Patrono da Educação brasileira, autor nacional mais referenciado no mundo, fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), Paulo Freire congrega em si muitos títulos de relevância. Tais honrarias são símbolos de sua influência, que se estende até um aspecto essencial da vida de todos os brasileiros: os documentos que fundamentam a educação nacional.
Quem foi esse homem? Quais foram as suas bases intelectuais? Que métodos pedagógicos pregava e quais foram as consequências de sua implementação? Confira:
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No dia 19 de setembro de 1921, nasceu Paulo Reglus Neves Freire, em Recife, no estado de Pernambuco. No momento em que nasceu, o Nordeste enfrentava um dos piores períodos de sua economia. Isso não impediu o pedagogo de desenvolver-se.
Teve uma infância muito pobre e conseguiu iniciar seu processo de alfabetização muito tarde.
Após o período de sua autoalfabetização, iniciou seus trabalhos dentro das faculdades de Direito e Letras de sua cidade natal.
Foi durante esse período que Paulo Freire teve a experiência definitiva de sua carreira: em Angicos, no Rio Grande do Norte, ele desenvolveu um programa de alfabetização de adultos.
Os resultados conquistados com os estudantes em apenas 40 dias impressionaram. Em poucos dias, aqueles homens conseguiram ler e escrever. O método conseguiu ensinar silabicamente os estudantes a ler e escrever.
Essa experiência foi recebida de maneira tão expressiva que chamou atenção de homens como João Goulart e Darcy Ribeiro.
João Goulart, presidente em exercício em 1964, havia sido Ministro do Trabalho de Getúlio Vargas. Darcy Ribeiro, por sua vez, estava responsável por organizar a educação no governo de Goulart.
Assim, Paulo Freire deixa o Nordeste e passa a ser um homem que interpreta o processo de educação brasileiro, além de ter a oportunidade de implementar seu programa a nível nacional.
As reformas de base de João Goulart contavam com um Plano Nacional de Alfabetização. Esse plano seguiu o método de Paulo Freire.
Com isso, em 1964, Paulo Freire não era mais o nordestino pobre, que vinha de uma base de um país com problemas estruturais. Freire já era protagonista de um método de alfabetização que vinha ganhando espaço no Brasil.
Com o advento do regime militar, Paulo Freire é preso por 70 dias. Depois ele é mandado para o exílio.
Durante o tempo que esteve exilado, Paulo Freire vivenciou dois fatos decisivos, para sua biografia. Primeiro, trabalhou para o Conselho Mundial de Igrejas. Depois, trabalhou para a UNESCO.
Com isso, Paulo Freire se tornou cada vez mais global e popular. Seu pensamento foi expandido e dialogou com correntes que, em seu tempo, eram moda.
Durante o exílio ele perambulou em países como Chile, Estados Unidos e França. Dentro desse processo histórico, Paulo Freire não viveu um exílio agressivo e isolado. Suas obras eram lidas, publicadas e o autor concedia palestras em universidades.
De volta ao Brasil, deu aulas na PUC-SP e na Unicamp. De 1988 a 1991, foi secretário municipal de Educação na gestão de Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo. Foi nesse período que criou a lei da aprovação automática, que hoje é utilizada em todo o país.
Em 1979 foi fundado o Partido dos Trabalhadores (PT), que contou entre seus criadores com Paulo Freire.
No dia 2 de maio de 1997, Paulo Freire faleceu em São Paulo, vítima de um ataque cardíaco, após complicações de uma operação de desobstrução de artérias.
Após introduzir os pontos mais importantes sobre quem foi Paulo Freire, é importante conhecer o método que o consagrou.
A maior parte das pessoas no Brasil é alfabetizada pelo método silábico. Muitos professores utilizam “as famílias” para alfabetizarem as crianças. Como por exemplo, a família do “F”: fa, fe, fi, fo, fu. Cada sílaba corresponde a uma palavra.
Assim, o aluno obtém familiaridade com as sílabas. O método de Paulo Freire segue esse mesmo caminho.
O pedagogo não inventou o método silábico, tampouco plagiou-o, apenas apropriou-se dele e concedeu-lhe nova interpretação.
Para ficar mais claro, um cenário hipotético será apresentado. É como se na experiência de Angicos, os alunos fossem pedreiros. Sendo pedreiros, trabalham com tijolos.
O professor divide silabicamente a palavra tijolos (ti-jo-los). Depois, suprime uma das sílabas, como por exemplo "ti". Os alunos são questionados se está faltando algo na palavra.
O ensino é feito a partir da exclusão e inclusão das sílabas. Outro ponto importante é o que Paulo Freire chamava de palavras geradoras.
No caso hipotético, o uso da palavra tijolo para pedreiros faz sentido porque é algo da realidade cotidiana dessas pessoas. As palavras geradoras correspondem, sempre, à realidade do alfabetizando.
Elas são escolhidas para facilitar o contato entre a realidade do alfabetizando e o aprendizado da alfabetização.
A partir do sucesso de sua experiência, Paulo Freire ocupou importantes cargos no governo. Depois, durante o período de seu exílio, escreveu suas principais obras.
A teoria de Freire é exposta em suas três principais obras: Educação como prática da liberdade, Pedagogia do Oprimido e Pedagogia da Autonomia. Em resumo, a doutrina de Paulo Freire defende duas ideias principais:
“Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto de reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará” (edição de 1987, p. 17).
O pedagogo costumava dizer que a educação era fundamental para a transformação da sociedade. A transformação que ele almejava era a revolução socialista.
Um dos homens mais admirados por Paulo Freire era Che Guevara. Ele chegou a dizer:
“O que não expressou Guevara, talvez por sua humildade, é que foram exatamente esta humildade e a sua capacidade de amar que possibilitaram a sua ‘comunhão’ com o povo. (...). Este homem excepcional revelava uma profunda capacidade de amar e comunicar-se”.
Essa admiração diz muito a respeito do pensamento de Paulo Freire.
Outro importante conceito que cunhou foi a ideia de educação bancária. Nessa concepção, o professor é visto como dono de um saber e o aluno um mero receptor desse conhecimento.
Paulo Freire acreditava que o professor deveria ser um facilitador do processo de aprendizado do aluno e não uma figura de mestre.
Para o pedagogo, não existe hierarquia entre professor e aluno. Além disso, ele defendia na Pedagogia do Oprimido:
“Não há saber mais ou saber menos: há diferentes saberes.”
Ou seja, o professor não é uma figura de autoridade, ele não pode ser visto como alguém que possui algo que o aluno não tem.
As experiências de vida de cada aluno são determinantes para compreender o que ele sabe. Cabe ao professor entender e saber quais são esses conhecimentos prévios para usá-los no processo educativo.
Tudo isso permite que o aluno e o professor vivam mudanças práticas no dia a dia.
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Em 1967 os militares criaram o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) para combater as taxas ruins de analfabetismo do país. A medida fundamentou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1934.
A lei fortaleceu o Ministério da Educação brasileiro que ainda atuava conforme o projeto varguista criado por Gustavo Capanema.
O método educativo da época baseava-se na ideia de que a educação pode fabricar um homem novo. Dentro do projeto de Vargas que Capanema apoiava, um homem novo era um servidor do Estado.
Ou seja, os militares fortalecem o papel do Estado na educação e aplicam um método de alfabetização silábico que tem familiaridade com o método de Paulo Freire.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que nasceu com Vargas, foi ampliada no Regime Militar. Ela se expandiu, pois deixou de ser reservada às escolas e passou a exercer, também, uma tutela universitária.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, reinterpretou-se a LDB. A LDB é uma lei que institui padrões e formas para a educação. A partir de FHC, os meios para aplicá-la tornam-se mais consistentes.
Na visão freireana, há um padrão mais humanizado de aplicação. Nessa época são criados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que estabelecem regras para as lições de cada disciplina.
Os PCNs servem para que o professor não tenha mais que ensinar somente o conteúdo, mas também a dimensão ética dos acontecimentos históricos.
Por exemplo, quando um professor leciona a Revolução Francesa, ele deve apresentar questões de ética e cidadania, além dos fatos.
Os PCNs, muito mais do que a LDB, resumem a presença pedagógica de Paulo Freire nos espaços tradicionais de ensino.
Sua figura foi alçada ao status de símbolo. Em 2012, no governo da presidente Dilma Rousseff, Paulo Freire é eleito o Patrono da Educação Brasileira. Patrono de uma educação que há anos ocupa as piores posições do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).
Os legados de Paulo Freire continuam influenciando a educação brasileira.
A Base Nacional Comum Curricular, conhecida como BNCC, foi o documento em que se estabeleceu um currículo obrigatório para todas as escolas do Brasil.
Ele foi homologado em 2018, durante o governo Michel Temer. Todavia, boa parte de sua elaboração foi no governo Dilma Rousseff.
O currículo obrigatório parece ser uma balança em que os governos escolhem um dos lados: mais liberdade das escolas e menor controle da qualidade, ou menos liberdade das escolas e maior controle da qualidade.
No Brasil, não foi necessário fazer essa escolha: abriu-se mão da liberdade sem buscar a qualidade. O documento aprovado não seguiu as boas práticas de currículo comum dos países desenvolvidos.
Ao contrário de currículos que estabelecem metas e conteúdos básicos para o essencial, a BNCC usou 600 páginas para descrever todas as disciplinas, em todos os anos.
O documento descreve, várias vezes, o tipo de aluno que gostaria de formar, transformando o documento em um gabarito de visão de mundo e reduzindo significativamente a margem de liberdade da escola.
E o PNLD, Plano Nacional do Livro Didático, é um mecanismo criado durante o Estado Novo de Vargas, em 1937. Ele garante a padronização dos conteúdos e a qualidade dos livros didáticos.
Para receber o selo de aprovação do MEC, o livro deve seguir os parâmetros ideológicos e as normas da BNCC.
As escolas, públicas e privadas se veem obrigadas a adotarem livros aprovados por essa política, pelo fato de o programa gerar confiabilidade na população.
Assim, os manuais escolares são transformados em cartilhas doutrinárias com um discurso único.
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