Em São Paulo, um cenário de histórias de terror pode ser visto a céu aberto da Estação da Luz à rua Helvética: as cracolândias. Por onde passam, os crimes aumentam, os moradores das regiões perdem a liberdade e os usuários passam por dificuldades com os traficantes, donos do sistema de drogas.
As cracolândias existem em São Paulo desde os anos 90. Desde então, especialistas estudam as raízes e os efeitos deste problema de segurança e saúde pública.
Desde de o desenvolvimento da cidade de São Paulo de vila para área urbana, as regiões da estação da Luz, do Bom Retiro e dos Campos Elíseos estiveram associadas à ilicitude. Foi em 1990, quando o crack foi levado a cidade, que surgiram as cracolândias nestes locais da capital paulista.
A estação de trem da Luz, criada em 1901, recebia desde pessoas ricas e influentes a lavradores e imigrantes humildes. Essa região, em conjunto com a área do bairro Bom Retiro, possuía diversas casas de prostituição, jogos e bares.
Pelo fato de possuírem muita rotatividade, atraindo diversos tipos de pessoas, a região oferecia quase todas as possibilidades para os viajantes. Aqueles que praticavam atividades ilícitas passaram a estabelecer-se em pensionatos na região, aumentando as atividades criminosas, principalmente o tráfico de drogas.
Na década de 70, a região chegou a abrigar um polo cinematográfico, reunindo diversos artistas do Brasil a fora. Contudo, os artistas entraram em falência em pouco tempo, deixando os arredores como região quase exclusiva de prostituição, drogas e jogos.
Essas regiões permaneceram sendo áreas de vícios e ilícitos, até o nível da dependência química e dos crimes aumentarem nos anos 80, quando a cocaína se popularizou em São Paulo e no mundo, em grande parte devido ao enriquecimento dos narcotraficantes.
Foi em 1990 que surgiram as cracolândias em São Paulo. Derivado da cocaína, o crack é uma droga sintética de alta dependência. A substância é fumada em forma de pedra, em cachimbos, e possui um efeito mais forte e rápido.
Marta Jezierski, médica psiquiátrica, afirma:
“Quando menor a duração do efeito, mais viciante é uma substância".
A droga gera um efeito forte e rápido, seguido de depressão. O usuário de drogas do tipo possui a tendência de usar novamente mais vezes e mais rápido. A intenção é escapar da depressão e alcançar novamente uma forte alegria.
Como o crack é uma droga mais barata, sua disseminação é maior. No ano de 1990, as autoridades paulistanas depararam-se com a droga pela primeira vez na cidade. A região, já habitada por pessoas viciadas, teve seu número de dependentes químicos rapidamente expandido, devido à nova droga barata e mais forte.
O crack é tão simples que pode até mesmo ser fabricado em casa. Esse foi um dos fatores que mais facilitou a disseminação da droga na década de 80, primeiro nos Estados Unidos, depois no mundo.
A cracolândia existe porque os usuários conseguem a droga de uso frequente de forma imediata, fácil. Como o crack exige ser utilizado várias vezes seguidas, é mais prático para o viciado morar no local que irá conseguir obter a droga imediatamente.
A droga é tão forte que os habitantes da região abandonam todos os outros aspectos da sua vida para poder usar crack.
Segundo o médico Bruno Lamoglia, o uso destas substâncias cria dependência nos seres humanos mais imediatistas que buscam uma sensação mais forte, o poder mais forte. A vida não chega a este nível.
A sensação buscada não é experimentada. Justamente porque o fenômeno da dependência e da tolerância leva exatamente à perda dessas sensações. Os vícios em substâncias químicas geram o seguinte ciclo: a busca por saciar a si mesmo completamente, sendo que isto não vai acontecer.
A cracolândia estava localizada na rua Frederico Stadel, no centro de São Paulo. Diante da situação de caos social gerada pelos crackeiros, a polícia os dispersou no dia 19 de maio de 2022, todavia, a cracolândia se organizou novamente na rua helvética, onde está atualmente.
Na operação, onze pessoas foram presas suspeitas de tráfico de drogas. Os usuários passaram a viver em uma situação de semi-nômades, transitando entre a rua helvética e a rua da antiga cracolândia, a rua Frederico Stadel.
O secretário executivo dos projetos municipais estratégicos, Alexis Vargas, disse sobre as operações:
"O atendimento no Capes 4 aumentou 28% nesse mesmo período, foram 493 pacientes em janeiro, 580 em abril. Isso está diretamente relacionado com a dispersão. Quanto menos eles estão em multidão e sob o comando do tráfico, mais aceitam tratamento".
As operações nas cracolândias se intensificam devido aos crimes frequentes que acompanham os crackeiros. Segundo o humorista Márcio Américo, ex-dependente e morador da cracolândia, os locais possuem até mesmo prostituição infantil.
Os usuários de crack tornam-se tão viciados que muitas vezes não se importam em cometer crimes para sustentar a dependência.
Após a mudança da cracolândia para a praça Princesa Isabel, na rua Helvética, a porcentagem de roubos na região cresceu 160%, e os furtos 110%, segundo dados da rádio bandeirantes.
Moradores da região relataram ter ficado "reféns" da Cracolândia. Em reportagem do G1, um morador da região da praça Princesa Isabel disse:
"Tiramos os colchões da cama e trouxemos para a sala, as janelas foram fechadas com chave para tentar impedir o barulho, estocamos lixo em casa porque foi impossível descartar".
Márcio Américo afirma que vários tipos de crimes hediondos ocorrem no local. Márcio passou anos na cracolândia de São Paulo como dependente químico. Segundo ele, muitas mulheres se prostituem para sustentar o vício, e muitos traficantes e outros criminosos aproveitam o local para prostituir crianças.
O comediante foi entrevistado pela Brasil Paralelo no documentário Entre Lobos, longa metragem que estuda os problemas da segurança pública do Brasil. No documentário, Márcio explica como as cracolândias funcionam.
Segundo ele, os habitantes da cracolândia sofrem com ordens arbitrárias dos traficantes, os moradores ao redor sofrem com o crime e a cidade fica cada vez mais suja e denegrida. Os males não são apenas sociais, mas também estéticos, como explicado no documentário O Fim da Beleza.
Diante desse cenário caótico, no qual seres humanos se transformam praticamente em “zumbis”, onde as pessoas das redondezas sofrem com o crime, uma coisa fica clara: a falta de segurança no Brasil é o pior problema do país.
Diversas medidas foram tomadas pelo Estado, mas o problema da cracolândia em São Paulo perpetua-se. Os males ainda não foram atingidos na raiz.
No Brasil, é comum o medo de ir até a esquina. De parar no semáforo. De atender o telefone. As casas possuem grades nas janelas, os condomínios possuem câmeras em cada região. Os lares replicam a estrutura de prisões.
Sente-se que a vida está em risco, todos os dias. Situações tristes são comuns, não importa qual seja a cidade, estado ou condição econômica.
A mãe que enterra seu filho mais novo. O pai, que é assaltado no trânsito voltando do trabalho. E o filho mais velho que não sabe se chegará da faculdade com seu celular e sua carteira.
Diversas políticas sobre segurança pública são instauradas no Brasil, mas o problema continua.
Para sanar a doença, é preciso primeiro realizar o diagnóstico.
Buscando trazer um panorama sério e profundo, sem usar a lente de ideologias políticas, a Brasil Paralelo lançou o documentário exclusivo: Entre Lobos.
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