salários mínimos.

Em 2017, a Pesquisa sobre Condições de Vida (Encovi), realizada a partir da união das principais universidades da Venezuela, afirmou que a média de peso dos venezuelanos diminuiu 11 quilos. Uma das principais causas apontadas foi a falta de comida, já que a economia do país não consegue suprir a demanda dos cidadãos.

A mesma pesquisa afirmou que seis em cada dez cidadãos do país admitem já terem ido dormir com fome. O sistema de distribuição de alimentos do governo socialista bolivariano não consegue suprir a população.

Dia a dia na Venezuela

O venezuelano Rudy Jose Arzolar Olivero e sua família perderam um filho após ir ao lixão procurar itens de valor e comida para sanar a fome, prática comum dos habitantes da região segundo a BBC. Em entrevista para a emissora inglesa, Rudy disse:

“Depois de coletar lixo, vim para casa e meus filhos ficaram lá. Pouco depois, minha filha veio correndo e gritando: ‘Papai, acho que o Manuel está envenenado porque está no chão sem conseguir se mexer’”.

Após relatar a realidade dos venezuelanos que precisam de comer lixo para sobreviver, a equipe da Univision Notícias, rede de televisão dos Estados Unidos com programação em espanhol, foi detida no Palácio Miraflores, sede do governo de Nicolás Maduro, e receberam ordens para serem deportados.

Em 2021, a pesquisa da Encovi apontou que 94,5% dos venezuelanos vivem na pobreza, marca histórica para a Venezuela que já foi o país mais rico da América Latina na década de 80.

O que causou o colapso econômico do país que possui a maior jazida de petróleo do mundo?

  • Buscando mostrar a Venezuela como ela é, a Brasil Paralelo foi até o país de Maduro descobrir histórias reais contadas pela população local. Na prática, o que é a Venezuela? Não perca Infiltrados - Venezuela.

Por que a economia da Venezuela está em crise?

Para Javier Corrales, professor de ciência política do Amherst College, os principais motivos da Venezuela ter quebrado são:

  • aplicação de políticas comunistas/socialistas;
  • controles de preços e câmbio; 
  • má gestão econômica e 
  • falta de respeito ao Estado de Direito.

Autores como Carlos Alberto Montaner, Álvaro Vargas Llosa e Luis Oliveros concordam com Javier.

Aplicação de políticas socialistas

No livro Las raíces torcidas de América Latina, Carlos Alberto Montaner diz que políticas econômicas baseadas no estatismo e no controle governamental têm prejudicado o crescimento e a competitividade da economia da Venezuela.

Outro fator apontado pelo autor é a perseguição àqueles que não apoiam o socialismo bolivariano. Segundo Carlos Alberto e organizações como a ONU, o governo tem censurado, torturado e prendido seus opositores políticos. 

A adesão ao comunismo e ao socialismo é tida como uma das causas da perseguição, já que o mesmo aconteceu em experiências socialistas/comunistas como em Cuba e na União Soviética.

Os críticos do socialismo venezuelano apontam que Hugo Chávez, fundador do atual regime do país, seguia a doutrina de Karl Marx, fundador do comunismo

Em 2006, Chávez disse:

"De 2007 a 2021 serão 14 anos para semear, aprofundaremos as raízes e estenderemos a revolução por todos os espaços para que a Venezuela seja uma República Socialista Bolivariana" (Fonte: G1.Globo.com).

O atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, trabalhava no governo de Chávez e ainda é membro do mesmo partido de seu antecessor, o Partido Socialista Unido da Venezuela. Segundo Maduro:

"Estamos empenhados em construir o socialismo do século XXI".

Na eleição presidencial de 2006, o Partido Comunista da Venezuela apoiou oficialmente a candidatura do então presidente Hugo Chávez. O candidato do Partido Comunista foi reeleito no primeiro turno, tendo obtido 62,8% dos votos segundo o sistema eleitoral do país.

Controles de preços e câmbio e má gestão econômica

O livro La nueva economía venezolana: Propuestas ante el colapso del socialismo rentista aponta que o governo de Hugo Chávez e Maduro gastaram de maneira irresponsável o dinheiro recebido com descobertas de petróleo, iniciadas em 2003 e encerradas em 2014.

José Toro Hardy, economista e ex-diretor da PDVSA, a estatal de petróleo da Venezuela, diz que as principais iniciativas que levaram o país a quebrar foram:

  • controle estatal sobre a indústria petrolífera, 
  • expropriação de empresas
  • expansão descontrolada dos gastos públicos.

Alguns dos principais erros apontados pelos autores no uso do dinheiro é a tentativa de investir em um modo de produção socialista, condenado pelo economista Ludwig Von Mises. Para ele, o socialismo é intrinsecamente falho.

Segundo os autores apontados, o atual regime da Venezuela impediu que o mercado se regulasse conforme as necessidades orgânicas da população. Medidas como tabelamento de preços, estatização de empresas e impressão de dinheiro impedem que os bens e serviços sejam valorizados conforme a necessidade da população.

Em entrevista à BBC, o economista Giordio Cunto disse:

“A revitalização da economia de 2022 não envolvia outros setores mais produtivos e de maior valor agregado como construção, mineração, manufatura, que ficavam para trás".

Com o desequilíbrio da economia do país, cerca de 60% dos novos estabelecimentos alimentares da Venezuela fecharam após uma breve recuperação em 2022, aponta Iván Puerta, presidente da Associação de Restaurantes.

Na mesma entrevista citada, o economista Giorgio Cunto falou sobre a relação do governo com a economia em 2023:

​​"Ainda há muita vulnerabilidade na política monetária, já que ela não se movimenta sozinha, mas está atrelada ao Executivo. Assim, não vamos crescer mais do que 5% neste final de ano."

Falta de respeito ao Estado de Direito e a direitos humanos básicos

Segundo o historiador Daniel Neves Silva, uma das principais atitudes responsáveis por quebrar a democracia venezuelana foi a reforma jurídica feita pelo revolucionário Hugo Chávez. 

O presidente aumentou o número de juízes de 20 para 32, tendo nomeado 12 defensores de seu governo. Segundo Daniel, Chávez perseguiu opositores e procurou perpetuar-se no poder por meio de reformas na Constituição.

Em relatório divulgado em agosto de 2022, a ONU apontou que os serviços de inteligência da Venezuela cometeram crimes contra a humanidade sob ordens das esferas mais elevadas do governo para reprimir a oposição.

"Esse plano foi orquestrado no nível político mais alto, liderado pelo presidente Nicolás Maduro", ressaltou em entrevista coletiva Marta Valiñas, presidente da Missão Internacional Independente da ONU sobre a Venezuela.

"Nossas investigações e análises mostram que o Estado venezuelano usa os serviços de inteligência e seus agentes para reprimir a dissidência no país. Isso leva à prática de crimes graves e violações de direitos humanos, incluindo atos de tortura e violência sexual"
, denunciou Marta.

O relatório apontou que Maduro e pessoas de seu círculo próximo “participaram da seleção dos alvos”

Para outros, a Venezuela não quebrou por ser comunista

Para outros estudiosos do assunto, a Venezuela não quebrou por causa do comunismo nem por conta do socialismo. O jornalista Ronni Pereira diz:

"Não se deve considerar a essência das instituições (governos e partidos) pelo que elas dizem ser ou pela consciência que as mesmas têm de si próprias, já dizia o mestre Perseu Abramo. É necessário analisar as ações e políticas da mesma e chegar a uma conclusão.

[...] Nunca houve abolição da propriedade privada na Venezuela e nem nenhuma das outras características da economia planificada. Apesar de Chávez ter nacionalizado muitas empresas privadas (não todas), ele fez isso com base na ideologia nacionalista, não para tomar os meios de produção da “burguesia”.

[...] Chávez e Maduro são na verdade líderes autocratas e populistas, não socialistas".

O jornal Left Voice (Voz da Esquerda) concorda com a tese. Em entrevista com Milton D’León, trabalhador marxista de Caracas e editor do site La Izquierda Diario Venezuela, o venezuelano afirmou:

"Na Venezuela não é o “socialismo” que fracassou e sim uma política que manteve o país dependente das receitas do petróleo, que garantiu os lucros dos banqueiros e empresários, enquanto o povo sofre com a fome. 

O governo se baseou nas forças armadas, em um permanente estado de emergência que fica cada vez mais repressivo ao longo do tempo. A propriedade privada na Venezuela sempre foi defendida e, durante a bonança do petróleo, os capitalistas prosperaram. 

Isto foi acompanhado por uma limitada distribuição de renda através de programas sociais, com base no boom do petróleo".

Para Edgardo Lander, sociólogo venezuelano, o socialismo bolivariano trouxe benefícios para seu país, não sendo culpado pela crise do país. Em um artigo publicado na Revista Movimento:

"Nos anos de governo bolivariano se produziram elevados graus de politização, significativas transformações na cultura política popular, no tecido social e organizativo, assim como nas condições materiais de vida dos setores populares anteriormente excluídos. 

Geraram-se amplamente sentidos de dignidade e inclusão, capacidade de incidir tanto sobre a vida própria como sobre o destino do país.

Mediante múltiplas políticas sociais (las misiones) dirigidas a diferentes setores da população, foram reduzidas muito significativamente os níveis de pobreza e de pobreza crítica. 

De acordo com a CEPAL, o país chegou a ser, junto com o Uruguai, um dos países menos desiguais de toda a América Latina. A população ficou melhor alimentada. Realizaram-se efetivos programas de alfabetização". 

Investigando a crise da Venezuela

Existe mais de uma narrativa para explicar o que está acontecendo na Venezuela, como entender o que de fato está acontecendo no país com tantas histórias diferentes?

Para entender a Venezuela como ela é, a Brasil Paralelo foi até o país de Maduro descobrir histórias reais contadas pela população local.

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