Um dos principais filósofos dos tempos modernos, Michel Foucault é um nome recorrente nas universidades brasileiras e também em provas como o Enem.
De acordo com levantamento feito pelo pesquisador Elliott Green, professor da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, na Inglaterra, Michel Foucault teve 60. 700 citações em trabalhos acadêmicos ao redor do mundo, estando no top 5 autores mais citados do mundo.
Suas ideias em prol do relativismo moral o tornaram ícone da ideologia progressista. Seu foco era denunciar supostas estruturas de opressão escondidas nas normas e instituições tradicionais da sociedade.
Conheça agora os pensamentos, obras e controversias de Michel Foucault, incluindo as denúncias de pedofilia praticada na Tunísia.
Michel Foucault nasceu no dia 15 de outubro de 1926, em Poitiers, na França. Filho de Paul Foucault e Anna Malapert, ele foi criado em meio a médicos e recebeu forte influência de seu pai para seguir essa carreira acadêmica.
Além do pai de Foucault que era cirurgião e professor de anatomia, os seus dois avôs eram cirurgiões.
Mas Foucault não demonstrou interesse pela medicina e logo começou a gostar de história e assuntos relacionados.
Durante a juventude, seu interesse pela filosofia começou a despertar, fazendo com que ele iniciasse leituras a respeito do tema ainda nessa fase.
No livro Foucault, de Didier Eribon, o autor descreve a infância do filósofo sendo “marcada por influências familiares, educacionais e sociais. Tendo sido criado em um ambiente burguês conservador e se desenvolvido intelectualmente de maneira precoce”.
O pai tentou convencê-lo a entrar para a medicina, mas ele não demonstrou interesse. A relação com o pai não era próxima.
Já com sua mãe, a relação se mostrava mais afetiva. Ela foi apoiadora da sua decisão de estudar Filosofia.
O autor David Macey, em seu livro The Lives of Michel Foucault, fala sobre a inquietação intelectual apresentada pelo filósofo em sua juventude.
Essa decisão o fez mudar para Paris, em 1945, e começar os preparativos para ingressar na vida universitária.
Ele sempre demonstrou uma personalidade introspectiva, que se desenvolveu ao longo dos anos de faculdade por causa do clima de competitividade que existia no local.
Por ter se descoberto homossexual ainda jovem e com dificuldade de aceitar essa descoberta, teve um episódio de tentativa de suicídio. Isso fez com que começasse a ter acompanhamento psiquiátrico.
Trilhou sua carreira profissional trabalhando como psicólogo patologista em diversos hospitais psiquiátricos e presídios.
Michel Foucault graduou-se em Filosofia e Psicologia na École Normale e seguiu carreira acadêmica. Foi professor em universidades de diferentes países europeus, tendo passado por Polônia, Alemanha e Suíça.
Construiu parte relevante de sua carreira trabalhando em hospitais psiquiátricos e também em presídios. Essas experiências ofereceram insumos práticos suficientes para a criação de obras como Vigiar e Punir e História da Loucura.
A notoriedade de sua obra despontaria alguns anos mais tarde quando, de volta à França, submeteu a sua tese A História da Loucura à Universidade de Paris, para a obtenção do título de doutor.
Ele acreditava que verdades e valores tinham lugar apenas nas chamadas formações discursivas. Ou seja, apenas como discursos fabricados para legitimar o poder daqueles que o detêm.
No livro Michel Foucault: uma trajetória filosófica, os autores Hubert Dreyfus e Paul Rainbow destacam como o filósofo via a questão do poder.
“Foucault analisa como o poder se inscreve nos corpos e na vida dos indivíduos, criando dispositivos de controle que regulam a reprodução, a saúde, a sexualidade e outras dimensões da existência humana”.
Foucault se mostrou em sua obra um dedicado historiador das ideias, dos comportamentos e das instituições. Ele escreveu sobre a história da loucura, a história da sexualidade e a história das prisões.
Ele estava dedicado a estudar a história dos problemas. Segundo ele:
“É a história dos problemas, ou, se preferir, a genealogia dos problemas que me interessa. Por exemplo, sobre a sexualidade. O que me parece importante é como e por qual motivo essa relação com a sexualidade, com nossos comportamentos sexuais, se tornou um problema. E de que forma se tornou um problema. Pois eles sempre foram considerados problemas, mas é certo que eles não foram considerados problemas da mesma maneira” (disse em uma entrevista apresentada no programa Face Oculta, da Brasil Paralelo).
A obra de Foucault pode ser dividida em três etapas:
No período arqueológico, o filósofo se preocupou em estabelecer um estudo chamado de método “arqueológico” das estruturas das ciências humanas.
Já no período genealógico, a sua preocupação foi com as formas de poder e subjetivação na sociedade. Sob influência do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, Foucault tentou estudar a formação do que ele denominou de sociedade disciplinar.
Já no período final, também conhecido como último Foucault, o foco foi a cultura grega e a tentativa de desvendar como os gregos encaravam a sexualidade.
As principais obras de Michel Foucault são:
Para Foucault, os problemas psicológicos e sociais tornam-se problemas apenas na medida da conveniência do poder exercido em um contexto particular.
Conceitos como o de justiça e outros que fazem parte da edificação do senso moral são relativizados por Foucault. Em 22 de outubro de 1971, Foucault participou de um debate com o linguista norte-americano Noam Chomsky, realizado na Escola Superior de Tecnologia de Eindhoven.
Durante o debate, Foucault trouxe o seu ponto de vista em relação ao senso de justiça para a classe oprimida e a classe opressora.
“Parece-me, de todo modo, que a noção mesma de justiça funciona no interior da sociedade de classes como reivindicação do lado da classe oprimida e como justificarão do lado da classe opressora”.
Chomsky discorda do pensamento apresentado por Foucault e apresentou o seu argumento contrário.
“Eu acho que os nossos sistemas de justiças, eles também incorporam um certo tateamento na direção dos verdadeiros conceitos humanamente valiosos de justiça, decência, amor, bondade, solidariedade e assim por diante, os quais acredito que sejam reais”.
Apesar da carreira acadêmica e de trabalhar conceitos filosóficos, Foucault se identificava com áreas alternativas da sociedade para a época.
Na época da faculdade, já se participava da cena gay underground de Paris, tendo se envolvido em inúmeros encontros sexuais com múltiplos parceiros. Em 1975, em uma visita a São Francisco, Foucault conheceu a subcultura de sadomasoquismo, que chamou sua atenção.
Segundo relato de amigos, ele rapidamente passou a participar de sessões que envolviam algemas, chicotes, mordaças e uma variedade de roupas de couro.
No tempo em que esteve perto de Foucault, Noam Chomsky o classificou como amoral. Após debate realizado na Holanda, onde teve a oportunidade de passar um tempo ao lado de Foucault, Chomsky apresentou sua opinião sobre o filósofo francês.
“Ele me pareceu ser completamente amoral. Eu nunca havia conhecido alguém que fosse tão completamente amoral”.
Para o psicólogo e escritor canadense Jordan Peterson, os problemas apresentados por Foucault pareciam ter origens mais profundas.
"Foucault tinha seus problemas, e de uma maneira que parece ser bem profundamente patológica, de uma maneira muito sombria” (disse em uma entrevista, apresentada no Face Oculta da Brasil Paralelo).
Para Foucault, o sadomasoquismo dotava da prática sexual de um caráter transcendente. Ele via a prática como uma representação de um conceito usado em sua filosofia, de experiência-limite.
Para Daniel Defert, companheiro de Foucault por mais de 20 anos, ele vivenciou essa experiência na sua última visita a São Francisco:
“Quando foi a São Francisco pela última vez, ele considerou isso uma experiência-limite”.
O círculo intelectual francês da segunda metade do século XX tinha personalidades como Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, que trocavam cartas relatando experiências com a sedução de jovens.
Eles usavam o prestígio como filósofos para seduzir jovens, muitas vezes menores de idade, para participar de triângulos amorosos com o casal.
O autor David Halperin, em seu livro One Hundred Years of Homossexuality: And Other Essays on Greek Love, fala sobre as provocações de Foucault em relação à sexualidade.
“A obra de Foucault sobre a história da sexualidade nos ensina a desconfiar das narrativas lineares e a reconhecer a multiplicidade de experiências e práticas sexuais ao longo do tempo. Sua abordagem nos convida a questionar as categorias fixas de identidade sexual e a explorar dimensões políticas e culturais da sexualidade”.
Em 1977, Sartre e de Beauvoir se juntaram a Foucault e outros intelectuais franceses como Jacques Derrida, Roland Barthes e Félix Guattari para assinar uma petição.
Essa petição pedia o fim da idade de consentimento no país ao Parlamento francês. Isso faria com que crianças e adolescentes de qualquer idade legalmente capazes de consentir relações sexuais.
Em 1978, Foucault concedeu uma coletiva de imprensa em Paris e apresentou seu ponto de vista sobre o consentimento na relação sexual entre adultos e menores de idade:
“E, por outro lado, em cada caso particular, ele dirá: este é um exemplo de um adulto que traz a sua própria sexualidade para a sexualidade da criança. Pode ser que a criança, com a sua sexualidade própria, tenha desejado aquele adulto, pode até ter consentido, pode até ter dado os primeiros passos. Podemos até concordar que foi ele quem seduziu o adulto” (fala publicada em The Danger of Child Sexuality -an interview with Michel Foucault).
Na obra Rethinking Sexuality, da autora Diane Richardson, ela afirma que o filósofo questiona as suposições convencionais sobre a sexualidade.
“Foucault nos convida a questionar as suposições convencionais sobre a sexualidade e a explorar as relações entre sexo, poder e conhecimento. Sua obra nos desafia a repensar as fronteiras entre o normal e o patológico, o natural e o construído, e a buscar novas formas de compreender e viver nossa sexualidade”.
Em março de 2021, uma coluna do jornal britânico The Sunday Times repercutiu as acusações feitas pelo escritor Guy Sorman.
Sorman afirma que presenciou Foucault se relacionando com crianças, marcando encontros e arremessando dinheiro nelas.
“As crianças tinham oito, nove, dez anos. Ele atirava dinheiro nelas e dizia: ‘vamos nos ver às 22h, no mesmo lugar de sempre”.
Sorman afirma ainda que esse comportamento adotado por Foucault na Tunísia não seria reproduzido na França.
“Foucault não ousaria fazer isso na França. Há uma dimensão colonialista nisso, um imperialismo branco”.
Foucault acabou contraindo Aids em 1980, mas mesmo assim manteve a sua vida ativa. Acabou falecendo em Paris no dia 25 de junho de 1984, em decorrência da doença que ainda não tinha cura e nem tratamento na época.
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