O Brasil é um dos países com os piores índices de criminalidade no mundo. Apesar disso, há grupos que defendem a desmilitarização da polícia, o que na prática significa diminuir seu poder de ação militar.
Mas a polícia militar é responsável por aumentar a violência onde atua? Para alguns, sim, e por isso deveria ser desmilitarizada.
Entenda o que realmente significa essa desmilitarização. Diante de organizações criminosas tão estruturadas no Brasil, é viável retirar a força militar da polícia?
Seria o fim da PM (Polícia Militar)?
A Polícia Militar (PM) é a organização responsável pelo policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública na nação brasileira. Esta atribuição é feita com base no artigo 144 da Constituição Federal de 1988 que discrimina as funções da polícia civil e militar:
A escala hierárquica da Polícia Militar obedece à seguinte configuração,em ordem crescente:
Explicadas quais são as instituições de policiamento e as suas respectivas funções, é possível compreender o que é a Desmilitarização da Polícia.
A PM é um órgão policial vinculado à hierarquia do Exército. Desse modo, alguns aspectos da lei militar se replicam nos policiais:
A Desmilitarização da Polícia é retirar da Polícia Militar os aspectos que a vinculam com o exército.
Os policiais não mais responderiam à disciplina do Exército Brasileiro. Na prática, teriam liberdade para expressar críticas à polícia, organizar-se em sindicato e serem julgados em tribunais civis.
Muitos defensores da pauta da desmilitarização apontam que a medida reduziria a necessidade do uso da força por parte dos policiais.
Este é um dos pontos mais controversos dessa discussão. O Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para se viver, com as taxas mais altas de criminalidade. Como a redução da força da polícia ajudaria a resolver isso?
Há quase 10 anos foi proposto pela primeira vez a desmilitarização da polícia no Brasil.
Em 2013, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) protocolou uma Proposta de Emenda Constitucional para promover a Desmilitarização da Polícia no Brasil. A PEC-51/2013 propunha também que unissem as polícias Civil e Militar em um único grupo.
Desse modo, os estados teriam o poder de organizar a polícia conforme suas necessidades. Podendo inclusive subdividi-las em territorial ou criminal.
A PEC foi arquivada no dia 21/12/2018. O projeto não agradou os congressistas brasileiros. No entanto, em apenas 4 meses o Senador Humberto Costa (PT-PE) solicitou o desarquivamento da PEC.
Nas eleições de 2014 e 2018, partidos como o PT e o PSOL apresentaram em suas campanhas eleitorais a pauta da Desmilitarização da Polícia.
E por quais razões defendem essa mudança?
Existem grupos junto à sociedade civil que de fato defendem o fim da Polícia Militar. Contudo, desmilitarizar a polícia não significa extingui-la. Os principais argumentos dos que defendem essa pauta são:
Desmilitarizar a PM colocaria os oficiais da organização como membros de uma instituição civil, não militar. Isso permite que os policiais possuam os direitos e deveres semelhantes ao do restante da população.
Atualmente, a lei militar prevalece. Alguns direitos comuns para qualquer cidadão, são diferentes para os policiais devido à hierarquia militar, os policiais:
A desmilitarização acabaria com essas restrições. Outro ponto que constitui a defesa desta pauta, é a redução do belicismo da polícia. Para os defensores da medida, a cultura militar torna a polícia violenta.
Eventos como o massacre de Carandiru, o caso Amarildo e a Operação na Vila Cruzeiro costumam ser apontados como razões para justificar a redução da força da polícia brasileira.
Removendo o elemento militar, reduziria o uso da força por parte dos policiais e, consequentemente, seu belicismo. Mesmo com essas razões, muitos se posicionam contra a pauta.
Marlon Jorge Teza é presidente da Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares (Feneme). Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, ele explica que há muita confusão quanto ao tema da Desmilitarização da Polícia.
“Há muita confusão nesse argumento de que a polícia, por ser militar, é para guerra. Há no mundo todo polícias militares. Geralmente tem uma militar e uma civil”.
No mundo, existem dois tipos de organizações policiais:
No Brasil, aplica-se o segundo modelo por herança da colonização portuguesa.
“A PM não foi inventada na Ditadura, como alguns dizem. O modelo militar da polícia teve início em 1808 com a vinda da família real para o Brasil. A partir da década de 1930, após a publicação de um decreto determinando que quem faria a segurança das províncias seriam os presidentes delas, esses começaram a criar suas polícias e a partir daí foram formadas as corporações militares”.
Países como Itália, Espanha, Holanda, França, Chile e Argentina adotam esse modelo. Há uma opção deliberada por essas corporações militares.
Contemplada a posição de um especialista no assunto, os principais argumentos contra a desmilitarização da polícia são:
Diante dos números do crime no Brasil, que chocam qualquer pessoa, a ideia de redução do uso da força policial é polêmica.
Os principais dados sobre o crime no Brasil que chocam são a respeito do número de homicídios. O Brasil tem uma média de 60.000 ao ano. Muitos países em estado de guerra não conseguem superar esse valor.
As altas taxas de homicídio se tornaram algo tão banal que as frequentes notícias de mortes não parecem mais chocar a população brasileira. Retrato de um problema grave de Segurança Pública no Brasil.
Os dados mais atuais são:
Os dados são de 2018, do Instituto Igarapé. Estas estatísticas são fruto de uma crise de criminalidade que não possui similar no mundo.
O sistema penal é incapaz de atender às demandas do crime no Brasil. Além disso, muitas vezes a lei do código penal abranda a situação do criminoso. Alguns dados podem ilustrar essa realidade:
O sentimento de insegurança que paira constantemente sobre todos os brasileiros é um resultado de um conjunto de fatores. Altos índices de homicídios, violência, furtos, sequestros, estupros. Diversos fatores compõem os dados dessa seção.
Cerca de 25% dos roubos de celulares que acontecem no mundo são no Brasil. Segundo dados apresentados pela Câmara dos Deputados, no dia 05 de agosto de 2015. Cerca 3,35 roubos acontecem por minuto no Brasil.
Em 2016, foram registrados 1 milhão e 850 mil roubos em um ano, apenas nas 27 capitais brasileiras. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.
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O brasileiro se acostumou a viver com a realidade do crime. Apesar disso, a polícia do Brasil enfrenta um dos crimes mais bem organizados que existe, com equipamentos militares de qualidade superior.
Alguns dados sobre a realidade no crime no Brasil espantam qualquer um, mas nem por isso são divulgados:
Ser policial no Brasil é, em muitos casos, um ofício mais perigoso do que ser soldado em uma guerra.
A porcentagem de PMs mortos no Rio de Janeiro é de 3,22%. A título de comparação:
Fontes: PMERJ/EMG/EQG, PMERJ/EMG/PM1, PMERJ/EMG/EI, USA Congressional Research Service CRS Report RL 32492 e US Veteran Statistics
Cerca de 56.600 criminosos do Rio de Janeiro atuam portando fuzis, rifles, granadas ou armamentos anti-tanque. Estes números correspondem verdadeiramente a um exército.
O exército de Portugal conta com 25.580 soldados na ativa, segundo dados de 2019.
Já o da Alemanha, segundo dados de 2018, conta com um efetivo de 61.721. O número que contempla apenas criminosos com armamento pesado no Rio de Janeiro é quase igual ao do exército da Alemanha.
Não é à toa que os índices brasileiros de criminalidade, violência e insegurança apresentam dados tão preocupantes.
Segundo uma pesquisa do World Justice Project - Rule of Law Index:
Após tantos dados negativos, a desmilitarização da polícia pode parecer algo arriscado.
No Brasil o crime está cada vez mais organizado e profissionalizado. O sistema de justiça, em contrapartida, é cada vez menos organizado.
As leis restringem e inibem cada vez mais a ação policial. O que gera uma grande sensação de impunidade. Diversos bandidos agem com a certeza de que nunca serão punidos por seus atos.
Entre benefícios e riscos, a balança do crime parece sempre pender para benefícios. Até a segunda metade dos anos 80, as cidades do interior mal sabiam o que eram crimes, homicídios. Hoje muitas são rotas de tráfico, enfrentam frequentes roubos e são vítimas do novo cangaço.
É comum ver bandidos partindo para cima da polícia que, incapaz de reagir, se acua e vai recuando diante daquilo que deveriam combater.
O crime tem a vantagem das armas, a vantagem numérica e, em muitos casos, a glamourização da mídia.
Se um dos argumentos da desmilitarização é reduzir a força policial, diante desta realidade do crime brasileiro, a pauta pode não parecer a melhor saída. Resta compreender os verdadeiros interessados nesse enfraquecimento policial.
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